Mostrar mensagens com a etiqueta José Manuel Barbosa. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta José Manuel Barbosa. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Carta de Castelao e Suarez Picalho a Salazar

R. Suarez Picalho
 
A. Daniel R. Castelão
Por Afonso Daniel R. Castelão e Ramón Suárez Picalho 
In Nova Galiza, n.º 2 (20-IV-1937)
Como vosselência não deixaria chegar ao povo português a voz dos patriotas galegos, queremos que, pelo menos, chegue a vosselência a queixa dorida de dois galegos que sempre amaram Portugal. Asseguram que vosselência crê em Deus. Não o sabemos… E não o sabemos porque Deus ―infinitamente bom, sábio, justo e, ademais, imortal― não quis ser Ditador e concedeu-nos o livre arbítrio para que nós mesmos buscássemos o caminho da felicidade, enquanto que vosselência ―cativo verme, que se considera feito à imagem e semelhança de Deus― não teve dúvida em aprisionar a liberdade do povo português, a asfixiar a livre emissão do pensamento e submeter a nação portuguesa ao seu capricho. Grande pecado de soberba, senhor Ditador! Não sabemos se vosselência é um Ditador tão vaidoso como Mussolini e Hitler (vemos que não gosta tanto dos fotógrafos); mais, ainda que o fosse, não cremos que vosselência pretenda tapar com a sua figura os progenitores da Pátria lusa. Eles conquistaram a independência da Nação portuguesa e vosselência está jogando-a agora na roleta internacional, em conluio com os inimigos da liberdade.
Não sabemos se a História perdoará os seus delitos, tão graciosamente como a mais alta hieraquia da Igreja lhe perdoa os seus pecados. Contudo, não se julgue seguro no castelo de fumo que a imaginação de vosselência criou, porque o povo tem um sentido incoercível de justiça e do seu cerne podem surgir juízes terrivelmente vingativos. Mas no entanto é forçoso reconhecer que vosselência manda hoje em Portugal. Por que ajuda vosselência os militares espanhóis, que se ergueram em armas contra o Poder legitimamente constituído? Mediu vosselência os riscos que de semelhante ajuda podem derivar para o Estado português? Porque a beligerância de Portugal na guerra civil espanhola é, simplesmente, uma imprudência temerária, que não abona o talento de vosselência. Tenha vosselência por bem seguro, além do mais, que a Espanha vai ser a campa do fascismo internacional, porque vencer a um povo em armas, dentro do próprio território, não é vencer a força máxima do seu pensamento nem matar a razão que o assiste. A luz das estrelas não se apagará soprando desde Roma. Agora bem; as ajudas fascistas prolongarão a guerra e agravarão os seus resultados, em prejuízo, naturalmente, das concepções que vosselência defende.
Mas nós iremos falar somente como galegos para que apareça mais avultada a gravíssima intervenção de vosselência. Sabe vosselência que Galiza tem todos os atributos de uma nacionalidade: língua, terra, história, arte, espírito, etc., e que, portanto, seria fácil fomentar ali um ideal patriótico de carácter separatista; mas nós aspirávamos, modestamente, a uma simples autonomia que garantisse o livre desenvolvimento da cultura autóctone e que nos permitisse resolver os problemas vitais que a morfologia social e económica de Galiza tem estabelecidos. Sabe vosselência que Galiza apresentou às Cortes da República espanhola, três dias antes de rebentar o movimento subversivo, um Estatuto autonómico proposto pela quase totalidade dos Concelhos e aprovado, em plebiscito recente, por setenta e cinco por cento do Corpo eleitoral; ou seja, depois de vencer com o mais rigoroso zelo as condições que a Constituição exige. Crê vosselência, senhor Professor de Direito, que nós realizámos algum atentado criminal? Pois a fronteira portuguesa não se abriu para os autonomistas galegos, que fugiam da morte, negando-lhes vosselência o direito de asilo a homens que viviam dentro da Lei e que não cometeram maior delito do que defendê-la. E a polícia de vosselência, a polícia de um país que aboliu a pena capital, entregou muitos galegos para que fossem assassinados. Sabe vosselência que Portugal reclamou e conquistou, violentamente, a sua independência nacional, mais do que para romper a unidade hispânica, para não se submeter à tirania centralista. Portugal não queria morrer assimilado por Castela, e num arroubo de génio rompeu as amarras familiares, pediu separação de bens e foi viver a sua vida na melhor frente do lar comum, na grande frente do Atlântico. Não há dúvida que foi Portugal quem quebrou a unidade hispânica. E fez bem. Agora, senhor Professor de Direito, sabe vosselência que o “motivo patriótico” que invocam os militares espanhóis, para justificarem o seu crime, foi provocado pela generosidade constitucional, pois, segundo eles, a concessão das autonomias regionais põe em perigo a “sagrada unidade da pátria”, quando, na verdade, serve para fortificá-la. Sabe vosselência que os militares facciosos defendem, somente, um sistema, um sistema unitário e centralista, que causou a perda do nosso império colonial depois de desintegrar a Península e acirrar novos separatismos. Sabe vosselência que esses militares desprezam olimpicamente Portugal, sem o conhecer, e guardam no seu interior um anseio irreprimível de reconquistá-lo pela força, enquanto que os povos autónomos da República espanhola seriam sempre uma garantia da independência de Portugal e um estímulo eficaz de aliança peninsular. Sabe vosselência que o triunfo do fascismo em Espanha supõe o regresso de Catalunha, Euzcadi** e Galiza à tirania centralista, tirania