segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Sobrevivência da roda das festividades pagãs na Galiza (2ª Parte)



Por José Manuel Barbosa  

 4. O Equinócio de Primavera



Segundo a mitologia celta, o Ostara é o seguinte passo dos oito no que se representa a energia em constante mudança da natureza. É a festa do começo da primavera.



A Quaresma é a etapa prévia e “interim” entre o Carnaval e a Páscoa. Esta última o ponto de inflexão no que a natureza dá flor e fruto. Em total são sete semanas de sete dias cada uma menos a primeira que tem cinco, pois os dous primeiros dias da primeira semana são a segunda-feira e a terça-feira de Entrudo. Estas sete semanas são, segundo a tradição galega sete irmãs cujos nomes são: Ana, Rabana, Rebeca, Susana.....ainda que aqui a informação que recolhemos nos leva a dous nomes masculinos na quinta e sexta "irmã"...Lázaro e Ramos... A última irmã é a Páscoa. O cristianismo fez o seu trabalho...



De entre essas irmãs, a primeira é coxa. Essa eiva faz-nos lembrar a lenda da Ana Manana da mitologia ourensana (4). A quarta e a quinta representam dous nomes masculinos embora sejam “irmãs”. Talvez a figura de Lázaro (amigo de Jesus de Nazaré...) nos possa dar uma pista pensando que ele tinha duas irmãs: Marta e Maria. Esta última é a Maria de Betânia que segundo alguns textos apócrifos se corresponde com a Maria de Magdala, ou a Madalena.... A figura das sete irmãs é uma constante mitológica europeia e nomeadamente céltica que as identifica com as Plêiadas mas também com as lendas galegas da galinha com os sete pintinhos.


Essa quinta semana após o Entrudo e duas antes do domingo de ressurreição, a do São Lázaro é uma festa grande em Ourense. O ritual tradicional leva à queima dos “madamitos”, duas figuras de cartão ou papel atados a uma roda igualmente combustível que representa a roda da vida com o ritmo acelerado das estações. Representam a renovação da natureza e a entrada da primavera. Não é casual que o 25 de Março seja o dia da anunciação, dia no que o arcanjo Gabriel diz a Maria, mãe de Jesus, que ela vai ficar grávida do Espírito Santo. É o anuncio do nascimento de Jesus nove meses antes de este acontecer o 25 de Dezembro.



A Semana Santa é a parte final do Ostara no que o objetivo é a renovação da natureza. A morte e a ressurreição.



Quando chegou o cristianismo a Europa, este adoptou as datas do Ostara como o nome de Páscoa nos países católicos relacionando igualmente essa tradição regeneradora da natureza com a figura de Jesus de Nazaré. Conta-nos André Pena (Pena Granha: 1991) que os nossos antepassados celtas acreditavam no mito de Esus, deus com caraterísticas solares que com o seu machado cortou o madeiro da Árvore da Vida (o Hy-Brasil ou Yggdrasyl) no que sofreria o seu próprio tormento voluntário e posterior morte, sendo alanceado no coração com o fim de fazer prosperar a terra e fazer com que a vida florescesse ao ressuscitar e se proclamar rei, retornando ao mundo dos vivos proveniente do Além como vencedor da morte.



Não há que fazer muito esforço para reconhecer nessa lenda céltica ao Jesus cristão, numa morte igualmente voluntária em forma e fundo e um renascer se calhar com mais força da figura solar em questão.


5. Os Maios 

O começo do verão para os celtas é o 1 de maio, data do Beltane ou Beltaine (o bom lume). Nesta data é quando a estação muda para dar passo ao tempo do calor, da luz, das atividades exteriores. Quando os nossos antepassados celebravam a presença do fruto da terra, da limpeza e da purificação da mesma com fogueiras nos outeiros. Para os celtas, segundo alguns autores (Pena Granha 1991: 384), o lume é um agente de limpeza (Cf. Green, M 1999, 1995:52), daí o “Ignis/Agnis dei tollis pecata mundi” que faz do fogo um elemento dador de vida, de saúde, purificador e regenerador.



O costume era acender uns fachicos de lume e passeá-los durante a noite pelos campos de cereal para purificar as colheitas e livrar-se das parasitas.



Em muitos lugares da Europa existe a tradição da árvore de maio que consiste em chantar uma árvore no meio da vila adornada de motivos vegetais e alimentos. Na Galiza igualmente se adorna de flores, bolos, roscas, chouriços e outros elementos naturais e alimentícios. Isto acontecia até há pouco tempo em alguns lugares da região de Ourense como nas Comarcas da Quarquérnia ou Baixa Lima e a do Tâmega ou Monte Rei-Verim. Pendurava-se igualmente um homem de palha ao que chamavam “Maio” e ali ficava todo o mês. Ao final queimava-se.



