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terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

HISTÓRIA DA LÍNGUA: Os inícios. Cantigas e trovadores



Por José Manuel Barbosa


Desde o século XII em adiante a distância entre o galego e o latim começa a sentir-se com tanta amplitude que vai ajudar a considerá-los como formas linguísticas diferentes, até o ponto de os escribas da época se verem obrigados a escrever na língua do comum para serem percebidos. Esta não era precisamente o latim mas o galego. As necessidades diárias –compras e vendas, testamentos, doações, etc- implicavam um uso escrito determinado da língua por parte do próprio povo adequado à prática linguística quotidiana. Por outra parte e sem qualquer dúvida o galego começa a ser empregue de igual maneira por razões artísticas, o que leva à criação, à poesia e à prosa.
Portugal, uma vez independente, vê como a língua escrita, começa a ser sentida como “oficial” na época do Afonso III, Rei que completa a conquista de todo o território português ocupando o Algarve. Estamos a falar do século XIII. O seu filho Dom Dinis I o Lavrador, grande impulsionador da cultura em Portugal, instituiu o uso obrigatório do galego-português nos documentos oficiais. A arte trovadoresca floriu em esta época sendo o próprio Rei um cultor da poesia amorosa.
 Na Galiza também o já galego-português floresce e se cultiva literariamente mas não só na Galiza Compostelana. Todo o território da Coroa galaico-leonesa vai dar autores que dominam a nossa língua. A prova está no facto de ser a língua da Corte e ser a língua escrita e de cultura na que escrevem os artistas de importância já fossem da Galiza Compostelana, Leom ou a Estremadura. Isto dentro das contornas e limites tradicionais do nosso espaço geo-político embora houvesse também sevilhanos, castelhanos, mesmo aragoneses e até italianos que usaram o galego com arte e cultura.

 Neste final da Idade Média, época das Cantigas poderíamos dividir o percurso da nossa língua pela história desde duas vertentes:


a)  Dum ponto de vista cronológico e

b) Do ponto de vista do espaço físico que há que atender uma vez tenham apanhado caminhos diferentes o novo reino de Portugal e o que fica do reino da Galiza o qual no século XIII e XIV aparece reduzido praticamente à Galiza compostelana, chegando assim, nessa aproximada conformação territorial, até os nossos dias.



Em Portugal a ação da cultura faz com que os cultores da língua se afastem da fala popular por influência do latim, Há uma necessidade de modernizar a língua, sobretudo nos documentos jurídicos, que botam mão da tradição latina.
 No Sul vamos assistir ao descolar da variante portuguesa e a ver como a independência do novo Reino e o nacionalismo português impulsionam o que vai começar a ser chamado de agora em diante com o nome de "português".

 No Norte a variante galaico-compostelana vai ficar reduzida num canto da península, entre o mar e a Meseta, e vamos ver como a partir de agora a hegemonia de Castela vai conseguir com o tempo e uma ação política agressiva despejar à Galiza do lugar de privilegio no que esteve durante séculos até levá-la à falência cultural; essa Galiza era o país que até ao momento tinha sido um dos mais floridos e prósperos da Europa e que logo  nos seguintes séculos vai passar a ser um Reino periférico e de menor importância.

 A etapa galego-portuguesa inicial vai desde o aparecimento dos primeiros textos escritos a finais do século XII até aproximadamente ao ano 1350 na Galiza, época, esta última, na que começam as guerras de sucessão na coroa unida galaico-leonesa e castelhana. Esta século XIV vai ser uma época de pestes em todo o ocidente peninsular e caraterizado pelas suas convulsões políticas e militares. As revoltas, as guerras contra Castela, a opção de unir-se a Portugal... Tudo isto foi experimentado com importante dose de insucesso.

