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terça-feira, 16 de dezembro de 2014

As proclamas de falsa inocência dum linguicidio anunciado.



Por Marcos Celeiro

Por causa do Facebook fui ler o artigo que José Luís Barreiro publica em 15 de dezembro de 2014 e contradizendo-me a mim próprio até reproduzo aqui o nefasto texto que publica essa nefasto jornal que é La Coz. 

Artigo: AQUI

Contendo o rechaço que me produz esse jornal em geral e esse «tertuliano» em particular, fui ler, e não me surpreendeu: como sempre, pura verborreia jornalística. Falo do conteúdo, porque na forma, o primeiro que deve chamar a atenção é que esta malta sempre fala do galego... em castelhano . Ou em pretenso castelhano («vos tienen sus eivas...»).
Desenho do Carraboujo
Primeiramente cumpre lembrar a sua responsabilidade como exterminador linguístico nos governos pepeiros de Fernández Albor, onde para além de «normalizador» foi o máximo responsável da RTVG (esse maravilhoso modelo linguístico que resulta extraterrestre para os galego-falantes e aquela dublagem com pessoal não galego-falante), antes disso o seu papel apelando aos tribunais contra o Estatuto de Autonomia para que nele o castelhano fosse de obrigado conhecimento e com o galego só houvesse «direito de usá-lo», o tratamento no ensino como língua estrangeira em vez de como língua veicular, etc, etc. Também cumpre lembrar que o «persoeiro» é um desses bandulhos cheios colocados na Universidade de Santiago de Compostela, na Menéndez Pelayo, no CICETGA, na EGAP, etc. Muita gente não conhecerá que foi misteriosamente absolvido depois de graves delitos de prevaricação, etc, etc.

O indivíduo, junto com Blanco Valdés é um dos principais adaís do Fernandez Latorre -lógico que este ano fosse premiado com o seu galardão- que se dedica a predicar «la Galicia según La Voz», esse modelo nacional-católico de «región».
Mas que o gajo seja quem é, não supõe qualquer impedimento para isso. Contudo eu faço uma leitura crítica do seu artigo em base ao seu conteúdo, não a quem for o seu autor.
Em primeiro lugar, é o discurso de "Galicia Bilingue" de «las lenguas mueren, el gallego es una lengua muerta y ya está», «El gallego es de paletos o nacionalistas», «se muere por ciencia infusa, no hay responsables», etc.

Em segundo lugar, os argumentos são muito pobres e miseráveis, e aqui vão os contra-argumentos:
1º) Na Galiza, como em quase toda parte, o modelo de língua culto é imposto pelo poder. Esse poder define a língua da administração, a língua do ensino, a língua dos meios de comunicação públicos, a língua das etiquetas dos produtos, etc. E desse poder, a poder de subvenção, dependem uma série de instituições (Real Academia Gallega, Instituto da Língua Galega, Consello da Cultura Galega, Instituto Padre Sarmiento, etc) e as três universidades, para além de uma extensa rede clientelar de meios de comunicação (subvenções «al gallego» para La Coz», editoriais, audiovisual,.... etc), quer dizer, o «sistema cultural galego». E em tudo isto foi imposto um sistema de «BILINGUISMO HARMÓNICO» e um modelo de língua «REGIONAL, MENORIZADA E MINORITÁRIA» com uma ORTOGRAFIA ISOLACIONISTA e um modelo linguístico de CRIOULO CASTRAPO no léxico, morfológico, sintáctico, etc. E agora resulta que esse poder não tem responsabilidade?

 2º) O poder está nas mãos do NACIONALISMO ESPANHOL e ESPANHOLIZADOR, cujo projeto político visa construir uma nação (ainda) inexistente denominada Espanha, e como qualquer projeto político nacionalista utiliza a língua com fins políticos, concretamente para uniformizar culturalmente o âmbito que eles consideram nação. Por um lado há a necessidade de impor as «super-estruturas culturais» da pretensa nação, dentro delas a língua, e por outro, a necessidade de eliminar as das nações existentes sobre as que se sobrepõe. Para o primeiro, os mecanismos são evidentes, não precisamos comentar, para o segundo, sob um hipócrita «eco-linguismo» e «co-oficialidade» (assimétrica), na Galiza está-se a aplicar o modelo BLAVERO que tão bem lhes funciona no País Valencià e que deriva do modelo BABLERIZADOR que tão bem lhes funcionou em Astúrias e Leão. Combinam o isolacionismo (divide et impera), a hibridação (crioulização), e outras cousas das quais falarei mais adiante. Trata-se de, no puramente linguístico, separar uma comunidade de falantes do seu espaço linguístico com o conseguinte enfraquecimento na concorrência de línguas num mesmo espaço, para posteriormente fazer-lhe perder o status de língua transformando-a primeiro em crioulo (mistura de duas línguas) e finalmente dialeto da língua dominante que assimila a língua «menor». Isto é desde o puramente linguístico, sem entrarmos no sócio-linguístico o qual se faz dominando as instituições e os linguistas que definem e estabelecem a própria língua.