No filme “The mists of Avalon” podemos comprovar como era o ritual do Beltaine. Uma festa de fertilidade da terra e também dos humanos nos que entre os membros da comunidade se escolhiam um rapaz e uma rapariga jovens aos quais se lhe propiciava um encontro sexual para favorecer a prosperidade da comunidade. Deles dependia a felicidade do povo que por meio desse ritual mágico pedia à terra fartura para os seus. Nas últimas décadas e após quase séculos de cristianismo, a ritualização não era assim mas sim é que se escolhiam um rapaz ou uma rapariga aos que se cobria de flores ou motivos vegetais. 

No entanto, podemos achar um par, rapaz e rapariga em Laça, Comarca do Tâmega-Verim numa festividade celebrada o dia 3 de maio e a quem se lhes dava o nome de Adão e Eva. O ritual não era propiciar, evidentemente um encontro sexual, embora descubramos uma similitude com a feição originária. O nascer aos sentidos, ao mundo da fecundidade é evidente, como também o é o costume de os moços porem giestas ou codessos nas portas das casas das raparigas com uma intencionalidade amorosa e portanto procriadora.



Na capital da Região ourensana existe ainda em pleno século XXI a tradição da construção do Maio, uma figura de madeira, de forma cónica ou piramidal coberta de musgo e carraboujos (5) que representam igualmente o florescer da natureza e talvez memória da árvore de maio espalhada por toda a Europa. Após concorrência entre elas acabam sendo queimadas no ritual de lume típico destas datas. É muito típico também cantar as Coplas dos Maios, versos satíricos e mesmo de Maldizer que criticam a vida política local. Existe memória, seguindo um “modus operandi” similar a épocas Samânicas, de irem os jovens de porta em porta pedindo os “maios” ou “maiolas” que são castanhas secas ou nozes (VVAA: 1979). Igualmente se estas não se recebem como se aguarda, as coplas de crítica acabam aplicando-se como em outra festividades do ano.

 6. O Solstício de Verão

Corresponde-se no calendário cristão com as festas do São João, prévio Córpus Christi. Na festividade anterior ao solstício salientamos as figuras dos dragões, imagens míticas próprias da mitologia indo-europeia e céltica, que sobrevivem em algumas localidades galegas e portuguesas ligando estas datas juninas com um paganismo reconhecível. São a Coca de Ponte Areias e a Tarasca de Monção no Córpus Christi que a dia de hoje é festa local em Ourense transladada durante o século XX para este 10 de Junho proveniente do originário 16 de Agosto, dia de São Roque.


No que diz respeito do São João, em 24 de Junho e polar do Natal, temos a festa da luz, que traz consigo uma serie de tradições acrescentadas, como a da recolha de determinadas plantas que baseiam a sua utilidade em favor da saúde, da beleza e da juventude. Estas ervas são a Erva de São João, a Calêndula, a Arruda, o Alecrim, a Malva e outras que se deixam no exterior da casa durante a noite e que têm origens em épocas ancestrais em que a curação das pessoas dependia dos remédios que a natureza fornecia no seu máximo ponto de expansão e florescimento. As plantas medicinais seriam mergulhadas em água, seguindo a tradição, devendo se lavar a gente nessa mescla para favorecer o equilíbrio psico-físico e ainda a fertilidade.



As fogueiras são outro dos elementos desta época, dando-lhe ao lume mais uma vez a importância de elemento regenerador, fornecedor de pureza, de limpeza e de proteção contra os elementos nocivos que impedem a prosperidade da terra e dos seres humanos. O mal afasta-se dançando ao redor das labaredas e queimando velhos tarecos para proteger dos maus espíritos do passado e das más artes da bruxaria. O lume faz fugir os dragões ocultos nas entranhas da terra e a roda de São João ao redor das fogueiras representa o rodar do Sol pelo firmamento. De manhã quando o Sol faz a sua aparição no horizonte também dança marcando o seu ponto máximo de presença durante as horas do dia.



Quando a festa estão no seu ponto mais alto, a gente salta acima do lume três vezes para limpar-se a si próprios e também para limpar os seus animais que sendo levados pelos seus donos purificam os seus corpos para se livrarem de todo meigalho ou bruxedo que os possa fazer adoecer ou impedir o seu aproveitamento pelo ser humano.



