quinta-feira, 27 de agosto de 2015

A Galiza: Uma identidade pouco conhecida.



Por José Manuel Barbosa

A consciência entre lusófonos da importância da Galiza na conformação da identidade de cada um dos povos que conformam a chamada "Lusofonia" começa a ser maior mas o desconhecimento ainda é grande. 
O Professor Marcos Bagno apresenta-nos o seguinte trabalho que posteriormente comentaremos. 
Compreendemos o desconhecimento que se possa ter desde o Brasil da longínqua Galiza, um povo com pouca autonomia para defender os seus interesses legítimos internacionalmente e governada por gente dirigida desde a Madrid pouco interessada em estreitar laços com um mundo para eles alheio. Por isso procedemos a corrigir alguns erros:
1- O reino de Galiza não existiu entre os séculos VIII e XI diz-nos o autor do texto mas o Reino da Galiza nasceu em 411 da mão do seu primeiro Rei de dinastia suevica Hermerico e deixou de existir por lei em 30 de novembro de 1833 em época da Rainha Isabel II.
2- O Reino da Galiza não era um reino vassalo do reino de Leão. O reino da Galiza era o território que ocupava todo o NW peninsular e a sua capital política, quer dizer, a corte, estava em Leão enquanto o poder religioso estava em Santiago de Compostela seguindo o modelo do Sacro Império Romano Germânico onde o poder civil e o religioso tinham duas capitais (Aachen e Roma no caso do SIRG). Galegos e Galiza, yallaliqa e Yalliqija era como os andaluzis denominavam a todo o território coincidente com a velha província romana de Gallaecia até bem entrada a Idade Média.
O reconhecimento da Galiza é testemunhado pelas fontes de toda Europa e também de Al-Andalus. Neste mapa do século XIX o autor da História de Espanha Modesto Lafuente traduz o nome árabe de "Jalikiah" por "Reino de León".

3- O conceito de "Reconquista" está em desuso por inexato e porque leva parelho outro conceito errado: o de "Repovoação". Não houve descontinuidade populacional nem organizativa nas regiões do Norte e Noroeste, enquanto no Sul o que houve foi uma autêntica conquista.

4- Em 1230 Galiza não passou a depender da Coroa de Castela e Leão. Foi em 1230 a primeira vez com que a Galiza (com Leão) se unificou com Castela, mas houve durante esse século e o seguinte períodos nos que ainda foi independente e outros períodos nos que se unificou novamente com Castela. Finalmente a princípios do Século XIV a unificação foi definitiva mas o poder político galego, a sua nobreza e a sua sociedade ainda eram soberanos e defensores dos seus interesses, só a partir de finais do século XV, após as revoltas Irmandinhas e a eliminação da nobreza galega por parte dos chamados Reis Católicos é quando a Galiza perde a sua soberania política. Daí em adiante a margem de autonomia era menor mas não nula e a categoria de Reino continuou até Século XIX. Não é certo, como diz o autor do texto que a Galiza esteve 750 anos dependente de Castela... Foi Castela a dependente até que com Sancho, filho de Fernando e Sancha e irmão de Afonso VI, teve o seu primeiro Rei independente em 1065... Até esse momento Castela era um território periférico da velha Gallaecia. No cômputo seguido pela historiografia castelhana figura como Sancho II mas na realidade é o primeiro Sancho de Castela, portanto Sancho I.
Os reinos hispânicos durante o século XIII: Portugal, Galiza-Leão, Castela-Toledo, Navarra, Catalunha-Aragão e reinos andaluzis.
5- Também não é certo que a Galiza nunca tivesse exército nem marina... Os exércitos galegos participaram de todos os confrontos desde o seu nascimento até a sua abolição como reino: contra Roma, contra os vândalos, alanos e visigodos, contra o poder andaluzi onde podemos salientar episódios como a conquista e entrada em Sevilha em 1248 da mão do ponte vedrês Paio Gomes Charinho Almirante das tropas galegas... as fontes dizem que a sua entrada foi com som de gaita...;
Tumba do Almirante Paio Gomes Charinho na Igreja de São Francisco em Ponte Vedra
Exércitos galegos também houve defendendo os direitos dinásticos de alguns Reis (Pedro de Trastâmara, Joana de Trastâmara...), defendendo tendências sociais (Irmandinhos ou exércitos nobiliários), fazendo parte dos terços galegos em América, guerras de Europa... o exército galego que lutou contra Napoleão organizado pela Junta Geral do Reino de facto independente por falta de monarca e sendo o primeiro País da Europa livre de franceses... Lembramos com isso figuras sobranceiras como o grande Bernardo Gonçalves do Vale "o Cachamoinha", libertador de Vigo e chamado assim por ser natural da aldeia do mesmo nome das aforas de Ourense e pertente ao Concelho do Pereiro de Aguiar ...,
Bernardo Gonçalves do Vale "Cachamoinha" Coronel do Exército galego libertador da parte sul-ocidental da atual Galiza dos franceses.
6- Não há uma família de línguas derivadas do galego... há uma língua histórica nascida na Gallaecia romana e medieval com variantes nacionais e regionais e cujo mapa se apresenta abaixo. Língua só há uma, origem só há um e variantes há umas quantas... Diversidade e unidade harmonizando-se entre si.

7- Finalmente concordar com o Marcos Bagno com que a obriga de estreitar vínculos é uma necessidade geo-estratégica, económica e identitária tanto para galegos como para o resto dos falantes da nossa língua.

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