terça-feira, 28 de março de 2023

As Bandeiras ibéricas. País Valenciano . Capítulo 8

Valência: Com a conquista do Reino de Valência por parte do Jaume I el Conqueridor, o território do país fica anexado à Coroa Catalano-Aragonesa e com ele a sua simbologia vexilológica e heráldica da denominada "senyera" das quatro barras vermelhas sobre fundo amarelo. O pendao da conquista era o do rei que portava a simbologia do Casal de Aragão: 


Posteriormente, durante o século XIV e durante a Guerra entre Pedro I de Galiza e Castela contra Pedro IV de Aragão, III de Barcelona, II de Valência e I de Maiorca pela posse do Reino de Múrcia, aconteceu o assedio de Valência, que resistiu valorosamente o ataque do rei castelhano. Essa resistência valeu para que o rei catalano-aragonês honrasse o Reino de Valência com o privilégio de portar sobre o estandarte a coroa real, que incorporou.

Inicialmente, a coroa era usada ao estilo heráldico, como aparece na imagem seguinte, mas posteriormente, foram acrescentados os dos dois L originadas na condição de duas vezes leal, como atributo da cidade de Valência (Leal i Leal) e o morcego (Lo rat penat), animal heráldico de toda a Coroa de Aragão, originado na adoção do animal por similitude com o dragão que tinha sido o timbre heráldico usado na coroa do Rei. A evolução do desenho fez com que a coroa fosse incluída dentro duma faixa disposta na parte esquerda do campo da mesma, próxima ao mastro, com a coroa em vertical, como demonstrar um grande numero de portulanos. 


Durante a implantação do Decreto de Nova Planta em que se anula o autogoverno e as instituições  do Reino de Valência, vai começar a ser usado um vexilo branco com o a flor de lis no centro do campo, como símbolo do domínio Bourbónico mas é desseguida esquecida e recuperada a bandeira tradicional das quatro barras e a coroa, que se exibe novamente e, 1738, embora vai ficar como elemento folclórico e festivo sem qualquer tipo de oficialidade.


 

Mas vai ser nesta altura de finais do século XVIII e inícios do XIX quando a coroa é modificada e despregada adotando a forma atual determinando-se a cor azul da faixa, inicialmente, um azul claro, juntamente com o desenho da coroa despregada pela faixa, embora esse fique sendo o desenho da bandeira da cidade.


Assim foi representado o vexilo valenciano durante o século XIX, embora, vai ser durante este mesmo século, que o valencianismo político ressurgido a partir da denominada Renaixença, vai reivindicava os direitos históricos do País Valenciano assumindo esta bandeira. No entanto, nos inícios do século XX, começaremos a ver uma bandeira similar, mas não igual, conservando as barras vermelhas e amarelas mais a faixa azul, mas sem a coroa despregada. O novo acréscimo vai ser uma estrela branca que vai ser considerada a bandeira nacional valenciana uma vez que o valencianismo começa a se autodenominar nacionalista.



Mas uma nova época de proibição e repressão vai acontecer depois da finalização da Guerra do 36 com a vitoria do franquismo, em que foi considerada uma bandeira subversiva e separatista, a qual não podia ser exibida nas "fallas" nem em qualquer outra festividade, sob pena de um dia de prisão por cada bandeira "separatista" que fosse exposta publicamente.

Durante o final do franquismo, o valencianismo começa a utilizar a bandeira das quatro barras sem a coroa nem a faixa azul, incluindo, unicamente o escudo do País Valenciano no centro do campo do vexilo, como símbolo do pais e deixando a bandeira da coroa para a representação da cidade de Valência. Esta bandeira foi a bandeira pré-autonómica e visava ligar memória história, língua e pontes outras pontes com o nacionalismo catalão, ao mesmo tempo que tinha vontade de recuperar o nome de Pais Valenciano ou Reino de Valência. Nada disso foi concedido. Contrariamente, os elementos mais reacionários do franquismo reagiram com força interferindo na identidade linguística, na denominação do país e na feição da bandeira. 

O Estatuto de Benicassim, elaborado em 1981 incorpora esta ultima bandeira como a que deveria ser oficial no Pais Valenciano, mas depois de graves ações protagonizada pelos herdeiros do franquismo, fez-se obrigado uma negociação sobre estes elementos fulcrais na identidade valenciana e opta-se por incorporar um novo modelo de bandeira em que aparece a faixa azul, mas inicialmente, com o escudo tradicional.


As possibilidades estavam entre o valencianismo catalanista e o conservadorismo de raiz espanholista. Desde a definição de País Valencià ou Regne de Valência até o inócuo nome final de "Comunidad Valenciana". Finalmente e depois de muitos protestos e, mesmo violência, a bandeira acabou sendo a "Reial Senyera Coronada" ou "Senyera em Blau" símbolo da cidade capital do histórico reino que consegue a oficialidade em 1982, momento da aprovação do Estatuto de Autonomia. Esta bandeira é a tradicional quatribarrada com a coroa despregada pela faixa azul em vertical do lado da haste, em contraste à que representava o nacionalismo catalanista onde a quatribarrada, similar à aragonesa e à catalã autonómicas, apresentava o escudo do país no centro. A solução aplicada foi a de tentativa de vencer o catalanismo por parte do conservadorismo neo-franquista da transição, que  tambem se chegou a manifestar na vontade de secessionismo linguístico "blavero" que  determinou durante os anos 80 e 90 que o valenciano não fazia parte do complexo linguístico ibero-românico  oriental. 


Finalmente o que queremos demonstrar é a historicidade da bandeira valenciana que data de finais da Idade Media dentro do contexto simbológico catalano-aragonês. Outra cousa são as tendências políticas do momento mais próximas ou mais afastadas da reafirmação nacional valenciana e a vinculação histórica e linguística à Catalunha, muito reprimida por parte do centralismo histórico e ao recente.

 

 


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