Típica também é a queimada feita com aguardente, açúcar e pedaços de fruta, símil das beberagens que os antigos magos de antanho elaboravam para ritualizarem a sua magia, tão perseguida e condenada pela igreja no transcurso da história. Como contrapartida, a própria igreja usava também o fogo para se livrar dos malfadados bruxos em autos de fé nos que não só ardiam pessoas mas também interessantes conhecimentos e saber ancestral.



Estes rituais ainda conservados na atualidade sem muita variação foram cristianizados na honra da figura de São João, mas nunca perdendo o seu sentido de festa solsticial. A sua ancestralidade está fora de toda dúvida e do nosso ponto de vista não nos cabe dúvida da sua vinculação a festividades célticas pré-cristãs.


7. O Ciclo do Verão



É a celebrada nos começos de Agosto. Festa de Lugh, o deus Sol. Para os antigos celtas época de festas, tempo de trabalho agrário mas também de felicidade, começo da época da colheita, de maturação dos produtos agrícolas, de reuniões familiares, competições, feiras, época para legislar, para impartir justiça e sobre tudo de bodas. Na Galiza tradicional tem sido assim tradicionalmente.

Nas datas atuais do 25 de Julho celebra-se uma festa solar, a do São Tiago, figura cristã que veio substituir provavelmente à imagem do Lugh galaico. São datas que servem para honrar à terra, neste caso à Nossa Terra que em Ourense tem a sua manifestação nas festas da Ponte. Do mesmo jeito, o São Roque, festa histórica da cidade até o século XX, é datada em 16 de Agosto, dia seguinte dum 15 de agosto festivo em todas as localidades galegas no que se rende culto à terra. A velha Cailleach céltica, a mãe, a que dá sustento, a que protege aparece ao redor do antigo Lughnasad ou Lugunástada, a época das bodas de Lugh celebrada em 1 de Agosto, momento de agradecer aos espíritos, aos deuses e aos santos com oferendas e celebrações. A fartura e a prosperidade estão presentes porque a natureza, a terra, a velha Cailleach nos fornece dela.



Essa festa, conhecida e atendida por alguns seguidores atuais da religião primigénia, representa a abertura do Portal do Leão, que abre as portas da elevação espiritual, do crescimento, do progresso, do aparecimento de Sírio no céu do hemisfério Norte. A coerência das datas dá-nos para descobrirmos que a festividade correspondente de Novembro, o nosso Magusto, é a abertura do Portal do Além ou do Sidh, que datamos em 11 de Novembro do calendário gregoriano, mas no 1 de Novembro do calendário juliano. O 11 de Novembro atual e o 1 de Novembro anterior a 1582 estão no mesmo ponto do trânsito solar visto astronomicamente. Igualmente, podemos afirmar que o 11 de Agosto gregoriano, data em que podemos ver as chamadas lágrimas de São Lourenço se corresponde com o velho 1 de Agosto juliano. Tradicionalmente o Sol é denominado de Lourenço pela cultura popular galaica o que nos leva a deduzir que há um Lugh oculto detrás destas datas e deste nome. Evidenciamos portanto uma cristianização duma tradição céltica, ancestral e pagã.



8. A Colheita 


Não é um festival como os anteriormente relatados, percebido como uma grande manifestação festiva na que participam multidão de pessoas mas uma festa a celebrar em família. O nome com a que se a conhece ultimamente é o de Mabon embora esse nome não seja tradicional mas um neologismo criado pelo reconstrucionismo celta de épocas contemporâneas. É uma das festas pagãs mais antigas e comuns de toda a humanidade que no mundo celta se celebrava na lua cheia mais próxima ao equinócio de outono. Tem correlatos por todo o mundo e em diversas culturas e civilizações sendo a do mundo anglo-saxônico a que sobrevive com o nome de “Thaksgiving”.



Contava-nos há muitos anos o velho galeguista e quarquerno (6), antigo professor nosso no ensino secundário, o Professor Joaquim Lourenço “Xocas”, que na Idade Média os camponeses acreditavam na existência do espírito nos produtos agrícolas e nomeadamente nos cereais. Nestas datas após a colheita faziam um pequeno boneco com o último feixe de trigo ou centeio o qual teoricamente guardava o espírito do produto. Este boneco era levado à comida onde permanecia sentado ao lado de todos até o final da mesma, momento em que era guardado até o ano seguinte que era quando se queimava e se fazia um novo.



