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terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Os políticos, os clássicos e o reintegracionismo.


Por José Manuel Barbosa

Após os critérios dos linguistas também queremos expor aqueles pontos de vista de quem que não querendo seguir premissas  científicas exprimem o seu pensar de pontos de vista políticos. Esses critérios passam a ser, já não linguísticos, mas ideológicos, e  para isso botamos mão em primeiro lugar das duas personagens mais significativas do ponto de vista político na Galiza do século XX:  Daniel R. Castelao e Manuel Fraga.  O primeiro por nacionalista galego, defensor do nosso idioma e do projeto nacional. Ele manifesta aberta e claramente a identificação linguística galego-portuguesa; o outro, Manuel Fraga defensor de todo o contrário,  representante do nacionalismo espanhol, falso promotor da língua e favorecedor da supremacia do castelhano na Galiza. Este último devido à sua condição contraditória de anti-galego e presidente da Galiza, manteve um posicionamento ambíguo com o fim de ocultar as suas autênticas intenções.
De Castelao temos:


“Deseo, además, que el gallego se acerque y confunda con el portugues,[...].” Textos fac-símilares nos apêndices de biografia de Castelao feita por Valentin Paz Andrade em CASTELAO NA LUZ E NA SOMBRA. Crunha. 1982. Carta endereçada a Sanchez Albornoz.

No Sempre em Galiza Castelão escreveu: 

“Pero afortunadamente a nosa língua está viva e floresce en Portugal, fálana e cultivana máis de sesenta millons de seres que hoxe por hoxe ainda viven fora  do  imperialismo español” RODRIGUEZ CASTELAO, A.D.; Sempre en Galiza. Akal Editor. Arealonga.3ªEd. Madrid. 1980, Pág 241

Temos igualmente...:
      
“O galego é un idioma estenso e útil, porque- con pequenas variantes- fálase no Brasil, en Portugal e nas colonias portuguesas.” RODRIGUEZ CASTELAO, A.D..: Sempre en Galiza. Akal Editor. Arealonga. 3ªEd.Madrid. 1980, Pág, 241.


No entanto, da autoria de Manuel Fraga, temos os seguintes textos publicados, o primeiro em Portugal para leitores portugueses, mas o segundo publicado para leitores galegos. Se repararmos no texto veremos que é o mesmo, mas com toda certeza com objetivos diferentes. A ambiguidade calculada é difícil de racionalizar se não é por causas obscuras que nos fazem pensar em princípio, numas intenções pouco claras mas do nosso ponto de  vista pouco amantes da nossa língua comum e em favor da supremacismo do castelhano. Lembremos que na sua etapa de governo a língua dos galegos chegou ao ponto de quebra da transmissão intergeracional baixando no seu uso num 30 pontos percentuais segundo dados da UNESCO:



1º Texto:

“Tui, a sua cidade e a sua terra, com a sua artéria vital, o rio Minho, são o ponto de encontro de dois povos irmãos, portugueses e galegos. É um encontro a que nos chama a pertença geográfica a um mesmo espaço fisico, a herança cultural de uma língua comum e de um património cultural multissecular, [...].” FRAGA IRIBARNE, M.: A Galiza e Portugal no marco europeu. Edita Xunta de Galicia. 1991. Pág 7
2º Texto:


“É un encontro a que nos chama a pertenza xeográfica a un mesmo espacio fisico, a herdanza cultural de linguas con raices comuns, un património cultural multisecular, [...].” FRAGA IRIBARNE, M.: Jornal do Arco Atlantico. 23 de outubro de 1992 nº 1, Pág 3


Finalmente, a terceira bateria de argumentos é referida a textos históricos nos quais os grandes vultos do galeguismo manifestam a sua opção a seguir quanto à língua.

“Si o noso é un idioma vivo que empregan 30.000.000 d’homes entre portugueses, brasileiros e galegos.”
LUGRIS FREIRE: A Nosa Terra. Nº 10, Pág 3

Ou...:


“...El señor Unamuno autor de unas páginas maravillosas sobre el paisaje gallego, sabe muchísimo mejor que yo que Galicia, tanto etnográficamente, como geográficamente y desde el aspecto lingüístico, es una prolongación de Portugal, o Portugal es una prolongación de Galicia: lo mismo me dá.” Discurso de OTERO PEDRAYO no parlamento espanhol. 18/09/31
                                                                               
O seguinte texto é igualmente interessante pronunciado por Otero Pedrayo quando ele era parlamentar galego em Madrid:
        
“Por algo nuestra lengua es la misma de Portugal.” Discurso de OTERO PEDRAYO no parlamento espanhol 24/5/33
  
Mas também temos algum texto do autor da "Teoria do nacionalismo galego" Vicente Risco e Aguero, quem nunca negou o vínculo com Portugal e as falas portuguesas. Este livro que acima citamos de Risco é um dos mais importantes do galeguismo até o ponto de podermos dizer que com a chegada de Castelao com o seu "Sempre em Galiza, a filosofia galeguista esteve sempre impregnada dum importante "risquismo" talvez nunca suficientemente considerado pelo galeguismo. Talvez porque a trajetória vital posteior do autor seja em algum ponto contraditória com a inicial mas isso nunca vai poder impedir valorizar corretamente o papel dele na conformação teórica do galeguismo do século XX.
 


