domingo, 17 de novembro de 2013

Somos os perdedores?





Por José Manuel Barbosa

O dia anterior a escrever estas linhas, vi o debate sobre o estado da Nação celebrado estes dias passados no parlamento do Hórreo. Como quase sempre nas últimas décadas é tudo muito aborrecido excetuando as intervenções do José Manuel Beiras que são as que lhe dão sabor ao debate. De tudo o que ele falou quereria salientar um ponto que me deu para pensar e consequentemente originou este artigo que estais começando a ler.
O professor Beiras é pessoa com uma importante lucidez mental e com o seu brilho particular deu a conhecer a sua vontade generosa ao manifestar que ele tinha escolhido o bando dos perdedores (Vídeo aqui). Evidentemente isso não pode sair duma pessoa débil. Quem é capaz de se pôr da parte dos perdedores tem de ser pessoa de carater poderoso, generoso e estar bem disposto a recebê-las dos média, sempre prontos a vilipendiar todo aquilo que vá contra o stablishment originado desde os 80 quando se criou a Galiza autonómica -auto-anémica que diria ele próprio-. Outros personagens políticos preferiram a segurança do poder porque necessitam ocultar as suas carências e misérias humanas, tanto inteletuais, quanto políticas ou morais, debaixo da asa protetora da grandíssima besta das sete cabeças que é o que representa esse poderoso construto estatal despótico qual leviatã devorador de tudo aquilo que se lhe puser por diante, onde levamos submersos muito mais tempo do que seria desejável por qualquer pessoa conhecedora e amante do Nosso País.
Mapa da Corrupção do PP
A hipocrisia, a bastardia, os complexos, a corrução e a malícia ficam ao descoberto sempre nas figuras de quem nos têm governado os últimos quase trinta anos -embora nestes últimos tempos com mais baixeza do que nunca-, com personagens de nova geração que nunca acreditaram em si próprios, nem no povo galego, mas ocultando essa mediocridade, acrescentada no facto de se refugiarem nas siglas falsamente populares dum poder sem princípios nobres. Por essa pratica desleal dos políticos que nos regem hoje e pelo abuso ao que estamos submetidos por parte dessa grei de políticos descastados, o professor Beiras identificou-nos aos galegos com os perdedores.... mas isso chegou-me ao fundo. Perdedores, talvez, porque não estamos numa situação de libertação mas tudo o contrário...
Para o galeguismo oficial os obstáculos a vencer são dous: o sistema e o nacionalismo espanhol. A resposta desse galeguismo oficial ou institucional é a oposição visceral contra estes dous elementos como se fossem um só. Lógico, se esse galeguismo se tem definido como “nacionalismo de esquerdas”, mas duvido da sua lógica se de efetividade e de eficácia estamos a falar.
Desde os anos 60, o galeguismo tem sido um nacionalismo de barricada, de resistência, nunca um movimento com vocaçao de poder. Isso tem feito com que os partidos políticos com certo sucesso nestes últimos trinta anos -a maior parte deles integrados no BNG durante os anos 80, 90 e durante algo mais de uma década do século XXI-, tenham sido mal tratados e mal considerados desde todos os médios de comunicação, discriminados, manipulados e até abusados legalmente porque esses dous inimigos -sistema e nacionalismo espanhol-, aliados entre si têm colaborado estreitamente fazendo impossível botar abaixo tal construto. A sociedade galega tem ido de cara à desnacionalização nestas últimas três décadas muito mais rapidamente do que nos anos de Franco e de forma mais eficaz do que nos chamados Séculos Obscuros. A aliança anti-galega -sistema e nacionalismo espanhol- têm-se apresentado como invulnerável e invencível com um PP no poder como o PRI em México, intratável e burlador, corruto e totalmente desleal. Aliás, o PSOE, partido nada vinculado com os interesses do País (contrariamente ao seu homólogo catalão o PSC) age como colaborador do PP e obstaculizador do nacionalismo, com pouca ânsia de governar quando lhe corresponder e favorecendo o fora de jogo dos seus inevitáveis aliados de governo nacionalistas. O BNG em minoria e desempoderado foi sempre objeto de maltrato político e legal, evidenciando uma falta de eficácia importante a respeito da necessária construção nacional tão necessitada pelo Nosso País. Só duas ligeiras esperanças foram as que nos fizeram abrir os olhos estas últimas décadas: a última foi quando o Bloco chegou a ser segunda força política, pronto a governar e a primeira quando aquela histórica Coligação Galega chegou prometendo nacionalismo e governabilidade homologando-se assim aos sempre eficazes PNV basco e CiU catalão.
Ambas as esperanças morreram. A última por má gestão do Bloco e a segunda por uma muito boa gestão caciquil do PP comprando a vontade e a adesão dos daquelas nomeados “coagas” mais facilmente subornáveis. A gente digna da C.G. ficou no partido, mas fora do parlamento e sem qualquer hipótese de recuperarem os assentos do Hórreo.
