sábado, 26 de outubro de 2013

Roteiro pela Gallaecia sueva: Braga. Crónica duma jornada.





Por Paloma Fernández de Córdova e José Inácio Capeloso

Se por algo se caraterizou o roteiro do Palácio Real Suevo do passado 12 de outubro, foi pelo ambiente descontraído e fraternal em que decorreu a jornada, assim como pela vontade de desvelarmos a nossa história, apagada em grande medida a ambos os lados do Minho. A jornada começou às 9:30h de Madrid (10:30h na Galiza sul) a meio de um nevoeiro que prometia um dia cheio de luz -solar, mas também cultural- como de facto foi. O sol a meio da manhã convidou-nos a tirarmos as peças de abrigo, enquanto avançávamos num percurso que nos levou pelos caminhos da antiga Gallaecia celta e do Suevorum Regnum, a través de vestígios arqueológicos, museus, igrejas pré-românicas vinculadas ao Primeiro Reino da Gallaecia, sartegos de personagens cruciais na história do 1º estado europeu ou os restos não escavados do Palácio Real Suevo. Contamos com vários guias nos diferentes espaços que visitamos, entre os quais destacou José Manuel Barbosa quem, além de organizar as visitas da mão dos amigos portugueses como Carlos Maciel, Pedro Bacelar, António Costa, Luís Miranda, Hugo Gonçalves... , fez para nós explicações muito interessantes sobre diferentes aspetos do nosso passado. Finalizamos o roteiro no local emblemático de Santa Marta das Cortiças onde, com a escuridão em cima, fixamos o entusiasmo do dia com uma foto do grupo trás a bandeira sueva. Com certeza, foi um dia para não esquecer.
Como combinado, os seguidores do blogue DTS encontramo-nos na estação de comboios de Braga, somando em total mais de vinte pessoas de aquém e além Minho.
Depois das saudações e toma de contato entre os membros do grupo, começamos o nosso roteiro com uma primeira visita a um
balneário celto-galaico, no subsolo da própria estação, posta a descoberto em Fevereiro de 2003, durante as obras de ampliação da mesma. Aqui observamos um bom trabalho de respeito e restauro do património, com painéis explicativos sobre o monumento.
Na sauna, datada na Idade do Ferro, vêem-se três partes bem diferenciadas
: o forno, uma pequena zona de transição e a sala. O acesso, através da chamada Pedra Formosa, faz-se por um buraco semicircular na parte baixa da pedra, que obriga a se arrastar polo chão para entrar e sair dela.
Trata-se de um esquema construtivo que aparece noutras muitas saunas da Gallaecia, nomeadamente na parte sul, localizadas com frequência em espaços importantes na distribuição urbanística do castro ou citânia, no sopé das fortificações para onde corria uma linha de água.
A sua utilidade é ainda motivo de elucubração. Alguns arqueólogos especulam com elas serem lugares iniciáticos, relacionando-as com o masculino, onde os guerreiros poderiam receber algum tipo de ensinança.
Porém, dada a sua abundância no território galaico, há outras teorias que apontam a este tipo de construções serem não exclusivas de uma determinada classe social, mas lugares para a socialização e para a higiene sanitária, tanto física como espiritual. Sanidade que se explica desde a velha e atual medicina chinesa, em que o vapor compensa, elimina o excesso de humidade, cura o morrinhoso que o clima atlântico mete no corpo e na alma. É assim que agua para a medicina chinesa, e não só, é memória, e o excesso de memória ou de humidade causa sobrecarregamento do baço(1): saudade ou morrinha. A sauna adaptada ao lugar galego trata de tirar o excesso de humidade, de pensamento memorístico repetitivo, enxuga, além de reparar artroses e contraturas ... De maneira contrastiva, a sauna nórdica tira o frio, pois o alto vapor conduz calor para dentro do corpo. A sauna nórdica molha também por dentro, pois o frio baixa muitíssimo a humidade, seca, o ar frio contém pouca auga, ainda que a sua humidade relativa for alta. A sauna nórdica funciona bem "sanitariamente" para o inverno castelhano. Mas do ponto de vista da medicina tradicional chinesa, na Galiza “sobra” orvalho, cujos efeitos na saúde devem ser reduzidos.
Neste tipo de construção como num forno, primeiramente se aquece o espaço fechado, para logo entrar nele. Consta de quatro partes: O forno, onde era incinerada a lenha para aquecer as pedras; a sala quente, onde era atirada água fria contra as rochas incandescentes, liberando grande quantidade de vapor que ficava retido por apenas existir aquela pequena passagem semicircular por onde se acedia; a sala morna, intermédia, onde era possível admirar os desenhos na pedra de acesso à sala quente; e, por último, a sala fria, zona parcialmente aberta, onde a água fria era retida em tanques laterais. Assim era que nestes balneários se conjugavam os quatro elementos: terra, água, fogo e ar, num ritual de purificação ancestral.
Na Irlanda, onde o legado celta não foi decepado, saunas parecidas com as galaicas funcionaram até ao s. XIX. Nas saunas irlandesas, a utilização de vapor é pouca, ao estar a sauna construída ao pé de um curso de água, ou num lugar húmido, sem chegar a ser vaporosa, tipo sauna nórdica. O forno aquece e a lentura do terreno proporciona humidade ao ambiente.
IRISH MEGALITHS: Weathouses.
O “oficialismo” adjetiva estas saunas galaicas de pré-romanas ou castrejas, o que revela a carga preconceituosa que a denominação de castreja leva consigo ao ser aplicada à cultura céltica desta parte norte da Galiza. (Vid. O Celtismo na Galiza hoje)
O tema já foi tratado com largura neste mesmo blogue, e o próprio Barbosa retomou-o numa das suas explicações durante o roteiro, para falar do absurdo de uma cultura ser denominada pela sua habitação, assim como a ideia-força dos centralismos “culturais” de apagarem qualquer indício ou referência ao passado do povo submetido, tal e como acontece cá com qualquer referência que ligue a antiga cultura assentada na velha Gallaecia com o céltico, seguindo uma estratégia de ocultação da identidade galaica e das suas profundas raízes
(2). Como pudemos verificar, isto não acontece apenas na Galiza aquém-Minho, pois nos locais e museus que visitamos na área bracarense, o céltico estava também desaparecido, por não falar da inexistência de qualquer menção ao reino suevo. Extravagante, pois não?
Continuámos o percurso para visitar a capela de São Frutuoso de Montélios, a poucos quilómetros, no cinto periurbano de Braga. Igreja de feitura pré-românica, cruz grega, com influência bizantina.

