quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Do trísquel para acô.



Por José Inácio Regueiro Castro (José Capeloso)

A força do três caiu baixo o dualismo ocidental, do mesmo jeito que o gálata moribundo ou ferido baixo o greco-romano poder?..., mas o turcado ainda não ficou ..., morreu?

O trisquel permaneceu nas esquinas atlânticas, como a morralha batida nos recantos das praias.

A simbologia do trisquel, está no fundo do profundo do inconsciente colectivo da humanidade.

O trisquel, o fluir espiral, anda na base da física ondulatória que rege o movimento de tudo, desde o das partículas subatômicas até o das galáxias, no chamado toroide, da matemática vorticial. Simbolizada forma no imaginário comum da humanidade como o ovo cósmico.

O trisquel pode ser entendido como uma representação no plano de algo que tem volume, o toroide, a matriz.
Este ovo cósmico, de vida e morte, está construído polo enguedelhamento das serpes.

A trança começa co três, pois a trança é o trance, é o transe, o começo do movimento harmônico da hélice, o vórtex, a entrada, a saída, a porta da Sila. 

Estados alterados de consciência, meditativos ..., ajudam a emergir esta tríplice forma à superfície do pensado.

A chamada geometria sagrada também nos leva polo trisquel.

Pois o trisquel não é mais que a flor da vida em movimento, a hexapétala em ato ação.

Nas tradições indo-europeias antigas vê-se a força do três:
O sufismo, definido num esboço como a rama mística do islão, tem um símbolo chamado eneagrama, que entre outras cousas serve para o estudo das personalidades.

O eneagrama, divulgado em ocidente por Gurdjieff, nasce do três, faz parte da lei do três, que indica que em qualquer fenômeno atuam, confluem, três fontes ou forças: ativa, passiva e neutra.

Trindade que tem o seu aquele, e quebra a lei de causa e efeito,  que aqui no ocidente é tida por verdadeira. Para outras conceições do fluir do real, a existência dum terceiro fator, no cenário do evento causal, é considerada: Causas e efeitos flutuam a esmo, e no tempo-espaço ambos confluem, "semelhando" que uma é seguida polo outro, mas, doutro local, um terceiro vetor, invisível para a dualidade, conflui no acontecimento, e é presente também, e é necessário para que o facto seja feito.

Isto encontramo-lo desenvolvido também na tradição hindu onde rajas, tamas e sattwa, as três gunas, representam as qualidades da forma, forças que entrelaçadas conformam o real; simplificando-o: rajas é ação, tamas é inação e sattwa é não-ação.

O pensar dualístico, dominante sobre a trinitária conceição, conforma um modelo onde a "inexistência", por impensável, duma terceira posição marca, com um profundo suco, a interpretação da realidade.

Este dualismo rígido pode ser limitante.

No oriente há uma triada que dá muito para cavilar à ocidentalidade: apego, desapego e não-apego. Triada que dizem ser primordial caminhar para atuar com verdadeira integridade, triada talvez conhecida na celticidade e noutras culturas do antigo, onde os touros, vacas ou outros ruminantes tricornes aparecem como emblemas significativos de culto do ser guerreiro.

Um trisquel tridimensional, ou de mais dimensões, leva a um Tudo formado por três partes principais. Nós moramos e somos capazes de observar uma só região, que em certo sentido é fechada em si, existindo "limitada" entre duas das três pás do rodício giratório do trisquel, percebendo o acontecer em duas das três coordenadas, mas ...

É o trisquel um lugar de três universos, talvez um universo fractal do três.
Nas paredes das aspas do trisquel polidimensional espelham-se os aconteceres, no centro rebenta a flor da vida em cada feito. Na tela, na pantalha da parede, apenas somos capazes de ver duas terceiras partes do acontecido.

A flor da vida forma-se pola comunhão das três disposições iniciais (causa, efeito e "terceira força"), e os seus rebotes combinatórios.

