A Gallaecia,
já romana, entra a fazer parte do mundo imperial e adota pouco a pouco o latim
como língua culta embora continuasse com a sua língua autóctone
até bem entrada a Idade Média, segundo nos manifestam André Pena e Higino
Martins. É essa língua galaico-lusitana o substrato do futuro galego-português
e é o latim a base dessa nova língua
neolatina galega, portuguesa ou galego-portuguesa (1)
Segundo
Eugênio Coseriu (1989: 793-800) a península ibérica recebe a entrada do latim
desde dois diferentes pontos: um desde a costa Tarraconense alimentando os
Conventus mediterrânicos; e a outra que penetra desde a Bética subindo pela
Lusitânia e chegando á Gallaecia onde de Oeste para Leste vai ocupando pouco a
pouco as terras bracarenses, lucenses e posteriormente asturicenses. O primeiro
é chamado Latim Citerior. Ulterior o segundo. Mas os acontecimentos posteriores
à queda do Império Romano fazem com que a chegada dos povos germânicos à península
e nomeadamente os suevos à Galiza tornem o latim numa língua franca entre
galaicos-romanos provavelmente bilingues (ou talvez diglóssicos), em latim e galaico-lusitano, e suevos
de fala germânica trazida do centro da Europa. Ambos os povos distantes
linguisticamente entre si procurassem no latim o seu ponto de
encontro.
1- A chegada do cristianismo, que levaria a cabo o seu projeto ideologizador em latim.
2- A criação do reino
suevo fazendo que a língua de Roma se assentasse e consolidasse como língua franca entre galaicos de fala celta e suevos de fala
germânica. Esta circunstância vai dar-lhe caráter diferencial dentro dos limites dessa Gallaecia
tardo-romana e proto-medieval.
Com isto, a língua dos suevos, mais débil dum
ponto de vista demográfico, cultural e do prestígio social
vai ver-se afetada e deslocada do seu contorno natural, próprio do povo
germânico que até agora o usava, por este latim galaico durante este processo
de substituição, mas também deixando uma importante pegada no novo romanço.
Posteriormente à unificação política do Reino de Visigodo e do Reino da Galiza da mão de Leovigildo e sob hegemonia toledana, pouco ou nada se vai ver na direção duma grande unidade linguistica peninsular, que no seu canto Noroeste, protegido
pela incomunicação orográfica, pela unidade política entre as duas etnias aliadas
–sueva e galaica- e a fácil adaptação entre ambas, começa a
delinear uma criação linguística nova, fruto da dialetalização da língua trazida pelos romanos.
Ao mesmo tempo, com a chegada dos muçulmanos à península,
acrescentar-se-ia este facto, delimitando-se um território político com o nome de
Gallaeciense Regnum segundo nos dizem as fontes historiográficas andalusis, carolíngias, papais, escandinavas, anglo-saxónicas e grande parte das
peninsulares segundo nos informa o professor Lopez Carreira (2005:111-141).
Em troca, esse
Reino galaico vai ser denominado de
Reino de Astúrias ou Reino de Leão nos textos da historiografia
tradicional castelhanista embora achemos
em aqueles textos de maior fiabilidade e não retocados pelos cronistas castelhanos de séculos posteriores, um
Gallaeciense Regnum, Al-Khalikija ou Christianorum Regnum. A sua primeira corte
é em Cangas de Onis, na região das Primórias, posteriormente em Právia, depois Oviedo e mais tarde nas cidades de Leão ou Compostela. Duas capitais: uma política e outra religiosa, seguindo modelos do Sacro Império que tinha a Roma e Aquisgrão.
Foi com a chegada dos muçulmanos à península (710 d.C.) quando aparecem as
inovações específicas e mais características da nossa língua, resultado do
isolamento dos falares da Galiza medieval e da peculiaridade do Reino criado
pelos Suevos trezentos anos atrás. Surge assim nos séculos VIII e IX a língua
do Reino da Galiza que se vai manter por oposição à Espanha muçulmana,
denominada esta última pelos documentos da época de Spanija, ou Al-Andalus.
Éste latim
norte-ocidental começa a se diferenciar dos outros latins da península e da Romania. Já não é tanto ulterior, quanto especificamente galaico e vai acabar impondo-se sobre a sua antecessora e céltica língua galaico-lusitana da mesma forma sobre a fala dos imigrantes germânicos
centro-europeus gerando por volta do século X um Proto-romanço galaico,
Galaico ou Galeco como lhe chama Carvalho Calero
(1983:15-27).
