(bisbarra “comarca”, barra “vara”, “baixio”, barro “argila”, bairro“ "Sector urbano”, bairro“ terra caliça”)
Coromines cria o galego bisbarra“comarca” de origem céltica e via-o composto de barra com outro nome incógnito ou com um prefixo, acerca dos quais formulou várias hipóteses.Barra, de semântica complexa, a meu ver é o célt. BARRO - “alto” (*bhars-o-), de vasta progénie. Como “(vara) alta”, “tranca para obstaculizar”, nota o valor original. De barra vem barreira “limite (feito de barras)”. Barra“baixio arenoso” foi “(areia) alta”. E barro “argila” alude aos lugares altos,verticais, donde se extrai, para evitar os alagamentos que a impermeabilidade dessa terra produz.No séc. VIII, o árabe vulg. bárri “externo, exterior” interferiu barra (Coromines cria-o étimo de bairro). E também o advérbio árabe barra “afora”, “substantivado em Argélia com o valor de campo (em oposição à vila )”. Isso decerto influi u, mesmo nas terras do Norte, pouco tempo dominadas. Do cruzamento, quase inextricável, testemunha bairro “parte da urbe”, como nota o outro bairro “terra caliça” (por barro). O cruzamento é provável em barra, não em bisbarra, que é do torrão mais imo. A base deste será céltica pura e significará “território”, qualquer que seja o jeito em que tal valor se articule com o de “alto”. Haveria barra “altura; altura central” com o harmónico de “pendor”, e daí “circuito”. Os cursos possíveis são vários e escassas as bases documentais, mas ao cabo cabe recordar ser usual designar um território a partir dos limites: comarca, contorno, arredores, distrito. Benveniste provou o latim regio, antes que “território”, ter sido o “ponto atingido por uma linha reta traçada na terra ou no céu ”. Além disso, a articulação dos sentidos “altura; altitude” com os de “profundidade” e “extensão” é conhecida e dispensa outras explicações. Se embarra retemos o valor de “território”, a questão do primeiro membro ou prefixo é menor. Pode ser um latino-céltico vīcī barra “território da aldeia”, mas parece melhor *W ĒKE-BARRĀ, composto bimembre puramente céltico, similar ao *WĒKEBRIGAIKO(N) “dos dos castro do clã”, da inscrição de Rairiz de Veiga. Portanto teríamos um “território do clã”. A sequência evolutiva seria *WĒKE-BARRA românico *vezebárra" βez’barra bisbarra, que foneticamente soa [bizbarra]. A proto-história da Galiza pega a desvendar-se. Eis justamente um dado interessante,sobretudo para as comarcas onde a palavra tem uso, como assinala Coromines.
Ourense
Atinamos
na origem do bairro de Oira, que vem do frequente ORIA “a da fronteira
(*OROS)”, que não é outro que nome céltico da vila. Já tem sido dito,
mas talvez não de jeito claro, capaz de captar o imaginário coletivo.
*ORIA
(A longo; asterisco não pola palavra, pola aplicação a este lugar) caiu
numa paretimologia ou etimologia popular polos achados áureos do Minho,
que era fronteira tribal. Daí o *Aurea latino que também não está documentado, se não erro. O que aparece documentado é Auria, cuja subtil refração deu a pista. A evolução não concluiu. De Auria formou-se o adjetivo latino auriensis, donde Ourense.
Deixo
a hipótese para o final Há quem pensa que a linguística é campo
virgem, transitável alegremente com a intuição. Ou explica-se pola
inércia da velha indefensão da cultura galega; distrai do estudo da
identidade, faz irrisão do já feito, ousa ignorar os ditongos AU e Ou
que historicamente sempre estiveram presentes. Não há nos léxicos do
céltico antigo, nem nos neocélticos nada que tenha esse perfil.
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