Explodem as seis pétalas da flor, mas há outras três que para nós ficam fora do nosso espaço-tempo, projetadas na aspa do trisquel que não podemos enxergar.

Esta flor da vida de nove pétalas está desenhada em diversos símbolos,como no valknut viquingue onde três dos seus nove vértices ficam ocultos.

O trisquel é tão poderoso que alicerça uma cosmogonia, sustém uma interpretação da maia do real diferente do paradigma dual.

Vamos então ver uma das pedras formosas de Briteiros, que o amigo David Outeiro inteligentemente me indicou como representação desta trindade conceitual.

Há dous trisqueis, um levogiro e outro dextrogiro, e uma terceira gravura que completa e harmoniza a composição, mas que está "limpa", no canto inferior direito.

Para alguns autores, esta terceira forma ficou sem talhar por premura ou por esqueço, mas talvez foi assim deixada para indicar o terceiro lugar do paradigma trinitário, por isso é difícil desde o dual compreender e dar com a razão de tal "esquecimento" no desenho do conjunto.

As aspas que viram no sentido horário nos trisqueis projetam a energia cara nós, para quem observa, pola contra se o giro é anti-horário, tiram da energia para o interior da superfície onde estão grafados. É o trisquel, segundo a orientação, gerador ou destrutor ...

Além de vermos, na pedra formosa de Briteiros, que se sinala antiteticamente o progresso e o retrocesso, a construção e a destruição, podemos intuir que estamos diante da terceira aspa que não podemos perceber, ou que não temos possibilidade de sentir desde a herança greco-latina imperante.

Doutro jeito, aqui na pedra ordenam o rajas, o tamas e o satwa da celticidade.

5 comentários:

David Outeiro Fernández disse...

É um artigo muito bom,gostei dele.

Com respeito a sauna ou pedra formosa de Briteiros temos a proba de que sem dúvida eram construçoes iniciáticas.O primeiro paso é a entrada,construcçao.O segundo paso é a destrucçao.E o último paso supom entrar na cámara entrando polo buraco e renascendo..é a nao-acçao..é o contato do guerreiro com o além e o vínculo com os deuses.Uma vez renascido e conseguido superar a luita interna,o guerreiro incorporarase a fratría.Acho que por ahí pode ir a cousa...

Parabéns e obrigado José.

Um saúdo

José Inácio Regueiro Castro disse...

Agradecido che estou David, eu a ti.

José Manuel Barbosa disse...

Agradecido estou eu a vós os dous ;-)
Abraço grande.

P. Casteleiro disse...

Interessantíssimo artigo, que -humildemente- acho tocar a chave da nossa desventura ocidental (e, de passagem, também certas orientais... talvez ocidentalizadas). Corretíssimo o vínculo entre o eneágono sufi e o trisquel. Basicamente pela lei do três, com efeito, que remete para uma forma, digamos, auxiliar de progresso humano extra -a forma "normal" conduz ao progresso ordinário na natureza (é a representada no eneagrama pela lei do 7 ou oitava: notas musicais, dias da semana...) mas conduz sempre ao eterno retorno, ao renascer com novas ataduras. A lei do três (representada no trisquel e, também, agrego como apêndice a este magnífico artigo, em certas aparições incomuns do ying-yang como desenho terciário na China ou no Japão) é uma dinâmica que conta com a "ajuda" de dimensões "extra", que entrariam em determinados pontos do eneagrama, em três pontos muito concretos. Quando digo "eneagrama" falo do desenho descritivo da história do esforço humano, quer individual quer coletivo.

O fundamental é que, à margem do cumprimento da lei do três, o progresso humano é apenas o sonho da razão. As atuações políticas contemporâneas, por exemplo, ou a tentativa de progresso exclusivamente pela via "quantitativa" (liberalismo, socialismo, etc. e, a nível, individual, pela obsessiva busca de acumulação de capitais ou de poder) levam para esse beco, para esse eterno retorno sem saída.

Capeloso disse...

Obrigado Casteleiro

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