que Portugal não suportou. E não falamos do que a Portugal pode sobrevir-lhe do triunfo das ideias totalitaristas e a participação de uma Espanha ensoberbecida no concerto europeu. Crê, vosselência, senhor Ditador, que Portugal pode dignamente ajudar os militares espanhóis no afã de abolir as autonomias e contribuir para a morte da democracia na Europa? Pois vosselência ajuda a esses militares, concede asilo generoso aos facciosos e aos políticos do velho sistema, convertendo Portugal em “galinheiro de Espanha”. Sabe vosselência, apesar de ser judeu, que Galiza e Portugal formam, etnicamente, um mesmo povo. Foram-no no amanhecer da História e caminharam juntos muito tempo, a falar e a cantar no mesmo idioma. Juntos ergueram um dos mais belos momentos do mundo: a grande poesia lírica dos Cancioneiros galaico-portugueses. Juntos criámos uma cultura e um modo de vida. E o rio Minho era o nosso pai. Sabe vosselência que ainda depois da malfadada separação, Galiza e Portugal queriam-se como dois namorados. Portugal era o moço forte, que partiu para a guerra e Galiza foi a moça que ficou a tecer saudades. Galiza dera a Portugal, como prenda de amor, a fala e a arte; Portugal deu muitas vezes a Galiza o socorro do seu braço forte. Sabe vosselência que a separação foi desventurada. A Portugal faltou-lhe a força “frenética” de Galiza e enloqueceu; à Galiza faltou-lhe a força “simpática” de Portugal e esmoreceu. A Portugal faltou-lhe o “caminho estrelado da Europa” e à Galiza faltou-lhe a continuidade na História. Portugal esqueceu-se da Galiza e desgastou o seu sangue com misturas de cor; Galiza esqueceu-se de Portugal e ficou estéril para conceber. Pois bem, senhor Oliveira: sabe vosselência que os galeguistas éramos algo mais que políticos. Respeitávamos, como não! a fronteira que separa os dois Estados peninsulares: mas queríamos asas para voar e comunicarmos convosco, sobre o Minho, por cima dos carabineiros e dos guardas fiscais. Queríamos voltar a falar e cantar no mesmo idioma. Com canto amor pensávamos em Portugal! Deve saber vosselência que o nosso amor a Portugal valeu-nos o ódio dos chamados “nacionalistas” espanhóis e que foi justamente esse amor o delito mais grave que se nos imputa. Crê vosselência, senhor Oliveira, que os galeguistas estávamos infectados de alguma enfermidade perigosa para o povo português? Pois vosselência tratou-nos como empestados, metendo galeguistas em cadeias imundas ou entregando-nos aos assassinos da “Falange Espanhola”. Sabe vosselência que os intelectuais portugueses e galegos começavam a formarem uma comunidade cultural que seria outro expoente da nossa estirpe atlântica. Chamávamo-nos “irmãos”, e Rosalía de Castro era o “corpo santo da saudade”. Um poeta amigo de vosselência, quis engaiolar a Galiza com este chamamento: “Deixa Castela e vem a nós!” Sabe vosselência que os galeguistas fechávamos os ouvidos a todo chamamento ilícito; mas queríamos ser fiéis aos legados da tradição, e cada vez nos sentíamos mais empurrados face a Portugal. O rio Minho queria juntar-nos de novo. Sabe vosselência que os jornais portugueses, submetidos à censura governativa, seguiram com simpatia os incidentes do movimento autonomista em Galiza e não dissimularam o seu contentamento ante o resultado favorável do plebiscito estatutário. Outro tanto fizeram já quando se resolveu o pleito catalão. Tudo nos fazia supor que Portugal ansiava uma estruturação federativa do Estado espanhol, e nós sonhávamos, para quê negá-lo, com que algum dia se consagrasse definitivamente a irmandade galaico-portuguesa. Pois bem, senhor Oliveira: vosselência matou as nossas ilusões. Crê vosselência que se pode ajudar descaradamente aos imperialistas espanhóis? Pois vosselência tornou-se cúmplice desses assassinos que cometeram em Espanha o crime mais arrepiante que a História regista. E vosselência fechou as portas, sempre abertas, da nossa República, aos seus próprios amigos, que algum dia renderão contas ante a justiça inexorável do povo português. Sabe vosselência que na Galiza, ainda irmã de Portugal, cometeram-se muitos milhares de assassinatos. Massacrou-se o melhor e mais puro da nossa mocidade. Fuzilaram-se centenas de mulheres. Mataram-se rapazes cheios de vida na presença de seus pais. As estradas apareciam, e ainda aparecem, diariamente orladas de cadáveres desfeitos, que não podem identificar-se. Sacavam-se da cadeia os presos inocentes para serem assassinados pela noite. As autoridades ordenavam fuzilamentos sem prévia formação de causa. Enfim; abonda dizer que era uma honra ser julgado e fuzilado “oficialmente”. Sabe vosselência que falamos em tempo passado, mas que ainda hoje continua o massacre dos cidadãos galegos. Pelos jornais da nossa Terra, submetidos ao controlo militar, verá vosselência a insaciável criminalidade dos seus aliados e amigos. Sabe vosselência que para reconstruir o nosso lar desfeito provavelmente não nos fica mais que a reserva dos galegos que andam pelo mundo? Pois bem; estes galegos vingarão os nossos mártires e criarão uma nova Galiza que já não medirá sonetos em louvor de Portugal. Crê vosselência que os bons galegos, enlutados para sempre, podem viver sem amaldiçoar? Pois nós dizemos-lhe que vosselência causou o luto de muitas famílias galegas por não abrir generosamente as portas de Portugal. E dizemos-lhe mais: vosselência será para os sobreviventes de Galiza algo menos que um assassino; será um cúmplice de assassinos.

quarta-feira, 11 de maio de 2016

Manias anti-galegas, falta de inteligência e pailanismo.



