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segunda-feira, 28 de julho de 2014

A história de Anibal Milhais, o Soldado Milhões, herói português da Grande Guerra.


Rui Vaz no Lago de Genebra, Suíça. Cidade onde foram assinados tratados importantes sobre os direitos humanos e regras da guerra (Convenções de Genebra)
Por Rui Vaz

Faz hoje 100 anos desde que começou a Primeira Guerra Mundial. Esta data marca o inicio da "Guerra Total", com o belicismo e perda de vida inerente a este conceito. Embora o "click" tenha sido o assassinato de Franz Ferdinand, esta foi sobretudo uma guerra entre impérios. Uma disputa por território e recursos no Médio Oriente e em África.
Apesar de se ter iniciado em 1914, Portugal apenas entrou em 1916 após uma declaração de guerra por parte do Império Alemão. A jovem República Portuguesa decidiu que Portugal deveria tomar uma posição de cooperação com o Império Britânico, sendo que esta declaração foi o resultado de confrontos em África e surgiu quando Portugal apreendeu navios alemães estacionados nas colónias portuguesas. As principais colónias portuguesas, Angola e Moçambique, eram bastante cobiçadas e, o Império Alemão e Britânico, chegaram a sentar-se à mesa para discutir a divisão destas colónias entre os dois impérios antes da guerra ter começado. Precisamente por este motivo é que Portugal quis marcar a sua posição de defesa das suas colónias.
Portugal era um país pobre e não-industrializado, sem capacidade de competir a nível bélico ou tecnológico com o império britânico ou alemão. Portugal decidiu então alinhar com os ingleses contra os alemães. Esta posição de cooperação com os ingleses acabou por ser um paradoxo. Para aqueles que não sabem, a República Portuguesa nasceu num período de crise de regime e de disputas coloniais entre o Império português e Britânico (Mapa Cor-de-Rosa). Os ingleses fizeram um ultimato e o Rei D. Carlos cedeu, sendo que os republicanos acusavam o rei, entre outras coisas, de ser anti-patriota e subserviente aos interesses dos ingleses. Foi com a República que surgiu uma vaga de patriotismo e se começou a festejar o 10 de Junho - Dia de Portugal e de Camões. Em 1908, o rei e o seu filho mais velho acabaram mortos no Regicídio e a República foi implantada a 5 de Outubro de 1910.
Portugal tinha instruções dos ingleses para não entrar na guerra e, após a declaração de guerra da Alemanha, Portugal teve então que treinar soldados para o conflito à pressa, num processo que ficou conhecido como "milagre de Tancos". Foram enviadas tropas para África e para França. Em África, Portugal gozava de mais autonomia, sendo que morreram muitos mais em África do que na Europa. Entre outros erros de Portugal, um foi com a comida levada para África, nomeadamente o bacalhau que, como se sabe, era preciso ser lavado, demolhado e no final ainda dava sede. Ora, sendo a água escassa em África, muitos morreram desidratados, à fome e doentes.
Na Europa era tudo fornecido pelos ingleses, desde o transporte de barco para França, material de guerra e comida. Não houve tanta fome mas, as condições nas trincheiras eram péssimas, a comida sabia mal e era em pouca quantidade, as doenças devido à falta de higiene, a guerra química com utilização de gases, etc. A moral do exército era muito baixa e houve situações de insubordinação e deserção. Na batalha de La Lys os alemães atacaram com superioridade e o CEP (Corpo Expedicionário Português) perdeu mais de 7000 homens entre mortos e prisioneiros. Portugal teve a sorte de estar do lado dos vencedores apesar de ter perdido a maioria das batalhas em que participou.
 
No meio disto tudo, nem tudo foi para esquecer. Houve um soldado que se destacou pela positiva - Aníbal Augusto Milhais. Nascido e morrido nas terras galaicas de Murça, Vila Real, a sua bravura ficou registada na história pelas suas acções na Batalha de La Lys. Após o sucesso da ofensiva alemã contra as tropas portuguesas, Aníbal Milhais ficou sozinho a vaguear pela frente de batalha e conseguiu aguentar várias ofensivas alemãs com a ajuda de uma metralhadora Lewis.
Foto feita em 1961 na Rua do Tabolado de Chaves. O autor da foto é o famoso José Correia "Lombudo". Esta foto foi-nos cedida por Humberto Serra que à sua vez lhe foi cedida pelo neto do Fotógrafo, José Lopes, que é o miúdo que está à esquerda do nosso protagonista e à nossa direita. Obrigado a Humberto Serra e José Correia. Abençoes.
Enquanto esteve sozinho na frente, resgatou um oficial escocês (solidariedade celta?) e conseguiu voltar com vida para território aliado. Foi condecorado com a Torre e Espada e ficou conhecido como o "soldado milhões" pois o seu comandante a dada altura lhe disse: "Tu és Milhais mas vales milhões".

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