Entretanto a Catalunha e o País Basco caminhavam de cara a sua construção nacional com a força suficiente como para pôr em apuros Madrid até o ponto de chegarmos ao momento no que estamos hoje, falando de independências e de criação de novos Estados livres na Europa fora do poder madrileno. Mas a isso chegou-se porque o nacionalismo catalão não se confrontou com o sistema ou pelo menos porque não mesclou a luta anti-sistema com a luta de construção nacional. A prioridade foi a reivindicação do direito a decidir em favor da construção nacional e não o confronto com um sistema, quer dizer, optaram pela luta política contra o inimigo mais assumptível: o poder madrileno. Confrontar dous poderosos inimigos ao mesmo tempo não ajudou nunca nada.
As circunstâncias criadas por trinta anos de cousas bem feitas ajudam na reivindicação da autodeterminação. Por outra parte se o povo catalão conseguir a sua soberania estaria em condições de atender ao outro problema, o sistémico, organizando-se conjuntamente com outros povos livres para botar-lhe à mão ao pescoço a uma situação mundial que se manifesta “anti-pessoas”. Botar abaixo um sistema dentro do próprio país desde a condição de nação sem Estado não é viável nem possível, ainda que se atenda essa necessidade... A falta de soberania impossibilita mudar as estruturas interiores porque sempre há um poder acima, o do Estado Central, que corta toda iniciativa. Sim é viável, em troca, modificar as próprias estruturas quando o País é soberano e mesmo pode colaborar com outros países soberanos desde os movimentos sociais para trocar um capitalismo neo-feudal por uma forma mais humana de nos organizarmos.
Na Galiza ainda não se tem visualizado claramente que há dous inimigos e aliás duas frentes com diferentes prioridades. O mais imediato problema que obstaculiza o nosso desenvolvimento é o poder madrileno e é por isso que não podemos permitir-nos que o Estado se alie com o sistema... ou dito de outro jeito: o galeguismo deve abrir as portas de imediato a uma opção política que não seja anti-sistema com o objetivo mais imediato de inutilizar a agressão menos difícil de neutralizar. O leque partidário deve estar completo. A esquerda nacionalista já existe e mesmo com um certo sucesso comparado com outras forças nacionalistas de esquerda de outras nações sem Estado. Falta no parlamento galego a versão denominada de centro-direita. As contradições do regime nacionalitário espanhol são bastante menos difíceis de pôr em evidência do que pensamos se os esforços se fizerem tanto desde a banda esquerda como desde a banda direita.
Numa situação partidária coxa na que todo o esforço dos galeguistas se exprime desde um posicionamento estritamente de esquerda não faz possível a saída da situação na que estamos e desde a que recebemos golpes por todos os lados. Não estamos defendidos com este nacionalismo que ataca sempre pela mesma banda, a banda que está melhor defendida pelo oponente. No entanto, com todas as opções presentes, o jogo partidário é mais ágil, mais fácil, as maiorias absolutas do PP mais difíceis, o progresso da sociedade galega mais viável, a desgaleguização da sociedade por parte das forças políticas não-galeguistas mais difícil e a democracia mais real. De continuarem as cousas tal qual são hoje é fácil que deixem de ser uns imperialistas fracassados mais tarde ou mais cedo. Isso sabia-o muito bem Manuel Fraga que muito inteligentemente foi contra a Coligação Galega no seu dia. Ele sabia que era desde esses posicionamentos políticos donde poderia vir uma situação similar ou parecida à que está a acontecer em Catalunha porque o sistema poderia aceitar uma Galiza livre dentro do sistema mas não se permitiria nunca uma Galiza governada por marxistas.
O nacionalismo dos últimos trinta anos leva sido pouco prático, quer porque o galeguismo de centro-direita não soube manter-se, quer porque o de esquerdas não permitiu que nascesse nada à sua direita com muito pouca visão “de Estado”. O BNG pôde ter favorecido forças à sua direita e mesmo teria sido bom para ele mas isso não o viram os seus dirigentes obcecados nos seus posicionamentos estreitos. Um nacionalismo com mais dum 20% do voto não solucionou nem vai solucionar nunca nada. Sim solucionaria, todavia, junto com uma representação dum 20 ou um 30% doutro partido como pôde ter sido C.G. Se essa possibilidade fosse favorecida desde um BNG aberto e mais imparcialmente galeguista, a desgaleguização linguística, social, económica, cultural e política não teria sido possível e a ordenação e governação do Reino teria sido outra, podendo ter sido capazes entre todos duma transformação do espaço político estatal no que nos mexemos na direção dum Estado Plurinacional como o é Suíça ou Bélgica. Essa situação de controlo do poder central não teria favorecido maiorias absolutas abusadoras e teria facilitado em troca, coligações em governos plurais onde todos pudéssemos caber inviabilizando indesejáveis neo-franquismos como o atual. Se essa visão histórica tivesse sido similar ou parecida à que estamos a desenhar aqui dum ponto de vista teórico por ter sido viabilizada no seu dia por um nacionalismo com pensamento “de Estado”, provavelmente hoje estaríamos num contexto político no que nada teríamos de invejar de Catalunha e portanto não estaria o Professor Beiras lembrando-nos a sua dolorosa e generosa escolha em favor dos perdedores. Perde-se porque as estratégias são as erradas.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