 Por José Manuel Barbosa

A Teima de alguns contra a Galiza e contra todo aquilo que reafirme a sua identidade chega a um ponto de deturpação importante da realidade, auto-repressão da inteligência e de escorço psicológico traduzido em mania irracional.

Isso é o que deduzo das manifestações deste senhor:

Ele fala de...
1- Non mesturar política e deporte....?

- Quem conheça o livro de José António Jauregui "Las Reglas del Juego" que eu li com muito poucos anos (talvez 18 ou 19) poderá ver que o desporto não é nem mais nem menos que uma forma "civilizada" de transcender a política e a territorialidade própria do animal carnívoro por adopção que somos desde os primeiros antepassados pré-históricos. Talvez o individuo este do Pepé queira negar-nos a nossa genética? Talvez queira reprimir a nossa necessidade de reivindicar a nossa condição humana? Talvez o homem não lê ou tem carências culturais importantes?


2- Desexar unha selección galega suprimindo a española... ?

- Qual é o problema? É pecado? É delito? Não se passaria nada... Há nações sem Estado que a têm (Escócia, Gales, Faeroe...) e isso não implicaria necessariamente deixar de ser espanhóis.
Não é esta manifestação a dum nacionalista convencido que manifesta o seu desejo de mijar nas pedras e marcar território?


3- Galiza está mal e é pecaminoso... Há que dizer "Galicia".

- Não foi o Pepé quem defende a atual norma RAG onde se diz que a forma Galiza é legítima? Qual o problema da opção? É um filho de Torquemada?

4- "Non cómpre ser tacaño nin ocultar as ideas"

- Da mesma forma que as oculta ele dizendo-se democrata e negando a opção da seleção galega? "Galiza" é anátema? Demonizando a opção de querer suprimir a seleção espanhola pela galega? Esse partido diz-se liberal-conservador? Nem é liberal (laissez faire, laissez passer) nem é conservador... porque não quer conservar a identidade da Galiza...

5- Exaltación nacionalista---?

- Exaltação nacionalista como a da "roja"? Que nem original é o nome esse de a "roja", pois já o Chile denominava assim à sua seleção nos anos 70

6- Todas as crónicas" xornalísticas, se convertera o último partido da Irmandiña, tamén en Riazor en 2008.

- Bom, eles ocupam os informativos de todas as TVs sobre as que têm poder em exaltar os seu valores de pureza e honestidade.

7- O objetivo "non de mellorar do deporte senón político"

- Alguém acredita que uma seleção nacional não melhora a qualidade duma equipa? Jogar com seleções de outros países talvez rebaixe a categoria duma equipa? Que aconteceria se qualquer seleção das grandes deixasse as competições internacionais? Seria melhor e mais competitiva?

8- aludiu a sentenzas do Tribunal Constitucional que limitan a oficialidade dos combinados deportivos non estatais e asegurou que "o límite" para exercer o dereito á competición "é o autonómico. Se se excede está o Estado", dixo, tras engadir que "a unidade é a mellor vantaxe competitiva que España pode representar".

- Qual é o medo? Porque aqui está-se a manifestar um medo.... que não é mesmo desportivo... Isto não é priorizar o político sobre o desportivo?

9- Tendo em conta que mesmo há pessoas dentro do Pepé que não sentem como negativo o facto de jogar a seleção galega, acho que este senhor manifesta complexos e medos que nada achegam a uma pessoa teoricamente comprometida com a administração pública.


10- Artigo relacionado: AQUI

domingo, 21 de dezembro de 2014

Perguntas e mais perguntas.




Por José Manuel Barbosa

Falam de que a língua perde falantes e está ao borde do desastre. Dizem os responsáveis que eles não são responsáveis porque a culpa não é deles, é das famílias.... Responsabilizar ao povo da política linguística? Tenho visto as famílias aguardar na porta do médico da Segurança Social (hoje Insegurança...) com nenos nos colos; tenho visto famílias aguardando pelos seus filhos nas portas dos colégios; tenho visto famílias de muitas maneiras mas nunca vi famílias na porta da Conselharia de Cultura, Educação e Ordenação Universitária aguardando para assinar ações políticas na seçao da Secretaria Geral de Política Linguística... 
Desenho de Siro
Será que o facto de existir uma Secretaria com tal nome que não tenha culpa da deriva da língua é possível? Será que o facto de as famílias não terem conhecimento do valor duma língua, da sua língua é responsabilidade delas ou é da Conselharia de Cultura, Educação e Ordenação Universitária na sua seção da Secretaria Geral de Política Linguística? Será que não conhece a Conselharia essa lei que diz o que há que fazer com a língua? Será que não sabe o que fazer com ela? Será que não se importa? É possível não se importar? É possível a ignorância? É possível o que acontece... Será possível que quando eu não cumpro uma lei posso andar pela rua com total tranquilidade e ainda ser saudado pela gente e ter toda a honorabilidade? Como é que se chama quem não cumpre a lei? Como se chama a figura legal que define e determina ao governante que não cumpre um mandado legal?
Desenho do humorista ourensano Xosé Lois "O Carraboujo"

