segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Nom vos imos guardar o segredo.


Crivou-nos a TVG, semanas atrás, com duas campanhas publicitárias: “Guardas-me o segredo?” e “Cuida até o último recanto desta terra”, argalhadas pola Junta e pagas com o dinheiro de todos. Insiste o canal “auto-gnómico” (umha televisom aná para um País de anons) até a saciedade, baseando-se em aquilo de “a por de repetir umha mentira, fai-se verdade incontrovertível”.
Eu, botando mao dum versinho do Pan prós crocodilos (2009), clamo: “nom me andedes mais no país!”. E nom insinuo a interdiçom de vadiar pola nossa Terra, bem ao contrário, parafraseando a hipócrita propaganda institucional, cumpre conhecê-la até o último recanto para poder estimá-la e protegê-la também até o último recanto. Quando imploro que os responsáveis pola gestom cultural e meio-ambiental deixem de “meter as suas sujas maos” é porque já nom se pode aturar mais a impune vulneraçom da nossa integridade.
Falamos, sim, de hipocrisia. Fagam quilómetros, atravessem a Galiza de norte a sul, de leste a oeste. Exceto exceçons, todo ao nosso arredor semelha fruto da improvisaçom, da grossaria e da provisoriedade: a preservaçom da paisagem, a gestom do património, o planeamento urbanístico…
Nom eximo de responsabilidade os particulares, entre os que me incluo. Está nas nossas maos trocar o cancelo “somier” polo de arte em forja, a uralita por telha país, arear a parede de tijolo vista ou inovar a pintura. Porém esta diatribe vai especialmente dirigida às instituiçons (ministérios e conselharias do ramo, deputaçons, cámaras municipais… incluam-se as comunidades de montes), porque elas som, por excesso ou por defeito, as causantes dos maiores estragos, muitos deles, infelizmente, nom emendáveis.
O referido spot em que o “Padre Casares” exorta os fiéis para teimarem no cuidado do meio é um insulto à inteligência. Cada qual vive onde pode e como pode. Se o dinheiro nascesse abaixo das telhas, a ninguém poria medo enfrentar a aquisiçom e manutençom do paço Baiom ou do castelo de Soutomaior. Cada qual dispom a sua vivenda segundo as suas possibilidades e o seu entendimento -e ainda bem que se tem onde se guarecer-, mas se as autoridades fossem estritas na prescriçom dumha congruente normativa de construçom e reabilitaçom dos imóveis, outra seria a realidade do nosso país, devastado pola praga do feísmo. Falamos de onde, que e como construir. Falamos de nom transigir, ainda que isto suponha a perda dum manhuço de votos.
As distintas administraçons nom som modelo nem referentes de nada. Eu acuso a autoridade de dilapidar (”gastar o dinheiro em cousas inúteis”) a nossa riqueza. Eu acuso a autoridade de nom cuidar até o último recanto desta terra.
Durante a era Fraga, a anarquia imobiliária atingiu quotas de perfeiçom nunca vistas. O mausoléu do monte Gaiás (Compostela), pomposo epitáfio político do de Vilalva, glosa à perfeiçom quanto se valoriza o nosso acervo, desde o momento em que se atribui mais releváncia ao continente do que ao conteúdo. Apesar do evidente, todos os partidos políticos dixérom amém ao fastoso pendelho. 
Na mesma linha, o traste que, na atualidade, se constrói para abeirar -eu diria assovalhar- a anta de Dombate (Cabana de Bergantinhos), ou o galpom que pretende interpretar -eu digo ocultar- a citánia de San Cibrao de Lás (Santo Amaro) podem-se incluir, à perfeiçom, nesta desafortunada listagem de desatinos.
Derrogam-se as leis que mal protegiam o nosso litoral para o deixar, definitivamente, a mercé dos especuladores: ar para a bolha imobiliária. Investem-se inquantificáveis somas de dinheiro em obras de duvidosa ou redundante utilidade. Vejam por exemplo o acontecido com o castro da Ponta de Muros (na Corunha), onde as obras do denominado porto exterior -gémeo do de Ferrol-, destinados a apanhar quanto Prestige sulque o nosso mar, destruírom sem remissom e pola calada um depósito castrejo da Idade do Bronze, excecional na sua cronologia, arquitectura e funçom. Neste malfadado assunto, todas as administraçons estivérom e estám envolvidas.
Nengum espaço natural, por muita figura de proteçom que se lhe atribuir, está isento de padecer a pouta da desmesurada obra pública e privada: vias de comunicaçom quadruplicadas (eixo Ponte Vedra-Vigo), pedreiras abertas em parques naturais (Ancares, Courel), parques eólicos e aquícolas na Rede Natura (Serra do Cando, Serra do Candám; Tourinhám…), turismo sobredimensionado no parque nacional (Ilhas Cies), atomizaçom das zonas industriais (Forcarei, Cerdedo…), rias poluídas, rios inçados de hidroelétricas, pirófito monocultivo florestal…
Eis, perante os nossos olhos arregalados, a conjunçom da ignoráncia, da soberba e da perfídia; o triunfo assovalhador dumha ars politica dimanada do complexo de inferioridade e substanciada num arteiro proceder etnicida.
Os exemplos enumerados som os mais conhecidos, já que pola sua transcendência atraem, em maior ou menor medida, a atençom dos media mas, assim que aplicamos o zoom, a casuística medra em progressom geométrica.
Com o zoom bem esticado, em Cerdedo (Terra de Montes), quando alguns ainda nom bem assumimos a desfeita eólica do monte do Seixo, já se pensa em instalar mais martabelas no vizinho monte de Quireza. Dou por feito que, como aconteceu no Seixo, os estudos de impacto ambiental e arqueológico serám águas de bacalhau. Quem cala outorga.

Calros Solla é professor

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