O Sangue da Galiza

José Manuel Barbosa diante dum quadro de António Alijó.


Por José Manuel Barbosa

Publicamos o passado mês de novembro deste ano um artigo (leia-se aqui) no que falávamos da informação fornecida por um jornal crunhês onde se dizia que os galegos tínhamos uma importante percentagem de herança genética partilhada com o Norte de África. Na informação do jornal identificavam-se erradamente esses marcadores genéticos como árabes, e nós, do nosso humilde ponto de vista opinamos dizendo que essa identificação ia por outro caminho, não pelo parentesco ismaelita. O nosso parecer foi com que o que há de comum com os países do Magrebe provém da chegada de contributos genéticos provenientes do refúgio franco-cantábrico em épocas do final do Paleolítico e também do Neolítico ao Norte de África, e não ao invés como consequência da invasão islâmica da península no século VIII.
Dali a poucos dias tivemos o prazer de recebermos um correio eletrónico do Doutor Luís Diaz Cabanelas, médico e vogal de saúde ambiental da associação ADEGA que nos forneceu um interessante artigo seu publicado na revista CERNA que a continuação oferecemos como Slide com a finalidade de partilhá-lo com o público leitor do DTS mas também com a vontade de fazermos alguns comentários no que diz respeito.
Aconselhamos ler o Slide antes de continuar com a leitura do nosso texto:



 
 
 
Os comentários que queríamos fazer são os seguintes:
1- As origens do Neolítico são muito discutíveis a dia de hoje. Falou-se tradicionalmente duma origem no Meio-Oriente mas a dia de hoje fala-se de que este fenómeno nasceu em vários lugares do planeta à vez (poligenismo).No que diz respeito da Galiza ainda que a influência viesse do Oriente e do Sul não me parece que a expansão do neolitismo trouxesse consigo necessariamente uma expansão demográfica norte-africana. Foi uma extensão dum fenómeno cultural que aqui apanhou uma identidade própria e que viajou para Norte. Nos mapas do Megalitismo, por exemplo, próprio e típico da Europa Atlântica acrescentamos o Norte de África mas quase sempre percebido como uma ampliação do espaço ocidental europeu.