Aqui entre outros temas, o professor Barbosa falou do arco de ferradura presente na arquitetura visigótica e na de Al-Andalus, e de como esse tipo de arcada já marcava presença na época sueva, tal e como fica exemplificado na igreja de Santa Comba de Bande (Ourense, Galiza) e, ainda, em Santa Eulália de Bóveda, de finais do s. II ou princípio do s. III d.C.
Santa Eulália de Bóveda (Lugo, Galiza) foi na origem um santuário dedicado à deusa Cibeles reconvertido em igreja cristã. A ideia do culto a Cibeles vem dado pela presença de alguns elementos decorativos que representavam a essa deusa romana, como o avestruz como representação zoomórfica. Não se conhece outro caso similar de templo pagão cristianizado, que apresentava já na altura o arco de ferradura, talvez o mais antigo na península.
Quanto à Santa Comba de Bande, o documento mais antigo referido à igreja é um cartulário que a dia de hoje está guardado no Mosteiro de Cela Nova e que foi entregue a um arquiteto de nome Odoymo para a sua reconstrução em 872. No texto, em letra mal chamada de "visigótica"  (Vid: O que a verdade esconde) e que nós chamaremos de galaica ou suévica, dizia que a igreja existia já douscentos anos atrás, o que nos leva ao ano 675. Se fosse que naquela altura, o edifício estivesse em ruínas, com toda probabilidade, teria um número de anos que, com certeza, nos levaria até a época sueva, quer dizer, anterior ao 585; o que se traduz nuns noventa anos atrás, ou talvez mais. Não é, pois, difícil imaginar que uma igreja, na altura desmoronada, terá muitos mais anos do que noventa para ser a ruinaria em que o documento fala. Se isso for assim, a identificação da igreja como visigoda é falsa, podendo determiná-la com segurança como sueva no mínimo; e ainda, depois de visitá-la e sabendo que nela há elementos romanos, até podemos chegar a datá-la na época tardo-romana, vinculada com a Via XVIII ou Via Nova e com o acampamento de Aquis Querquernis.

Outro tema interessante que tratou Barbosa foi o das relações entre o Império Romano de Oriente e o Reino Suevo durante os séculos V e VI, em que a figura de Martinho de Panónia, (São Martinho de Dume) teve uma função principal, sendo organizador de um reino-estado, numa altura em que o poder terreal tinha pregado a partida ao poder espiritual.
Este homem singular chega à Gallaecia talvez como enviado auxiliador desde o Império Oriental, numa afixação de alianças para o controlo dos territórios do falido Império Romano Ocidental.
Relacionado com a conversão do reino suevo para o cristianismo, temos a história que conta Gregorio de Tours em Historia Francorum sobre o rei Carriarico, quem tem muito a ver com a advocação do São Martinho de Tours em Ourense por um milagre que aconteceu na época do seu reinado. Os factos -segundo conta Gregorio de Tours- ocorreram quando o filho do rei, de nome Ariamiro, adoeceu vítima de uma epidemia. Na sua inquietação, o pai perguntou entre os seus súbditos sobre a religião à que pertencia um homem chamado Martinho, que tinha fama de realizar grandes milagres entre os gauleses. Descobriu que aquele homem fora um bispo católico, que ainda desde a sua tumba continuava a realizar milagres entre a gente do povo. O monarca não duvidou em enviar a Tours, à tumba do santo, uma oferenda em ouro e prata equivalente ao peso do seu filho; mas a curação não se produziu porque ainda estavam arreigadas no peito do rei as crenças arianas*. Percebendo isto, o monarca enviou uma oferenda maior do que a anterior ao sepulcro do santo, anunciando que se o seu filho curasse ele próprio adotaria a religião do santo.
Chararici cuiusdam regis Galliciae filius graviter aegrotabat, qui tale taedium incurrerat, ut solo spiritu palpitaret. Pater autem eius faetidae se illius Arianae sectae una cum incolis loci subdiderat”. Gregorio de Tours, Historia Francorum.
O envio fez-se por barco por ser mais seguro e rápido que por terra. Nele, por volta do ano 550, portavam-se entre outras oferendas um dossel de seda para oferecer ao santo e acompanhando à comitiva, viajava um homem procedente também da Panónia, que a história denominaria com o nome de Martinho de Dúmio, peça fundamental da cristianização e catolização da Galiza sueva, acaso que Gregório de Tours atribuiu à “divina providência”. O filho do rei curou da sua enfermidade e a lepra que ameaçava a todo o seu reino sumiu. Quando o rei teve notícia do milagre, convocou os seus servos mais próximos no poço situado onde hoje está a Praça da Madalena e, ali, comunicou a todos a sua decisão de aceitar o catolicismo como religião oficial do reino. Esta foi a segunda conversão sueva e com ela o distanciamento dos seus inimigos visigodos. O levantamento de uma igreja com a advocação a São Martinho é o único dado que permite identificarmos em Ourense esta construção com a atual igreja de Santa Maria a Madre, a primeira Catedral da Sedis Auriensis, a qual ainda conserva umas colunas de mármore que os especialistas datam de época sueva. Se for assim, e tudo indica que pode ser certo, temos que datar a igreja no ano 550. A dia de hoje, o São Martinho continua a ser o santo padroeiro da cidade das Burgas que homenageia o santo no dia 11 de Novembro, e a atual Catedral, do século XII, continua a ser a “Catedral” do São Martinho!