 Entre o século XII e finais do XIV, vai ser a época do esplendor trovadoresco, embora dum ponto de vista português este momento vai-se ver alargado até o 1385 ano da batalha de Aljubarrota na que o Reino de Portugal dá amostras de querer fazer o seu caminho independentemente dos ditados de Castela reafirmando a sua personalidade. É Portugal que recolhe, herda e continua com o primigénio projeto nacional galaico, uma vez que consolida a hegemonia sobre a maior parte do território ocidental peninsular, exceto o Norte compostelano.
Neste contexto histórico, com a dinastia de Aviz controlando o poder político no Reino de Portugal, a assunção da burguesia de Lisboa como guias do projeto nacional, feita de construtores e armadores de navios e com o começo das navegações, os rumos históricos da Galiza e Portugal colhem caminhos diferentes tendo isso grande importância da gestão da Língua. Isto faz com que as etapas nas que podamos dividir o percurso da nossa língua em ambos os territórios vão ser também diferentes.
 Estas divisões histórico-linguísticas, que nos servem para enxergarmos um caminhar histórico marcado pela divisão política entre um Norte galaico-compostelano e um Sul galaico-bracarense ou português, podem ser feitas de muitos pontos de vista e tendo em conta diversas referências e parámetros. Nós vamos seguir critérios dados pelos professores Dobarro Paz, Freixeiro Mato, Martinez Pereiro, Salinas Portugal (1987:127-149) e Manuel Portas (1991:51-53) em alguns  casos Vázquez Cuesta, P e Mendes da Luz, M.A . (1987:187-226):


Os textos escritos mais antigos da nossa língua são entre os textos literários:

a) A cantiga da Guarvaia atribuída a Paio Soares de Taveirós ou a Martim Soares.

b) A cantiga da Guarda de Sancho I

c) Sirventes de Joám Soares de Paiva contra o rei Sancho de Navarra.



Todos eles redigidos nos fins do século XII e começos do século XIII.



Os textos em prosa som:

a)      O auto das partilhas (1192)

b)      O testamento de 1193

c)      A Notícia de Torto de 1211

d)      O Testamento de Afonso II de 1214.

No que diz respeito à lírica é-nos conhecida em vários cancioneiros:



·O cancioneiro de Ajuda

·O cancioneiro da Biblioteca Vaticana

·O cancioneiro da Biblioteca Nacional de Lisboa ou de Colocci-Brancutti.

·O cancioneiro de Berkeley

·Outros textos:

a) O Pergaminho Vindel

b) Duas versões da tenção de D. Afonso Sánches e Vasco Martins de Resende. Na Biblioteca Municipal do Porto e na Biblioteca Nacional de Madrid.

c) Cinco “Lais” de Bretanha na Biblioteca Vaticana e

d) Tavola Colocciana. (Índice de autores dum cancioneiro perdido).



O da Biblioteca Vaticana e da Nacional de Lisboa, cópias dos originais, feitas no século XVI.

As poesias destes textos são de três categorias:

·        As cantigas de amigo

·        As cantigas de amor

·        As cantigas de escárnio e maldizer.

Além destes cancioneiros profanos temos os de caráter religioso escritos pelo rei de Galiza-Leão e Castela, Afonso IX o Sábio e conhecidos por Cantigas de Santa Maria.
 Toda esta etapa histórica corresponde-se com o predomínio do chamado reino de Galiza-Leão no qual, seguindo alguns autores como Emílio González López (1978:301-304), a hegemonia política, cultural, económica e até militar corresponde à Galiza histórica que estendia o seu território pelas atuais Astúrias, Leão e a Estremadura para além da própria Galiza Compostelana.

 Os reis Afonso VIII (IX para o cômputo castelhanista) e Fernando II ambos de Galiza-Leão tomam o título de Imperadores e levam à Galiza aos seus momentos de maior explendor. O historiador galego Emílio González López diz: "Os reinados de Fernando II e o seu filho Afonso IX (VIII para nós) -que se extendem quase por um século, desde o 1157 até o 1230- passam-se sem pena nem glória pelas páginas das Histórias da Espanha, escritas com o pensamento posto em Castela; e no entanto, representam o máximo explendor de Galiza e com ele um dos momentos mais importantes no desenvolvimento da cultura hispânica. Estes dous reinados são a época gloriosa do triunfo do poder político de Galiza como reino próprio, (...); e com o poder político, a cultura, que ao dizer de Burckhardt, é a expressão mais autêntica desse poder" (Gonzalez Lopez: 1978: 301).
  
Os textos em prosa são:

·        A demanda do Santo Graal

·        A Chronica Troiana

·        Os livros de Cavalarias



todos eles de caráter narrativo.