 
2- No que diz respeito do 25% de Haplogrupo E, do nosso ponto de vista é exagerado se com isso dizemos que a invasão islâmica da península afetou o nosso País tanto. Como é possível que em Al-Andalus tivessem vivido e se tivessem assentado durante 800 anos grupos norte-africanos e ali não tivessem deixado marca genética? Como é possível que os "raids" muçulmanos na Galiza tenham deixado uma marca tão exagerada? O 25% do Haplogrupo E supõe que 1 de cada 4 galegos tem um marcador norte-africano por causa, segundo o Doutor Diaz Cabanelas, das razias e ataques andalusis. Nós é que pensávamos que eram as mulheres galegas as que deixaram a sua marca genética no Sul da península fazendo parte dos haréns das hierarquias de "Ispaniya" ou Al-Ishbam... Quantas mulheres foram violadas e engravidadas pelos ataques dos soldados de Alá para conseguirem que um quarto dos galegos sejamos descendentes deles?. Causa-nos curiosidade que em regiões como a Andaluzia de hoje não se reconheça a herança islâmica tão importante e em qualquer caso maior do que na Galiza. Quando chegavam à Galiza, os soldados dos Umaias, só se dedicavam ao sexo? Porque necessitariam tempo para completar o seu imenso trabalho reprodutor...e fazer da Galiza quase um País magrebino.
Por outra parte comenta-nos o nosso autor que nessas brigas mataram os soldados germânicos.... Talvez é que só os soldados germânicos lutavam contra os muçulmanos? Os nativos galaicos não lutavam? Como foram capazes de eliminar a tanta humanidade se calculamos que na altura do século V entraram na Gallaecia uns 30.000 suevos? 
Do nosso ponto de vista nos ataques muslimes havia mortes, violações e demais abusos mas considerarmos que um povo nunca totalmente dominado nem ocupado como foi este tenha hoje um 25% dos seus filhos herdeiros daqueles tristes episódios é pelo menos um exagero. Se isso chegasse a acontecer haveria lendas, histórias (como há no caso das 100 donzelas e outros parecidos) e mesmo fontes escritas que nos falariam de semelhantes catástrofes.... e não as conhecemos.
Representação do tributo das cem donzelas.
3- Por outra parte completar que segundo os nossos dados o marcador R1b na Galiza excede o 80%, não é um pobre 50% ou 60%... enquanto o marcador E anda pelo 10%, nos lugares da velha Gallaecia onde mais presença tem, que é na parte mais oriental, na asturicense, e não chega ao 25% do que se fala no artigo do Doutor Diaz Cabanelas. Segundo as nossas informações, esse marcador é anterior à invasão da península pelos muçulmanos, pois como falamos no artigo "A manipulação do paradigma: Árabes ou Celtas?" parece-nos que vem do paleolítico/neolítico. Há por outra parte indicativos de presença berbere nas regiões montanhosas do Cantábrico, como é o caso da região do Pas em Cantábria, da Maragateria no atual Leão e de algumas zonas da Astúrias. Nesse artigo pusemos umas ligações com as palestras de várias pessoas, entre elas a de Paula Sanchez, do gabinete do Professor Carracedo (ouvir aqui) mas também podemos ouvir o que diz o próprio professor Carracedo (ouvir aqui).

domingo, 10 de novembro de 2013

Roteiro por Ourense (segunda edição)



O próximo dia 30 de Novembro o DTS organiza um segundo Roteiro por Ourense organizado. Após a primeira edição do mesmo celebrada o passado dia 2, o nosso blogue quer convocar para uma segunda jeira repetindo lugares visitados, completando os que não visitamos a vez passada e acrescentando mais alguma cousa que nos parece de muito interesse para todas aquelas pessoas interessadas na nossa cultura galaica. 
O programa do dia 30 será similar ao do passado dia 2, acrescentando mais alguma atividade como a apresentação na Corte dos Bois do livro do nosso amigo Rafa Quintia "Alicórnio. O poder do corno de unicórnio na medicina tradicional galega". Posteriormente teremos um Magusto tradicional com castanhas, carne, chouriços, vinho, sidra e cerveja. Completando o ato teremos a honra de contar com a atuação do grupo de música tradicional galega da SAGA (Sociedade Galega de Antropologia).
Este serão os horários:

11:00 Combinamos todos na Praça Maior, Praça do Concelho ou Praça do Campo.

11:15 Visita às Burgas, termas e ao centro de interpretação.
11:30 Santa Maria Madre (primeira catedral de Ourense)
 e Praça da Madalena.
 12:00 Visita à Sé. Catedral de Ourense. Capela do Santo Cristo.
12:30 Visita à zona velha de Ourense.
  Praça do Ferro,