A seguinte visita foi para o
Núcleo Museológico de São Martinho de Dume mas, infelizmente, estava fechado. O que ali iríamos ver entre outras cousas era o túmulo, sartego, de São Martinho.
Dali dirigimo-nos para o seguinte lugar da visita, o
Museu Regional de Arqueologia Diogo de Sousa.
Este museu está na mesma cidade de Braga, e recolhe achados desde o paleolítico até a época medieval.
Acompanhados por uma guia do próprio museu, percorremos as diferentes salas. A época paleolítica, com os utensílios de pedra. A época céltica, rotulada como castreja, com uma réplica de guerreiro galaico, (também chamados pelo centralismo lisboeta como “lusitanos”) no qual bem se percebe a saia com Kilt aos quadros ao biés utilizada pelos celtas galaicos. Também encontramos nesta sala objetos de prestígio e de importação achados nos castros e citânias, entre outras mostras.
Estas estátuas pétreas de guerreiros, provavelmente da época pré-romana, foram encontrados por todo o noroeste peninsular, todas para norte do rio Douro, o que quer dizer que só podem ser consideradas como galaicas. Porém, as quatro estátuas em atitude de guarda achadas no castro de Lesenho, em Boticas, em 1785, foram classificados em Portugal como Monumento nacional em 1910 e levados para Lisboa com o rótulo de “guerreiros lusitanos”.
O edifício museístico está sobre o espaço que ocupou uma
villa romana da qual se conserva o pavimento com mosaicos numa das suas salas.
O subsolo de Braga está cheio de restos da antiga cidade romana, de cuja época o museu tem um grande acervo.
Já da época medieval pudemos contemplar uma réplica do túmulo do São Martinho de Dume, que perdêramos de ver no fechado Núcleo Museológico.
Após esta visita fomos para os jardins de Santa Bárbara, belamente engalanados com plantas floridas. Foi lá que fizemos um intervalo para o almoço (jantar nalgumas zonas da Galiza norte), sandes, bolinhos, e por ai fora...
Do outro lado da rua, limitando com os jardins, uma fonte com um dragão verde a destacar entre a escuma branca do chafariz, trazia-nos sutilmente a lembrança de estarmos na capital sueva da Galiza. O Dragão verde é um dos animais símbolo da bandeira daquele primeiro reino.
Já depois da refeição, continuamos o percurso a pé passando pela torre de menagem do antigo castelo de Braga, admirando os símbolos que os canteiros deixaram na pedra cuidadosamente lavrada. Caminhamos assim até a Fonte do Ídolo...
Uma nascente num grande penedo granítico, rocha viva trabalhada, esculpida, na qual vemos uma figura principal em que não podemos identificar o sexo, trajada de túnica com muitas pregas, uma inscrição em latim indica que "Célico Fronto", natural de Arcóbriga (3), mandou fazer o monumento.
À direita do ídolo está outra inscrição que deixa muito campo para o estudo e elucubração, “TONGOE NABIAGUS”.
Tongoe nabiagus lembra-nos à divindade Návia, deusa galaica das águas (4).
Há também uma figura de busto humano numa edícula, como um tímpano, com uma ave a um lado e um martelo ou maça ao outro. A guia explicou algumas teorias sobre o monumento e tentou responder às muitas perguntas dos membros do grupo.
Fomos deixando atrás Braga e, de carro, dirigimos-nos para a citânia de Briteiros, atravessando a frondosa floresta das abas dos montes que circundam Braga pelo leste, lugar do santuário do Bom Jesus.
Briteiros: um grande castro; suposto centro dos galaicos brácaros, que na sua época de esplendor pôde chegar a ter mais de dez mil habitantes.
O castro apresenta uma continuidade alargada de ocupação, desde a idade do cobre
(5), até a romanização, calcula-se que foi abandonado no século III d.C.
Percorremos as suas íngremes ruas onde observamos a cuidadosa canalização das aguas.

Visitamos a pedra formosa, trabalhada lousa granítica porta de entrada de uma sauna, com os símbolos do trísquel. A sauna de Briteiros tem a mesma distribuição que a descrita anteriormente. É para destacar o bom estado de conservação das gravuras.

