sexta-feira, 27 de maio de 2011

Desperta do teu sono que já che vão sendo horas...

 
Por José Manuel Barbosa


O atual galeguismo tem um certo complexo de masoquista derrotado. Joga a perder e leva desde os finais dos anos 70 a querer governar a Galiza sem se dar conta que as portas é que se abrem com chaves e não com arietes.

Exprimo-me: O Bloco é uma formação política que legitimamente se define como nacionalista e de esquerda, mas o seu grande erro é pensar que todo o nacionalismo está dentro do seu seio. Acho isso um grave erro.

Para mim a Galiza deveria ter um panorama político-partidário completo, e não só uma formação de esquerdas numa situação sistémica como esta. Mas pôde ter sido diferente, pois se nos ofereceram momentos históricos importantes nos que se houve de consolidar uma conformação partidária normal como se dá em outras nações sem Estado de Europa e nomeadamente no Reino da Espanha onde com tão grande sucesso se tem desenvolvido.

Quando a primeira constituição do parlamento galego, lá pelo ano 1981 deu-se-lhe ao Bloco por não jurar a constituição. Com isso ficou afastado do Parlamento galego perdendo um tempo importantíssimo. Ali teria sido importante estar ainda que aquela situação de extraparlamentariedade fez refletir à gente do aparato até o ponto de modificarem a sua estratégia absurda e totalmente falta de pagmatismo. Aquela atidão errada facilitou a etiquetagem de radicais posta pelos de sempre e que leva funcionado à perfeição cumprindo objetivos de descrédito contra a única força nacional que a dia de hoje temos nas instituições.

Com a chegada da velha Coligação Galega em 1985, com os seus onze deputados, muitas pessoas chegaram a pensar que na Galiza se instalava a inteligência e se via como na última nacionalidade história, assim definida legalmente, começava a funcionar uma praxe de normalidade com um arco parlamentar próprio e completo. O incomodo dos de sempre e as suas artes de equipa italiana de futebol fez que em poucos anos aquele balão perdesse todo o oxigénio. A ideia era velha: fazer que só o Bloco jogasse como a única equipa autóctone, com uma inviabilidade política manifesta pelas suas praxes políticas quase soviéticas e pela imagem que se lhe gerava nos média de pró-etarras num campo de jogo estranho com umas normas que não lhe permitissem nunca ganhar.

Após uma eternidade de anos a governarem os de sempre o Bloco parecia que poderia conseguir algo, mas o campo de jogo cheio de lama e com os árbitros comprados era impossível chegar à baliza do contrário.


O problema nessa altura já não era que os outros tivessem más artes no jogo ou que os árbitros apitassem em favor da equipa italiana. Agora o problema era que o dogmatismo próprio não estava pelo labor de adequar as estratégias, as técnicas e as táticas a uma situação diferente à dos anos 80. Agora fazia falta algo mais de adaptação para apanhar votos ali onde estão, que não é justamente onde Marx dizia. O Bloco queria ser o único galeguismo possível e conseguir vitórias apanhando apoios ali onde não havia votos parecia não levar a nenhures.

Por outra parte havia quem sim tinha vontade de jogar no centro do campo e mesmo pelas bandas direitas mas o bloco insistia em atacar pela esquerda que era onde mais defensores da equipa italiana havia com um forte cattenaccio que mesmo parecia a muralha de Adriano

E assim estamos, com um galeguismo que se esgota querendo entrar pela esquerda e com um flanco direito totalmente vazio. Acho isso um erro gravíssimo que faz que a Galiza esteja como está: Governada pelos de sempre que se emborcam felizes porque os galeguistas não sabem ou não querem atacar pelo centro e/ou pela direita abrindo jogo. Justo como fazem as nações sem Estado inteligentes que prometem um sucesso imediato. É por isso pelo que eu pensei sempre que na Galiza faz falta uma força política galeguista de centro-direita. Quando houver essa força os equilíbrios entre os partidos serão outros. Não haverá maiorias absolutas do PP e o Bloco teria uma alternativa quando ele não funcionar (cousa que acontece nestes últimos anos).

Por outra parte os de sempre levam obstaculizado ao máximo a criação dessa força porque sabe o que se lhe viria acima se esta existir ainda que devemos fugir da ideia de querermos botar-lhe as culpas aos contrincantes políticos, porque... lembremos, eles acreditam numa ideia de Espanha que se passa por esvaziar de conteúdo nacional a Galiza. E isso é que o fazem sem se despentearem pelo poder que os galegos estão a ceder constantemente à contra dos seus interesses. Não lhe botemos culpas. É o seu labor: estragar tudo o que há de sagrado neste País. A responsabilidade de defendê-lo tem-na o galeguismo que o permite por não querer modificar as suas estratégias e as suas formas de fazer política. Esse galeguismo está a deixar que isto aconteça.

