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quinta-feira, 5 de abril de 2012

São Tomé e Príncipe falam a língua dos galegos.


Por Carlos Jorge Mota:

S. Tomé e Príncipe, país denominado como República Democrática de S. Tomé e Príncipe, ascendeu à independência em 12 de julho de 1975 na sequência do Golpe Militar em Portugal, que ficou conhecido na História como O 25 de Abril, em cujo Programa estavam introduzidos os historicamente célebres 3 D’s: Democracia, Desenvolvimento e Descolonização. 
Em 1960, no exílio e manifestando-se internamente na clandestinidade, foi fundado o CLSTP, mais tarde, em 1972, designado por MLSTP, Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe (alterou o termo Comité, pela união a outros organismos políticos), sob a responsabilidade do Dr. Manuel Pinto da Costa, que se tornaria o primeiro Presidente da Republica, logo após a independência, uma vez que este Movimento, entretanto transformado em partido, foi reconhecido como o único representante legítimo do povo são-tomense. Miguel Trovoada assumiu as funções de Primeiro-Ministro, logo após eleições que decorreram no período de transição de poderes. Em 12 de dezembro desse mesmo ano foi promulgada a Constituição do país, tendo sido definido o MLSTP como o único partido legal da nação. Entretanto, mercê de manifestações internas que corporizavam diferentes sensibilidades, o Partido, em 1989, iniciou um processo de transição para um sistema pluripartidário, depois de um debate numa sua conferência nacional. Em agosto de 1990, após referendo, foi aprovada uma nova Constituição democrática e o MLSTP passou a assumir-se como de cariz social-democrata. Em 1998, num Congresso Extraordinário do já então denominado MLSTP-PSD, foi eleito Presidente do Partido, por unanimidade, Manuel Pinto da Costa, cargo que ocupou até 2005, tendo sido substituído, em 27 de fevereiro, por Guilherme Posser da Costa, anterior Primeiro-Ministro.
 Como o cargo de Presidente do Partido nem sempre foi coincidente com a função de Presidente da República, por um lado, e como se tinha aberto a possibilidade de outras formações políticas concorrerem a eleições democráticas, por outro, e ainda porque houve tomada de poder em atos de natureza militar, o quadro da sequência cronológica de ascensão ao mais alto cargo da nação apresenta-se assim formado:
- Manuel Pinto da Costa, do MLSTP, de 12 de julho de 1975 a 3 de abril de 1991;
- Miguel Trovoada, da Ação Democrática Independente, de 3 de abril de 1991 a 15 de agosto de 1995 – primeiro Presidente eleito democraticamente;
- Manuel Quintas de Almeida, Militar, de 15 a 21 de agosto de 1995;
- Miguel Trovoada, da ADI, de 21 de agosto de 1995 a 3 de setembro de 2001 (entretanto re-eleito em 1996);
- Fradique de Menezes, da ADI, de 3 de setembro de 2001 a 16 de julho de 2003;
- Fernando Pereira, Militar, de 16 a 23 de julho de 2003;
- Fradique de Menezes, do MDFM-PL, de 23 de julho de 2003 a 3 de setembro de 2011;
- Manuel Pinto da Costa, apartidário, desde 3 de setembro de 2011.
S. Tomé e Príncipe situa-se no Golfo da Guiné, é formado pelas ilhas de origem vulcânica de S. Tomé (a de maior dimensão), pela do Príncipe e por vários ilhéus, numa superfície total de cerca de 1 000 Kms 2, tem cerca de 165.000 habitantes, e a capital é a cidade de São Tomé, localizada na ilha com o mesmo nome, na latitude muito próxima de 0, uma vez que se situa mesmo em cima da linha imaginária equatorial.
Dista do continente africano cerca de 300 Km e tem como países vizinhos mais próximos o Gabão, a Nigéria, a Guiné Equatorial e os Camarões.
De clima tropical, húmido, onde a amplitude térmica é de 7º a 8º, variando entre um pouco acima dos 20º e os 30º centígrados, tem, todavia, muitos microclimas em função da altitude, do relevo e da pluviosidade, sendo que esta é influenciada por aquele.
Duas estações climáticas se sobressaem: a mais quente e chuvosa, entre outubro e maio, e a mais amena e com menor pluviosidade, entre junho e setembro, conhecida por Gravana.
Num empreendimento marítimo financiado por um rico comerciante, no reinado de D. Afonso V, de Portugal, Pêro Escobar, João de Santarém e João de Paiva, em dezembro de 1470, descobriram a Ilha de S. Tomé. No mês seguinte alcançaram uma outra ilha a que foi dado o nome de Santo António, mais tarde alterado para Príncipe em homenagem ao, ainda príncipe, D. João, futuro Rei D. João II.
Este arquipélago era, segundo comummente aceite pelos historiadores, totalmente desabitado, razão por que foi posteriormente povoado com gentes levadas da costa africana, principalmente das áreas mais próximas, de início, e de Angola, mais tarde, e também de Portugal, nomeadamente degredados, que, enquadrados por técnicos já especializados pela experiência colhida no Arquipélago da Madeira, e uma vez que o clima a isso era propício, introduziram a plantação da Cana-de-Açúcar. À época, pela sua raridade na Europa, esta cana era considerada como uma especiaria, razão pela qual a potencialidade económica se previa promissora e o investimento fortemente compensador. 