Será que quando não se cumpre a lei cabe denuncia? Ou não há denuncia para estas cousas? Se não cabe denuncia... que lei é essa que pode não ser cumprida? Se é uma lei que pode não ser cumprida... que fez o nacionalismo durante mais de 30 anos seguindo uma lei que pode não ser aplicada se for a vontade dum governo? É que existe a possibilidade de que haja governos que possam não cumprir uma lei? Mas se pode ser denunciável... a que aguardamos? Se estamos a aguardar ao final do processo... será que quem não denuncia é também responsável?
É desejável essa legalidade linguística? É preferível outra legalidade ou é preferível a alegalidade?
Polémica surgida porque uma família de Barcelona não aceitou um trabalho em Vigo (cidade onde mais se fala castelhano na Galiza junto com a Crunha). A razão foi que o grupo supremacista castelhanófono "Galicia Bilingue" informou a essa família que em Vigo estava proibido o castelhano no ensino.
Por outra parte, que faz um indivíduo presidente da RAG que não está do lado dos defensores da língua? Que academia é essa?
É possível que um indivíduo, presidente dum País (aqui dito Comunidade Autónoma) não defenda o seu País nem a língua do seu País? Cabe essa possibilidade? É responsável essa pessoa ou é irresponsável como por lei são os reis da Espanha? Que é isso? Quem é esse? Que País tem credibilidade quando um responsável político não é responsável legal perante os seus cidadãos e os seus votantes? Pode-se suster isso? Que possibilidade existe de o botar fora? Com votos? Votos sequestrados no País onde até os mortos votam? Como é que até os bisnetos de galegos no estrangeiro, que não conhecem Galiza nem se lembram dela, nem se consideram já galegos, podam votar sem saber nada dela? Como é que esses descendentes de galegos que já não são galegos votem tão maioritariamente o Partido dos que não têm culpa de nada? Que galegos temos que votam a quem não usa a sua responsabilidade para governar, defender o seu País nem os interesses do conjunto da sociedade que os vota? Como é possível que um Partido que não é responsavel de nada apesar de ter responsabilidade de governo, governe com maioria absoluta com um 76% de galegos que não os votaram?
(Ir)Responsáveis da política linguística da Galiza. Vazquez Abad, Conselheiro de Cultura e Alonso Montero, Presidente da RAG (Real Academia Galega)
Que direitos tem o povo consciente de obrigar a cumprir com o País, com a língua, com os interesses do País, com a sociedade que o vota e que não o vota...?
Que País é este que se deixa extinguir sem mexer um dedo? 

Que é isto? Uma brincadeira?
Desenho do Da Vila


segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Entrevista ao Professor Doutor Anselmo Lopez Carreira




Equipa do DTS
Câmara: José Goris
Apresentação: José Manuel Barbosa

Entrevistado



Bibliografia de Anselmo Lopez Carreira

Ensaio

Edicións

  • Libro de notas de Álvaro Afonso: Ourense, 1434, 2001, Consello da Cultura Galega. 2ª edición en 2005.

Obras colectivas

  • Historia de Galicia, 1979, AN-PG.
  • Historia de Galicia, 1992, A Nosa Terra.
  • Historia Xeral de Galicia. 1997, A Nosa Terra.
  • Da terra de Lemos ao Reino de Galicia, en colaboración con Sabela López Pato (2009), Xunta de Galicia.
  • Marcos Valcárcel. O valor da xenerosidade (2009), Difusora.









quinta-feira, 12 de junho de 2014

Anumão, a velha moura da Montanha.




Por José Manuel Barbosa

Chegamos a Quéguas passadas as 11:00 da manhã. O dia era claro e fazia calor. Isso permitia a caminhada pela monte. Deixamos o carro num pequeno aparcamento natural adequado para este tipo de cousas e começamos a andar por um caminho que nos levou a uma subida cheia de tojos, urzes, carquejas e monte baixo. Em breves minutos pudemos visualizar o amplo planalto de Anumão onde rebanhos de vacas do País pastavam tranquilas ao sol. Igualmente ao longe pudemos visualizar várias manadas de garranos com os seus poldrinhos recém nascidos que nos contemplavam entre curiosos, respeitando ao sempre imprevisível ser humano e cuidadosos de não se afastarem muito das suas mães.

Rebanhos de vacas e manadas de garranos observavam cautelosos as nossas andanças

Os nossos amigos: Marta e Cristian abriam o caminho como guias nativos que eram. A companhia era perfeita. A sua amabilidade e afeto fez-se sentir sempre e em todo momento, mesmo quando chegamos à Anta conhecida como a Casinha da Moura ou Anta de Anumão onde nos ofereceram um delicioso leite frito elaborado pela própria Marta e aguardente de bagaço que nos ajudou a recompor-nos, à vez que descansávamos após uns quilómetros de caminho. Sentamo-nos. Comimos algo de fruta e gravamos algo no nosso telemóvel sobre o lugar no que estávamos. 


A poucos metros duas grandes aflorações de seixo da altura duma mesa de cozinha chamaram a nossa atenção. Sempre é que perto de monumentos megalíticos que temos visitado há uma grande quantidade de quartzo mas nunca tínhamos visto rochas deste material tão grandes como aquelas... A vários quilómetros em direção Norte pudemos ver no horizonte a construção natural e granítica conhecida com o nome de Pedras de Anumão, Anamão ou simplesmente Numão como é que aparece escrito na estrada que vai entre a fronteira da Ameixoeira e Castro Leboreiro.