Segundo nos contam estes
nossos autores podemos deduzir que houve um momento de bilinguísmo substitutivo entre o romanço proto-galaico e a língua céltica galaico-lusitana que acabou com o retrocesso e desaparição da
tradicional língua céltica galega, lusitana e provavelmente também cantábrica a partir do ano 1000
aproximadamente, como nos diz Higino Martins (2008: 151).
Esta forma de
romanço primitivo vai ser a base tanto do galaico-português como do
asturo-leonês, assim como ulteriormente do castelhano, como forma de
asturo-leonês mas oriental. Coseriu chama-lhe a essa língua Galaico-Asturiana,
(1987: 793-805) e Rodrigues Lapa simplesmente nomeia-a de Romanço Galaico
(1981:54). Nós concordamos com Carvalho Calero e Rodrigues Lapa no nome de Protogalaico
ou Galaico por serem nomes mais amplos e abrangentes de toda a
Gallaecia histórica.
É o professor Ricardo Carvalho Calero quem nos
comenta o facto de ser esse Galaico
o proto-romanço do qual surgem inicialmente tanto o galaico ocidental ou
galego-português quanto o galaico oriental ou asturo-leonês indiferenciados
entre si num começo e que ele identifica por volta dos séculos IX e X. (1983: 18)
Do Galaico Oriental, ou asturo-leonês neste
caso, surge na sua parte mais oriental o que posteriormente seria o castelhano
sob substrato vasconço e importante influência navarro-aragonesa. O próprio
professor espanhol Rafael Lapesa (1991: 162) reconhece que as Glosas Silenses e
Emilianenses do Mosteiro Riojano de San Millán de La Cogolla não estám num
primitivo castelhano como se nos ensina habitualmente, mas num originário
navarro-aragonês, o qual não é em absoluto estranho se temos em conta que a
Rioja é uma região originariamente vasconça e navarra.
Segundo Lopez
Carreira (2005:105) o vínculo parental e originário entre o Galaico e o
castelhano pode ficar intuída num comentário que faz o
bispo e historiador castelhano do século XVII Frei Prudencio de Sandoval, quem
nos fala duma História da Espanha redigida no século XIII e provavelmente
traduzida para o galego-português no XIV. Diz-nos acreditando na sua
antiguidade que a original está numa “lengua castellana tan cerrada que
parece portuguesa”.
O protagonismo dessa primeira parte da Idade Média corresponde ao Gallaeciense Regnum
até o momento em que Castela colhe força política e militar. A língua desse
território começa a desenvolver-se com a força que lhe dá um poder político
forte e soberano e um prestígio na Europa que reconhece a Galiza segundo John
Mundy (1991:40) como um dos três impérios do momento: O Império Bizantino, o
Sacro Império Romano Germânico e o Gallaeciense Regnum.
“in 1159 the northern annals of
Cambrai spoke of three empires: the Byzantine, the German and of the Galicia
(St. James of Compostela)”
Os limites do
romanço dos galegos nessa altura histórica seriam os limites desse Gallaeciense
Regnum -que tanto negam os historiadores pró-castelhanistas- até o ponto de
Roger Wright dizer (1991:21-22):
“antes do milénio e quiçá antes do século
XIII desterremos também os conceitos distópicos pouco úteis e anacrónicos tais
como galego, leonês, castelhano(...); todos esses conceitos modernos estorvam à
vista clara. A península (aparte dos que falavam basco, árabe, hebreu, etc)
formava uma grande comunidade de fala, complexa mas monolíngue”.
Do nosso ponto
de vista talvez não monolíngues em tudo o âmbito peninsular mas sim monolíngues no que diz respeito ao
território do Gallaeciense Regnum por ser esse galaico provavelmente
diferente do latim citerior que teria originado as falas catalano-aragonesas.
Intuimos com isto que o complexo catalano-ocitânico pudesse conformar outro núcleo linguístico diferente
ao do Reino Galaico ligado mais à Gália franca do que ao Noroeste hespérico. No meio, o basco marcaria uns interessantes limites pouco reconhecíveis para um leitor do século XX ou XXI.