Numa escavação em 2006, foi localizada -umas centenas de metros abaixo do referido monumento- uma estrutura de um segundo balneário, onde alguns arqueólogos, como o próprio Mário Cardozo, localizam a implantação original da Pedra Formosa, que atualmente se guarda no Museu da Cultura Castreja em Briteiros. Porém, outros estudiosos julgam que as ruínas dos banhos achados não são compatíveis com a beleza e a qualidade do entalhe da pedra, o que leva à possibilidade de ter havido até três balneários na citânia. A estrutura ficou parcialmente destruída em 1932 com a construção da estrada Nacional 306, entre São Salvador de Briteiros e o Bom Jesus de Braga.
Desde a parte baixa, onde está esta pedra formosa, subimos ao coroto da citânia, fazendo um alto no caminho. Intervalo que não serviu apenas para descanso, como também para escutar de novo o professor Barbosa a falar sobre as teorias que colocam o noroeste peninsular no berce celta da Europa atlântica. Barbosa acompanhou as suas explicações sobre a Teoria da Continuidade Paleolítica com as lendas associadas a Breogão e aosmilesianos, colonizadores da velha Eirin segundo o Leabhar Gabhala.
Chegados ao cume, descemos até a chamada “Casa do Conselho”, uma habitação grande circular de banco corrido, onde fomos colhendo assento. O Bruxo Queiman, participante ativo, emocionou-nos com um monólogo de exaltação da história e do sentimento galaico. 

Nesse espaço de roda nasce a ideia da diferente organização que o círculo implica a respeito do quadrado, onde a rainha ou o rei não têm uma cadeira especial, nem um lugar superior, e de como isto pôde talvez chegar até um dos últimos reinos célticos, na famosa mesa redonda do rei Artur ...
O dia ia dando cabo de si e faltava a visita ao antigo palácio dos reis suevos.
Outra vez de carro dirigimos-nos à capela de
Santa Marta das Cortiças, no alto da Falperra, um belo miradoiro onde finalizaríamos o roteiro.
Neste alto de monte, localizado a sudeste de Braga, com vistas sobre a cidade, foram descobertos vestígios de um castro romanizado e diversas construções, entre as quais destaca uma maior. Um grande edifício que, com muita probabilidade, teria sido o palácio real suevo, dada a sua magnitude e a datação do espólio dos achados, que remetem aos séculos V e VI, tempos em que Braga foi capital da Gallaecia. Os restos achados foram novamente enterrados para uma melhor preservação, enquanto não forem efetuadas escavações.

É de bem agradecer o trabalho organizativo e de guia dos amigos bracarenses, assim como a sua hospitalidade e amizade; também o labor levado à frente por DTS na organização deste roteiro orientado a acordar do sono maléfico a apaixonante história que nos une aos galaicos.
Obrigados a todos vós. “Benções.”
 
(1) Nas pessoas melancólicas e saudosas há um excesso de humidade, para a medicina chinesa estancada no baço.
Já no saber do povo galego isto é conhecido, pois no gado há a chamada baceira, uma doença na que o baço tem grande tamanho, pensa-se popularmente devida a um enchoupamento, a estar ensopado de água.
(2) Reinhard Heidrich - SS Grupenführer . (Diretor do departamento principal de segurança do Reich): “Privem o povo da sua consciência nacional, tratem-nos como uma tribo e não como uma nação, diluam a sua honra nacional, não ensinem a sua história, propaguem que a sua língua é inferior, façam-lhes ver que eles têm um vazio cultural, enfatizem que os seus costumes são primitivos, e enganem-nos com que a independência é uma bárbara anomalia”.
Podemos observar, tanto na Gallaecia sob a espanholidade como na Gallaecia sob a lusitanidade, este processo de infravalorização do genuíno e da raiz atuando, e infelizmente alienando.
(3) Arcobriga foi um castro, posteriormente romanizado, no atual concelho de Monreal de Ariza (Aragão, Espanha).
(4) A hipótese etimológica sobre tongoe, pode levar à mesma raiz que tongue inglês, (língua), polo que estaríamos diante da língua de Návia.
Outro caminho seria a raiz de tanque e estanque, que para a etimologia é uma palavra da Índia do idioma Gujarati 
tankh que os portugueses navegantes trouxeram para a Europa.
Hipótese que fica em dúvida, ao termos no galego a palavra tanque, além de para o estanque, para distintos tipos de taças ou copos, com asa e sem ela, á vez que a palavra tango
para o mesmo tipo de utensílio. Sendo pois “tongoe nabiagus”, o tango naviego, o copo de Návia, ou o tanque, estanque de Návia.
(5) A primeira etapa neolítica, o calcolítico ou idade do Cobre, é calculada que começou polo ano 3.100 a.C. nesta zona geográfica da antiga Gallaecia.



quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Palestra no C.S. Revira "As Origens do Magusto, o Halloween e o (mal)chamado Samhain"


A semana que vem estaremos em Ponte Vedra, no Centro Social Revira dando uma palestra sobre as origens do Magusto e os seus vínculos com o Halloween e o Samhain.
Será por volta das 20:30. Aguardamos-vos

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Santarém: A confluência cultural






Maria de Fátima Santos Duarte Figueiredo *

Poucas terras como Santarém terão uma história tão dramática. (…) A posição estratégica, o sítio quase inexpugnável, a fertilidade das terras da região, a posição entre Lisboa e Coimbra, tudo explica que Santarém fosse rijamente disputada por cristãos e mouros, logo que os primeiros iniciaram a reconquista.(…) No gigantesco duelo entre duas raças e duas religiões que se prolongou por quatro séculos, Santarém foi terra mártir, disputada a ferro e fogo, ora a bandeira de Cristo, ora a bandeira da meia-lua vitoriosas nas ameias do seu castelo roqueiro. (In “Entre a cruz e o crescente”, O Correio do Ribatejo, 24 de dezembro de 1948)
preciso lugar onde acabava o al-Andaluz, para dar lugar à terra dos “galegos”, dos cristãos do Norte”, depois que, havia muito pouco, estes haviam conquistado Coimbra. (…) é o local onde o Islão se separa- e se encontra- com a Cristandade. (Em torno de Santarin: posições e funções”, de Hermenegildo Fernandes, in De Scallabis a Santarém, 48)