Estas crenças não eram muito queridas pela igreja, por isso não se mantiveram até a atualidade mas na memória de quem isto escreve está a festividade da vindima no Ourense dos anos 70 do século XX, época de festa familiar, de comida em conjunto entre todos os que festejávamos a recolhida da uva nos começos do outono. O vinho e a vindima foram desde há séculos motivo de festas na velha Áuria mas provavelmente antes de que o vinho estivesse presente nesta cidade, desde a que escrevemos, haveria celebrações relacionadas com a colheita correspondente e tradicional dos produtos que naquela altura eram os comuns. Talvez a maçã que se recolhe em datas outoniças para fazer aquela tradicional cidra que cedeu à pressão do vinho que a dia de hoje dá personalidade às terras de Ourense...???

Cidra tradicional e ecológica galega (Texto História da cidra em Galiza)

É esta a última celebração da roda das estações, a festa da Colheita, da recolhida dos frutos e da ação de graças à natureza pelos bens fornecidos pela terra para assegurar os futuros meses de inverno. Coincide com o começo do outono e o costume histórico de celebrar um jantar familiar para agradecer a fartura, abençoar a casa e arranjar aquelas cousas necessárias para se proteger no inverno. É época de preparação para a vida no interior da morada. O frio está próximo e o calor do fogar há de ser o lugar central ao redor do qual se vai desenvolver a vida familiar. O Sol decai e a roda fica preparada para começar de novo quando o ano acabe a final de Outubro. A lua cheia que dá passagem à abertura do Portal do Além marca o final do velho ano e o começo do ano novo. Feliz ano novo.

Sol de Outono (Luar na Lubre)



Comentários:



(4) A lenda da Ana Manana:

Lá em tempos remotos, um dos muitos galegos que iam à sega de Castela, ao vir de volta para a sua casa, achou no caminho um senhor muito bem vestido que lhe perguntou donde era. O segador respondeu-lhe que era de Ourense.

    • E diga-me, Sr., Vc sabe algo ou conhece onde está o Poço Meimão?
    • Se, sim Sr; sempre que vou a Ourense para pagar a renda ou levar alguma cousa para vender passo-lhe por ali. É um poço do Rio Minho...

Então o Sr entregou-lhe ao aldeão um queijo que tinha quatro cantos e disse-lhe:

    • O Sr quer ser rico?
    • Eu como querer, quero, sim; mas que hei de fazer para consegui-lo?
    • Pois, olha –disse-lhe o desconhecido-. Não tem que fazer mais do que ir ao Meimão e quando chegar lá ao lado duma pequena fonte que há entre umas penas, ao lado do caminho, grita: “Ana Manana! Ana Manana!”; e à terceira vez vai aparecer-se-lhe uma mulher muito formosa. Vc tem de lhe dar este queijo e ela é que lhe vai entregar um rico tesouro que tem lá escondido.

O labrego acariciou a cabeça pensando. Finalmente, olhando para o Sr, perguntou-lhe:

    • E não tenho de fazer mais cousa alguma?
    • Tem também que guardar o segredo sem dizer a ninguém a encomenda que leva, nem sequer à sua esposa. E deve ter muito cuidado com o queijo, porque hás de o entregar inteiro; porque se não, pode trazer uma desgraça.
    • Isso tudo não é muito difícil de fazer.
    • Pois tome o queijo e lembre bem o que acabamos de falar.

Entregou-lhe o queijo e ainda não o tinha apanhado o aldeão, quando o Sr que lho deu desapareceu sem saber como.

O bom do paisano continuou o seu caminho rumo da sua morada depois de guardar o queijo dentro dum lenço que atou pelos quatro cantos. Pensando com alegria na possibilidade de enriquecer-se com o que a dama poderia dar-lhe do seu tesouro do Meimão e um bocado preocupado porque o queijo não se estragasse ou por se pudesse achar no caminho alguém que lhe perguntasse que era aquilo que levava tão envolto sem saber que lhe dizer. Mas antes de se acercar ao Meimão, foi à sua casa para dizer-lhe à sua mulher que já tinha chegado de Castela e deixar o dinheiro que ganhou lá, na sega, pois não queria andar com ele guardado por aqueles lugares.

Mas muitas pessoas são muito curiosas, e a sua mulher no momento em que viu o pacote que levava o seu marido perguntou que era o que ele trazia.

    • É uma encomenda, uma cousa que tenho de entregar. Não vá ser o demo que lhe toques! –e subiu ao sobrado para guardar o dinheiro.

Mas a mulher aproveitou aquele momento para olhar que é o que havia no lenço. Quando viu que era um queijo, apanhou uma faca e cortou um anaco; um de aqueles cornichos que tinha pensando que ninguém acharia em falta aquilo.

O homem baixou do sobrado e colheu o queixo envolto no lenço sem pesar no que pôde ter feito a sua mulher. Saiu caminho do Meimão e apurou porque já demorava em cumprir a sua encomenda de receber o prémio do tesouro.