Essa situação
linguística da velha Galiza medieval -que o professor Carvalho Calero diz
“Viveiro de Romanços”-, vai perdurar enquanto dura a hegemonia galaica com um intuito de construção de uma unidade peninsular sob projeto nacional galaico. Isto
é até aproximadamente a assunção ao poder do navarro-castelhano Fernando I, no
século XI e talvez até o século XII onde o começo dos conflitos políticos
pelas estremas castelhanas vão favorecer as ruturas linguísticas. De não se
produzirem estas ruturas políticas, a unidade linguística galaica e a sua hegemonia no contexto peninsular seria perdurável.
Na altura essa língua é nomeada já de “galego”, bem por ser a Gallaecia o seu
berço originário, bem por entenderem os coevos que era a língua desse reino
denominado por todos na altura de “gallaeciense”.
Finalmente com
as ruturas de Castela no oriente e de Portugal pelo Sul, ficam alterados e deslocados os equilíbrios polítivos e as hegemonias vão ver-se modificadas. Justo no momento de maior florescimento
da Galiza acontece a sua desintegração territorial, desequilibrando as forças
peninsulares em detrimento do poder galaico e em favor do castelhano-toledano.
Entre os
séculos IX ao XII vai dar-se uma etapa na história da língua na que o seu uso
vai ser fundamentalmente oral enquanto as formas escritas pelos letrados
daquela época vão ser um jeito de latim medieval cheio de giros que havemos de
reconhecer como próprios do atual galego-português.
Esta situação
de oralidade e tendo em conta a
importância do Gallaeciense Regnum e da sua língua em época alto-medieval,
causa-nos sensação de estranheza. Surpreende-nos que não sejam conhecidos
documentos anteriores ao século XII.
No caso de outras línguas romances como o
francês ou langue d’oil existem documentos do século IX como são os Juramentosde Estrasburgo (842) ou a Sequência de Santa Eulália (881) que consolidam esta
língua bem diferenciada do Latim. Mesmo nos romanços italianos achamos os
primeiros documentos em 960. Porque, portanto, o galego-português só tem textos
desde finais do século XII? Quiçá dentro da luta pela hegemonia peninsular
entre galegos e castelhanos se chegasse ao ponto de ter-se produzido
destruições de documentos antigos por razões políticas e interesses espúrios da
mesma forma que temos constância de manipulações e de outras desfeitas
conhecidas como é o caso do Bispo Pelayo de Ovedo, Ximenez de Rada, Lucas de
Tui, e outros?
Partindo desta oralidade, pouco a pouco o já galego vai ser empregue como língua
normal em todas aquelas funções que uma língua tem num país normalizado e
soberano, sem distingos sociais. Todas as funções, exceto a internacional, que
é reservada para o latim.
Esta
situação funcional é também normal na Europa nesta altura histórica da que
estamos a falar. Na Galiza parece apresentar uma situação de diglossia galego/latim
que não oferece obstáculos nem anormalidades dentro dum contexto inserido no
Orbe cristão europeu que se exprime basicamente em Latim como língua franca
continental. É portanto o galego a língua de todos os galegos, mesmo dos reis
da Galiza, forem estes coroados em Compostela, Oviedo ou Leão. Os reis
-comenta-nos André Pena- falavam galego e mesmo os filhos dos reis eram criados
por tutores da aristocracia galega, os quais marcavam o caráter dos futuros
monarcas, marcavam a política e mesmo as relações diplomaticas da época (A. Pena,
A:1995).
Guardamos provas documentais indiretas da língua dos Reis, como a recolhida por Frei Prudencio de Sandoval, historiador originário de
Valhadolid do século XVI-XVII que reproduz os soluços de Afonso VI perante a
morte em 1108, na batalha de Uclês do seu filho Sancho, herdeiro do trono. A
língua na que chora o Rei não é precisamente o castelhano.
Segundo nos conta Sebastián Rico (1970: 219)
na crónica do Frei Prudêncio de Sandoval o Rei diz:
“...y
en la lengua que se usaba dijo con dolor y lágrimas que quebraban el corazón:
Ay meu filho! Ay meu filho! Alegria do meu coração et lume dos meus
olhos, solaz da minha velheçe! Ay espelho em que me soya veer, et com que
tomava muy grand prazer! Ay meu herdeyro mor! Cavaleyros, hu me lo leixastes?
Dade-me meu filho Condes!”