A Casinha da Moura, uma anta conservada muito bem. Ao fundo a deusa deitada e fazendo-se ver.

Estas pedras são umas construções rochosas que desde a anta semelham uma mulher deitada na que podemos distinguir os seus peitos, a sua barriga de mulher grávida e se nos achegarmos, mesmo poderíamos imaginar o resto do corpo deitado...



O nosso objetivo era chegarmos até essa figura de moura deitada, a velha moura de nome Anumão cuja casinha, a Casinha da Moura, era a anta desde a que gravamos umas palavras nos nossos telemóveis para fazermos a ligação necessária com outro construto similar em Duhallow, no Sul da Ilha de Irlanda. É este o chamado “The Paps of Anu” ou “The tits of Anu”, quer dizer, As Tetas de Anu (ou Ana, ou Dana), a deusa terra que nos acolhe, nos nutre e nos dá vida. A Anu Geresiana era aquela que estávamos a contemplar nesse momento desde o planalto raioto próximo à aldeia entrimenha de Quéguas. A Mãe Ana/Anu/Danu/Dana que constrói os nomes de Anumão/Anamão/Numão, todos eles registados por nós, nos lugares de Entrimo, Guginde, Bouça d'Agro (ou Bouzadrago que é como figura deturpado nos indicativos), A Ameixoeira, O Ribeiro e Castro Leboreiro, sendo os três primeiros da região de Ourense dentro do Concelho querquerno de Entrimo e os três últimos dependentes do Concelho Minhoto de Melgaço.
Nós com a nossa amiga Marta que nos fez de guia na nossa expedição. Ao fundo o peito de Anu onde há um ponto alto de observaçao desde onde se visualiza todo o nosso trajeto. Foram 10 km...


Comentamos com o nosso amigo o Doutor Higino Martins o significado do nome Anumão/Anamão/Numão e dizia-nos o seguinte:



“DANU foi explicada, bem a meu ver, como fruto do céltico *DEWA ANU "a deusa Anu" (E, primeiro A e U longos) ao passar ao gaélico. Por sua vez, o ant. ANU, g. ANONOS (U longo), segundo os textos mais antigos, era a mãe dos deuses (Túatha Dé Danann "povos da Deusa Danu", com novo acréscimo de DEWA-DÉ.



É mais que a Terra Mãe que é a Deusa única polivalente. Talvez abstração da teologia druídica, o princípio mesmo. Portanto equivalente da védica Áditi, cujo nome significa "infinita". Seguindo o fio quadra propor que ANU, ANONOS se analisa AN- prefixo negativo e ON- um dos temas indo-europeus para "ano", id est, "ciclo temporal"; logo "sem fim, eterna".



Numão é mais interessante, pelo enigma, mas não adianto. Se a pronúncia de Entrimo é boa, deveria grafar-se (A)NAMÃ. Está perto das Rias Baixas, que confundem irmão e irmã na pronúncia de vogal nasalada sem ditongo. A prótese do A- iria no mesmo sentido, se é o artigo feminino apegado. Supondo o rumo ser certo, teríamos "A NAMÃ" deste lado da raia. Numão logo seria topo-onomástica oficial portuguesa alterada por funcionários centrais. Continuemos nas trevas; se não imos também não temos nada. Fica o enigma da primeira vogal: U ou A? Só podem acordar num O: NOMÃ, que seria híbrido celto-romano, *NOMANA, híbrido pela desinência latina -ANA. Não posso ver mais. NOM- pudera ser da raiz *nem-, que envolve noções relativas à hospitalidade.



Bom, agora vejo que a raiz envolvida será *nei- "brilhar" (Pokorny 760), que no céltico dera *NEMA "brilho; beleza" (E e A longos), donde gaél. niam "id.", e *NEMIS "brilhante, belo" (E longo), donde néim e o nosso monte Neme, de Bergantinhos (lembra a pág 103 d'As Tribos Calaicas). Nesta luz parece-me mais provável o étimo ser *NEMANA (E e primeiro A longos), híbrido sim, de NEMA subst., aqui adjetivado com a desinência latina, logo nos mil anos de bilinguismo, e significando "brilhante, bela" com referencia à Mãe Terra, cujo corpo nutris e gerador tem teofania nas pedras que me fizeste conhecer. Isso parece quadrar.



E também não atinei ao dizer que A e U acordavam só num O. Vou por partes, está provado que as vogais longas célticas eram mais abertas do que as breves, ao invés do latim. Logo o E longo de NEMA era aberto. Além disso, no tempo diglóssico a metafonia do A final operaria mais forte. A forma de Entrimo tem toda a probabilidade de ser mais conservadora. Quanto à de Melgaço, o A pretónico terá sido Comlabializado pelo M, como é usual na língua popular. Por que não labializou a forma de Entrimo? Pela ajuda do artigo apegado, que reforça a harmonia vocálica”.



A nós, já desde o princípio veio-nos à ideia uma divindade comum a todos os povos indo-europeus que tem a forma léxica para os celtas de Dana/Ana/Danu/Anu. Esse nome que deixou rastos por toda a Europa em hidrónimos do tipo “Danúbio”, “Don”, “Dniester”... ou topónimos como Donets (agora que a Ucrânia está infelizmente na moda nos informativos...) ou Dinamarca. Achamos essa divindade no Devana eslavo, na Diana latina, na Danae ou Démeter grega...


Do seu nome originário gerasse provavelmente o termo “Xana” que é o nome que nas Astúrias têm as nossas Mouras, o “Anjana” ou “Anxana” cântabro, cujo “An” inicial poderia ser ao artigo determinado das línguas gaélicas...