 3º) No sócio-linguístico, todas as línguas têm diglóssia (ou melhor dito, «poliglóssia»), ou seja, dentro duma mesma língua há diversos registos linguísticos que são utilizados em diferentes âmbitos. Há a língua culta (técnica, administrativa, académica, jornalística,...), há a língua coloquial, há a língua vulgar... etc. No modelo sócio-linguístico imposto na Galiza, define-se o galego para os usos coloquiais e vulgares (família, amigos, etc) e o castelhano para os usos cultos. O registo culto estabelecido pelo isolacionismo não é tal, e essa neo-língua carece dele. Pode parecer uma exageração, mas só há que tentar escrever um trabalho académico sobre química para comprovar que é inservível. Vejamos algum exemplo: OXI- é um prefixo que indica «oxidação» e OSI- indica «açúcar». Chamar ao oxigénio «OSÍXENO» significa dizer que tal elemento é «açúcar estrangeiro». Em arquitetura não é o mesmo uma VENTANA do que uma JANELA, etc... O modelo «neo-línguístico» elegido para o galego não é casual. Conheço advogados galeguistas a morte que utilizam no julgado o castelhano para não dizer as asneiras que implica a linguagem jurídica «made in RAG».
4º) No sócio-político, não toda a culpa é do nacionalismo espanhol, o auto-denominado «nacionalismo galego», esse rebanho de autonomistas com o pinheirismo inserido até a medula, incapaz e sem ideias que só age por mimetismo, até imita ao nacionalismo espanhol, e para ele a língua, antes do que FACTO CULTURAL é FACTO POLÍTICO-IDENTITÁRIO, e antes do que INSTRUMENTO DE COMUNICAÇÃO é INSTRUMENTO POLÍTICO. Ao igual que o nacionalismo espanhol se auto-proclama possuidor da língua (possuidor sem o poder de possuir, ainda não repararam...) e dono exclusivo e quinta-essência da língua. A língua tanto é do BNG como do PP, tanto é do de esquerdas como do de direitas, tanto é do pobre como do rico, do proletário como do patrão. Mas eles não repararam nisso, e ainda hoje proclamam «a língua proletária do meu povo». Claro, o resultado é nefasto, porque a língua deixa de ser cultura para ser marca ideológica, ou marca de grupo (rural vs urbano, trabalhador vs burguês, etc).

5º) A obsessão da utilização política do nacionalismo galego também os leva ao «uma língua, uma nação», burrada escandalosa. Nessa apropriação da língua não compreendem que a língua das galegas é das galegas, mas não só, também das portuguesas, brasileiras, etc. Por isso penetrou tão bem o isolacionismo, promovido desde o espanholismo para dividir e debilitar, exaltado ainda com mais ímpeto pelo galeguismo com fins ideológicos de «marca de nação».
Bem, o tema é complexo e extenso, haveria que falar dos temas «clássicos» tais como o prestígio social associada uma língua à boa posição e outra à miséria, uma culto e outra ao vulgar, uma ao urbano e outro ao rural,.... e toda a complexidade que deriva delas, mas quase tudo isso se pode reduzir a um problema da inexistência da diglóssia natural (tudo isso associado ao uso dos diferentes registos) porque o que existe é a diglóssia do conflito (uso de diferentes línguas segundo a situação). E haveria que falar de outras muitas cousas, mas não é a minha intenção escrever uma tese doutoral aqui.
O Barreiro escapa à problemática, e reduz tudo a «naturalizar» a situação de diglóssia do conflito, onde os usos são ganhos para uma das línguas e perdidos para a outra, fazendo ver normal que isso que é consequência irremediável da situação é «normal» devido a que temos uma sociedade cada vez mais urbana (=castelhano), cada vez mais rica (=castelhano), cada vez mais culta (=castelhano), etc. E seguindo no projeto exterminador do nacionalismo castelhano, o galego só deve existir por valor afetivo / identitário, não por questões funcionais e culturais, que são as que verdadeiramente fazem ter sentido a uma língua.
Eles jogam a ganhar, o «galeguismo» aceita o seu discurso e joga a perder. Os resultados estão bem à vista!

1 comentário:

Paulo disse...

Se o Sr. Barreiro Rivas estivesse escrito em galego, ainda que no castrapo da RAG-ILG, eu o ouviria com um mínimo de atenção.
Mas, como ele fala na língua de Filipe VI de Espanha, e aos súditos da linhagem de Bourbon, com uma linguagem bem empolada, não o posso levar a sério.
O que levo a sério é o que subjaz em seu nefando discurso.
Mas o que eu tenho por certo é que, enquanto houver um brasileiro, ali estrá a imensa herança da Galiza.

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