Outros autores confirmam isso mesmo como por exemplo António José Saraiva (1995:15), ou mesmo Afonso o Sábio na sua Primeira Crónica Geral de Espanha, Benito Cano em 179 etc...
Mas foi na época de Afonso VII Reimundes o Imperador, que se nos faz passar por castelhano nos estudos oficiais de todas as universidades da península (2)
quando o condado portucalense consegue a sua
independência fazendo da nossa língua comum a sua língua nacional.
Língua que desde esse momento vai começar a ser enxergada como língua
portuguesa.
Também não nos admira que reis posteriores
como Afonso o Sábio (Afonso X segundo o cômputo castelhano, mas IX segundo o
cômputo galego) ou Fernando III empregassem o galego-português como língua
veicular. Era a língua natural desses Reis mas foram curiosamente estes dous
últimos os que mudaram o sentido do projeto unificador peninsular. Dum projeto
galaico passou-se a um projeto castelhano. É por isso porque a península
ibérica de hoje está ocupada majoritariamente pela língua castelhana.
Textos
Documento não orginal mais antigo
galaico-latino (doação á igreja de Sozelo). Ano 870.
Christus. In
nomine domini nostri Jhesu christi. In honore sanctorum Apostolorum Martirum
confessorum Atque uriginum et omnium chorum angelorum salutem Aeternam amen.
Ego cartemiro et uxor mea Astrilli abuimus filios et filias nominibus fofinu et
gaton et arguiro et uistremiro quinilli et aragunti.et peruenerunt illos filios
barones ad ordinem monacorum.et accepit inde fofinus ordinem primiter
habitantem in eclesia uocabulo sncte eolalie uriginis fundata in uilla
sonosello de presores de ipsa uilla. Ego carterimo et astrilli una cum filiis
meis fundaui eclesiam in nostro casale proprio exepre de nostros heredes
uocabulo sancti saluatoris sancti andree apostoli sancte marie uirginis et
sancti thome apostoli sancti petri apostoli accepit uoluntas dei.et factus de
ipsa eclesia cum ipso casale testamentum post partem de propinquis nostris et
pro remedio animas nostras et omnes defunctorum que in ipsa eclesia sepulti
sunt. Contestamus ad ipsa eclesia illa hereditate per suis terminis qui
habuimus de presuria que preserunt nostros priores cum cornu et cum aluende de
rege et habuimos VIª de ipsa uilla que habuimus per particione et medietate de illa
fonte de salmegia.contestamus cum suo ornamento eclesie libros casullas
uestimenta altaris uel templi cruces super euangelia et corona et calice et
patena argentea.contestamus in ipsaeclesia cum quantum ominis hic aprestitum
esto.sgnum caballos equas boues et uaccas pecora promiscua cubus et cupas
lectos et cagtedras mensas sautos et pumares mexinares uineales terras ruptas
uel barbaras casas lacar petras mobiles uel immobiles.et diuidet ipso casal ubi
ipsa baselica fundata est per casal de louegildo.et inde per rego qui descorret
a casa de trasmondo.et inde per ipso uallo et suos dextros et tornat se unde
primitus inquoauimus. Ego cartemiro concedo ibidem larea que iacet in çima de
ipso uiniale.et habet ipsa larea in amplo VIIIº passales et in longo peruallatur.contestamus
ipsum quod in testamento resonat ad ipsa eclesia et ad propinquis nostris
fratrum uel sororum monacorum uel clericoru.et qui bono fuerit et uita sancta
perseuerauerit habeat et possideat.contestamus ipsa eclesia cum omnia sua
ornamenta et sua prestantia.et qui hunc factum nostrum inrumpere quaesierit uel
extraneare uoluerit sedeat separatus et excomunicatus et cum iuda traditore
habeat participium.et insuper pariat due libra auri bina talenta et a domno qui
illa terra imperuerit aliud tantum, et hunc factum nostrum testamentum plenam
habeat roborem. Notum die erit pridie kalendas magii era DCCCCVIIIª Cartemiro
et astrilli in hoc testamento manus nostras rouoramus.
Gaton abbas confirmo –Zalama abba conf. –Randulfus presbiter conf.
–Biatus presbiter confo. –Gundisaluus conf. –Elias presbiter conf.
Pro testes –Aluaro
testes –Trasmondo test. –Gondulfo test. –Viliatus test. –Vimara test. –Gaton
test.