·        Chronica Geral Galega

·        General Estória

·        Chronica de Santa Maria de Íria de caráter histórico

·        Outros textos como:

a-     O livro de Linhagens do Conde de Barcelo

b-     Os milagres de Santiago



Também há outros monográficos, didáticos e/ou religiosos como:



·        Tratado de alveitaria

·        Livro dos cambeadores

·        Flos Santorum

·        Legenda Aurea



Textos 
O Auto das Partilhas:



In Christi nomine amen. Hec est notitia de partiçon e de deuison que fazemos antre nos dos herdamentus e dus cout(us) e das onrras e dos padruadigus das eygreygas que forum de nosso padre e de nossa madre.en esta maneira: que Rodrigo Sanchiz ficar. Por.sa partiçom na quinta do couto de Vííturio ena quinta do padroadigo dessa eygreyga en todolus us herdamentus do couto e de fora do couto. Váásco Sanchiz ficar por sa partiçom na onrra d Ulueira.eno padroadigo dessa eygreyga en todolus herdamentos d Olveira e enúú casal de Carapezus que chamam de Vluar e enoutro casal en Agiar que chamam Quintaa. Meen Sanchiz  ficar por sa partiçom na onrra de Carapezus enus outrus herdamentos enas duas partes do padroadigo dessa eygreyga.eno padroadigo da eygreyga de Creysemikl ena onrra eno herdamento d Arguiffi eno herdamento de Lauoradas.eno padroadigo dessa eygreyga. Eluira Sanchiz ficar por sa partiçom nos herdamentos de Centegaus enas tres quartas do padroadigo dessa eygreyga eno herdamento de Creyximil assi us das sestascome noutro herdamento.estas partiçoens fazemus antre nos que uallam por en secula seculorum amen. Facta karta mensse marcij E. mª cc.ª xxxª Vaasco Suariz testis. Gil Diaz Testis. Dom Martio testis. Martin Periz testis Don Stepham testis. Ego Johanes Menendi presbyter Notavit.

 A Notícia de Torto

De Noticia de torto que fecerun a Laurencius Fernandiz por plaço que feze Cõçavo Ramiriz antro suos filios e Lourenço Ferrnãdiz quale podedes saber. Oue auer d'erdade e d'auer tãto quome uno de suos filios daquãto podesen auer de bona de suo pater e filios seus pater e sua mater. E depois fecerum plaço novo e cõue a saber quale in elle seem taes firmametos, quales podedes saber.


 Da entrega do coraçom de Genevra (A demanda do Santo Graal)



Em esta parte diz o conto que, pois a rainha Genevra entrou em ordem com pavor dos filhos de Morderet, ela foi sempre mui viçosa de tódolos viços do mundo; onde haveo que, pois houve de sofrer as lazeiras da ordem, que nom havia em custume, caeu logo em camanha grande enfermidade que todos aqueles que a viam haviam maior asperança em sa morte ca em sa vida. E ela havia consigo ua donzela de gram guisa, e que pesera ordem por amor dela. Aquela donzela fora entendedor de Giflet, filho de Dondinax. E porque a rainha a ouvira dizer que Giflet tevera mais longamente companha a rei Artur ca outro cavaleiro, amava tanto a companha desta donzela que nom podia mais. E confortavam-se antre si e choravam muito ameúde, quando lhis lembrava os grandes viços e a grande alteza e grande poder em que foram, e ora eram em ordem, com pavor da morte.

A rainha como quer que fosse em ordem, nom quedava de fazer doo por Lançalot e que nom dissesse algua vez: -Ai, meu senhor Lançalot, Dom Lançalot, e como vos esqueci, que jamais nunca cuidei que vós me leixássedes! Se vós catássedes a vossa bondade e o vosso prez, e er o gram poder que Deus vos deu, lembrar-vos-íades algua vez de mim e vingaríades a morte de rei Artur e conquistaríades o reino de Logres e alegraríades-mi desta cuita em que som e deste poder alheo em que som em que me meti com pavor de morte.

Esto dizia a rainha de Lançalot, u jazia doente, e a donzela a conformatava muito quanto ela podia. E dizia que nom houvesse pavor, ca bem soubesse verdadeiramente que Lançalot nom tardaria muito que nom veesse, que já ela ende ouvira novas. E a rainha respondeu: -Sobejo me tarde, e sei que em sa tardança tenho morte.

Em aquela abadia havia ua monja que entrara em ordem porque entendera em Lançalot e nom na quisera, e desamava a rainha mui de coraçom, porque a aleixara Lançalot, que a vingaria em a rainha. Uu dia haveo que disse esta dona à amiga de Giflet, aquela que a raínha guardava, e fez sembrante que nom queria que a rainha a ouvisse:

-Ai, donzela, maas novas vos trago! Dom Lançalot que vinha com gram poder por conquerer o reino de Logres, perdeu-se no mar com toda sua gente.

-Par Deus –disse amiga de Giflet- gram perda é essa. Mas como o sabedes vós se é verdade?