Ao chegar à fonte chamou três vezes: “Ana Manana! Ana Manana! Ana Manana!”

E sentiu um calafrio quando viu aparecer perto do si uma formosíssima mulher, coberta com uma linda vestimenta branca que parecia uma santa saída dum altar ou uma rainha com o rosto dum anjo.

    • Porque me chamas? –Perguntou-lhe de mal humor, como se não lhe agradasse que a tivesse feito sair da sua morada oculta.
    • É para lhe dar esta encomenda que um Senhor que não sei quem é me entregou para Vc. –disse o homem; e pus nas suas mãos o lenço com o queijo.

Ela abriu o lenço e ao ver o queijo com um cornicho comido disse encolerizada:

    • Que é que me trazes cá? Que fizeche? Não che disseram que não tocasses o queijo? Este era o cavalo que havia de me tirar de este encerro mas tu não cumpriche a tua encomenda como che disseram. Foche primeiro à tua morada e a tua mulher comeu uma pata. Que faço eu agora?

E, com efeito, pus o queijo no chão e imediatamente se converteu num magnífico cavalo branco com asas, mas sem uma pata.

    • Olha! Olha! –disse-lhe com irritação-. Agora tenho que ficar aqui para sempre entre estes penedos e tu pediche o tesouro que havia de dar-che. No entanto, pelo serviço que fizeche, toma este refaixo e põe-lho à tua mulher quando esteja para parir. Não posso dar-lhe outra cousa.

E desapareceu ela e o cavalo coxo sem que o pobre homem pudesse ver para onde se tinha ido.

O labrego desesperou-se cavilando no mal que a sua mulher tinha feito, tanto à Senhora como a eles mesmos. Bem merecia um bom enfado. Mas como estava na última parte da gravidez, tentou calmar-se pois não era cousa de se expor a um mal maior e bufando dirigiu-se para a sua morada com resignação; mas lembrando-se do refaixo, ocorreu-se-lhe envolvê-lo numa sobreira que por ali havia para ver como era. Ah! Pobre da sua mulher se o tivesse vestido! Ainda não lhe tinha dado a última volta quando a árvore e o refaixo arderam numa rápida e violenta labareda.

E desde aquela altura a fonte do Poço Meimão, no Rio Minho de Ourense é chamado “A Fonte de Ana Manana”.



(5) O carraboujo é o bugalho de carvalho, grande, redondo e com picos.



(6) Quarquerno é o nativo da Comarca da Querquérnia ou Baixa Lima



Bibliografia:




terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Sobrevivência da roda das festividades pagãs na Galiza (1ª Parte)





Por José Manuel Barbosa



A Galiza pertenceu sempre à área cultural atlântica. Isso significa que a sua tradição étnica tem a ver com os povos célticos, como vem de demonstrar a ciência e como se pode ver nos seus costumes populares tradicionais.



Já o nosso Vicente Risco na década de 70 deixou um importante trabalho feito sobre as festas tradicionais galegas, estudadas no seu ritual mas que pouco estudaram outros galeguistas posteriores. O conhecimento da realidade etnográfica, já for relacionado com a cultura material, imaterial, festividades ou ritualismos é de grande importância para a filiação e identificação duma entidade nacional como é a galega necessitada de reconstrução e reconhecimento como matriz tanto do mundo céltico como lusófono.



Para Vicente Risco as festividades importantes da Galiza e consequentemente do Ourense histórico, tanto citadino como regional, seriam as seguintes (VVAA:1979)



  • O Ciclo de Natal
  • O Entroido
  • A Quaresma
  • A Semana Santa
  • A festa dos Maios
  • O Corpus Christi
  • A festa do São João
  • As festas das Paróquias
  • O dia de defuntos



Do nosso ponto de vista e seguindo uma ordenação vinculada ao mundo atlântico do qual fazemos parte, começando portanto pelo início do ano céltico é assim:


  1. Festividade dos Mortos (Magusto)-Sâmanos ou Sâmonis
  2. Ciclo do Natal ou Solstício de Inverno- Yule
  3. Carnaval, Entrudo-Ambiwolka
  4. Ciclo de Primavera-Ostara
  5. Os Maios-Beltónios
  6. Solstício de Verão-Litha
  7. Ciclo de Verão-Lugunástada
  8. Festa da Colheita-Mabon


Faremos um pequeno repasse por cada uma delas.


