Por
Artur Alonso Novelhe
«Intrinsecamente,
todos os seres vivos são completos e perfeitos, dotados de virtude e
sabedoria, apenas pensamentos ilusórios impedem que percebam isso».
(Buda)
A
essência da vida é mudança. E nós vivemos escravos de sensações,
ilusões, medos, aversões... E ânsias de possuir um pó que o vento
arrasta ainda mesmo fechando nossos punhos, ainda mesmo habitando
essa casa sem janelas (que continuamente tentamos construir sonhado
criar a nosso redor uma imaginaria fortaleza). Esse pó tem
diferentes formas segundo os apegos de cada ser: uma ideia politica
materializada em forma de verdade suprema, uma ideia religiosa
veiculada através da única salvação possível, uma ideia fixada
de imunidade bondosa... Assim como a falsa crença do apego ao mito
familiar, a tribo, a raça, ou ideal superior duma nação
impossível, como essência daquilo que achamos ser certamente nossa
origem. Outros vivem suas cadeias mais apegadas ao mundo material:
dinheiro, riqueza, poder terrenal.... Ambos esperançados – na
visão idealizada – acabam por ensonar que podem impedir, em certo
modo, à mudança: que o vento arraste o pó que eles dentro de seus
olhos acumularam.
Despois
estão os que querem salvar o mundo – e a miúde nem sequer são
capazes de salvar-se a eles próprios – fato que uma vez
experimentado não se pode realizar, traz consigo o surgimento da
frustração e o apego ao capricho “do quero e não consigo”,
iniciador dor corporal criada por nosso menino insatisfeito. Pois o
pó, gostemos ou não, será barrido pelo vento.
Temos
um grave problema de percepção, que afeta todo o sistema: desde a
concepção do pensamento às conseguintes ações logo a realizar, e
que ao final criam nossa realidade palpável. Como bem analisou
Fritjof Capra no seu livro “O ponto de
Mudança”, o racionalismo cartesiano
e o mecanicismo de Newton (que significaram uma enorme dávida na sua
época) assim como visão, deles derivada, entorno do corpo humano, a
natureza e o cosmos como uma maquina precisa: um grande mecanismo –
um relógio imenso, onde cada peça podia ser estudada por separado e
onde cada problema podia, de algum jeito, obter solução
isoladamente; estão a dia de hoje em questão e mesmo já, na
pratica, ultrapassados. A própria tecnologia já os tem contornado,
caminhado devagar rumo a um novo paradigma. No entanto esta visão
foi fulcral para estabelecer as bases e alicerces sobre os quais girou
toda a Idade Moderna, como bem afirma Danah Zohar, no seu magnifico
livro “O Ser Quântico”: “As
imutáveis leis da História descritas por Marx, a luta desesperada
pela sobrevivência de Darwin e as tempestuosas forças da sombria
psique de Freud devem, em alguma medida, sua inspiração à teoria
física de Newton”.
Mostremo-nos
calmos. Reconheçamos a simples vista a mudança. Lembremos o rio de
Heráclito, aquele no qual não podemos banhar-nos duas vezes e
pretender que o rio e nós segamos sendo mesmos.
Reconheçamos
a interdependência entre todos os seres e elementos que podemos
observar na mais próxima natureza. Precisamos abrir não só a nossa
mente senão também as nossas praticas e com elas sossegar nosso
coração flamejante. Fujamos dos extremos, como afirmava Buda: O
sofrimento físico traz perturbação à mente. O conforto físico
apego as paixões.
Iniciar
o caminho do meio longe das perturbações e dos desejos que geram
paixões é um principio. Com esse atuar paulatino poderemos melhor
enxergar os novos paradigmas, através dos quais, sem nós saber, a
humanidade está evoluindo em procura de acomodar-se as iminentes
provações derivadas das novas e continuas mudanças.
Novo
Paradigma
Desde
uma visão mais aberta, tendente a não deitar mais pré-conceitos
sobre o significado mesmo da vida, poderíamos almejar a ideia nova e
revolucionaria – e não entanto já contemplada quase desde quase
as primeiras culturas humanas - de o espirito ter presencia no seio
da matéria. A física quântica pode ajudar a tomar consciência de
essa “nova realidade”. Perguntas como: O que a realidade, como se
forma? Há alguma inteligência superior que subjaze a essa
realidade? Podem ter melhor acomodo graças às ultimas investigações
no campo da física subatômica.
Se
da o caso que a nível subatômico o ser pode ser descrito como
partículas solidas ou como ondas. É a denominada dualidade
“onda-partícula”, sendo o mais sobressaliente deste realidade
que nenhuma das duas percepções “partícula” ou “onda” tem
real precisão analisada isoladamente, e que tanto um aspecto como o
outro devem ser considerados a hora de analisar a natureza do ser.