Santa Eufémia
Eirozinho dos Cavalheiros e Casa da Maria Andreia
A cidade velha

13:30 Comida num restaurante da zona dos vinhos da cidade
16:00 Visita à Ponte Romana.
17:00 Visita às termas (ou Chavasqueira, ou Outariz ou Moinho da Veiga)
18:00 Saída para "A Corte dos Bois" em Sandiães
19:00 Apresentação do livro de Rafa Quintia "O alicórnio. O poder do corno de unicórnio na medicina tradicional galega"
20:00: Magusto na "Corte dos Bois" de Sandiães com churrasco, frango, chouriço, vinho, sidra, cerveja e castanhas. (12 Euros)
Atuação do grupo de música tradicional galega da SAGA (Sociedade Galega de Antropologia)
22:00 (aproximadas): Banho nas termas de águas quentes (optativo)

Quem queira vir só tem que vir. Sem mais complicações.

domingo, 3 de novembro de 2013

A manipulação do paradigma: Árabes ou Celtas?


 Por José Manuel Barbosa

O jornal "La opinión" da Crunha reproduz um artigo que leva por título “El origen árabe de los gallegos”. Nele o jornalista afirma que num estudo realizado pela Universitat Pompeu Fabra de Barcelona e a Leicester University (Reino Unido), no qual colaborou o diretor do Instituto de Medicina Legal da Universidade de Santiago, o Professor D. Ángel Carracedo, -conhecido das pessoas que participamos no Congresso “Os celtas da Europa Atlântica” celebrado em Narão (Comarca de Trasancos) os passados 15, 16 e 17 de Abril de 2011- se considera a origem dos galegos como árabe.

No artigo comenta-se que os galegos, asturianos e leoneses (não fala dos portugueses do Norte) têm uma herança genética muito importante proveniente do Norte da África mais alta do que outras zonas, nomeadamente, Valência, Granada ou Castela-A Mancha onde supostamente houve mais muçulmanos. As causas, diz-nos o artigo, foram expostas pelos investigadores. Fala-se-nos que são os geneticistas quem opinam, mas não espertos em história, pré-história, arqueologia, linguistas ou antropólogos... e guardariam relacionamento com as deportações massivas de mouriscos de Granada para outros lugares da Espanha no século XVI. Parece ser que o Doutor Carracedo indicava já em 2002, nas Jornadas sobre Genética e História no Noroeste Peninsular, que isto mesmo poderia ser causa dos primeiros povoamentos árabes que chegaram a Galiza no século VIII.



Sobre isto quereríamos comentar o seguinte:

Lembramos que o Professor Angel Carracedo comentou-nos em Narão, algo parecido sobre o vínculo genético entre os galegos e os norte-africanos mas naquele caso dissera que eram os norte-africanos os que conservavam as achegas genéticas do norte peninsular cantábrico. Justo ao invés de como se nos expõe no jornal.

A investigadora Paula Sanchez, colaboradora da equipa do professor Carracedo também nos expus nas II Jornadas de História da Galiza celebrado em Ourense em março de 2009, o seu pensamento não muito distante do diretor do seu gabinete


O próprio Carracedo nos contou em conferência organizada pelo Facho em novembro de 2011 o que aqui podemos ouvir:


No Congresso de Narão, Carracedo reafirmou as teses que confirmavam as migrações pré-históricas que levaram as populações do norte da península até as Ilhas Britânicas mas também até o Norte de África, dizendo-nos a todos, com a presença de professores de diversas nacionalidades cujo prestígio científico internacional é indiscutível que os atuais irlandeses e britânicos são descendentes daquelas populações paleolíticas e neolíticas que chegaram às Ilhas em épocas de deglaciação. 
O E3b de origem norte-africano no UK
A sua admirável exposição naquela altura levou-o a considerar que "a xenética aínda ten moitas limitacións cando as poboacións son moi próximas pode falar de migracións, particularmente mediante o uso de marcadores do cromosoma Y e do ADN mitocondrial que falan das liñas paterna e materna, pero non pode dicir cal era a cultura ou a fala das persoas que levaban esos linaxes"

Reparemos em que...:

não se pode dizer qual era a cultura ou a fala das pessoas que levavam essas linhagens...”. 
Reparemos por outra parte nas notícias que se deram e em como a deram: 




Durante o seu discurso sobre os movimentos de população do Noroeste galego à luz da genética, Carracedo confirmou que Galiza serviu de refúgio glacial e que depois das glaciações, parte desta população se deslocou até Inglaterra e Irlanda mas também até África...

