Por José Manuel Barbosa
O debate entre reintegracionismo e elaboracionismo já leva umas quantas décadas de presença na Galiza. Ao princípio esse debate não chegava à sociedade, pois simplesmente era algo que se manifestava em âmbitos cultos. Aquelas pessoas que opinavam livremente e discrepavam dos postulados mantidos pelos poderes políticos eram excluídos dos média e marginalizados na sociedade quando não punidos, marginalizados ou tratados de doentes.
Após a chegada de José Posada ao parlamento de Bruxelas, mas também de Camilo Nogueira, ambos como europarlamentares, a sociedade pôde ver como esses dous posicionamentos linguísticos se confrontavam ainda com uma desigualdade própria de épocas pré-democráticas. O deputado Posada conseguiu reconhecimento oficial do galego como uma variante duma das línguas oficiais do Parlamento Europeu podendo fazer possível que a realização da nossa língua estivesse presente em âmbitos internacionais; Camilo Nogueira com a visibilidade que lhe dava a pertença naquela altura ao segundo partido da Galiza pôde gerar debate na sociedade e pôde conseguir que muitos dos mais flagrantes anti-galeguistas do nosso País ficassem tão zangados que se desqualificavam a si próprios. Estou a lembrar as manifestações de Francisco Vázquez, naquela altura Presidente da Câmara Municipal da Crunha que insultou num jornal de ampla tiragem ao deputado Nogueira chamando-lhe nazi por usar a língua dos galegos na Eurocâmara. Algo insólito numa democracia.
Aquilo foi algo que desqualificou ao próprio Vázquez e fez com que a gente valoriza-se ao deputado Nogueira após ter conseguido um grande prestígio durante anos defendendo os interesses da Galiza sempre seguindo valores democraticos desde os começos do Reinstauração Bourbonica, do II Estuto de autonomia, da promulgação da lei de Normalização linguística e da publicação das NOMIGa (Normas ortográficas e morfolóxicas do Idioma Galego).
Graças a representação evidente dos deputados galeguistas em Bruxelas e já em setembro de 2000 alguns jornais da Galiza apresentavam um debate aberto e sincero entre ambas as teorias a respeito do Galego As seções de opinião de alguns meios de comunicação escrita davam argumentos em favor e em contra de cada uma dela, mas as empresas mediáticas implicadas no assunto decidiram fechar o debate dalí a umas semanas por ordem expressa dos altos mandos políticos que não desejavam qualquer manifestação de discrepância com a linha político-linguística desenhada a começos dos anos 80. A cousa ficou em nada ainda que muita gente pôde sentir um cheirinho de democracia manifestado em público. Algus medos ficaram esconjurados.
Graças a representação evidente dos deputados galeguistas em Bruxelas e já em setembro de 2000 alguns jornais da Galiza apresentavam um debate aberto e sincero entre ambas as teorias a respeito do Galego As seções de opinião de alguns meios de comunicação escrita davam argumentos em favor e em contra de cada uma dela, mas as empresas mediáticas implicadas no assunto decidiram fechar o debate dalí a umas semanas por ordem expressa dos altos mandos políticos que não desejavam qualquer manifestação de discrepância com a linha político-linguística desenhada a começos dos anos 80. A cousa ficou em nada ainda que muita gente pôde sentir um cheirinho de democracia manifestado em público. Algus medos ficaram esconjurados.
O elaboracionismo ou isolacionismo apoiado pelos poderes políticos interessados em manter um statu quo que o beneficiava e um reintegracionismo que crescia em apoios tanto em quantidade como em qualidade viam os seus rostos, ainda que a mensagem do segundo chegasse com dificuldade a uma sociedade focada no seu dia-a-dia e em elementos de despiste fornecidos por um poder político que visava já naquela altura uma uniformidade mental e ideológica pouco pluralista.
Dali a três anos, em 2003, o governo Fraga decidiu permitir a segunda reforma importante da normativa RAG: a chamada “normativa de consenso” na que o consenso não foi tal porque o reintegracionismo não foi tido em conta como alternativa linguística para o País, nem sequer como elemento que pudesse fazer qualquer achega. Ainda assim, o conjunto da sociedade, embora interessado nos seus temas diários, ficou sabendo que os posicionamentos dos defensores da unidade linguística galego-portuguesa não tinham porque ser considerados de “extremistas" nem de "descabelados"; ficou sabendo que a ideia de unidade linguística galego-portuguesa vinha de antigo, pois já os primeiros galeguistas manifestavam com rotundidade a identificação das falas galegas com as portuguesas. Pessoas como Vilar Ponte, Vicente Risco, Outeiro Pedraio, Biqueira, Castelão... nunca foram extremistas, sempre defensores da língua e sempre galeguistas. Como isso é reconhecido por todos e mesmo comunicado pelos poderes que nos governam, tive a paciência de procurar algumas das suas citações mais significativas .Não sãomeias verdades para contentar ninguém. São as suas verdades, esses pensamentos de identificação entre as falas da Galiza e Portugal manifestados com total claridade... Eis algumas dessascitações:
António Vilar Ponte:
“Entre el gallego y el portugués de hoy no hay más diferencias que las existentes entre el castellano de Castilla y el de Andaluzia y América”.