Cristian em primeiro termo. O nosso guia levando-nos por paisagens tolkianas.

No âmbito linguístico galego-português também temos as nossas “Jãs” (Diana>Djana>Jana>Ja(n)a>Jã) como também nos explica tão brilhantemente o nosso caro Doutor Higino Martins.



Por outra parte e depois de dar-lhe voltas à palavra Anumão/Anamão/Numão, nós desde a nossa humildade quisemos ver uma dupla construção. Por uma lado o nome da Deusa Mãe Danu ou Anu e por outro a forma -mão. A primeira para nós não tem muita dúvida. É a deusa indo-europeia que para os celtas irlandeses é mãe dos Tuatha Dé Danann, quer dizer, “O Povo dos Filhos de Dana”. É Deusa associada à agricultura, aos ciclos da natureza e guardiã do gado, da saúde, das granjas, das terras de cultivo e provisora de alimentos e sustento...

Caminhando pelo planalto de Anumão

A segunda parte da palavra, -mão ou -mã, poderia proceder de alguma palavra equivalente em celtico-galaico ao gaélico antigo “móa”, “máo”, “máa”, “móo”, “mó”, igual do que em antigo Britónico “mwy” donde surgem o atual galês “mui”, córnico “moy” e bretão “mui” com o significado de “maior”. Igual do que em latim major”. É portanto o comparativo de superioridade da forma “mór”, grande, mas também ancião, adulto, velho, importante, distinguido... (Muitas vezes falamos dos nossos "maiores" quando nos estamos a referir ao nossos velhos em idade, aos nossos ancestros...)

Imagem da Velha Anu.

Seria portanto “a velha Anu”, “a distinguida Anu” “Anu a grande”, "a nossa ancestral Anu"...


Acrescentemos que na freguesia de Duhallow, no Condado de Corck na Província de Munster em Irlanda temos o que se conhece com o nome de Dá Chích Anann, quer dizer, o que em inglês seria The Paps of Anu ou para nós “As duas tetas de Anu”. Curiosamente são dous outeiros com formas de peitos de mulher que se identificam com os peitos da Deusa Mãe da que estamos a falar: Anu/Danu...
The Paps of Anu em Duhallow, freguesia no Condado de Corck (Munster-Eire)

A refeição deu para isto e para muito mais, mas tivemos que continuar o caminho em direção às pedras que víamos no horizonte. Passamos um curro onde a gente do lugar encurrá-la os garranos numa festa de rapa das bestas durante o mês de Agosto para marcá-los e identificá-los. Foi ali onde vimos pegadas de lobo...

Um curro da rapa das bestas ao nosso passo.

Passamos umas gândaras onde um regato de monte regava uma parte dum amplo lugar verde entre penedos e monte baixo. Ali os garranos iam abeberar habitualmente e optamos por beber aquela água fresca e pura que caia da montanha para fazermos mais levadeira aquela andaina sob um sol estranho de primavera. A altitude era o suficiente como para sentirmos a brisa fresca que com total certeza se convertia em frio cortante nos meses de inverno mas que agora não terminava de sentir-se cálida.

Bebendo do regato de montanha onde bebem os garranos.

Ao cabo de uns minutos de constante marcha conseguimos chegar a um marco fronteiriço: o 47, a partir do qual começamos o trajeto por território administrativamente português. A ladeira pela que começamos o novo percurso era a base da barriga da Deusa Anu a quem procurávamos para posteriormente passarmos pela mama da nossa Deusa. Ali a magia que envolvia o mito da divindade desvendou-se totalmente ao vermos aquelas paredes de granito puro que ficavam à nossa direita com a forma do grande peito divino que nos levou ali. Visualizamos uma cova no alto, o qual se nos revelou acessível pois há um caminho que leva ao alto e uma abertura na rocha que deixa ver todo o planalto que tínhamos percorrido desde a manhã. A Deusa deixava contemplar aquela paisagem imensa onde os cavalos e as vacas se perceberiam como pequenos brinquedos. A vista espetacular seria para ser admirada mas decidimos deixá-lo para uma outra expedição. Levávamos andando desde as 11:00 da manhã e nesses momentos estavam sendo as 15:00 pelo nosso relógio à vez que já tínhamos à vista a capela da Nossa Senhora de Anumão, ponto de cristianização do lugar, mas sem qualquer dúvida lugar sagrado para os nossos ancestros que adoravam à Deusa Mãe que deitada ali mesmo dormia desde há milénios.

A capela finalmente...
Chegamos à capela que estava fechada mas ao lado havia um grande penedo, talvez ritual, coberto de riscas e fendas pelos que em tempos perdidos na memória correriam os líquidos vitais dos animais sacrificados à nossa Deusa. Ao pé do penedo uma escada que levava a uma espécie de púlpito onde duas rosáceas ou lábaros perfeitamente lavrados no granito desentranhavam uma religiosidade ancestral oculta ao olhos de qualquer profano.

