sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Uma experiência docente pró-reintegracionista



Por José Manuel Barbosa 

Nas nossas práticas docentes (*) procuramos sempre dar uma visão global da teoria do reintegracionismo, recorrendo a todos aqueles autores que pela sua autoridade científica ou moral, por ativa ou por passiva -que também os há- vêm abalizar os nossos pressupostos.
Quando damos cursos da nossa língua, começamos sempre por ensinar os pensamentos daqueles vultos da galeguistica e mesmo da anti-galeguistica -se esse nome fosse válido para aqueles que quereriam ver-nos sem língua- que podem ser clarificadores para os nossos alunos. Por isso recorremos a diversas personalidades que nos podem ser de utilidade. Começamos por duas autoridades científicas assépticas. A sua objetividade vem dada por não serem galegas nem implicadas na problemática nacionalitária na que estamos mergulhados e aliás reconhecidas internacionalmente de todos os pontos de vista. Eles são: O romeno (moldavo) Eugen Coşeriu  e o catalão Joan Coromines.
Do primeiro temos: 
          “En lo que concierne a este problema, los romanistas e hispanistas están en general de acuerdo en que el gallego es una forma particular del conjunto dialectal gallego-portugués, [...]
[...] si se separase el portugués del gallego, habría que separarlo tambien  del  brasileño.
Con todo, o sea,  a pesar de que durante siglos no ha habido contactos efectivos, el  gallego y el portugués siguen perteneciendo al mismo Continuum lingüístico. La separación puede, sin duda, establecerse en el plano de la lengua común (que para el gallego, en parte, se está todavía elaborando), pero no a nivel popular y dialectal, de suerte que, para la lingüística histórica, sigue teniendo plena vigencia la denominación compuesta “gallego-portugués” creada, según parece, por lingüístas alemanes.
Claro, que esto no significa que el gallego sea “portugués”, sino más bien lo contrario: es el portugués el que es “gallego”.  Históricamente, el portugués es el gallego de la Reconquista y es hasta hoy, en todas sus formas, la continuación de ese gallego [...].  Se trata, por tanto, del caso, bastante raro en la historia de las lenguas, de una lengua que, precisamente en la forma que se difunde y se constituye en lengua común y gran lengua de cultura, se llama con otro nombre: ya no gallego, sino portugués.
E.COSERIU.: El gallego en la historia y en la actualidad. Actas II Congresso Internacional de Língua Galego-Portuguesa na Galiza. Ed. AGAL. Crunha 1989

Por outra parte temos a Joan Coromines:

“Vaia ante todo a miña felicitazón ao autor do artigo en prol da unificazón ortográfica galego-portuguesa, publicado no número 51 de “Grial”. Felicitazón entusiasta: eis a voz da razón, eis o que eu sempre penséi.
Aos meus amigos galegos e portugueses dixen sempre o mesmo, e é precisamente o que se diz nese artigo: o principal adianto a facer na direzón da unificazón lingüística galego-portuguesa é no campo de unidade ortográfica. Dixen sempre isto aos amigos R. Piñeiro, Rodrigues Lapa, Martínez López, Costa Clavell, Xosé L. Pensado, e outros, que poden prestar testemuño. E este adianto é non só eminentemente desexável, mas libre de toda obxeción seria; non só posível mas aínda fácil se existir boa vontade, habilidade e pericia na conduzón do problema.
         Nas outras cousas o movimento de freo, de entrave, marcado polo amigo Piñeiro, paréceme moito razoável, verdadeiramente motivado, profundamente respetável e digno de simpatía.
         [...]
         Aliás, o exemplo do catalán e do basco pode e debe guiar ós galegos e portugueses no esforzo de unificazón. Os casteláns traballaron sempre no fomento das pequenas discrepanzas entre o uso literario do catalán de Valencia e de Mallorca e do catalán do Principado; entre os dialectos navarro, guipuscoano e bizcaíno do basco literario. Foron sempre os partidarios mais ou menos secretos (ou faceiros) da míngua de vitalidade desas línguas os que pretenderon ser os defensores das singularidades locáis, cando se trataba de Valencia, Mallorca ou Navarra, xamáis cando se trataba do catalán ou basco normáis! É sempre o medo da ameaza castelán o que actuóu de freo ante os movimentos de reacción contra as suicidas tendencias centrífugas no seo das línguas minoritarias.
         Son lingüista, son hispano; se, a tiduo de tal, algún consello meu (cheo de boa vontade!) pode resultar técnicamente útil para os galegos, sentiréime satisfeito. Se eu fose galego, tería escrito moito sobre todo iso; se fose portugués, non menos, e tería feito algunha cousa, tal vez eficaz, no mesmo sentido. É únicamente o feito de ser estranxeiro -inda que sexa un estranxeiro benévolo e simpatizante- que me privóu de esplicar as miñas ideas. Temo ser mirado con esplicável desconfianza, ser quizáis menos útil que contraproducente.
         Ainda con estes temores, permítome seguidamente algúns comentarios detallados das propostas expresadas en dito artigo. Espero que estes comentarios ao mesmo tempo demostrarán ao leitor galego cánto, cuán profundamente, me intereséi sempre por estes asuntos. E concretaréi, referíndome especialmente aos pontos que o autor aborda nas partes 5-a e 5-b,
a) PROBLEMAS MERAMENTE GRÁFICOS
1 e 2:  LH e NH
Participo absolutamente na opinión de que se deben adoptar resoltamente as grafías lh e nh.
         [...]
         Joan Coromines. Sobre a unificación ortográfica galego-portuguesa. Revista GRIAL. Nº53.Janeiro-Março 1976, pp.1-13.