  1. A Festividade dos Mortos:


Relacionamos esta festa com o Sâmanos, Sâmonios ou Sâmonis, festividade céltica relacionada com o culto aos mortos, que na Galiza se recolhe com o nome popular e tradicional de Magusto, ainda que ultimamente tenha sido adoptado o nome mal traduzido do gaélico irlandês de “Samain” a toda esta temporada (1).



Esta celebração, comum a todo o mundo celta, comemorava a abertura das portas do Além (conhecido como Sidh em gaélico) fazendo que houvesse comunicação entre os vivos e os mortos.

Em origem, as cabeças cortadas ao inimigo eram esvaziadas e uma candeia posta no seu interior para produzir medo àqueles caminhantes que se achegarem até as proximidades da aldeia. Com o tempo e a cristianização passaram a ser nabos em vez de cabeças e ultimamente o nabo deixou o seu lugar a um cabaço fruto da influência cultural norte-americana, denominando-se com o nome de Halloween. Esta tradição foi levada a América pelos emigrantes irlandeses e trazida de volta por causa dos média globais chefiados pelo mundo norte-americano. A festa originária, na Galiza e em Portugal derivou no nosso Magusto e nas Astúrias no Maguestu todos eles celebrados tradicionalmente o 11 de Novembro, data que no antigo calendário Juliano (anterior a 1582) e atual calendário ortodoxo coincide com o 1 de Novembro. Foi o São Martinho de Tours, santo padroeiro da cidade de Ourense e lutador contra as tradições paganistas a quem foi dedicado esse dia como remédio contra as crenças pré-cristãs tão estendidas na Gallaecia alto-medieval e que nunca foram totalmente erradicadas.



Na tradição culinária dessas datas está o costume de comer as castanhas e o vinho novo recém vindimado sendo este um costume que já é recolhido em textos do século XVIII da autoria de estudiosos como Henry Swinburne que no seu livro “Travels through Spain in the year 1775 and 1776” nos conta que os galegos acreditavam em que por cada castanha comida um ânima do purgatório ficava libertada para poder ir ao céu. Mas também na não menos importante tradição ritual contávamos com o costume de pedir pelas portas o presente de Todos os Santos da mesma forma na que se faz hoje nos países onde se celebra o Halloween. Diz-nos o inquisidor António de Guevara e recolhe a cita André Pena (Pena Granha 1991:398-399):



“Nos constó por la visita que el Día de Todos los Santos y al día siguiente de difuntos andan todos los mozos de la feligresía a pedir por las puertas y les dan pan y carne y vino y freixós y pixóns y otras cosas, y que piden así los hijos de los ricos que los pobres; y por ser más este rito gentil que cristiano, ordenamos y mandamos que, de aquí en adelante, ningún mozo vaya aquellos dos días de puerta en puerta a pedir sinó que el beneficiado, el rector, el primiclero y otro que nombrare la feligresía pidan aquel pan y todo lo demás que les dieren lo repartan en la iglesia el día de los finados entre los pobres y necesitados, so pena que el padre o la madre que enviaran a su hijo a pedir aquellos días pague mil maravedís”


  1. O Solstício de Inverno


Nas culturas agrárias a celebração das estações era o normal, recebendo e santificando os ciclos naturais, a produtividade da terra e a mudança de atividades segundo a época. Igualmente o agradecimento à terra mãe e produtora fazia parte da vida quotidiana como uma forma de estar em harmonia com a que fornecia de alimentos e prosperidade à comunidade. Esta festividade conhecida por alguns povos da Europa como “Yule” não era alheia ao mundo celta e por consequente à Galiza. O celebração do nascimento da principal figura do cristianismo liga diretamente com a tradição proto-europeia de nascimento do Sol e com toda uma série de rituais que tanto no tempo antigo como no atual reconhecemos com uma identidade comum que transcende os tempos. Assim, tanto a árvore de Natal, como as “Estreias” ou “Aguinaldo” (assim chamado em outros lugares da península), a recolha do visco ou do azevinho, como da figura paternal dum homem generoso e barrigudo que vem para fazer presentes aos nenos são heranças dum passado nunca esquecido.