Mas apesar dessa afirmação, quis deixar claro que ele, quando se está a referir aos movimentos da população, não fala de celtismo, nem de culturas ou línguas mas de genética dos povos. E para analisá-la disse que “se usam marcadores do cromossoma e do ADN mitocondrial”

Consequentemente Carracedo  não se pronunciou em favor ou em contra da celticidade da Galiza, simplesmente manifestou que as investigações oferecem resultados de mapas populacionais que indicam parentesco, direções nos movimentos de povoamento e que o labor de interpretar historicamente os dados não corresponde ao geneticista mas ao historiador. As suas achegas são ferramentas de muita utilidade para que os espertos em história, língua, arqueologia e antropologia usem com precaução e objetividade para integrar no entramado de reconstruirmos a realidade passada, presente e futura da Galiza.

Do que concluímos com esses dados objetivos não é o que o irresponsável jornalista diz duma suposta procedência árabe. Os dados falam-nos de vínculos com o norte de África e os povos nativos daquela zona são basicamente berberes, não árabes. Esses povos têm uns vínculos muito antigos com outros grupos humanos geograficamente atlânticos e europeus até o ponto de ser em pontos das Ilhas Britânicas, da própria Gália e de outros lugares do continente onde encontram uma manifestação também importante.
Tom Jones, um celta-galês que muitos acreditariam norte-africano

Não há muito a dizer sobre a presença física, de muitos habitantes do Atlas, com elementos muito similares a quaisquer outros territórios europeus mais nortenhos. A pela branca em muitos casos, os cabelos loiros ou ruivos, os olhos claros... são caraterísticas históricas unidas de forma importante aos norte-africanos.
Não sabemos se isto tem a ver com a hipótese trabalhada pelo professor John T. Koch sobre a celticidade ou proto-celticidade da língua tartéssica, emparentada portanto com as falas celtas do ocidente da Europa.



Também algo sabemos, igualmente sobre o périplo norte-africano dos povos cuja genética reconhecemos a dia de hoje como culturalmente celta..

O ADN do Rei Tut e Aspecto Fisico do Rei Tut 
...para além de todas as lendas que ao redor do assunto estão presentes ainda hoje na vida dos povos atlânticos. Na memória mitológica dos celtas está a ideia de que Egito e sobre tudo Scythia foram lugares de origem. 
Anthroeurope

Contrariamente a isto e dum ponto de vista etnológico, antropológico, filológico, (pré-)histórico, arqueológico e mesmo genético não há restos de presença árabe na Gallaecia entendendo por árabe a cultura, língua, etnia, tradições.... provenientes do Meio-Oriente. Se algum jornalista iletrado relaciona islamismo ou norte-africanismo com arabismo está errado. Os três elementos não têm porque coincidir.
Mulher do Rif com o seu neno.

Do nosso ponto de vista a presença, importante, de elementos genéticos comuns com o Norte de África, nem tem a ver com as deportações mouriscas do século XVI, nem tem a ver, pelo menos de forma maciça com a entrada dos berberes como tropa da invasão islâmica na Espanha visigoda. Segundo os dados que contamos fornecidos pessoalmente pelo meu professor Anselmo Lopez Carreira na época na que eu era o seu aluno de História, o Al-Andalus do século X tinha aproximadamente uma população de uns 10 milhões de pessoas entre os que se achavam vários grupos etno-religiosos diferentes: Uma minoria de umas 1000 famílias de origem árabe (sírios ou palestinianos e iemenis) estabelecidas nos vales do Guadalquivir e do Ebro; um grupo importante de berberes que conformavam o exército, sobre tudo os mandos estabelecidos nas zonas montanhosas do Planalto do centro peninsular, Serra de Ronda e o Algarve e por baixo destas minorias dirigentes a grande massa da população conformada por moçárabes (cristãos nativos hispano-godos) e muladis (hispano-godos muçulmanos) que ocupavam a totalidade do território. Aliás havia grupos de origem judeu junto com africanos pretos e eslavos procedentes estes últimos do mercado de prisioneiros e escravos de Bizâncio e de África.

Neno árabe. Algo a ver com os galegos?