-Eu o sei bem –disse ela- por aquel que o viu.

A rainha que jazia doente, quando ouviu estas novas houve tam gram pesar, que a poucas que nom foi sandia; mas encubriu-se bem, com pavor daquela que as novas dizia. E, pois se partiu, disse a rainha com gram pesar:

-Ai, mar amargoso e maldito, comprido de amargura e de door, néicio, mao e desconhoçudo, mal m’has morta, que vós, à leal amador do mundo, tolhestes seu amador.



Pois disse esto, calou-se com tam gram pesar que nom pode mais comer nem bever; e jouve assi tres dias. Ao quarto dia veérom novas que Lançalot, sem falha, aportara na Gram-Bretanha com tam gram cavalaria e tam boa, que nom há homem no mundo que ousasse atender em campo.

A donzela que a rainha guardava foi mui leda quando estas novas ouviu, e foi-se correndo à rainha e disse-lhi:

-Senhora, muito vos trago boas novas. Sabede verdadeiramente que Dom Lançalot é na Bretanha com tanta gente que, em pouca sazom, a correrá toda.

A rainha, que perto estava da morta, quando estas novas entendeu, respondeu a grande afã:

-Donzela, tarde mo dissestes e ja me nom val rem sa viinda, ca eu som perto de morta. Mas, porque Dom Lançalot é homem de mundo que eu mais amo, rogo-vos que façades, polo amor e o seu, o que vos quero rogar.

E ela lhi prometeu lealmente que o faria a todo seu poder.

-Pois ora vo-lo direi –disse a rainha-. Eu bem vejo que som morta e nom hei cras a chegar aã manhã; e bem vos digo que nunca fui leda tanto de novas coo destas. E de outra parte, pesa-me sobejo que o nom posso veer ante que moira; ca me semelha que, se o visse, que mia alma seria mais leda. E porque eu quero que ele veja e saiba que de sa viinda mi praz e que moiro com pesar e que de grado o queria veer, se podesse, porém eu vos rogo que, tam toste que eu moira, que me tiredes o coraçom e que lho levedes em este elmo que foi seu; e que lhi digades que, em remembrança de nossos amores, lhe envio o meu coraçom, que nunca ele o esqueceu.

Aquele dia mesmo, passou a a rainha Genevra e a donzela fez o seu mandado; mas nom achou Lançalot, e por esto nom acabou todo o que lhe mandara a rainha.



Texto



Ai eu, coitada, como vivo em gram cuidado

por meu amigo que hei alongado!

Muito me tarda

o meu amigo na Guarda!



Ai eu, coitada, como vivo em gram desejo

por meu amigo que tarda e nom vejo!

Muito me tarda

o meu amigo na Guarda!



Dom Sancho I (?)



Texto



            Capitolo ii. De como foi destroida a primeira vez Tróia, chamada Dardânia



            Ao tempo que Dardano morreo rreinou em Dardania seu filho Oriconio. E rreinava sobre os espartos hum que avia nome Aiuerto, homem de grande esforço e de grande syso ee era vezinho de Dardania. E ajumda este homem era o que menos emjurias tinha rrecebidas dos dardanos. E des que vio tempo para tomar vimgamça, travou gerra com os dardanos e tantas ajudas ouve e como a çidade jmda

 nam era çercada e com esforço da muita gemte e bons capitães que tinha não avia medo e emtrou nela e diriboua e rrouboua que cousa nela não ficou. E el rrei Orriconia escapou polo mar com hum filho que avia nome Ylio e asy foi destoida a çidade aquela vez. Porem, despois tornou Oriconio com seu filho Ilio e tornoua a cobrar e fez suas pazes com os vezinhos.

                E dahi a pouco tempo morreo e fiquou o rreino a Ilio, seu filho. E este saio mui bom cavaleiro e mui sesudo. E trouve muitas gemtes a sua çidade e manteue o rreino sem gerra que lhe viese. Porem, lembrandoselhe do mall que seu pay e a sua cidade tinhão pasado, fez hum allcaser em hua penha mui allta que estava ali sobre o mar e fez ali sua morada, porque te emtão não ouvera em ha çidade fortaleza senão somente as casas. E chamaram dali adiamte aquela morada Ylio e nela morou el rrei e ali morreo. E como quer que a çidade não era ajmda çercada ali avia mui gram defemdimento para muita gemte defemder.



                                               Coronica Troiana em Limguoajem Purtuguesa




Bibliografia:

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