terça-feira, 10 de abril de 2012

Todos os terrorismos são delinquência.

Por José Manuel Barbosa.

Desde antigo a ideia de matar é delito. Tanto as legalidades antigas como as próprias religiões dizem que matar vai contra todo o desejável. Entre elas, na cultura europeia, a religião cristã decidiu aderir à lei mosaica de que matar é um pecado dos mais graves. Assim foi ensinado durante séculos pela cultura europeia e assim nos parece justo aos que pensamos com boa fé.
 Do nosso ponto de vista, matar é a pior das cousas que pode levar a cabo um ser humano contra outro, seja pelas razões que forem. Confesso que mesmo é difícil de levar a cabo ainda que seja para defender a própria vida, daí a grandíssima dureza das experiências de tantas pessoas que viveram o trauma das guerras.
Pergunto-me quantas pessoas haverá no mundo que morrem por não matar, ou mesmo morrem por salvar vidas. Acho que muitas.... 
O Reino da Espanha tem sofrido o terrorismo como têm sofrido outros Estados no mundo: Rússia, Reino Unido, Turquia, Estados Unidos.... Não é novo o assunto e infelizmente parece-me que também ainda não é velho.
Segundo a informação com a que contamos e que se comunica por todos os média, a gente morta pela E.T.A. desde o ano 1960 até o 2010 é de 947 pessoas. Um autêntico desastre. Mas sem querer tirar-lhe importância a tanta gente morta no Reino, quero lembrar que nos Estados Unidos houve aproximadamente 5 mortes violentas por cada 100.000 habitantes no ano 2010, o que nos dá um total de aproximadamente 15.000 homicídios ou assassínios no ano.
Quero dar outro dado: O total de mortos na  estrada no Reino da Espanha em 2011 segundo “El Mundo” de 30 de Novembro de 2011 é de 2.500 pessoas.
Também é algo para pôr os pêlos de ponta. Mas a diferença de tratamento de cada um destes frios números é totalmente diferente. Como é sabido, ninguém sai à rua por esses 2.500 mortos nas estradas do Estado. Ninguém pede melhoras nas estradas, nem nas viaturas, nem na organização do trânsito rodoviário para que essa sangria acabe, ninguém nos Estados Unidos sai à rua para protestar contra o sistema social e económico que leva mais de 15.000 pessoas para o outro mundo cada ano por se toparem com uma bala no caminho. Ninguém. O único caso de manifestação pública de rechaço e mesmo repulsa contra os atos de violência dos que tenho informação são aqueles que exerce o  terrorismo armado contra o poder estabelecido.
Mas porque é isto assim?
 Eu acho que é porque está a política metida pelo meio. Se não houver interesses políticos no assunto e com isso jogo de perdas e ganhos de votos, com total probabilidade  a violência terrorista nem sairia na TV se não for como uma anedota, tal qual é o número de mortos de todo um ano nos Estados Unidos ou nas estradas espanholas.
Ora bem, queria eu completar este meu pequeno artigo dizendo que na Galiza também há terrorismo. E não estou a falar de qualquer rapaz independentista que leva uma “Magefesa” ao seu Centro Social para fazer um cozido com os sócios e passa por um arma de destruição maciça. Falo dum terrorismo que existe mas não vai contra o poder estabelecido, mas exercido por ele. Evidentemente estou a falar dos incêndios que também têm uma organização, uma infra-estrutura, uns obscuros interesses económicos e políticos e uns “Josus Terneras” ainda que estejam escondidos em escritórios e vestidos de gravata.
Não é difícil ouvir falar em alguns lugares por parte da gente das aldeias do paisano que por necessidades económicas está disponível para receber uns poucos euros para lhe pôr lume ao monte. Essa pessoa se é apanhada por algum corpo de segurança não dura muito tempo no cárcere, ajudada por quem menos o esperamos. Eu mesmo lembro há quase um ano que algum responsável do cuidado dos montes falava que tinham muito trabalho porque deviam provocar um “incêndio controlado” para vermos dous dias depois como o Monte do Vieiro, nos lindes entre os concelhos de Vereia e Bande ficava totalmente arrasado e preto como o carvão.
Há pouco menos duma semana ardia a floresta atlântica mais grande da Europa: As Fragas do Eume. Vimos como os próprios média nos contavam como a inteligência humana foi utilizada para fazer o maior dano possível ao descobrirem o início dos fogos em lugares estratégicos e como uns interesses espúrios e malvados nos falavam de que havia um interesse especial por parte de alguma empresa de atentar contra as Fragas porque nelas havia jazigos de andaluzita.
Nenhum responsável político falou alto e claro disso, nenhum responsável político pôs o berro no céu para sairmos à rua a nos manifestarmos com as mãos pintadas de branco, nenhum político botou a sabida cantiga de que “há que condenar o terrorismo!”, nenhum político nem meio de comunicação acusaram de terroristas a tal ou a qual grupo político. Não há denuncias aos responsáveis de cuidar dos montes, não há ninguém no cárcere com nomes e apelidos, não há cartazes com um “se busca” com fotos incluídas nos edifícios oficiais, não há dedos sinalando cínicos que apagam incêndios vestidos com sapatos castelhanos, camisas brancas e mangueiras de regar os jardins, não há ninguém a quem haja que levar perante o juiz, não há nenhum político que diga que há que modificar a política florestal para recuperar os montes, não há ninguém a quem se lhe possa chamar delinquente, não há quem se meta com aqueles que omitem qualquer atitude de cuidado e proteção perante o património natural que se perde dia a dia à vista da gente impotente que só reage quando o terrorismo circula em sentido contrário a este. 
 Algum dirá: “ Es que aqui no hay muertos!”. E eu respondo: “Aqui vai haver mortos porque a Terra é a que nos dá de comer e essa riqueza deste País está sendo eliminada. Esta terra ubérrima fica sem o essencial para dar o seu fruto. Aqui vai haver mortos, mas esses ainda vão morrer lentamente de fome e de sede como não emigrem. Aqui a morte é lenta, não imediata como aquele que se topa no caminho com uma bala.”
Porque tanto silêncio? Porque tanto ocultismo neste assunto? Será porque os média não vão apresentar-nos dirigentes políticos de prestígio e com interesse nos votos como terroristas?
Por isso nós CONDENAMOS TODO TIPO DE TERRORISMO: O DAS PISTOLAS POR UM LADO E TAMBÉM AQUELE OUTRO QUE INCENDIA OS NOSSOS MONTES PAGANDO-LHE A UM POBRE MORTO DE FOME 600 EUROS PARA QUE NOS MATE LENTAMENTE...E SOBRE TUDO CONDENAMOS O CINISMO DE ALGUNS POLÍTICOS.



Notas:
Informação sobre o jazigo de andaluzita nas Fragas do Eume, aprovação por parte do Governo Galego da apertura da futura mina e posterior incêndio:

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