Esta complementariedade de onda e partícula intrinsecamente nos
achega a um principio etéreo da matéria...
O
Sutra do Coração nos diz:...”vazio não é mais do que forma;
assim forma é vazio, vazio é forma”, coincidido plenamente com a
visão quântica.
Mais
são a condizer, com outras tradições espirituais, muitas das
múltiplas visões que a nova física introduz na nossa percepção
limitada da realidade através de uma minuciosa e cuidadosa
metodologia cientifica. Estas propostas cientificas estão plenamente
acomodas com aquelas que a traves do método introspectivo de
procura da verdade tem encontrado, ao longo de séculos, a mística.
O
mestre vietnamita Thich Nhat Hanh nos adverte nos seus preceitos da
Interexistência: “Não
pense que o conhecimento que agora detém é a verdade imutável e
absoluta. Evite a tacanhez de espírito e ficar preso aos pontos de
vista atuais... A verdade encontra-se na vida e não no mero
conhecimento conceptual.” Renovação,
ar fresco ou a asfixia condicionada atual, na qual o único poder
emana da matéria – guiada pela única energia construtora (agora
destrutora) do capital financeiro – criado no ventre da perpetua
cadeia da divida: escravidão.
Por
outro lado a mudança face ao paradigma quântico nos permite
continuamente assumir como próprias e da nossa responsabilidade as
situações que acontecem ao longo da nossa existência, pois elas
formam parte das nossas escolhas, dado nossa consciência ser a
criadora da nossa circundante realidade. Como bem diz o físico
quântico indiano Amit Goswami:
“...
A consciência é que
é o fundamento de tudo o que vemos e percebemos e, portanto, nós
podemos decidir as nossas próprias escolhas... Escolha e
responsabilidade são as palavras chave desta nova ciência”
Dai
essa responsabilidade ganha nos liberta profundamente das ataduras
percebidas naquele velho paradigma para o que unicamente eram
importantes as circunstancias externas. O homem em ele era alvo e,
não ator, dos aconteceres. Mudando, pois do mundo das obviedades
para o mundo das probabilidades, dado que na mecânica quântica ao
invés da mecânica clássica a posição inicial e o movimento não
podem ser determinados matematicamente: pois o estado inicial duma
partícula subatômica não pode ser estabelecido com precisão. Isto
revela que a incerteza forma parte também da maravilha de viver.
Esta incerteza criadora de preocupação provocadora de medo no
antigo paradigma (onde nós éramos dependentes das circunstancias)
se torna em incentivadora, dentro dum novo paradigma onde nós somos
os criadores das nossas circunstancias, navegando através dum
cenário determinado por múltiplas probabilidades tornadas em
possibilidades reais, criadas pela consciência, tanto individual
como coletiva.
Essa
consciência que vive no momento presente, desapegada do fumo do
passado e das especulações do futuro, forma parte da inteligência
universal que rege todo o cosmos, desde as nossos mínimos átomos e
células, ate o mais complexo sistema solar. Para poder acessar ao
poder de essa inteligência e permitir que sua energia flua por todo
nosso corpo é preciso libertar-se das algemas e correntes que nos
atam ao fumo do passado, a projeção que este insere sobre o futuro
e a sensação de nosso momento estar sempre fora de lugar.
Com
este novo marco referencial, continuamente nascido no agora, podemos
encarar o sofrimento, tal como afirma o mestre Eckhart Tolle, no seu
revelador livro “O Poder do Agora”:
“O
sofrimento
que sentimos neste exato momento é sempre alguma forma
de não aceitação,
uma forma de resistência inconsciente ao que é.
No
nível do pensamento, a resistência é uma forma de julgamento. No
nível emocional, ela é uma forma de negatividade. O
sofrimento varia de intensidade de acordo com o nosso grau de
resistência ao momento atual, e isso, por sua vez, depende da
intensidade com que nos identificamos com as nossas mentes. A
mente procura sempre negar e escapar do Agora. A
mente não consegue funcionar e permanecer no controle sem que esteja
associada ao tempo,
tanto passado quanto futuro, e assim ela vê o atemporal Agora como
algo ameaçador. Na
verdade, o tempo e a mente são inseparáveis. Imagine
a Terra sem a vida humana, habitada apenas por plantas e animais.
Será que ainda haveria passado e futuro? Será que as perguntas “que
horas são?” ou “que dia é hoje?” teriam algum sentido para um
carvalho ou uma águia? Acho que eles ficariam intrigados e
responderiam: “Claro que é agora. A
hora é agora. O que mais existe?”
“Os
pés e as mãos conhecem o desejo da alma,
fechemos
pois a boca e conversemos através da alma.
Só
a alma conhece o destino de tudo, passo a passo.
Vem,
se te interessas, posso mostrar-te”
(Jalal
al-Din Rumi)