      Seguidamente os nossos argumentos passariam a autoridades científico-filológicas galegas implicadas no processo de extensão e normalização da nossa língua.

CARVALHO CALERO: 
“O português é umha forma do galego, como o andaluz é umha forma do castelhano, e a descastelhanizaçom indispensável tem como correlato a reintegraçom necessária.
R. CARVALHO CALERO.: Da fala e da escrita. Galiza Editora. Ourense. 1983, Pág. 81

Também:

      “O galego nom nace cando renace a sua expressom escrita no século XIX.  Entom mais bem morre, porque ao admitir como supletório o castelhano e remodelar a sua forma interior com referência ao mesmo, estende acta escrita, e assinada polos intelectuais galegos, da consciência popular da fala residuária que desde os começos da idade moderna está latente no seu comportamento.  Claro que os seus cultivadores aspiram teóricamente a salvá-lo e fomentá-lo; mas debatendo-se numha evidente contradiçom, porque ingenuamente aceitam a imagem do galego que lhes fornecera a doutrina oficial”.(4).
CARVALHO CALERO, R.: Do galego e da Galiza. Sotelo Blanco Ed. Compostela. 1990, Pág 16

      E ainda:

“Nom podemos renunciar à vantagem que o mesmo castelhano desfruta na sua osmose nom só coas formas peninsulares do espanhol, mas coas próprias das terras ultramarinas colonizadas lingüísticamente.  A história do galego é paralela à do castelhano.  Este como espanhol ou hispano-americano, é falado, segundo ouvimos, por trescentos milhons de pessoas.  Aquel, como português ou galego-luso-africano-brasileiro, pola metade, cando menos daquela cifra.  O galego, pois, norma dentro de um sistema de grande difusom com o que ocupa o segundo lugar dentro das línguas románicas, nom tem por que xebrar-se do seu mundo natural, e se a história política violentou a sua natureza lingüística, estamos a tempo de rectificar”.
CARVALHO CALERO, R.: Do galego E da Galiza. Sotelo Blanco Ed. Compostela. 1990, Pág 17
        
         Veja-se nos textos expostos como Carvalho não só manifesta a unidade substancial do galego-português, mas também reconhece o desvio histórico, junto com a possibilidade de recompor a unidade das duas partes separadas por razões políticas alheias à língua  e exprime com paixão de adolescente nos seus diferentes textos, que os reintegracionistas não vão  ficar parados  perante os argumentos dos elaboracionistas ou isolacionistas que falam  da  inoportunidade do momento da  reintegração.                                      
                                                                                                                              “Nom faltam entre nós os que consideram que o isolamento do ramo setentrional do galego-português com relaçom às suas formas  de expansom  é um feito consumado  de carácter irreversível, e que estamos obrigados a assumir a história.  Se isto significa que devemos aceitar a castelhanizaçom do galego, permitamo-nos formular duas observaçons:
É a primeira que, [...] o galego, conservou polo momento o seu dispositivo estrutural suficientemente firme para que nom se poda falar ainda de consumaçom da sua absorçom polo poder lingüístico central [...].
E a segunda observaçom que nos permitimos formular é que nós nom somos fatalistas, que nom professamos o islamismo lingüístico, senom mais bem o cristianismo libero-arbitrista, e cremos, em conseqüência, que a história  a fam os homes, e que o pam que uns apedrárom, outros o podem soerguer, se nom fosse assi,  nom valeria  a  pena nengumha luita política e cultural, e deveriamos retirar-nos a praticar o imobilismo
nirvânico,  deixando que as pegas ou as cochorras figessem os seus ninhos nas nossas intonsas cabeleiras de eremitas ensimesmados.”