Acho que o Bloco está nestes momentos em fase queda livre no que diz respeito à confiança que gera no votante galego. Não é capaz de dar no alvo nem sabe criar elementos que o façam atrativo para que o projeto galego tenha um mínimo de sucesso. Joga no terreno do PP e do PSOE, está sequestrado e não há alternativa.

O PSOE nestes momentos não oferece nada à Galiza, nem bom nem mau. É totalmente plano no seu encefalograma até o ponto de que por não saber, não sabe nem sequer tornar-se "galeguista" como o PSC é catalanista em Catalunha. Nem sequer é capaz de assumir essa condição de galeguista com a sobradez com a que o Manuel Fraga chegava a fazê-lo conseguindo trazer para si um celeiro de votos que acabou gerando umas rendas das que a dia de hoje vive o Feijoísmo, apoiado na comodidade da ignorância que nasceu ao redor do ex-ministro de Franco.

A situação da Galiza é péssima do ponto de vista económico, social, político, cultural, linguístico, não se cria riqueza no País, volta a emigração às casas dos galegos, a sociedade está total e absolutamente subvencionada... morre mais gente da que nasce e a patetada galaica pensa que isso é algo gerado em Madrid quando na realidade Madrid pouco poderia fazer se os galegos tivéssemos governos que defendessem os nossos interesses com total normalidade e explorassem as nossas riquezas materiais, espirituais, morais, culturais com inteligência e com a sabedoria que deveria fornecer a responsabilidade de ter a Galiza nas nossas mãos. Algo pelo que muitos galeguistas morreram e sofreram nas longas noites de pedra que se sucedem e perpetuam desde os tempos de Maria Castanha.

Levamos mais de 30 anos a desaproveitar a situação de autonomia política que custou sangue, suor e lágrimas. Levamos permitido que os de sempre estraguem a Galiza num pingar contínuo de despropósitos. Nós temos a possibilidade de prosperarmos mas os de sempre estão a rebentar a saída natural do que para eles seria o terceiro território que poderia causar-lhes um problema "nacionalista". Como isto é um perigo em potência para eles, é-lhes melhor fazer uma limpeza étnica encoberta e incruenta do que agirem governando-nos só um pouquinho.

Parece mentira que muita da nossa gente não acabe de dar-se conta disto. Prefere dormir o sono dos justos sem tomar consciência de que somos o território peninsular potencialmente mais rico e com mais hipóteses de encaixe e de sucesso no mundo do que ter a consciência de que ocupamos fisicamente a coluna vertebral do mundo civilizado, pertencendo a um mundo atlântico, céltico e lusófono que para si quiseram muitos países, mas se o pessoal está dormido -já o comentei-, não é culpa de quem o dopa, é de quem se deixa e de quem o deixa, quer dizer, é responsabilidade nossa e de quem tem o dever de nos guiar na nossa autoafirmação, na nossa identidade, na nossa defesa como povo e na nossa reafirmação e autoestima.

sábado, 14 de maio de 2011

Sobre uma possível reforma territorial




Por José Manuel Barbosa
Há uns dias, o presidente do governo espanhol disse que de entre as medidas que o seu governo ia tomar para poupar dinheiro perante a crise que o mundo ocidental está a passar e nomeadamente o Reino da Espanha, não estava o de eliminar as Deputações provinciais.
A alternativa não a disse, mas sim a têm manifestado certos lideres favoráveis à divisão provincial que a mantêm desde épocas pré e proto-democráticas quando já escreviam artigos contrários à própria Constituição e ao Título VIII da mesma. O tema era o desacordo com a existência das chamadas vulgarmente “autonomias”, entre as quais está a nossa Galiza com a categoria de “nacionalidade histórica”.
Mas o que também não se diz é que em qualquer caso há que modificar a Constituição do 78 se houver vontade real de suprimir as Deputações, como também se há vontade de eliminar as autonomias.
A proposta do galeguismo sempre foi a de converter Galiza num único território (não quatro como hoje) dentro da qual houvesse Comarcas e dentro das quais se desse entrada às nossas Paróquias rurais ou Freguesias com personalidade jurídica própria e organização legal e administrativa.
Uma organização assim pouparia muito dinheiro, pois nem as Deputações provinciais nem os 315 Concelhos reduzem as despesas nem os orçamentos. Só servem para alimentar um número excessivo de funcionários, um grande número de cargos inúteis e um caciquismo endémico e quase identitário tão daninho ou mais para o nosso País como os mesmos incêndios florestais.

