Por
José Manuel Barbosa
Tinha
eu uma aluna em Moinhos, filha dum emigrante galego em Madrid. O pai
(nem a mãe) desta nena
não ve(m) a necessidade de lhe transmitir(em) à
sua filha um valor tão
importante para o equilíbrio psicológico da rapariga como é o
sentimento de pertença
a um grupo humano determinado como é o povo galego, porque o
sentimento de arreigo não dá comer...ou pelo menos isso é no que
acredita(m). Se a isto acrescentamos que nem nas escolas da Galiza
isto se ensina, pois estas estão
para deformar, não para formar nem para informar....temos o quadro
feito.
- Donde é o teu pai, minha nena? -Perguntei para ter conhecimento saído das minhas necessidades laborais-.
- O meu pai trabalha em Madrid -Disse-me ela-.
- Sim, mas é de Madrid ou está em Madrid? -Insisti-.
- O meu pai não é de Madrid, mas trabalha em Madrid -tentou evadir-
- Onde nasceu? -teimei-
- Nasceu na França
Eu
estava a ver que aquela conversa não me dava a informação
requerida, pelo que fiz a pergunta doutro jeito...
- Como é que se chama o teu pai?
Ela
deu-me o nome do seu pai com dous nomes de família galeguíssimos
sem qualquer dúvida e respondi:
- Esse nome que me das não é um nome francês...
A
nena tentando evitar informar-me da realidade de o seu pai não ser
francês mas duma
freguesia determinada do Concelho de Moinhos na Baixa Lima respondeu:
- Mas ele é francês porque nasceu na Franca...
Finalmente
deixei de inquirir e procurei a informação
por outra via...
O
objeto desta pequena estória, infelizmente real, é salientar a
falta de autoestima evidente e tangível na nossa população. Se a
isso acrescentamos manifestações
públicas nos média do Reino como a de Rosa Díez no seu dia ou o do
ex-Presidente castelhano-catalão
da Generalitata de Catalunha, José Montilla; se observarmos como
estão estendidos os
grupos e grupúsculos que defendem a eliminação
da nossa língua do nosso Pais; se vemos como um Conselheiro de
Cultura dum governo galego solta com total tranquilidade mas também
com total impunidade que “a cultura galega limita e é um obstáculo
para o desenvolvimento da Galiza”... posso mesmo chegar a perceber
que haja alguém tão
inocente como uma rapariga de dez anos que diga o acima exposto e
mesmo chego a perceber que haja quem mantenha a inclusão
no dicionário da RAE do verbete “galego” como sinónimo de
“parvo, tonto”...
Se
a isto acrescentamos que a nena de hoje há de ser uma mulher de
amanhã, teremos a
equação que nos permita
perceber a razão da existência de entidades associativas como a GB
ou pessoal como os seus dirigentes.
Essa
é a imagem que o Reino dá de nós e somos nós quem via escolar
acertamos a introjetá-la e a acreditar mesmo que isso é assim
inquestionavelmente.
Os
responsáveis da RAE não vão
mudar até que os façamos
mudar por obriga e a minha aluna vai mudar se der com um professor
que lhe fizer ver que as cousas não são assim. O pior é que não
é fácil nem permitido transmitir a uma aluna a informação
necessária com total liberdade, cousa que de o tentarmos teria um
custo psicológico e laboral importante, pois o ambiente no ensino
primário no que esta aluna estava no momento dessa entrevista, está
muito enrarecido por haver pessoal mal formado, desinformado (também mal intencionado) e mesmo
pessoal que acredita nisso mesmo, fazendo com que a transmissão pedagógica que recebe a nena seja aquilo que ela está a reproduzir comigo.
A
aluna manifesta o que lhe ensinam na casa e na escola mas se na casa
não se dá mais e na escola se reforça,
o assunto torna-se difícil de solucionar. E se algum professorado é
bom e conhecedor da fórmula para fazer dessa nena uma pessoa
equilibrada psicológica e pessoalmente, com a autoestima necessária
para ir pela vida valorizando o seu ser, outro professorado com o que ela conta resulta nefasto,
transmissor de todos estes vícios quase medievais e ideologicamente
próximo a um poder que legisla desde Madrid ou desde Santiago de Compostela para que o
ensino funcione assim. Curiosamente este último tipo de professores
sempre têm bastante
poder nos centros de ensino, enquanto os primeiros quase nunca estão
em postos de decissão e
quase sempre acabam tendo problemas. Um que sabe disso algo...