A antiquíssima Scallabis1 não é uma cidade que atraía o visitante, à primeira vista. Ao chegar do norte, ele depara-se com entradas pouco atrativas: hipermercados e bairros urbanos; vindo do sul, pela ponte D. Luís I, o panorama é muito mais agradável, pois avista-se o monte da Alcáçova com as muralhas das Portas do Sol, olhando imponente a lezíria e o rio Tejo. À beira deste encontram-se, tristes e escuros, a Ribeira de Santarém e Alfange; no entanto, das Portas do Sol, o turista pode deliciar-se com a belíssima paisagem da lezíria que se alonga, cheia de força pletórica.
A Ribeira e Alfange, outrora portos fluviais de grande importância, revelam os efeitos de longos anos de um poder autárquico de costas voltadas para as suas potencialidades turísticas e económicas que levaram à região povos de muitas origens, devido à sua localização, aos produtivos campos e à existência do Tejo. De facto, a cidade, entre o norte e o sul, o Atlântico e o Mediterrâneo, situa-se numa posição estratégica única que lhe valeu uma História antiquíssima, cuja origem remonta à mitologia grega2 e regista um interessante cruzamento étnico: fenícios, gregos, romanos, focenses, cartagineses, massiliotas, judeus, árabes, sírios, berberes, normandos, ingleses, suevos, visigodos, alanos, cruzados do norte, incluindo francos, homens do norte da Península Ibérica (norte de Portugal, Galiza e Astúrias) e ingleses. 
A exploração agrícola das terras junto ao Tejo começou no neolítico, com o estabelecimento populacional em Alcácova, cuja prova é o “Vaso de Santarém”, tendo sido encontrado também o linho chamado Linum humile, da Ásia Menor, que chegou entre 2.500 e 1.200 a.C., por via fluvial. Esta facilitou o comércio da mineração e metalurgia do cobre e estanho que teve início no Calcolítico, o que revela o caráter mercantil único desta urbe desde o início.
Os primeiros sinais de ocupação humana da cidade foram descobertos nas Portas do Sol, num oppidum pré-romano habitado entre os séculos X- IX a.C. e I d. C., localizado, como o resto do Ribatejo, na antiga Lusitânia3, sendo díspares os estudos e opiniões apresentados pelos diversos autores no que respeita à origem dos lusitanos4. Inequívocos, no entanto, são os registos da sua valentia e ousadia, personificados em Viriato. Diodoro da Sicília, por exemplo, considerava-os os mais fortes de entre os iberos5 e, segundo Estrabão, eram hábeis em emboscadas e perseguições (….) usam um pequeno escudo que tem dois pés de diâmetro e é côncavo è frente, e é manejado com correias, e que não tem, ao que parece, nem presilhas nem alças.6, usando a guerrilha como forma de combate. Os guerreiros lusitanos eram um grupo social muito importante e respeitado, por isso, ficaram imortalizados em estátuas que, pelo facto de serem consideradas galaico-lusitanas revelam, na nossa opinião, a dificuldade em distinguir as respetivas tribos, mais aparentadas e próximas, a nível étnico, geográfico e cultural do que as fronteiras artificialmente estabelecidas fazem crer7.
No Ribatejo e na Estremadura portuguesa, surgiu a denominada “cultura de Apiarça”, que caracteriza a Idade do Ferro no centro de Portugal, região povoada pelos túrdulos e em que existiam cidades tão importantes como Olissipo (Lisboa). Outros locais de relevo eram Sellium (talvez Tomar), onde há um povoamento pré-romano, um castro (celta) em Torres Novas, em Mação (o de Caratão), em Abrantes e na Cova Nascente do Almonda, ocupado desde o fim da Idade do Bronze e durante toda a Idade do Ferro. Contudo, Chões de Alpompé (próximo de Santarém) destaca-se por ser provavelmente a Morón referida por Estrabão, onde Décimo Júnio Bruto, em 138 a.C. estabeleceu o seu acampamento militar contra os lusitanos. Aqui, o achado mais antigo foi um fragmento de um machado de talão unifacial, com uma única argola, enquadrável no chamado “tipo lusitânico”, datável dos inícios do I Milénio a.C.8, tendo sido encontrada também cerâmica decorada com os característicos S da cultura castreja do noroeste da Península Ibérica. Também da Idade do Bronze foram encontrados, na capital ribatejana, um machado em S. Bento e esporões na Alcáçova, onde a presença humana data da Idade do Ferro, portanto, da ocupação fenícia, havendo vestígios orientais num conjunto artefactual muito característico e em técnicas de construção específicas do mundo oriental.9, o que comprova o intercâmbio interregional na época pré-romana que se registou também na época do conventos scallabitanus e na fase islâmica. Além destes objetos, destacamos também os torques que foram achados em Almoster e as arrecadas descobertas na Golegã, que sugerem uma ligação à ourivesaria nortenha e, portanto, a um substrato cultural comum entre este território e o norte.

