Por Francisco Varela
Tínhamos, por volta de 20 pessoas um encontro programado para celebrarmos, nos dias 5 e 6 de maio, as 1 Jornadas das Letras Galegoportuguesas. Foi desde o momento que soube da iniciativa, que a ansia invadiu o meu pensamento. Imaginava o irmanamento galaico do Norte com o Sul, do Sul com o Norte, o 'reencontro' da Galiza com a Galiza, imaginava o quebramento do silêncio intencionado e malvado, que desde os centros peninsulares de poder mantêm para submeter, a um povo, à ignorância da sua história e da sua verdade, para manter um mesmo país dividido secularmente pola metade.
Mas, o dia chegou, finalmente, e o encontro teve lugar e hora; foi em Mourilhe (uma freguesia de Montalegre) às 12:30 horas. O entorno de interior, montanhoso, achei-o insuperável, mesmo tocando a raia, essa artificial, que tanto dano nos leva feito; de um lado da serra, a norte, a Galiza que um dia renunciou a um futuro próprio, e que hoje anseia alcançar, e deste outro lado, a Galiza também, mas a Galiza sucedida e livre das fauces do colonialismo castelhano, a Galiza, que em dada altura da história, esqueceu o seu passado, e que hoje, quer recuperar.
Encontramo-nos então, no exterior da casa rural do grande estudioso da nossa história, costumes e cultura, o Padre Fontes, foi lá o primeiro contato que tanto esperei, do Norte com o Sul.
Após apresentarmo-nos, estreitarmo-nos as mãos, e cruzarmos umas palavras cheias de formoso colorido fonético, fomos convidados a passar ao interior. Foi ali, ao pé da lareira que já aquecia o nosso espirito celta, que o Barbosa, com amabilidade, apresentou o pessoal ao Padre Fontes.
Após a apresentação, fomos fazer um percurso polo interior da casa, da mão do Padre, que nos explicou a história de todos os tesouros históricos que ele, com carinho e sabedoria foi e vai classificando a modo de museu etnográfico.
Por volta das 14:00h tocou jantar, ou almoço (como o dizem de Ginzo para Sul): bacalhau ou carne a escolher, vinho da região e convívio afetuoso. Comimos sobremesa e batimos papo para, a continuação, o Padre Fontes dar-nos o seu mais sincero agradecimento por nos termos chegado e juntado ali, com o intuito de nos irmanar e aprofundar no conhecimento das nossas raízes celtas e encorajar-nos a continuar com iniciativas do tipo. Houve brinde e aplausos.
Vinha em breve a hora de achegarmos os nossos corações com recitais poéticos, a hora do conhecimento e a aprendizagem com palestras sobre a realidade celta da Gallaecia em Pitões das Júnias, e foi, por volta das 16:30h que saímos caminho da Junta de Freguesia. Assistimos ali os poemas e vídeo-poemas tão lindos que recitaram Rosa Martínez, Cruz Martínez, Nolim Gonçales, Ro Palomera, Barbosa, e Nel Gonçales (filho do amigo Nolim). Foi, com certeza um momento emotivo, de reivindicação, de protesto.
Nas palestras aprendimos da mão de Fátima Figueiredo, como a literatura medieval galegoportuguesa liga diretamente com a tradição celta por meio das cantigas.
Após a palestra, saímos para conhecermos os segredos das ruas de Pitões, aldeia que nos transporta a tempos nos que a humanidade, o trabalho e a festa ião de mãos dadas, a tempos nos que a pesar do hermético da fronteira transgalaica o povo de um lado e do outro da raia, fazia o impossível por penetrar e trespassar.
Já às 20:00h juntamo-nos na Taberna Terra Celta para usufruir do convívio e da irmandade ao redor duma boa ceia e boas conversas.
No dia 6, após o descanso necessário para repousar e assentar tantas lindas sensações e tão interessantes conhecimentos, reunimo-nos de novo na Junta de Freguesia para assistir à palestra de David Outeiro. Ele falou-nos e ensinou-nos sobre a pervivência das divindades celtas na mitologia e hagiografia galegas. Apreendimos também da mão de Blanca Garcia Fernández-Albalat, como ainda hoje, continua vivo na tradição galega, a soberania indo-europeia, celta e galaicoportuguesa.
Por volta das 13:00h e depois da intervenção (de agradecimento e encorajamento para continuarmos à frente em próximas datas com a iniciativa de reencontro e reconhecimento galaico) do Presidente da Junta de Freguesia de Pitões, o senhor António Azevedo “Ferreirinha”, como não podia ser doutra maneira, juntamo-nos de redor de uma mesa bem celta; equipada de boa jantarada, bom vinho e muito bom convívio, mas ao tempo, vendo já com grande pesar, que o final desta deliciosa e frutuosa experiência, aos poucos, ia chegando.
Depois da comida, da troca de impressões, experiências e entranhamento, de amizade fraterna com os companheiros e companheiras, saímos de visita turística polos arredores de Pitões, indo a conhecer a famosa 'Cascata' e o lindo Mosteiro de santa Maria, todo, num entorno natural e verdeceste que me deixou impressionado.
Após a visita, dirigimo-nos de volta, a aldeia de Pitões. Já ali, a despedida virou incontornável, mas que, longe de ser um adeus, foi um fraterno e saudoso, ATÉ JÁ IRMÃOS!
2 comentários:
Caro amigo Fram, fantástica crónica, lendo as tuas palavras e vendo essas imagens um tem a certeza de que qualquer galega/o ia sentir o latido do coração celta e lusófono que tem o nosso povo participando desse convívio e dessas jornadas. Apenas vem de começar, são as primeiras jornadas, mas virão mais e a cada dia galegas/os e portuguesas/es recuperarão com o auto-reconhecimento o seu passado e ganharão o futuro.
Que deliciosa viagem nas palavras de Francisco! Parabéns pelo texto e obrigada por nos dar a conhecer o momento, as comidas, as vozes proferidas, os conteúdos partilhados, enfim, por nos proporcionar sensações de um acontecimento tão rico como foi este.
Abraço, Hosamis.
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