quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Uma experiência de ensino da Língua cumprindo objetivos legais.


Por Mabel Pérez Rivas

À hora de extender um modelo educativo baseado no desenvolvimento de competências básicas, são as instituições encarregadas de elaborar os currícula que vão ser precetivos, as que deven dar o primeiro passo. Neste sentido, a competência em Língua Galega, aparece integrada nos demais elementos do currículum: objetivos, conteúdos e criterios de avaliação, como finalidades a conseguir por parte do alunado e o professorado com o intuito de que ajudem na adquisição da competência linguística na nossa língua. No entanto no nosso País achamos um problema acrescentado por parte da Administração Educativa. Este é o estabelecimento de uma norma comum de ensino que não tem em conta o conceito de “intercomunicação ”, nem reconhece nem respeita as variedades linguísticas da língua objeto de estudo.
 Partindo deste preceito, o ensino da língua galega por parte da Administração converte-se assim nun curriculum precetivo e obrigatório que extende o uso de uma língua “artificial” afastada tanto da fala como da escrita e próxima à Língua Castelhana que tanto @s falantes nativ@s como @s neo-falantes não percebem, nem identifican como própria e que moit@s docentes pensamos que não devería ser o referente, já que não estimula a aprendizagem. Contrariamente  reforça o bilinguismo e a diglossia, sendo sempre a língua de imposição a que prevalece, afastando assim a consecução dos objetivos propostos no curriculum de referência que tem como finalidade primeira o conhecimento e uso da língua galega. Daí que o trabalho que @s docentes realizamos nas aulas seja um trabalho de pouca ou nula utilidade na consecução de finalidades e objetivos e cheio de transmissão de conteúdos que não levam ao fin: adquirir as competências básicas necessárias para o desenvolvimento da fala e a escrita na nossa língua, e ainda, o gosto pelo seu uso. 

O referente histórico da nossa língua acha-se na raiz da mesma: o velho galego-português. Do mesmo jeito, o futuro e projeção da mesma na lusofonia. Só com que os alunos tomasem consciência de que a sua língua é uma lingua com projeção social e internacional, rica em recursos, útil na sociedade e com um amplo leque de possibilidades de futruro, não só na Galiza, mas no mundo inteiro, já teriamos conseguido alguma das finalidades acrescentadas no currículo. Mas, indo para além, fazer-lhes ver como a través do conhecimento duma ou duas variedades duma familia linguística poden chegar ao conhecimento passivo das outras (nomeadamente da família românica: catalão, francês, italiano...), e assim chegar a abranger o conhecimento destas a través duma serie de estatégias surgidas a partir do estudo da própria língua. Com isso teríamos conseguido a finalidade última.

De todos é sabido que não é certo que para que duas persoas se entendam têm que falar a mesma língua ou a mesma variedade lingüística “pondo cada um dos interlocutores um pouco de esforço e interesse em chegar á compreensão é possível a comunicação entre variedades da mesma língua ou entre línguas diferentes mas próximas geograficamente" (Moreno Cabrera, 2006). A intercompreensão  procura uma troca comunicativa mais justa e procura uma sociedade multilíngue que a Conselharia de Educação não tem em conta á hora de estabelecer os critérios de ensino da nossa língua e “ordenar” a consecução de objetivos, finalidades e critérios de avaliação.  Para isso não habilita as estratégias adequadas e ainda limita a capacidade de trabalho do professorado.
 De termos em conta os critérios que nos falam do uso e gosto pela língua por parte dos alunos e tentando cumprir o estabelecido pela Administração, o professorado, empregando estratégias com as que não concordamos, repetidas infrutuosamente por imperativo legal curso após curso e afastadas da dinâmica de transmissão de conhecimentos, poderia realizar atividades que estimulassem e desenvolvessem atitudes de tolerância e apertura de cara a diversidade linguística e cultural, reforçando o interesse pelas línguas e desenvolvendo atitudes suscetíveis de facilitar a aprendizagem duma língua estrangeira, como diz querer a Administração.

São muitas as estratégias que podemos empregar nas aulas, mas a mais comum nos países civilizados é a de reflexionar sobre as línguas, as suas similitudes e diferenças, sobre a base de material sonoro e escrito. Produz-se o “acordar às línguas” quando parte das atividades têm como objeto línguas ou variedades que a escola não pretende ensinar, mas estão presentes entre os alunos.