Ainda contando com a possibilidade de que a Galiza fosse povoada na Idade Média com elementos étnicos andalusis, cabe perguntar-se quantos eram berberes e quantos hispano-godos islamizados, quer dizer, muladis. Acho que era a populaçao do comum a que fugia das guerras e dos conflitos procurando paz e por isso nem eram árabes, nem provavelmente eram militares berberes por serem ambos grupos dirigentes num conjunto populacional basicamente nativo e hispano. Em qualquer caso não caberia a possibilidade de que fossem muitos mais dos que hoje andam pelas nossas ruas sem que isso faça da Galiza (nem da França ou do Reino Unido... ) um país herdeiro de qualquer ponto de vista da cultura norte-africana. Pensamos que a hierarquia árabe nunca foi deportada à Galiza medieval, porque eram os grupos dirigentes da Al-Shban, não assim outros grupos que ainda de religião islâmica não eram de procedência árabe.

Do nosso ponto de vista os restos genéticos norte-africanos existentes em maior número na área astur da Gallaecia (Leão e zonas orientais das atuais províncias de Lugo ou Ourense) podem ser provenientes de grupos de escravos trazidos às minas pelos romanos ou por populações proto ou pré-históricas existentes aqui, quer por contatos... ou mesmo porque fossem originárias dessa região e que partissem de aqui para Sul em tempos pré-históricos.. como nos indica Carracedo na sua exposição no ivoxx acima apresentada.


Reconstrução do morfotipo caraterístico do oito zonas geográficas nas que o fenotipo R1b1a2 atinge percentagens superiores ao 80% da população. De esquerda a direita e de arriba para abaixo apresentam-se Galiza, Astúrias, Cantábria, Euskadi, Irlanda (Mayo), Irlanda (Ferry), Sudoeste de Inglaterra (Devon) e Cornualha. Nenhuma das fotografias se corresponde com uma pessoa real. Graças a Anthroeurope.
É importante salientar que as traças genéticas norte-africanas estão presentes em boa parte da Europa, mesmo da Europa que nunca fez parte do Império Romano e que calculamos, nunca foi culturalmente berbere (independentemente das suas marcas genéticas).
A incomodidade que para o paradigma historiográfico castelhanista supõe a existência duma região, não só étnica e culturalmente celta, mas matriz desse mundo no seu imaginário hispânico é importante. Levam anos tentando botar por terra a ideia de que a velha Gallaecia seja celta e portanto não vão permitir a ideia muito mais contundente e radical de sermos o berço etnocultural e linguístico das Ilhas Britânicas e do ocidente atlântico europeu em geral. A falta de auto-estima dos espanhóis, alimentada durante os últimos séculos pelo complexo de serem um grupo humano dificilmente aceite pelas nações civilizadas da Europa pelos seus vínculos históricos com o islão, manifesta o seu sintoma mais agudo em que não gostam de que dentro da “sua” península haja uma nação que não termina de se assimilar e que represente de forma viva a presença desse inimigo ancestral politica, económica e culturalmente mais desenvolvido e próspero (nunca deixaram prosperar à Galiza por causa desse medo) ao qual nunca terminaram de se parecer e do qual sempre recebeu desprezo. De volta, o mundo hispâno-castelhano-mediterrânico despreza, ignora, desidentifica, agrede, provoca, deturpa e adoece por causa duma Galiza não castelhana nem mediterrânica mas céltica, atlântica e europeia embora empobrecida pela nefasta gestão histórica de Madrid. É essa Galiza que representou os cristãos velhos que nunca foram islamitas enquanto eles se arrogavam essa etiqueta de cristãos velhos como escusa para limpar etnicamente os muçulmanos ou lhe exigirem conversão. Como forma de pobre reafirmação de identidade nacional, manifestavam em épocas obscuras que África começava nos Pirenéus sem tomarem consciência de que onde realmente estava o limite dum ponto de vista étnico e cultural entre África e Europa foi sempre aproximadamente a linha do Douro-Ebro. Risco falava da Euroibéria e da Afroibéria... Esse sentimento infelizmente racista do espanhol surgido do seu complexo de inferioridade manifesta-se hoje no anti-galeguismo (Artigo do Perez Reverte) que mesmo muitos galegos assimilam e aceitam em forma de endofobia gerada na educação emanada desde o paradigma oficial do Estado e incutida desde a escola primária. Os “mouros” sei-que somos nós... não eles. Como se o facto de ter sido adetos da religião islâmica fosse motivo duma legítima infravaloração... Os “párias” da Europa criam os seus próprios “parias” dentro do seu próprio Estado localizando-os no noroeste peninsular com gente próxima etno-culturalmente aos "amos" do mundo para terem em quem malhar, em quem mandar e com quem se sentirem superiores. Uma forma de dopagem auto-identificativa


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