Marta subindo à pedra ritual. À nossa direita a capela que cristianiza o lugar também sagrado para os nossos ancestrais. A escada deixa-se ver...
Conseguidos os objetivos, decidimos comer fruta e beber água. Descansamos uns minutos e regressamos por onde viemos. De volta, as manadas de garranos e vacas apareceram-se-nos mais próximas. Um dos bois olhou para a nossa comitiva com olhos de desconfiança de tal jeito que nos obrigou a exercer a prudência. 
Lugh queria dizer-nos algo...
O sol, raríssimo, apresentava um amplo círculo ao redor que mesmo em vez de ser o tradicional halo solar talvez poderia ser originado pelos chemtrails que não deixavam de marcar aquele céu falsamente limpo daquele sagrado, intensamente lindo, surpreendentemente virgem e ainda não humanizado planalto onde mora ainda dormida a nossa moura de nome Ana ou Anu que segundo os nossos antepassados era a nossa Mãe ancestral: Anu Mão, Ana a Velha, Ana a Maior...
Escada com rosácea ou lábaro que representa o Lugh solar, ao pé da pedra ritual de Anumão
 

domingo, 11 de maio de 2014

Manuel Garcia (do M.E.L).: «Eu falei galego no Parlamento Europeu em 1994»




Por José Manuel Barbosa (23/11/2005)

 
Nestes últimos dias do mês de Novembro de 2005 tem sido actualidade o facto de se noticiar que o Presidente Touriño era o primeiro em ter falado em galego no Parlamento Europeu. Do nosso ponto de vista isto pode ser errado, pois houve antes várias pessoas que falaram em galego nesse Parlamento. Nós entrevistamos uma dessas pessoas. Ele é Manuel Garcia, representante do Movimento Ecologista da Límia (M.E.L.) e gerente da empresa de alimentos naturais e ecológicos Daiqui.
Manuel Garcia, graças à sua iniciativa com o apoio de José Posada a concentração parcelar na Límia e o consequente desastre ecológico foram abortados. A dia de hoje só o Concelho de Rairiz de Veiga pode apresentar um aspecto saudável em contraste com outros concelhos limiãos que sofreram o vandalismo da insensível administração com o sector primário da economia galega.
Manuel, quando te inteiraste dessa notícia, de que o Touriño dizia que fora o primeiro em falar em galego no Parlamento Europeu, tu o que pensaste?

Bom, pensei... propaganda!! Eu sabia de certo que antes o Sr. Posada já tinha falado galego e que Camilo Nogueira -nunca o escutei- suponho que também utilizaria a sua língua. O certo é que eu estou muito seguro de que estive ali a falar em galego e que fui traduzido para os nove idiomas oficiais, naquela altura, da Comunidade Europeia. 
  
Perez Touriño, ex-presidente da "Xunta de Galicia"




Conta-nos, quando é que foste ali ao Parlamento Europeu e para o que é que foste?

Foi no ano 1994 e eu fui ali promover uma denúncia que fizemos na contra do Governo Fraga por mor de umas concentrações parcelares selvagens que estavam a destruir todo o ecossistema agrário e natural da comarca da Límia. Estas concentrações estavam a se fazer com fundos comunitários sem se respeitarem as cláusulas nas quais se diz que nunca o dinheiro comunitário deverá ser utilizado para destruir o património cultural e natural de qualquer uma das nações europeias.
Exemplo de concentração parcelar selvagem.
Pelas tuas palavras podemos deduzir que tens um sentir galeguista, e claro, que sentes a natureza como parte essencial da Galiza...

Eu penso que é um sentimento de pertença a um lugar, a uma cultura, a uma língua, a um espaço geográfico, a uma natureza, a uma flora, e quem suprimir alguns destes aspectos vê a realidade de um jeito muito parcial.

Dizias-nos que anteriormente ao Touriño falou o José Posada, mas dizia o Presidente Touriño que os anteriores que estiveram no Parlamento Europeu não falavam galego mas falavam português. Ora, tu falaste na variante portuguesa?
 

Pois, eu acho que não. Gostaria de saber falar à portuguesa mas eu falei o meu galego paterno e materno. Simplesmente isso, não utilizei mais do que o galego de «andar por casa».
José Posada, Eurodeputado galego da Coligação Galega nos anos 90. Graças a ele o galego como variante do conhecido oficialmente com o nome de português faz com que a possibilidade de falar na nossa língua no Parlamento Europeu seja uma realidade não aproveitada por todos os deputados da Galiza. Essa vantagem não está da mão de outras nações sem Estado.
Encontraste muita dificuldade em ser compreendido e em ser traduzido pela gente que ali estava ou pelos funcionários que ali trabalhavam?

Pois, acho que não tiveram muito problema. Havia um tradutor português que é o que levava todo o peso da tradução. Todos sabemos que galego e português som uma mesma língua queira ou não muita gente..
O Deputado Camilo Nogueira também defendeu a unidade linguística galego-portuguesa no parlamento europeu usando o seu galego natural com sotaque da Costa da Morte.
É mais, posso contar um detalhe. No último dia em que eu estava no Parlamento tratando de fazer as últimas gestões, pela uma da tarde partia o avião de volta e eu estava sem encontrar a saída do Parlamento e com muita pressa. Então, peguei numa pessoa, embora eu pensava que não me poderia ajudar pois seria inglesa, belga ou francesa, mas aconteceu que era portuguesa, entendeu-me perfeitamente e pôde pegar no táxi, sair dali e ir na procura do avião.
Logo da Comunidade de Países de Língua Portuguesa usado em várias cimeiras internacionais dos países envolvidos com a bandeira da Galiza no centro como reconhecimento por parte dos países lusófonos da matricialidade galega da língua comum.
Então, que achas a respeito do que se está a noticiar de que o Touriño foi o primeiro em falar galego no Parlamento Europeu?