A árvore de Natal é uma tradição relativamente moderna na Galiza mas em algumas comarcas da região desde a que escrevemos –Ourense-, existia o chamado “Tição de Natal” do qual existe memória na tradição familiar de quem vos escreve, consistente num madeiro que se deixava aceso do 24 de Dezembro, desde a Missa do Galo em adiante, até o dia 6 de Janeiro, simbolizando o calor que o sol mantinha em momentos em que a obscuridade tinha avançado até o máximo e o Astro Rei nascia novamente representado no madeiro como se este fosse uma autêntica criança recém nascida que chegaria à sua plenitude nos momentos centrais do verão. Passadas as datas solsticiais a cinza guardava-se para botar-lhe à terra como fertilizante ou bem deixava-se para completar a sua queima em momentos de trovoada, tentando com isso espantar aquilo que de assustador tinha a mesma, com o fim de se livrar dos perigosos raios. A crença popular de que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar ainda existe na atualidade entre a gente do rural galego e se os antigos queimavam o tição percebiam que uma vez ardido o madeiro por mão humana as forças da natureza não tinham razão para fazê-lo arder de novo por causa dum lôstrego (VVAA: 1979)



O tempo foi modificando o costume dentro da Europa e do originário tição, mais ou menos grande, da tradição primigénia evoluiu até dar com uma árvore típica da época, de folha perene, à qual enchiam com candeias e maçãs, símbolos de luz e de prosperidade em origem, cristianizados como símbolos igualmente da luz de Cristo e do pecado, respetivamente, mas com uma marcada tradição céltica. O tempo foi modificando essas candeias e essas maçãs pelos posteriores adornos por todos conhecidos, sendo o processo de mundialização da cultura nos últimos tempos quem trouxe a árvore de Natal aos nossos fogares atuais.


Do mesmo jeito esta figura da árvore traz-nos à memória o mítico Hy-Brasil céltico, árvore da vida correspondente com o Yggdrasyl germânico. Essa árvore sagrada será protagonista de muitas das celebrações e tradições da roda das estações dentro da cultura europeia em geral e céltica em especial. É a árvore que roda segundo rodam as estações, correspondendo-se na etapa invernal com uma imagem sem folhas. Na imaginação mítica céltica seriam as raízes que estavam para a cima, enquanto a copa estava para abaixo. O fim é apanhar a força da terra necessária para no verão dar os seus frutos ao se pôr novamente de pé, com as raízes na terra e a copa para a cima. A memória desta ideia subsiste ainda hoje em alguma localidade galega, como é o caso de Rodeiro, na Comarca do Deça e ainda em algumas localidades da Comarca do Arenteiro, já na região ourensana.


Outra tradição interessante ainda conservada até muito pouco tempo na Galiza rural é o das “Estreias”, nome que em outros lugares da península muda pelo de “aguinaldo”. A sua origem pode ser comum com o famoso “ Trick or Treat” da tradição samânica, pelo facto de ir pedindo pelas portas um presente. De forma parecida à do rito anteriormente citado, a pessoa que recebe a visita dos que vêm pedir a Estreia pode dar ou não dar, mas se não dá, os visitantes põem-se a cantar autênticas cantigas de Maldizer contra o avarento vizinho.


Conta-nos Vicente Risco que essa tradição é que se fazia com uma cabeça de touro, uso proibido posteriormente num Concilio de Lugo de discutida existência em época sueva. Risco recolhe um texto no que se fala da condição não lícita destas práticas (VVAA:1979):



“Non liceat iniquas observationes agere Kalendarum neque lauro aut viriditate cingere domos”



Comenta-nos que estes usos nunca foram desterrados, sobrevivendo em algumas práticas atuais embora não relacionadas com a época do solstício de inverno, mas com o entrudo, ou em rituais igualmente atuais e igualmente célticos como o Beltane celebrado na Escócia. Há que dizer que podemos reconhecer que a presença de máscaras feitas como crânios de animais têm a sua origem com probabilidade em épocas muito longínquas, que enterram as suas raízes no xamanismo paleolítico e nas práticas das religiões ancestrais. Só há que ver os primitivos atuais...



Outra das práticas das que queremos fazer referência têm a ver com o visco (Viscum Album), e o azevinho (Ilex Canariensis). O primeiro é uma planta sagrada dos druidas que representa a imortalidade, enquanto o segundo serve para ser guardado na casa em lugar quente para ser oferecido como refúgio às mouras que atendem o chamado do calor do fogar, fugindo do frio do inverno. Elas agradecem correspondendo com felicidade e prosperidade a quem lhe abre as portas da sua morada. O azevinho utiliza-se igualmente e de forma tradicional como remédio contra a esterilidade das pessoas, dos animais e dos campos.



