segunda-feira, 6 de abril de 2015

Portugal e o Reino dos Suevos (409 a 585 AD)




Por João Casaca. 
(Engenheiro Geógrafo, Membro Conselheiro da O.E.)


Comendador Armando de Almeida Fernandes (nascido em Britiandes, em 1917, e falecido em Tarouca, em 2002), sendo licenciado em Ciências Geográficas, distinguiu-se pelo estudo da História dos antecedentes e primórdios de Portugal. Das várias dezenas de trabalhos que publicou, avultam teses tais como a do nascimento de D. Afonso Henriques em Viseu ou a da  origem de Portugal no reino suevo (409 a  585 AD. A argumentação de Almeida Fernandez, especialista em toponímia e antroponímia-onomástica, tem em geral uma base geográfico muito convincente. No primeiro capítulo do livro "Viseu, Agosto de 1109, nasce D. Afonso Henriques" (2007), Almeida Fernandez lembra que um topónimo (nome de lugar) passa frequentemente a corónimo (nome de região) por efeitos administrativos, e sustenta que o topónimo romano-céltico "Portucale" (Porto) passou a designar o condado de Portugal (corónimo) porque o Porto terá sido capital (residência real, centro administrativo e sede de diocese) no final do reino suevo.
Os suevos (quados e alguns marcomanos), juntamente com os vândalos e com os alanos, entraram na Hispânia em 409 AD, a convite do "governador" romano Gerôncio, em rebelião contra o imperador.
Em 411 AD (tendo liquidado Gerôncio), Honório instalou os suevos e os vândalos asdingos na Galiza, os vândalos silingos na Bética, os alanos na Lusitânia e manteve o controlo da província Tarraconense a leste da Galiza. Os suevos ficaram com o território da Galiza entre o Douro e o Minho, prolongado a Leste até Astorga. Até meados do século V, o reino suevo expandiu-se para norte (toda a Galiza) e para sul e leste (chegou a ocupar metade da Hispânia). Posteriormente, por ação dos visigodos, o reino suevo recuou para oeste e para norte do Tejo (Mérida e Lisboa foram perdidas em 466). Em 585, o reino suevo abrangia a Galiza e estendia-se para sul até ao Tejo, a norte do paralelo da foz do Zêzere. O corónimo Portugal, que atravessou incólume a dominação visigótica e muçulmana, abrangia aproximadamente o território entre o Douro e o Minho, mas a leste não ia tão longe como o território original do reino suevo (não incluía o atual distrito de Bragança). É no território condal, onde existe a maior concentração de topónimos germânicos de toda a Península, que a assimilação entre os suevos e os celto-romanos  teve maior sucesso: as terras do Bouro são as terras dos búrios (pequena tribo aliada dos quados). A aristocracia sueva apropriou-se das melhores terras, expropriando os grandes proprietários rurais, mas aliviando a população, em geral, dos pesadíssimos impostos romanos. Por outro lado, o reino suevo procurou manter a estrutura administrativa e judicial romana e praticou uma grande tolerância religiosa. A extinção da dinastia sueva em 585 não acabou com o reino suevo: Leovigildo, rei dos visigodos, passou a ser também o rei dos suevos, como aconteceu em França com os francos e os burgúndios.  

Em 863, Vímara Peres tomou o Porto aos mouros e foi nomeado conde de Portugal pelo rei Afonso III de Leão. A dinastia condal de Portugal extinguiu-se quando o conde Nuno Mendes foi morto, em 1071, pelo rei  Garcia da Galiza, na batalha de Pedroso (perto de Braga). O rei Garcia passou a intitular-se rei de Portugal e da Galiza. O rei Afonso VI de Leão, irmão do rei Garcia, apoderou-se do reino de Portugal e da Galiza e concedeu o condado portucalense ao seu genro D. Henrique, pai de D. Afonso Henriques. A expansão do território portucalense sob a égide do rei de Portugal levou a nova generalização do corónimo Portugal, que passou a designar as terras do senhor de Portugal, até à fronteira do Algarve. No livro “Paróquias Suevas e Dioceses Visigóticas” (1968), Almeida Fernandes leva a cabo uma análise toponímica de dois documentos coevos: o “Paroquial Suévico” e o “Provincial Visigótico”. O “Paroquial Suévico”, escrito c. 580 AD, no reinado de Teodemiro, apresenta uma relação de 134 paróquias agrupadas em 13 dioceses e indica a existência de uma diocese étnica (não geográfica) para os cristãos de origem bretã, emigrados da Grã-Bretanha, na sequência das invasões anglo-saxónicas. O Paroquial refere ainda a existência de vários “pagus”, que seriam paróquias de cristãos arianos, constituídas por sue vos não convertidos ao catolicismo. As dioceses mencionadas em território português (entre o Minho e o Tejo, no paralelo da foz do Zêzere) são Bracara, Portucale, Lameco, Viseu, Conimbria e Egitânia (Idanha). O “Provincial Visigótico”, escrito em meados do séc. VII AD, enumera e descreve os limites geográficos das dioceses visigóticas que, no nosso atual território, coincidem com as suevas, a norte do Tejo (paralelo da foz do Zêzere), e incluem Olissipona, Elbora, Pace (Beja) e Ossonoba (Faro). Tudo isto mostra que a génese de Portugal nada tem a ver com a antiga província romana da Lusitânia (com capital em Mérida) e que a História de Portugal não começa com D. Afonso Henriques.

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