Uma Galiza governada por um poder único desde Compostela, com um governo galego com autoridade sobre, só, uns cinquenta e poucos Concelhos-Comarca, cada um dos quais com um número determinado de Juntas de Paróquia ou Freguesia simplificaria muito as cousas e favoreceria a nossa sobrevivência como povo, só preterida por aqueles que não nos matam, mas também nos dão o necessário para que morramos.
Se as cousas fossem assim haveria uma redução muito importante dos representantes políticos de forma que pouparíamos grandes quantidades de dinheiro público e agilizaríamos a administração, minimizaríamos o clientelismo e o caciquismo e de passagem poderíamos solucionar muitos problemas territoriais originados na falta de respeito à organização territorial tradicional deste País, como é o caso d’Os Peares...e outros.
De tudo isto leva-se falado muito ultimamente nos média, mesmo desde partidos como o PS que também quer uma redução de Concelhos. Sem mais. Sem dizer nada das freguesias. Se isto fosse assim sem ter em conta as estruturas mais pequenas da divisão do território sem qualquer matiz não nos solucionaria absolutamente nada. Ao contrário, complicar-nos-ia ainda mais as cousas. O problema da despovoação seria muito mais grave do que já é agora se não se tiver em conta a organização paroquial, pois sem organização paroquial e com Concelhos do tamanho duma comarca as populações veriam muito mais distantes os locais das administrações e faria com que muitos núcleos habitados do tamanho de Luintra, Valdovinho, Toques, Touro, Ourol, Negueira de Monis, Cervantes, Carvalhedo, Cotobade, Vila Boa, Oia, Crecente e muitos semelhantes ficassem totalmente despovoados num prazo de poucos anos. Isso ocasionaria o abandono total das terras, o desarreigamento total dos galegos, o crescimento do mato favorecendo os incêndios e a degradação do solo, o desaparecimento do património arqueológico, cultural e artístico mais importante da península e a desvinculação dos galegos da sua terra e da sua maneira tradicional de perceber a existência.
O atual Estatuto de Autonomia tem cinco Títulos, quatro disposições adicionais e sete transitórias. O Título III está total e absolutamente em branco, sem desenvolver desde o momento em que se fala de reconhecer a Comarca e a Paróquia rural com personalidade jurídica própria. Este ponto não foi atendido por nenhum governo galego em trinta anos de autonomia. Ninguém teve vontade de articular o nosso território segundo os nossos esquemas tradicionais de povoamento comuns a toda a velha Gallaecia histórica (atual Galiza, Norte de Portugal e território astur-leonês). Isto é muito grave e cheira-me que a falta de vontade tem a mesma vontade e a mesma obscura intencionalidade do que o ataque à língua reduzindo-a à uma categoria de fala inferior para evitar uma reafirmação do ponto de vista identitário, social e legal; do desleixo a respeito do património cultural; do ocultamento da historiografia galega em contraposição à sobrevalorizada historiografia castelhanista; da eliminação de sectores económicos durante as últimas décadas provocando desemprego em massa, emigração e ruptura social; das dificuldades para criar empresas no nosso País favorecendo o deslocamento para Madrid das já existentes; a emigração brutal do melhor da Galiza; da desvinculação da Galiza do seu mundo linguístico galego-português e histórico-étnico céltico e atlântico; de aplicar soluções mediterrâneas a um País atlântico como o nosso, desrespeitando os seus legítimos interesses e vias de expansão...e assim até esgotar todo o argumentário que nos faz um País com necessidades especiais em situação de carência e necessitado de terapia social.
Ainda assim poderemos ver as soluções se optarmos por visualizar o problema com perspetiva que nos faça perceber o assunto em conjunto ajudando-nos a reconhecer a situação real e o enganados que nos têm. Isto faz-me lembrar aquela famosa frase dum valente democrata de livro como foi Abraão Lincoln que dizia: “Pode-se enganar a todo o mundo algum tempo; pode-se enganar a alguns todo o tempo, mas não se pode enganar a todo o mundo todo o tempo”.

Confio em que todos os galegos não nos deixemos enganar todo o tempo embora se realmente todos os galegos nos deixamos enganar todo o tempo faremos legitimo o racismo que durante séculos se exerceu sobre nós desde o poder do planalto. Nos últimos anos pareceu como se houvesse vontade em desenterrar esse facto mas se não formos capazes de podermos com essa lousa que temos desde há séculos por causa da comodidade, da inércia histórica, por indolência, ou pela simples e fácil estupidez de acreditarmos em aquelas forças políticas anti-galegas que nos levam afogado durante demasiado tempo, não conseguiremos mais do que nos fazermos merecedores dum futuro como o dos dinossauros.
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