Pensamento e Sementeira. Ed. Galicia del Centro Gallego de Buenos Aires e Instituto Argentino de Cultura. Pág. 346.
“....mientras viva el portugués, el gallego no morirá”
Op. Cit. Pag. 345
« Pois na península Ibérica anticasteláns son Euzkadi e Cataluña, unha nazón independente com cultura groriosa, veciña de Galiza (outra Galiza separada de nós por torpezas históricas) tem por língua a mesma galega, da que apenas se diferencia en pequeneces ortográficas e prosódicas.
A Nosa Terra nº 120. Pág. 4-5
Vicente Risco:
“Agora, o galego e o portugués son duas formas do mesmo idioma: esto significa que nós temos un maior parentesco com Portugal que com Castela.
Tres falas, tres civilizaciós; nós pertencemos a civilización da banda occidental, e culturalmente, pois así é filolóxicamente, nada temos que ver coas outras duas. Queiramos ou non, esto trábanos fortemente, estreitamente com Portugal e coa civilización portuguesa.
A Nosa Terra. nº 160. Pág 1
“Tamén hai quen di que o galego que escriben os galeguistas non se comprende nada bem, porque non é igual o que fala a xente, e porque se asemalla ao portugués...
Que o galego se pareza ao portugués non tem nada de particular, porque ao portugués non é mais que o galego un pouco modificado; de maneira que tense que parecer por forza, e non é estrano que se pareza”
Teoria Nacionalista. Obra Completa. Ed de Francisco J. Bobillo. Ed. Arealonga. Pag. 178-279
João Vicente Biqueira:
O galego non sendo unha língua irmá do portugués senón un portugués, unha forma do portugués (como o andaluz do castelán) tem-se que escribir pois como portugués. Vivir no seu seo é vivir no mundo; é vivir sendo nós mesmos!”
Pol-a Reforma Ortográfica. A Nosa Terra. nº 102. Pág. 2
Xosé Ares Miramontes:
“Ista língoa que, según os ‘eruditos’ da minha terra, soio serve pra falar cos veciños dos rueiros –ouh! Eça e Rosalia- é pai do portugués, tendo tanta semellanza co-el, que, de non sere certo xeito ortográfico empregado n’isa lingoa irmán, e que co tempo temos que chegar a un acordo –por ise camiño van as irmandades da fala- seria inteiramente o mesmo”
O idioma galego é de moito proveito. A Nosa Terra. nº 72. Pág 3
Editores da Nosa Terra:
“No Uruguay vanse fundar agora escolas de portugués; e mesmo en Londres; e vosoutros que tendes unha escola viva de portugués no voso idioma –pois sabendo galego vivimos en Portugal coma en Galicia- queredes matala, queredes pricindir d’ila pra, reducirvos a unha inferioridade”.
O idioma por riba de todo. A Nosa Terra nº 36. Pág. 2
“Dispois de todo a língua nosa é a portuguesa –un, galego modernizado, outra, portugués antiguo- xa casi comparte a hexemonia do mundo de civilización latina c’o castelán e acabará por compartilo por enteiro”.
Portugal e Galicia. Unha festa dina de lembranza. A Nosa Terra. nº 58. Pág 4
Afonso Daniel R. Castelão:
“Hai hoxe en todo Portugal un ar, un acento, unha pronunciación, que xa nos diferencia de abondo; pero ainda que os ouvidos galegos estranen as voces portuguesas, non por eso deixan de ser voces nosas, voces galegas”
Sempre en Galiza. Ed. Arealonga. 3ª Ed. Pág. 347
“...pero afortunadamente a nosa língua está viva e floresce em Portugal, fálana e cultívana mais de sesenta millóns de seres que, hoxe por hoxe, ainda viven fora do imperialismo hespañol.”
Sempre en Galiza. Ed. Arealonga 3º Ed. Pág 241
“O galego é un idioma estenso e útil, porque –com pequenas variantes- fálase no Brasil, en Portugal e nas colónias portuguesas”
Sempre en Galiza. Ed. Arealonga 3ª Ed. Pág. 41-42
Como podemos ver, a grande maioria de personagens históricos galeguistas partilham a ideia de a unidade linguística galego-portuguesa ser um facto. No entanto, há alguns representantes do galeguismo vintecentista que não concordariam com uma escrita comum. Há evidentemente isolacionistas, mas esses seriam muito menos castelhanistas do que os de hoje, pois ainda não concordando com uma norma “lusista”, pelo menos não seriam seguidores, nem seguidistas de normas castelhanas para as falas galegas. Ainda sendo isto assim, numa época no que o desenvolvimento das ciências da linguagem estava começando e o estudo da língua nascida na velha Gallaecia ainda estava pouco desenvolvida, nunca deixaram de ser cientes e de reconhecerem a unidade linguística básica galego-portuguesa. Eis alguns exemplos:
“Ningien pode negalo: O portuges non é mais q’unha modalidade do galego.
Por desgracia a ortografia portugesa non é nada recomendabre. Como se be, a ortografia portugesa está moi lonxe de merecere os onores de adoucêón polos gallegos”
Aurelio Ribalta. A Nosa Terra. nº 93. Pág. 2Continuaremos.......
Debate na TVG no programa "A duas bandas" Constantino Garcia e Carvalho Calero. 1987
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