A mim dói-me muito que se esteja a fazer propaganda a uma pessoa que, com segurança, fala habitualmente castelhano na sua casa e com as suas amizades. Acho-o um acto de hipocrisia máxima e é triste que a língua e a nossa cultura fique só para actos protocolares, políticos e de grande aparato. É isso o que mais me dói de tudo isto.

Onde é que falaste exactamente tu no Parlamento Europeu?

Eu falei exactamente numa reunião preparatória do Grupo Arco-Íris onde estavam deputados independentes e da esquerda europeia. Tentei pô-los ao dia da denúncia que a seguir ia ser tratada em Comissão.

Além disso visitei um por um muitos deputados explicando-lhes a nossa denúncia pormenorizadamente para ela não passar desapercebida quando chegasse ao pleno. Fui fazer certa pressão e dar a conhecer que a nossa denúncia existia e estava ali
Parlamento Europeu
Nesse grupo havia parlamentares de muitos países. A todos é que falavas galego?

Pois claro, embora também tenha utilizado o espanhol e mais o inglês. O Sr. Posada também ajudou muito, pois ele é um homem que domina muitas línguas. Também entregava documentação gráfica que complementava a explicação.

Touriño falava o outro dia que os galegos que estiveram no Parlamento Europeu falaram em português em detrimento do espanhol. Tu pensas que se pode falar uma única língua no Parlamento Europeu?

Pois eu penso que não. O bonito é a diversidade. De todos os jeitos em detrimento do espanhol em absoluto, deveríamos ver isso mesmo com alegria pois acho que o português tem a ver mais com a nossa cultura.
Conta-nos um pouco como foi a origem da tua ida a Bruxelas?

Bom, nós apresentamos a nossa denúncia na Direção Geral 11, que é a que leva os temas relacionados com o meio ambiente, e certamente sabíamos que todas as denúncias que lá chegam acabam no caixote do lixo se não há ninguém a puxar por elas. Então, nós começamos a contactar e chegamos junto o Sr. Posada, na altura deputado em Bruxelas. Ele não só se ofereceu a ajudar-nos nos trâmites, mesmo nos convidou a ir ao Parlamento para eu ter oportunidade de falar com os deputados e todos os membros da Comissão que iam estudar a denúncia.

Na verdade, foi algo incrível, não habitual no resto dos políticos. O Sr. Posada convidou uma série de pessoas, não só a mim, a irmos ali e conhecermos aquela instituição e nisso investiu o seu orçamento de eurodeputado.

Lá em Bruxelas estivestes hospedados num hotel onde também falavam galego, não é?

Pois é, não só falamos galego entre os membros da expedição. Na recepção em Bruxelas havia uma pessoa que sendo belga falava português...

Eu acho que temos de ir com a identidade por diante, sem vergonha. Talvez assim começarmos a ser um povo. Eu mesmo fui a Madrid há pouco e falei lá em galego e mesmo os madrilenos o agradeciam.

Mas isto não é algo novo, eu posso contar que estive um mês no Japão aprendendo agricultura ecológica. Percorri o Japão de Norte a Sul, e numa das zonas tive de intérprete uma japonesa que me traduzia directamente do japonês para o galego. Lembro bem, ela chamava-se Yoko, era casada com um galego no Brasil, jornalista e escritor, e ela dominava perfeitamente o português. Estive durante uma semana tendo como tradutora esta pessoa.

Essa vantagem não a têm bascos nem catalães, não é?

Pois. Suponho que eles terão mais difícil encontrar no Japão alguém que fale euscara, ou catalão, mas em qualquer parte do mundo nós podemos encontrar alguém a falar e entender o português.

Manuel, tu entendes o senso da língua como um eco-linguismo, não é?

Com efeito. Bom, a ecologia estuda-o tudo, a relação do homem com o seu entorno, e daí nasce a cultura. Então, os povos que não respeitam o seu entorno natural, a sua cultura, acho que perdem a sua identidade. É por isso que eu vivo no povo, falo galego, amo a paisagem galega, amo a alimentação e os produtos galegos. Eu entendo como um tudo o que é a cultura e a identidade de um povo.

Por isso, acho triste quando vêm com grandes obras públicas sem se respeitar o que é a paisagem, o património cultural, o que é o grande património agrário que temos e que se está a perder sem que ninguém repare nele, nem se faça um mínimo estudo para dizer o que é importante preservar

.

Enfim, eu vejo o futuro da identidade deste povo com bastantes reservas...

Dia 25 de Novembro de 2005 em Paris vai-se sentenciar se o Património Imaterial Galego-Português é Património da Humanidade. Como é que valorizas isso?

Bom, isso é uma cousa lógica de uns povos que querem manter o seu orgulho e a sua cultura. Acho bom tudo o que seja potenciar a diversidade, afirmando-se nela própria, isso é positivo. Estamos fartos da «coca-colonização», venha donde vier, dos EUA, da Alemanha ou de Madrid.

Tu és da Límia, e lá existe um relacionamento muito especial com Portugal. Desde há séculos o Norte de Portugal e a Galiza limiã têm um contacto humano muito especial. Como é que influiu o seres tu da Límia em todo o sentimento de irmandade com Portugal?

Talvez seja o tratamento com os irmãos portugueses, pois vês que é a mesma cultura, têm a mesma forma de trabalhar a terra, as mesmas formas de fazer as cousas. Entras em Portugal e vês que os nomes dos povos, dos lugares, das cousas são iguais do que na Galiza. Mas claro, Portugal foi uma nação independente que pôde cultivar-se e a Galiza ficou um algo prisioneira de Castela, isso impediu fazermos parte de uma mesma unidade que seríamos agora. 

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...