quarta-feira, 19 de abril de 2017

VI Jornadas galaico-portuguesas de Pitões das Júnias





Sábado 13 de Maio
1º Painel: Apresenta Maria Dovigo

  • 10:00: Presentação
  • 10:30: Iria-Friné Ribera: Celtismo: O Amanhecer da estética moderna galega
  • 11:30: Joam Evans: Ogham: apontamentos sobre uma escrita galaica 
  • 12:30 : Francesco Benozzo: Apresentação do livro “Speaking Australopithecus. A new theory on the origins of the human languages” (Francesco Benozzo & Marcel Otte)
  • 13:30: Comida


2º Painel: Apresenta Maria Dovigo


  • 16:30: Joaquim António de Jesus Palma Pinto: Ética Espiritual Celta: valores intemporais para tempos atuais”
  • 17:30: Mesa redonda: "A utilidade socio-económica do Celtismo na Galiza e no Norte de Portugal“
  • 20:00: Música: Francesco Benozzo."Uma viagem atlântica. Música desde as fronteiras célticas" (voz, harpa céltica e harpa bárdica)
  • 22:00: Churrascada popular


Domingo 14 de Maio


  • 10:00: Visita à aldeia desabitada de Juris (Castro habitado até a bem entrada a Idade Média) e ao Carvalhal de Porto da Laja (Antigo nemetão céltico).
  • 13:00: Clausura
  • 14:00: Comida de Irmandade

    Participantes:
    Sra. Doutora Maria Dovigo, Academia Galega da Língua Portuguesa
    Sra. Dra. Íria-Friné Rivera, Universidade da Corunha
    Sr. Dr. Joám Evans, Academia Galega da Língua Portuguesa
    Prof. Doutor Francesco Benozzo, Universidade de Bolonha / Candidato a Prémio Nobel
    Sr. Doutor Joaquim Palma Pinto, Centro de Estudos de Filosofia (UCP) / ATDL


    Aqui podem fazer reservas para comidas e dormidas nas Jornadas
    http://www.casadopreto.com/