Uma experiência próxima no tempo foi levada a cabo por nós nas aulas com a canção “Ai se eu te pego” de Michel Telo, http://youtu.be/zNaUR45umSY, aproveitando a sucesso que esta canção tem entre @s adolescentes e @s cativ@s. Os alunos distinguiam a sua língua oculta detrás da língua da cantiga e  reconheciam-na como própria, identificaram as palavras, a mensagem, o registo discursivo e a aprendizagem, assim como o gosto e reconhecimento da lusofonia como parte da sua cultura. Tomaram consciência de que sabiam muito mais do que acreditavam porque podiam perceber melhor a canção do que muitas das expressões e palavras que aparecem nos livros de texto. Posteriormente fez-se um trabalho de linguística comparada, similitudes e diferenças entre as palavras, tanto em galego RAG como nas distintas variedades da língua galego-portuguesa, -isto é, segundo as variantes galega, portuguesa e brasileira-, os distintos registros empregados, as expressões diferentes: “nossa”,  ”te pego”, o emprego do “você ”, analise do texto, estudo com umas palavras dadas… e a partir daí o estímulo cara a procura doutras cantigas, com outras normativas, variedades dialetais, linguísticas e outros registros. A experiência deu como resultado um uso mais quotidiano no discurso expressivo dos alunos de língua, afastado absolutamente do estímulo do prémio da pontuação positiva por fazê-lo, um estímulo na procura de material – o que favorece o uso das TICS- e um gosto pela aula de Língua como atividade formativa duma atividade lúdica.

Esta experiência, entre outras semelhantes, favorece a consecução de uns objetivos estabelecidos pelo EOLE (l’éveil au langage/ouverture aux langues a l’ecole) para a intercompreensão de línguas em França e que são aplicáveis nas aulas galegas  para o estímulo do nosso idioma e que não quebram nem fazem incumprimento da consecução dos objetivos estabelecidos pela Administração, mas permite-nos aos docentes aproximar o aluno a outras variedades dialetais e linguísticas e ao conhecimento e aprendizagem de línguas próximas. São estas...:

-         A acolhida e a legitimação das línguas de tod@s @s alun@s, no caso de haverem estrangeir@s.
-         A tomada de consciência do papel social do galego como língua comum.
-         O desenvolvimento de uma consciencialização do multilinguismo no contorno, próximo ou longínquo.
-         A estruturação dos conhecimentos linguísticos do aluno por meio das diversas línguas presentes ou ausentes na turma.
-         O desenvolvimento da reflexão sobre a linguagem e as línguas e sobre as habilidades metalingüísticas.
-         O desenvolvimento duma perspetiva comparativa, fundada sobre “a alteridade linguística” e que nos ajuda a conhecer melhor uma língua (por exemplo, a nossa língua segundo a norma que queiramos ) a través da aprendizagem doutras línguas.
-         O desenvolvimento da curiosidade do aluno nos descobrimentos de como funcionam as outras línguas (e da sua própria), da sua capacidade para escutar e atender, para reconhecer línguas menos familiares, da sua capacidade de discriminação auditiva e visual, de comparação, etc.
-         A aprendizagem duma metodologia de investigação a respeito da compreensão do funcionamento das línguas, do seu papel, da sua evolução e da sua história.
-         O desenvolvimento de estratégias de compreensão de línguas da mesma família.
-         O desenvolvimento duma cultura plurilinguística e pluricultural.

Outro jeito de vindicação do uso das distintas normativas e registros pode ser o proposto neste vídeo que reivindica o uso da língua irlandesa dum modo um bocado mais “subversivo”.  Fíorghael (Irish Language Short)  http://youtu.be/t3Kv4fZ2SO

4 comentários:

Anónimo disse...

Parabéns.

Esta experiência mostra um caminho que se pode seguir desde o início da leito-escritura até o 2º de bacharel no actual marco legal.

Seria bom ir pondo em comum com outros docentes de língua e constituir por acaso uma associação dos tais.

Plºacido Péres

Celso Alvraez Cáccamo disse...

Muitos parabéns por este tipo de experiências educativas, e polo texto.

Celso Alvarez Cáccamo

Anónimo disse...

Diz a autora: "reforça o bilinguismo e a diglossia".
à partida deveria advertir-se que promove a substituição do Galego pelo castelhano (dada a semelhança quase paródica das NOMIGa com as normas ortográficas do "español") e impede a correlação diglóssica entre a norma A e as normas B, própria (essa correlação) e definidora de situações normais na presente situação civilizacional nos estados "modernos".

De resto o texto é muito aproveitável e dificilmente discutível (não o será) pelos órgãos do reino bourbónico concentrados na CAGa.
Parabéns!
AGIL/

CDEDLG de Vigo disse...

Obrigada!

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