“Agora, o galego e o portugués son duas formas do mesmo idioma: esto indica que nós temos un maior parentesco con Portugal que con Castela.”
RISCO VICENTE.: A Nosa Terra. nº 160, Pág 1

De António Vilar Ponte temos muitos textos. Dele podemos dizer que foi o autentico teórico do galeguismo de princípios do século XX juntamente com Risco. Com Vilar Ponte podemos ver um "lusismo" muito ciente, muito definido e muito claro:


“O galego-portugués falanno mais de 30 millóns de almas entre Europa,  Africa  e America.” VILAR PONTE A:. A Nosa Terra. nº120, 4-5, 21/05/1920 
e ...: 
                                                     
“Eu entendo  que os nazonalistas galegos temos que chegar axiña a maor unificación posíbel, sin mágoa do enxebre, entre o noso idioma e o portugués. ”VILAR PONTE A.: Pensamento e Sementeira. Pág. 257. El pueblo gallego. Vigo. Pensamento e Sementeira de Anton Vilar Ponte. Edición Galicia del Centro gallego de Buenos Aires e Instituto Argentino de Cultura Gallega, Pág. 257

Até os convencidos isolacionistas da época não podiam evitar reconhecer a evidência.

De Aurélio Ribalta:
“Ningien pode negalo: o portuges non é mais q’unha modalidáde do galego. Por desgracia a ortografia portugesa non é nada recomendabre. Como se be, a ortografia portugesa está moi lonxe de merecere os onores da adoucêón polos gallegos”.
 RIBALTA AURELIO.: A Nosa Terra. nº 93, Pág 2


No entanto devemos salientar defensores do reintegracionismo como João Vicente Viqueira que são mais claros, arriscados e inteligentes como é o caso salientável de João Vicente Biqueira grandíssimo pensador e filósofo morto prematuramente. Muitas pessoas acreditam no seu valor como inteletual e o que poderia chegar a ser se ele pudesse ter vivido durante mais anos. O infortúnio impediu que a filosofia galeguista pudesse contar com uma pessoa que poderia ter sido o sustento dum reintegracionismo real durante os primeiros anos do século XX.                   

“Si nosoutros empregamos a ortografia histórica galaico-portuguesa teremos salvado  a  dificultade  que separa as duas linguas e daremos ao galego un  caracter  mais universal, [...]. Asin introduciremos o NH pol-a Ñ, a LH pol-a LL e outras modificacións que o leitor poda adiviñar facilmente.” VIQUEIRA, JOÁM VICENTE.: A Nosa Terra. nº 43, Pág 1, 20/01/1918


Depois da exposição de textos, apresentamos a exposição das razões pelas quais o galeguismo histórico não optou por recuperar a ortografia que Viqueira chamava etimológica.
     
 A saber:

      1º.- O galego não era instrumento de comunicação oficial em Galiza,  nem portanto, matéria de ensino, por isso, para a nossa língua chegar aos galegos alfabetizados em castelhano e com pobre cultura académica e escolar, ele deveria revestir uma farda compreensível para qualquer pessoa que quiser perceber baseada no na língua oficial do Estado.
      2º.- Era, porém, objetivo do galeguismo reintegrar o galego no seu âmbito Ibero-românico ocidental “até a sua confusão com o português” em palavras de Castelão.
      3º.- O momento adequado para essa reintegração, portanto, seria aquele em que a nossa língua fosse por fim idioma oficial de uma administração autónoma galega conseguida finalmente e após muito tempo de sofrimentos e lutas, no ano 1981.

Teríamos que acrescentar que após 30 anos de autonomia política e de sucessivas políticas linguísticas fracassadas (lembremos que a nossa língua perdeu mais falantes nos anos de “autonomia” do que em todos os anos chamados “séculos obscuros”) aqui ninguém denuncia os responsáveis desta desfeita glotofágica e todo o mundo com responsabilidades públicas diz que tudo vai bem, que a língua está no melhor dos seus momentos e que não devemos impô-la porque o castelhano sofre.

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