De quando a cidade era Scallabis Praesidium Iulium (fim do século I a.C.), foram descobertas, por exemplo, ânforas em Alfange, havendo então dezanove villae no Conventus Scalabitanus e importantes estradas romanas perto da urbe que, partindo de Olisipo (Lisboa), davam acesso ao norte (Bracara Augusta) e a Espanha (Mérida), havendo igualmente uma para Ebora. Assim, estas estradas ligavam, pelo interior, o Sul Mediterrânico ao Norte Atlântico. A antiga via romana que começava em al- Ushbûna (Lisboa) rumava a partir de Shantarîn para norte, atravessava al-Shârât (as Serras) pelo estreito corredor natural que seguia do norte de Tomar até às proximidades de Qulumriya (Coimbra), continuando depois por Burtuqâl (Portucale) para terminar na Gallîsiya (Galiza)10.
Em 460, Suenerico, servindo o rei godo Teodorico, conquistou Scallabis, mas os romanos continuaram a revelar uma forte posição no porto fluvial da cidade, onde a comunidade judaico-síria se mostrou contra as crenças visigodas11, influenciando o respetivo povo a participar e a assimilar a religião cristã bizantina, fazendo assim com que se mantivessem os laços ao Mediterrâneo oriental. Durante o domínio visigodo, a urbe aumentou, surgindo Sesirigo, nome de origem germânica, depois denominada Sanctae Eirenae (Santa Iria ou Santa Irene) aquando do reinado de Recesvinto (653-672), para designar a povoação junto ao rio onde se venerava aquela santa, e depois, em árabe, Sanctaren ou Xantarin12. Curiosamente, também existia, na região de Santiago de Compostela, o local de Iria (…) como elemento de atração dos povoadores (…) para um lugar sagrado13. Sede de bispado, Santarém tinha vários outros cultos cristãos e várias igrejas que perduraram durante o período islâmico.

Os árabes chegaram no século VIII d. C., época bastante conturbada: em 714, Abd al´Aziz conquistou a cidade aos hispano-godos e, cerca de 760, terá havido uma conquista da cidade por parte dos normandos. Em 784, houve uma visita do emir Abd al Rahman I, que ordenou a construção de uma mesquita; dois anos depois, o seu filho incentivou uma insurreição na cidade que os reis asturianos aproveitaram, apoiando as populações que se revoltavam contra o invasor, tendo Afonso II das Astúrias, o Casto, alcançado Lisboa em 798. Durante o domínio islâmico, o rio Tejo e os seus campos férteis mantiveram-se preciosos na economia da urbe e despertaram tanto a admiração de autores árabes que estes compararam as lezírias (al-jarirà) aos terrenos produtivos do rio Nilo. Essa terá sido certamente uma das razões pelas quais Shantarin adquiriu fama nas artes e letras, quando integrou o reino de taifas de Badajoz.
Aquando do califado de al-Hakam II, os alcaides mandados pelo califa para combater os majus (bandos vikings que atacavam as costas cristãs e as muçulmanas) estavam na cidade, onde souberam que aqueles tinham ido embora, o que foi confirmado por espiões que tinham sido incumbidos de ir a Santiago de Compostela. Este facto comprova a circulação de pessoas e informações entre o norte e o sul, favorecida pela existência de vias rodoviárias herdadas dos romanos.

Cerca de 936, o governador da cidade era Umayya ibn Is hâq al-Qurashî al- Marwâni (fundador de Badajoz e sobrinho do califa ´Abd-al- Rahmân al-Nâsir, de Córdoba), que teve, na sua briga com o tio, o apoio e proteção de Ramiro II de Leão, que fora senhor do condado Portucalense. Após sair derrotado, em janeiro de 939, passou a estar ao serviço do rei cristão. Estes tempos conturbados não ficaram por aqui: Lisboa foi saqueada, em 956, pelo rei leonês Ordonho III e, em 30 de abril de 1093, as tropas de Afonso VI de Leão e Castela entraram em Santarém14. Então, o rei de Badajoz e do Gharb al-Andalus, al-Mutawakkil ´Umar ibn al-Aftas, negociou com ele, solicitando a troca de Santarém, Lisboa e Sintra pelo apoio cristão contra os almorávidas, que ambicionavam conquistar os reinos taifas15. Tomando as rédeas do governo da cidade, o rei cristão concedeu-lhe um foral para fixar cavaleiros vilãos para garantirem a defesa da cidade e do Tejo e assim, reforçar a presença cristã, que prevaleceu entre 1093 e 111116. As fontes árabes referem, até, grandes obras de fortificação as quais tornariam Santarém- no dizer de Ibn ´Abdûn de Évora-no melhor protegido das praças-fortes (qa l´a) cristãs.17, o que a impediu, durante algum tempo, de ser conquistada pelos almorávidas e ajudou na reconquista de Lisboa e Sintra até ao domínio daqueles.
Os berberes saarianos tomaram a cidade e dominaram-na ainda durante 36 anos, entre 1111 e 1147, mas os cristãos persistiram na sua reconquista e a urbe voltaria a ter um importante papel defensivo nas mãos destes, após a sua conquista por Afonso Henriques, que contou com o apoio dos moçárabes locais. A cidade continuou a revelar grande desenvolvimento comercial ligado à atividade fluvial, com o grande poder económico dos judeus e árabes. Tal valeu-lhe o primeiro lugar na predileção árabe, sendo Coimbra referida em segundo lugar, para o espaço entre Tejo e Mondego, sem mencionarem Lisboa. (…) E quando a cidade do Mondego deixa de integrar o Dâr al-Islâm, Lisboa toma o seu lugar, mas sempre em posição subalterna18. A conquista definitiva de Santarém ocorreu no dia 15 de março de 1147.