quarta-feira, 12 de abril de 2017

Uma atitude razoável



Por Paulo Soriano


Há um conto que começa assim:
Eu tenho um animal curioso: metade gatinho, metade cordeiro. É parte da herança de meu pai. Em meu poder, ele se desenvolveu completamente. Antes, era mais cordeiro do que gato. Agora é meio a meio. Ele tem do gato a cabeça e as garras; do cordeiro, o tamanho e a forma. E, de ambos, os olhos, mas agitados e selvagens, assim como os pelos, macios e rentes ao corpo. Os seus movimentos são saltitantes e sorrateiros. Ao sol, no peitoril da janela, enovela-se e ronrona. No campo, corre como um louco e ninguém o alcança. Ele foge dos gatos e procura atacar os cordeiros. Nas noites de luar, apraz-lhe passear sobre as canaletas dos telhados. Não sabe miar e abomina os ratos. Ele passa longas horas espreitando o galinheiro, mas jamais aproveitou uma oportunidade para matar...
O conto foi escrito, em 1917, pelo escritor morávio, de expressão alemã, Franz Kafka. Nele, o brilhante contista retrata a angustiante condição de quem padece do hibridismo, mescla que leva à absurda situação em que qualquer tentativa de identidade é impossível e, ao final — veremos — imensamente destrutiva. Mas, não nos antecipemos. Juntos, voltaremos ao conto de Kafka mais tarde.
Soube por meio de meu amigo José Manuel Barbosa, de uma entrevista ao sociolinguista espanhol Henrique Monteagudo  — que é profesor de Filoloxía Galega na Universidade de Santiago de Compostela e Secretário da Real Academia Galega — publicada no sítio Quilombo Noroeste. Leia aqui. Cá, falo algo sobre o que, como brasileiro e lusófono, penso acerca do que disse o súdito de sua Majestade.
Não hei de resumir a entrevista concedida pelo escudeiro de El-Rei. O leitor pode lê-la na íntegra no sítio acima indicado. Digo, apenas, que o senhor espanhol parece muito pouco fiel à sua língua de nascença (sim, o senhor Monteagudo nasceu não em Madri ou em Sória, mas na Galiza!), quando, tomando por castiços, emprega termos canhestros como a respecto ou por suposto, utiliza uma conjugação verbal de causar arrepios (aínda que parece estar), troca — e sem trocadilhos, leitor! — “trocar” por “cambiar” (as cousas cambien), e ainda se digna a debuxar (o filólogo conhece com certeza o verbo desenhar, mas, como bom feudatário espanhol, prefere o galicismo tão comum e caro ao seu suserano franco-castelão) os caminhos nos quais o galego deve seguir doravante...
A um valete assim tão fiel, a um funcionário tão sensível, seria possível imaginar o galego como uma língua internacional? Já lhe não basta e sacia um galego que, para a alegria de Castela, não é carne e nem é peixe? Nem gato, nem cordeiro, mas, ao mesmo tempo — e tragicamente — gato e cordeiro? A quem interessa o insulamento da Galiza? A quem interessa um galego castrapo? A quem interessa a normativa castelã, que tanto estorva e empeça a comunicação escrita da Galiza com as demais nações lusófonas?
O real acadêmico assegura que, falando galego em suas palestras a ouvintes brasileiros, a intercomprensión mutua é moi doada e esixe pouco esforzo. Concordo com ele. E vou além. Digo, por experiência própria, e bem fecunda, que o mesmo acontece quando um brasileiro palestra na Galiza (de Oeste a Leste da Galiza, e vice-versa, em verdade). Mas ele alega que a comprensión espontánea do discurso en galego tamén me ten acontecido ante públicos hispanófonos. E por que não? Por que seria diferente, se a fala vem de um filólogo que se esmera em escrever galego na ortografia espanhola; substitui, e sem necessidade, os termos castiços por vocábulos e expressões profundamente castelãos; viola — e rudemente — do galego elementares vozes de conjugação verbal?
A reação do sociolinguista espanhol ao reintegracionismo era-me bem esperada. Nada a dizer. Não vou malhar em ferro frio. Neste sentido, devolvo — e bem devolvido, já que não sou espanhol, mas brasileiro — a ele, coa mesma moeda, o sexo dos anxos.
Quanto a nós, brasileiros, estamos bem (e muito bem, obrigado!) na companhia de Alexandre Herculano, Camilo Castelo Branco, Castilho, Fernando Pessoa, António Vieira, Florbela Espanca, Gil Vicente, José Eduardo Agualusa, Bocage, Antero de Quental, Miguel Torga, Mia Couto, Eça de Queiroz, Sophia de Mello Breyner Andresen, Herberto Hélder, Almada Negreiros, Almeida Garret, Sá-Carneiro, Camões...
Não, amigos, os brasileiros não precisamos de secessão alguma. Nem de norma brasileira autônoma qualquer, o primeiro e decisivo passo àquela ruptura indesejada. Amamos a nossa língua como ela é, com todas as suas variedades, cores, sabores e gradações. E ela é a língua portuguesa. Esteja ela onde estiver, mesmo que — e talvez por melhor motivo — acima do Minho, nós a amamos.
Ela, e somente ela, é a nossa Soberana.
Mas, será que não concordo em nada com Monteagudo? Concordo sim! Já o esbocei um pouquinho lá em cima. E, um bocadinho mais abaixo, devo concordar plenamente com que o que disse o sociolinguista espanhol:
Polo camiño que imos, o galego corre un serio risco de retroceso catastrófico e irreversible.
Com certeza! O camiño que ele apregoa, aqui no Brasil e alhures, não leva senão a uma triste e autodestrutiva conclusão. Ele — este tenebroso sendeiro, este caliginoso caminho — não é nada menos que aquele que nos diz o desfecho do conto de Franz Kafka:
...Acredito seriamente nisto. Ele tem em si tanto a inquietude do gato quanto a do cordeiro, embora estas sejam diferentes. Por isso, ele sente-se tão incomodado na própria pele. Às vezes, ele salta à cadeira de balanço, apoia as patas dianteiras em meu ombro, e toca-me o ouvido com o focinho. É como se falasse comigo. De fato, ele vira a cabeça para mim e me olha, observando o efeito que a sua comunicação produziu em mim. Para comprazê-lo, ajo como se o compreendesse, balançando a cabeça. Então, ele salta ao chão para brincar.
Talvez a faca do açougueiro seja um alívio para esse animal, mas ele é uma herança de família e, por isso, eu tenho que lhe negar o favor. Por isso, ele deve esperar até que deixe de respirar por si próprio, malgrado às vezes ele me olhe com os olhos da razão humana, exigindo de mim uma atitude razoável.
Sim... Uma atitude razoável...


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