Menendus presbiter
notuit.
Texto
original galaico-latino mais antigo que se conserva datado no ano 882 e escrito
em letra mal chamada visigótica (3). Fala da fundação da igreja de Lauridosa,
hoje Lordosa em Vila do Conde:
Christus. In
nomine patri et filii et spiritus sancti.domnis inuictissimis ac
triumphatoribus sanctis martiris petri et pauli sancti migaeli arcamgeli.cuius
baselica fundamus in uilla quod uocitant lauridosa inter duas annes kaualuno et
cebrario subtus monte petroselo territorio anegrie.ego serbus dei muzara et
zamora damus adque concedimus ad deum et ad ipsa baselica que nos fundamus in
nomine sancti petri et pauli et sancti migaeli arcangeli.damus ipsa uilla ubi
ipsa eclesia fundamus in omnique circuitu suos dextruos sicut kanonica
sententia docet : duodecim pasales pro corpora tumudamdum (sic) et LXXIIos
ad tolorandum fratrum adque indigentium et foru dextruos ipsa uilla pro ubi
illa obtinuimus de presuria pro suis locis et terminus antiguiis cum pascuis
padulibus montes fontes petras mobiles uel inmouiles aquis aquarum uel sesicas
molinarum terras ruptas uel barbaras arbores fructuosas uel infructuosas
accessum uel regressum cubus cubas lectus katedras mensas signum de medalo
cruce kapsa calice de ariemto cum quamtumque ibidem aprestamo omnis est.damus
atque concedimus ipsum que sursur taxatum est pro remedio animabus nostris ad
ista eclesia adque sacrosancto altario quod subra taxatum est.concedimus ut
diximus pro uicto atque uestimentum monagus et fratres et sirores et propinquis
nostris et qui bonus fuerint et in uita sancta perseueraberint seculariter et
uia monastica obtinuerint in ipso loco.sibe pro luminaria latariorum uestrorum
uel elemosias pauperum.sicut lex et canonica sententia docet.et ibi notuimus ut
nec uimdendi nec donandi neque a rex neque ad commide neque ad episcopo neque
ad numlo omine inmitendi.se sidea semper inienua usque in sempiternum.et post
parte propimquis nostris et qui unc facto nostro infringere uel conare
tentaberit reus sit ad sancto comunione separatus et cum iuda traditore
accipiat participio in eterna dnanatione sint dimersit (sit) in baradro inferni
ubi fletus et ullulatus et anathema marenata accipiar.et in conspectu domini.et
não abeant cum domino in prima resurectione ressusitandi.nisi percusus (?) ad
eclesia et ab omni cetum christianorum......et insubra parient tantum et alium
tanto quantum inde abstulerit et insuper auri talemtum post parti testamenti et
coram pontificum.et iudice suo iudigado.et anc scriptura testamenti plena abea
firmitate: notum die quod erit VI kalendas abriles era DCCCCXXª. Muzara et
zamora in hanc kartula testamenti manu nostras.
Didagu conf.
–gumsalbo conf. –uermudo conf. –gutierit conf. –uiliulfo conf. –sisnando conf.
Uimara conf.
–gundiarius conf. –quiriagus conf. –gudesteo conf. –gudino conf. –iauini conf.
Floresindo
test. –mido test. –pelagio test. -gaton test. – sendino test. –iaquinto test.
Rodorigus abba
conf. –Joanne abba conf. –uermudus presbiter conf. –gunsalbus presbiter conf.
–didagus presbiter conf. –frariulfus presbiter conf. –froila presbiter conf.
Gudinus
presbiter notuit
Referências
(1) O latim galaico é um latim ulterior, diferente em origem do latim citerior. Se bem este segundo foi um latim que penetrou com a chegada dos romanos nos século III a.C. na península pela atual Catalunha, ou a Tarraconense da época, o primeiro, o citerior é um latim que chegou via comercial e militar pela Bética até a Gallaecia passando-se pela Lusitânia. Portanto o latim galaico do qual surgem tanto o galego-português como o asturo-leonês é um latim ulterior, diferente em origem e diferente em substrato do citerior que posteriormente criaria o catalão e o navarro-aragonês. Este último em contato com o basco.