Quem
lhes ensinou o facto de que ser galego ou galega é pertencer a um
povo cuja história em nada tem a invejar a outros povos poderosos e
hegemônicos
historicamente? Quem lhe disse que somos pertencentes a uma família
de povos atlântica
e céltica? Quem lhes contou que a Galiza foi a Califórnia de Roma?
O primeiro Reino medieval da Europa? O primeiro Reino independente de
Roma ainda existindo esta...Quer dizer, o povo que inaugurou a Idade
Média! O que marcou o começo
dessa idade histórica... A Galiza marcou a história medieval de
Península Ibérica, o primeiro em celebrar umas Cortes parlamentares
antecessoras do parlamentarismo democrático europeu, tal como o
conhecemos hoje... Segundo a Professora da Universidade de Cambridge
Evelyn Stefanos Propter no seu livro “Curia and Cortes in León and Castile 1072-1295”. Foram em 1077 em Tui as
primeiras Cortes da Europa, mas se nos referirmos ao que se transmite
no ensino oficial do Reino, de ter sido Leao em 1088 também seria
válida a afirmação,
porque Leao naquela altura era a capital do Gallaeciense Regnum...
Foi
a Galiza, o segundo Reino europeu medieval que levou a cabo uma
revolução burguesa, as
Revoluções Irmandinhas
(1431-33 e 1467-69), muito antes do que a Revolução
francesa (1789), antes do que a americana (1776), antes do que a
inglesa (1642) e antes do que a holandesa (1568) e posterior as
guerras Hussitas em Boêmia
(1419); foi a Galiza considerada um dos tres imperios medievais,
nomeadamente Bizancio, Sacro Império Romano Germanico e a Galiza; foi a Galiza uma das mais importantes
potencias económicas da Idade Média; o primeiro território da
Europa livre dos exércitos napoleónicos pelos seus próprios
esforcos e sofrimentos, levando a Grande Armée em fugida livre por
todo o norte da península até São
Marcial da mão so
General Freire de Andrade. Os exércitos galegos organizados pelos
governo galego (Junta do Reino da Galiza sediada em Lobeira, Baixa
Lima) independente de facto durante os anos da ocupação,
tiveram de ser freados na perseguição
aos franceses porque já chegaram a Gascunha...; Galiza tem a
terceira língua da humanidade junto com o ingles e o espanhol e com
licenca do mandarim (que nao é exatamente a língua de todos os
chineses nem é falada por todos os Han)...
Bernaldo Gonçalves do Vale (Cachamoinha)
Tenha
em conta o caro leitor que os povos dominantes sempre destilam
racismos, isto tão feio
e cruel mas há que dizer que o planeta está chefiado entre outros
por povos atlanticos, celtas e germanicos que desprezam e odeiam os
mediterraneos pior considerados na Europa, mas eis a contradição
e o paradoxo, pois a Espanha mediterrânea
despreza e manifesta esse racismo com os povos atlanticos e célticos
da península Hespérica (nego-me a denominá-la Ibérica).
Por
toda essa história que os galegos temos atrás de Nós deveríamos
sentir a autoestima suficiente para nos amarmos como somos e como
fomos, com capacidade de podermos ser no futuro algo similar...mas
nada disto se ensina nas escolas nem se transmite as nossas criancas.
Por isso a minha aluna sente auto-ódio e não
quer ser galega.
Podemos
procurar as causas desta situação
para podermos “curar” o problema. Como é evidente a nossa
gentinha do comum tem muitas cousas das que se preocupar e que fazer
no seu dia-a-dia para chegar a tão
filosóficas conclusões.
Esse é o trabalho dos nossos dirigentes políticos que são
os que nos guiam e quem nos chefiam. Vamos atrás dos chefes da
manada seguindo os nossos comportamentos ancestrais e biológicos mas
se os chefes são uma
greia de inúteis no melhor dos casos ou uma banda de delinquentes no
pior, será melhor que pensemos muito bem o que estamos a fazer
escolhendo-os como guias para conseguirmos um futuro promissor.
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