À população local, fruto de uma miscelânea significativa de culturas, foram também acrescentadas, ao longo dos tempos, gentes de do norte trazidas pelas batalhas da chamada Reconquista Cristã (a sua presença já se faria certamente sentir aquando do domínio de Ordonho III, D. Raimundo e de D. Henrique), uma vez que a guerra era um significativo veículo migratório, além das necessidades económicas e comerciais. Como prova desta mobilidade, encontrámos referências a indivíduos da Galiza e Alto Minho, no século XIII: João Mendes de Tui, João Moniz Galego (…), Domingos Moniz Galego e Maria Joanes, dita Galega,19 e João Peres, vizinho de Valença20, e o topónimo “Val dos Gallegos”21.
Há igualmente registos do século XV de indivíduos cuja alcunha faz adivinhar a sua origem, sendo notável a frequência do apelido Galego nos documentos desta época, prova incontestável das migrações sucessivas de gente do Norte, após a reconquista cristã e durante os séculos XII-XIII. Residem de preferência na Alcáçova e na freguesia de Sto. Estevão e alguns são grandes proprietários rurais, como un João Domingues Galego que, em 1348, tinha o seu domicílio na freguesia de sto. Estevão e era proprietário na lezíria do Galego22. O apelido Galego foi comum até ao início do século XX, de que é exemplo o nosso caso pessoal: na árvore genealógica, temos os antepassados do século XIX João Ferreira Gallego, Manuel Ferreira Gallego e António Ferreira Gallego, tendo a nossa aldeia o nome Anteporta, existindouma Anteportas no concelho de Padrão.

Dos (inúmeros) acontecimentos marcantes ao longo dos séculos, podemos ainda referir que foi nos paços da antiga Scallabis (onde atualmente se encontram o Seminário e a Sé) que ocorreu a morte de dois dos assassinos de Inês de Castro (Pêro Coelho e Álvaro Gonçalves), em fevereiro de 1360. Nos séculos XIV e XV, o hospital de Jesus Cristo, de João Afonso (nobre, proprietário de terras e benemérito), quer na perspectiva organizacional, quer no enfoque estritamente médico-assistencial (…) denota um (quase certo) contacto ou conhecimento com a nova realidade hospital de (…) Santiago de Compostela23.
Santarém foi residência de reis e nela tiveram lugar cortes de D. Afonso III, D. Afonso IV, D. João I, D. Afonso V e D. João II; no Convento de S. Francisco, existe um alpendre onde, segundo Rui de Pina, foi jurado rei D. João II24; no claustro quadrangular, há escudos dispostos alternadamente com as armas dos Menezes e Castros; a Igreja de S. João de Alporão (fins do século XII ou início do século XIII), segundo José Anastácio de Figueiredo, foi cabeça da ordem de Malta25; na Igreja da Graça, foi sepultado Pedro Álvares Cabral, depois trasladado para a sua terra natal, Belmonte; em 1640, o 1º conde de Unhão, Fernão Telles da Silveira, foi o primeiro a proclamar a independência, num edifício na Praça Visconde Serra do Pilar; a urbe combateu os franceses, aquando das invasões napoleónicas, que a despojaram de grande riqueza, do que é exemplo a Igreja da Graça e, no período entre 1833 a 1834, defendeu a causa dos liberais, após o que o general Sá da Bandeira a elevou a cidade. Na madrugada de 24 de abril de 1974, o capitão Salgueiro Maia partiu da Escola Prática de Cavalaria para rumar a Lisboa e contribuir heroicamente para derrubar a ditadura fascista.
Após tantas influências culturais e tantos acontecimentos marcantes inclusive para a História nacional, a velha Scalabicastrum esconde, pois, as riquíssimas memórias por detrás dos velhos e escuros edifícios, becos e lugares pouco conhecidos e visitados. Neste planalto e lezírias onde muito se esconde, as lendas e a História atestam a sua milenar existência, na qual o norte e o sul confluíram intensamente.



* Licenciada em Português e Inglês (via ensino) e Mestre em Estudos Ibéricos com a dissertação O Nacionalismo Galego (o percurso político e literário do século XIX à década de 1950).
1Scala pode ser a palavra latina para escada, mas também pode ser um elemento pré-latino e explicar-se quer pela raiz “Kal”-pedra” (…) quer pela raiz “Sk”-altura” (…) Como o derivado é Scalabitanum, o que tem de se explicar é o radical
bit”; penso numa raiz pré-indo-europeia bet-bi҃t (Santarém e Scalabis, uma tese revolucionária, José H. Barata, Vida Ribatejana, 1955).
2Abidis é uma divindade da mitologia dos celtiberos e o nome de um rei mitológico ligado a Santarém. Durante a sua odisseia, Ulisses de Ítaca teria passado por esta região, onde se apaixonou por Calipso, filha do celtibero Gorgoris, rei dos Cunetas, relação de que nasceu Abidis, que o avô abandonou, colocando-o numa cesta atirada ao Tejo. Esta subiu o rio e foi recolhida por uma loba ou cerva na praia de Santarém, que cuidou dele. Mais tarde, Calipso reconheceu-o e tornou-o o legítimo herdeiro do trono, escolhendo aquela cidade para capital do reino, dando-lhe o nome Esca Abidis (o manjar de Abidis).