O castelhano, do nosso ponto de vista é um latim basicamente citerior mas também sob um substrato bascão muito importante que lhe da forma embora numa região na que confluem também outras linhas de convergência linguística: por uma parte a influência galaico-astur de toda a etapa medieval na que o Gallaeciense Regnum marcava as linhas políticas, culturais e portanto linguísticas de toda a Idade Média e da que salientamos o facto de ser Compostela o foco irradiador de cultura como nos diz Eugen Cosériu; por outra parte a colonização da meseta norte pelos faramontãos provenientes da montanha cântabra, provavelmente de história linguística próxima do povo basco; e por último de grandíssima influência navarro-aragonesa, identificativamente citerior.
Diz Rafael Lapesa na sua “Historia de la Lengua Española" editada por Gredos na sua edição nona na página 162 que tanto as Glosas emilianenses como as silenses do mosteiro de San Millán de La Cogolla estão num original dialeto navarro-aragonês (não em castelhano). Lógico, se temos em conta que La Rioja é uma região originariamente bascona e navarra. Portanto, como poderíamos enquadrar o castelhano? Do nosso ponto de vista achamos que na península há dous blocos: o ocidental ao qual pertencem o galego-português e o asturo-leonês e o oriental o qual pertencem o aragonês e o catalão. Achamos que o castelhano é um latim surgido de todas as confluências anteriores que em nada teria como dialetos, dum ponto de vista genético, ao asturo-leonês nem ao aragonês. Por isso de fazermos os estudos dialetológicos peninsulares deveríamos tratar o castelhano, ou ibero-romanço central sozinho, enquanto os outros blocos, o ocidental (galego-português e asturo-leonês) e oriental (aragonês e catalão) independentemente do central. Devemos perder o medo a reivindicar o parentesco íntimo e não castelhano do galego-português com as falas asturo-leonesas mesmo tendo em conta a liberdade com a que se fala do assunto em Portugal. Não há mais do que lembrar Leite de Vasconcelos quando falava em co-dialetos no que diz respeito ao Mirandês, Guadramilês e Riodonorês a quem ninguém lhes discute a sua raiz asturo-leonesa. Digamos portanto que o asturo-leonês é um co-dialeto do nosso complexo linguístico ibero-românico ocidental surgido da velha Gallaecia. Não há vontade de assimilação do asturo-leonês mais que pela parte do castelhanismo histórico político-cultural que desfaz identidades e cria confusão no que diz respeito às origens dos povos da península Ibérica e especialmente no referido ao seu histórico concorrente: o projeto nacional galaico
(2) Castela tinha nascido como reino independente sete anos antes da coroação de Afonso VI em Compostela e o mesmo ano no que se corou em Leão, em 1065. Nas Universidades galegas e espanholas Afonso VI é denominado Rei de Castela, do mesmo jeito do que o seu neto Afonso VII. Mas o primeiro rei castelhano da história foi o irmão de Afonso VI, Sancho o forte, na realidade I (primeiro) de Castela. Na historiografia castelhanista é numerado como Sancho II em vez de III como seria seguindo as matemáticas básicas sem se lembrarem (seguindo a filosofia castelhanista) de que houve antes mais dois Sanchos: Sancho Ordonhes, o I (925-929) e Sancho o Gordo, que seria em realidade o II (955-956, e 960-967). Sancho Ordonhês que para além de ser coroado em Compostela e posteriormente no resto do “Gallaeciense Regnum” alguns textos da historiografia oficial preferiram deixá-lo de fora do cômputo e sem número. Como diz Anselmo Lopez Carreira (2003:90) “só as vezes é catalogado de “Rei privativo de Galiza” (com o que se quer dizer que foi quase um ninguém!)”
(3) A letra chamada de “Visigótica” já existia na península antes da chegada dos visigodos ao ângulo Noroeste. Do nosso ponto de vista seria mais correto chamarmos-lhe letra “suevica” ou “galaica”. http://despertadoteusono.blogspot.com/2011/09/o-que-verdade-esconde-1-parte.html
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1 comentário:
Uma precisão que quereria que alguém na precisasse:
O ditongo -ou- (e talvez -ei-) tão característico da "galeguidade" parece ser não primitivo, mas hipercorreção ulterior, segundo dizem que disse Diaz e Diaz, saudoso catedrático de latim na USC. Alguém pode comprovar se assim opinava o Professor? E seria certo?
AntonioGil
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