Para desenvolvimento destas ilhas, à semelhança dos procedimentos já ocorridos no Arquipélago da Madeira – e mais tarde no próprio Brasil - foi entregue a responsabilidade pela sua governação, com a designação de Capitania, a um Comandante que detinha sob sua responsabilidade as Ilhas de S. Tomé, Príncipe, respetivos ilhéus, as Ilhas de Fernando Pó e Ano Bom, estas duas últimas entregues posteriormente à Coroa Espanhola no âmbito dos dois Tratados de El Pardo, o primeiro em 1761 e o segundo em 1778, pelo que não chegaram a ser exploradas por Portugal. Esses Tratados puseram fim à grande disputa entre Portugal e Espanha pelas suas possessões ultramarinas e foi negociada a troca destas duas ilhas portuguesas no Atlântico e também a então Colónia do Santíssimo Sacramento, hoje Uruguai, por algumas delimitações dentro do Brasil onde havia forte influência de jesuítas espanhóis.
Com a chegada dos portugueses a Terras de Santa Cruz e a também introdução por eles lá da cultura da cana, S. Tomé e Príncipe sofreu forte concorrência do Brasil e o arquipélago foi progressivamente decaindo nesta monocultura, razão por que houve necessidade de diversificar as suas capacidades, tornando-o um autêntico laboratório nessa área. Assim, foram-se paulatinamente introduzindo outras espécies, principalmente as que se tornavam indispensáveis para o abastecimento dos navios que aí aportavam por razões logísticas. Dessa forma emergiu a cultura do milho, mandioca, arroz, banana, inhame, algodão, gengibre, e, numa fase muito posterior, já no Séc. XIX, o café e o cacau. Daqui resultaram indústrias várias, tais como do óleo de palma, de copra, de noz de coco.
Decorrente da sua situação estratégica, foi palco de Entreposto do Comércio de Escravos entre África e as Américas, do que resultaram várias revoltas esclavagistas, donde emergiu um herói nacional de seu nome Amador, homenageado nos dias de hoje.
A Pesca, feita ainda atualmente de um modo próximo ao artesanal, está, todavia, a desenvolver-se para planos de maior dimensão, através de associação cooperativa, para o que contribui a grande riqueza piscícola das suas águas.
Entretanto, face a prospeções efetuadas recentemente em zonas marítimas específicas, concluiu-se que S. Tomé e Príncipe apresenta reservas petrolíferas estimadas na ordem dos 4 mil milhões de barris, o que potencia este país para níveis de desenvolvimento elevado, com a aplicação da fruição dos proveitos destes hidrocarbonetos, logo que a exploração se inicie.
Pelo seu impacto no desenvolvimento ultramarino português e indígeno, o historial destas ilhas é tão rico e tão vasto que proporciona até relatos apaixonados de situações verdadeiras e semificcionadas, romanceadas algumas delas por escritores consagrados, de que são exemplos o Livro Equador, do português Miguel Sousa Tavares, ou Aurélia de Vento, do são-tomense Albertino Bragança.
 A flora deste arquipélago é muitíssimo rica, detendo espécies únicas, pelo que se torna um manancial de potencialidades para estudo pelos apaixonados da área.
A língua oficial é o Português, todavia é também utilizado, por alguma população, exceto na parte sul, o São-Tomense, ou Forro, língua de base crioula, isto é, por formação de vocábulos originados uns no português e outros em línguas africanas, aliás, tal qual os diversos crioulos existentes nos antigos territórios portugueses.
A expressão musical são-tomense, embora forte, está ainda numa fase de afirmação, todavia, como já citava o português Manuel de Ferreira Ribeiro, médico, teólogo e homem sensível às questões ultramarinas, que fundou “O Equador”, o primeiro jornal em S. Tomé: “De uma cana, de um coco, ou de qualquer outra coisa, fazem os rapazes um instrumento. Gostam de dança, amam as letras, mas nunca tiveram mestres, nunca puderam ver para imitar, nunca puderam trabalhar e estudar”. Os tempos mudaram, a cana e o coco foram substituídos por reais instrumentos e São Tomé detém hoje excelentes músicos que procuram difundir os valores intrinsecamente indígenas, mas que simultaneamente detêm potencialidades de expansão geográfica. Da sua dança tradicional fazem parte os estilos denominados por Ússua, um tipo de dança de salão, em que os pares são conduzidos por um mestre-de-cerimónias; Dexa, com letra de tipo humorístico ou mesmo de escárnio; Puita, de origem angolana, contém uma componente erótica; Bligá, de exibição de destreza que faz lembrar artes marciais; Danço-Congo, tipicamente africana e a mais popular, é uma dança violenta e muito ritmada.
Da sua rica gastronomia, destacam-se as Papas de Farinha de Mandioca, o Arroz Doce, O Polvo à S. Tomé, o Angu e os Sonhos de Banana, a Canjica, Sooa de Camarão, o Peixe Refogado, o Calulu de Peixe, o Inhame Frito.
 Visitar S. Tomé e Príncipe é desfrutar de um contacto com gente sã e acolhedora, é vivenciar uma experiência africana positivamente diferente, é contemplar maravilhas da natureza únicas e usufruir de águas cristalinas e quentes, de um azul e verde inigualáveis, é saborear uma riqueza gastronómica que jamais se esquecerá.



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