3Ptolomeu (…) menciona Scallabis (Santarém) (Viriato, a luta pela liberdade, Mauricio Pastor Muñoz, Edições Ésquilo, 5ª ed., Lisboa, 2004, 24) e Fernandez Ochoa apresenta como uma das regiões Lusitânia o Ribatejo e Estremadura (Viriato, a luta pela liberdade, Mauricio Pastor Muñoz, Edições Ésquilo, 5ª ed., Lisboa, 2004, 45), sendo as outras a das Beiras e o oeste da província de Cáceres.
4Oriundos das montanhas helvéticas, estabeleceram-se, com certeza, nesta região, por volta do século VI a.C. (idem, 21). O investigador Lambrino defendia que os lusitanos constituíam um grupo tribal de origem celta relacionado com os lusões de Contrebia, que se haviam fixado no Leste Peninsular. (…) Os lusões ter-se-iam estabelecido na nascente do rio Tejo, enquanto os lusitanos, descendo pelo vale do rio, acabariam por se estabelecer no seu baixo curso, por volta do século VI a.C.. O vocábulo lusitani, de raiz lus- e sufixo –tanus, seria de origem celta e significaria “tribo de lusos” (ibidem).
No entanto, alguns investigadores como, por exemplo, Leite de Vasconcelos, consideram-nos autóctones que terão sido subjugados pelos celtas, sendo, portanto, uma etnia de origem pré – ibérica. Sendo ou não os lusitanos anteriores à vinda maciça de tribos celtas para a Península Ibérica, é, pois, tida como certa a sua origem céltica e a sua língua era indo-europeia e mais antiga do que, por exemplo, o celtibero.
5idem, 29
6ibidem
7Segundo Maurício Pastor Muñoz, A norte do rio Tejo e ocupando totalmente o centro e o norte de Portugal viviam os lusitanos, o povo de Viriato, cujo território ia do Douro ao Tejo (idem, 21). O seu território era delimitado a sul pelo dos célticos, a norte pelo dos galaicos e a nordeste pelo dos vetões, ou seja, ocupavam, entre os dois rios,a zona de declive da Meseta estendendo-se pela Estremadura (idem, 22).
Estrabão refere que A sul a Lusitânia é delimitada pelo Tejo; a ocidente e a norte pelo Oceano; a oriente pelos carpetanos, vetões, vaceus e galaicos (...) alguns também lhes (aos galaicos) chamam lusitanos (idem, 23). É aqui interessante a (mais do que natural e lógica) identificação dos galaicos com os lusitanos.
8“Chões de Alpompé”, de Carlos Fabião, De Scallabis a Santarém, 151
9“A Alcácova de Santarém e os fenícios no estuário do Tejo, de Ana Margarida Arruda, in De Scallabis a Santarém, 30
10Madînat Shantarîn. Uma aproximação à paisagem de Santarém muçulmana (séculos X-XII)”, de Manuel Sílvio Alves Conde, in Santarém na Idade Média, 349
11Só na época visigoda é que desapareceram as tribos, a religião indígena e as línguas pré-latinas.
12Até meados do século XII, mantiveram-se os vocábulos Scallabis para o núcleo da Alcáçova e Sanctaren para o da Ribeira de Santarém.
13Santarém e Tomar- A lenda e a posse da terra, in Santarém na Idade Média, 391
14Quatro séculos foram precisos para se saber se a terra ficaria com o nome cristão de Santa Irene, ou com o nome árabe de Chantireyn. A reconquista cristã aproximou-se do Tejo e Santarém desde que Fernando, o Magno, se apoderou definitivamente de Coimbra, nos meados do século XI. Foi, por isso, possível a Afonso VI, o Bravo, rei de Leão e Castela, avançar com as suas hostes até Santarém, onde entrou a 30 de abril de 1093. Não houve então propriamente conquista. A cidade foi-lhe entregue por um príncipe muçulmano de Badajoz, a fim de obter a ajuda do rei de Leão contra o famoso general almorávide Sir, o “rex Cyr” das crónicas cristãs. As guerras intestinas que dilaceravam o império de Córdova facilitaram assim a posse de Santarém nas mãos de Afonso VI, o Bravo que, Afonso VI reconquista Santarém pouco tempo depois, e em 1095 concede-lhe o seu primeiro foral, em paga dos bons serviços que lhe prestaram os santarenos (In “Entre a cruz e o crescente”, O Correio do Ribatejo, 24 de dezembro de 1948).
15Duas décadas após a conquista de Coimbra por Fernando, O Magno (1064), Toledo passa para o domínio cristão, sob a chefia de Afonso VI (1085). Os árabes andaluzes solicitaram então o auxílio dos Almorávidas para os ajudarem mas, apercebendo-se da sua ambição desmedida , pediram ajuda ao rei cristão. Então, o último chefe de Badajoz, ´Umar al-Mutawakkil, entregou-lhe as cidades de Santarém, Lisboa e Sintra, o qual, por sua vez, as deu a Raimundo de Borgonha, nomeado governador da Galiza e Portugal em 1090 ou 1092, após casar com D. Urraca. Mais tarde, Afonso VI separou, como sabemos, o Condado Portucalense da Galiza, dando-o a D.Teresa aquando do seu casamento com D. Henrique de Borgonha, mais apto que D. Raimundo para cuidar da defesa do território, incluindo Santarém, preciosa para o norte.
16 Temendo um ataque a Santarém, o conde D. Henrique mandou em 1110 um corpo de tropas a fim de reforçar a guarnição, mas foi surpreendido em Vatalandi e dizimado. A este trágico sucesso se refere a Crónica dos Godos (…) Em 1111 (26 de maio), o famoso general Sir cerca Santarém. (…) Santarém cede e a fome obriga a guarnição cristã a abrir as portas à torrente muçulmana. (…) “Os cristãos, diz Abdune, preferiram a humilhação à morte, a submissão ao cativeiro.” (ibidem).
17Shantarîn/ Santarém, fronteira ambivalente islamo-cristã”, de Abel Sidarus, in Santarém na Idade Média, 323
18idem,328
19Santarém medieval, Maria Ângela V. da Rocha Beirante, 1ª ed. Lisboa,1980, 56
20idem, 72
21idem, 136
22Idem, 259
23Santarém na Idade Média, atas do colóquio 13 e 14 de março 1998, Câmara Municipal de Santarém, 2006, Santarém, 1ª Edição, 249
24Arqueologia Scalabitana, Francisco Nogueira de Brito, 18
25idem, 16


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