CARVALHO CALERO, R.: Do galego e da Galiza. Sotelo Blanco.Ed. Compostela. 1990 Pág 18

         Imediatamente recorremos agora às manifestações escritas pela oposição, isto é, pelos próprios isolacionistas que à altura dos anos  90 e 91 moderam  os  seus  posicionamentos perante a impossibilidade de negar certas evidências, já começadas a  assumir  pela sociedade:
                                                                                                                                        Francisco Fernández Rei: 

“Na actualidade, desde o punto de vista estrictamente lingüístico, às duas marxes do Miño fálase o mesmo idioma, pois os dialectos miñotos e transmontanos  son unha continuación dos falares galegos, cos que comparten trazos comuns que os diferencia dos do centro e sur de Portugal; pero no plano da lingua comun, e desde unha perspectiva sociolingüísta, hai no actual occidente peninsular duas linguas modernas, con diferencias fonéticas, morfosintácticas e léxicas, que poden non impedi-la intercompresión [...].”
F. FERNÁNDEZ REI,.: Dialectoloxía da lingua galega. Ed.Xerais-2º Ed.Vigo. 1991, Pág 17

Claro que ceder perante uma situação como a que nos ocupa e dar a razão ainda que seja só em parte é custoso, pelo que manter uma imagem de aparente segurança e aparente rigor científico faz-se necessário para evitar a perda da auto-estima e de credibilidade perante os seguidores, razão pela qual  o  autor  adversativiza  as suas mafestações com o fim de fazer ver que o que se diz no começo do parágrafo não é exactamente o que se quis dizer.
         Do ponto de vista reintegracionista, joga com o possível desconhecimento do leitor, acrescentado pela paixão dos possíveis leitores isolacionistas aos que vai dirigida a mensagem ao encher o texto argumental com confusas expressões como  o de “língua comum”(veja-se o que mais acima diz Coseriu sobre a “língua comum”) e “perspectiva sociolingüística” (e veja-se o que diz Carvalho sobre a prática do “imobilismo nirvânico”).
         Nestas alturas, o aluno a quem lhe apresentamos estes pensamentos, vai apanhando uma ideia de como está o assunto, à vez que começa a mostrar interesse ao descobrir cousas que não  se  lhe comunicaram quando ele tinha estudado galego na escola, mas que acontece quando ao aluno lhe apresentamos a realidade do pensamento dos clássicos do galeguismo posicionados em favor da reintegração linguística? Vamo-lo ver no capítulo seguinte...
      
Continuará.....

(*) não dentro do ensino oficial dependente da administração, obviamente, donde somos maltratados, perseguidos e submetidos a mobbing por sermos discrepantes a respeito da normativa RAG.

8 comentários:

Hosamis disse...

Estou curiosa para ver a reação dos alunos a esta conscientização. Penso que serão travados debates acalorados. Aguardemos...


Abraço José!

Hosamis.

Eco Ponte Caldelas disse...

Parabens pelo post

Anónimo disse...

O de Cabeça de Maceda é unha invenzón ou é unha traduzón? Non creo que Coseriu nin Coromines avalasen iso. Eles sabían que a toponimia funciona de forma diferente ao resto da lingua. Obrigado

José Manuel Barbosa disse...

Anónimo, como é segundo tu? Manzaneda?

José Manuel Barbosa disse...

Hosamis: Esses cursos fizeram-se em Ourense desde 1985 até final dos 90. A eles vinham pessoas curiosas que queriam saber que é isso do reintegracionismo. Os resultados sempre foram positivos porque a gente aberta sempre é recetiva. Alguma vez e desde outro formato vieram pessoas de todo tipo e sim houve muito debate. Nesses casos há que adatar-se ao público e aos alunos, mas sempre há pessoal que pecebe e aceita e outro mais contrário embora acabe vendo-lhe a lógica ao que se ensina. Mas em todo caso houve respeito. A falta derespeito foi sempre institucional, nem tanto da gente do comum (ainda que sempre há de tudo).

José Manuel Barbosa disse...

@Anónimo: Pôde conhecer ao Professor Coseriu em 1987 no II Congresso Internacional da Língua Galego-Portuguesa na Galiza e posso garantir-lhe que a ideia que ele tinha sobre as interferências linguísticas não incluía o uso dos topónimos deturpados, misturados ou alheados. Ele compreendia a problemática da língua dos galegos à perfeição e sabia que uma toponímia corrompida é sintoma de decadência de todo tipo.
No que diz respeito do Professor Coromines...não o conheci mas tenho referências diretas dele por parte de pessoas que o conheceram diretamente...e posso também garantir-lhe que muito amigo do supremacismo do castelhano não era.

Anónimo disse...

Homem, se hái umha Quintanilha em Trás-Os-Montes nom vejo porquê nom pode haver umha Mançaneda na Galiza

Anónimo disse...

Falei meses atrás com um moço que trabalha na comissom de toponimia da Junta. Há umha previssons para o cambio de alguns toponimos demostradamente deturpados. Um dos casos é Cabeza de Manzaneda, onde há duvidas em se debe ser (no galego ILG)"Cabeza de Maceda" ou só "Cabeza Grande". Outro caso pendente de ser revisado é o de "A Cañiza" que viria ser "A Caniza". (Sánti)

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