Mas não podemos esquecer uma outra tradição que é a figura dum personagem que tradicionalmente vive na floresta e que por essas datas é que se achega às aldeias para trazer presentes às crianças. Esta figura parece ser comum a toda a cultura europeia conhecido como São Nicolau, Santa Klaus e mais hodiernamente como Pai Natal, popularizado pela influência norte-americana. Na Galiza esta personagem aparece com o nome de Apalpador ou Pandigueiro. Ele é um carvoeiro ou lenhador que habita na espessura da floresta ao lado dos seus perelhos, seres feéricos que o ajudam no seu labor. Um destes perelhos sempre é o que se adianta para levar conta dos nenos que merecem o presente para quando vier o velho e barbudo personagem poder acertar à hora de presentear. Quando ele chegar sempre o faz quando as crianças dormem para poder apalpar as suas barriguinhas e saber se comeram ou não. No caso de estarem mal alimentados ele deixa uma presa de castanhas ao lado.



Como podemos ver, as formas são comuns a todos os personagens acima citados, seguindo uma pauta parecida a todos eles. Na Espanha aparecem as figuras dos Reis Magos que são três e um não só, devido à catolização (já não cristianização) do personagem que com toda probabilidade existiria na maior parte da península Ibérica de tradição indo-europeia (2). Foi provavelmente uma imposição desta tríade como substituto do velho barbudo em épocas passadas dentro do contexto espanhol substituindo à figura tradicional que na Galiza e sobre tudo nas comarcas orientais do nosso País, incluídas as comarcas do oriente ourensano, ainda subsiste. A dia de hoje o galeguismo mais comprometido está a recuperar a figura com certo sucesso. A imagem tradicional dos Reis Magos foi adaptada a uma mentalidade católica cingida a um contexto hispânico.


A data de chegada do Apalpador é o 24 ou o 31 de Dezembro. A primeira é data solsticial polar à do 24 de Junho (3) e portanto fim de estação. O 31 é fim de ano no calendário atual.



  1. A festividade de Inverno


A festividade invernal por excelência no mundo céltico é o Imbolc a celebrar durante o meio da estação, concretamente o primeiro de fevereiro. No calendário cristão relacionamos esta festividade com o ciclo que vai desde a Candelária até o Carnaval ou Entrudo, de grande popularidade e muito tradicional tanto no País como na região ourensana onde conta com pontos importantes de celebração como é o triângulo Ginzo-Verim-Laça. A capital da região, a cidade de Ourense sofreu muitos altos e baixos no transcurso da história recente, tendo-se exercido a censura durante a época franquista pelo uso e prática da liberdade e da crítica. A dia de hoje conta com grande popularidade.


Como todas as festas que estamos a descrever, tem as suas raízes na roda das festividades estacionais das sociedades agrárias como é a celta em geral e a galaica em particular. Reconhecemos o seu caráter ritual em festividades e celebrações ancestrais do nosso contorno etno-cultural atlântico . É, no entanto, a sua etimologia latina. Ou assim nos parece dando uma olhadela por cima. Entrudo ou Entroido, diz-se ser proveniente do INTROITUS latino, que significa “entrada”...no bom tempo, na primavera que se visualiza no horizonte. A outra palavra que define esta época festiva é a de “carnaval” provavelmente originada em “CARRUS NAVALIS”, quer dizer, “carro (de batalha) naval”. Aparentemente não parece muito acaído, pois a festividade não é exatamente uma guerra de barcos, mas se achamos que poderia ter a sua origem numa velha prática de construir carros ou barcos de madeira com rodas, fazendo que se confrontassem entre si de forma festiva, simulando batalhas navais e jogando-se ramalhos, paus e material vegetal, poderia ter mais lógica. Seria o conhecido como o “Carro do Entroido” que às vezes viajava dumas localidades a outras num ritual de fertilidade vegetal que servia como pedido à natureza, não isento de caráter mágico com o fim de fazer produzir à terra. Faz-nos lembrar a festividade típica em Ourense da “Batalha de flores”, típica da festa da cidade embora em outra época do ano.


Dentro desta tradição há o costume de se disfarçar escondendo-se atrás duma vestimenta que oculta a verdadeira personalidade. Talvez atende mais a uma adatação ao mundo cristão do ritual ancestral no afã de livrar a cabo ações nem sempre bem consideradas do ponto de vista social ou religioso. Estas ações poderiam perceber-se como psicologicamente necessárias por ser uma catarse anterior à etapa sacrificial da Quaresma. Por outra parte, se investigarmos nos vegetarianos atuais e algumas outras crenças que convivem connosco fora do dogma católico, a não ingestão de produtos animais parece ter como objetivo o refinamento do espírito e a sutilização da energia do próprio corpo permitindo a elevação da alma. Se a isto acrescentamos que era uma prática predicada e observada por algumas filosofias religiosas arreigadas na Galiza, como é o caso do priscilianismo, que tentava harmonizar ou sincretizar o culto ancestral, autótone e tradicional galaico com o recém chegado cristianismo, podemos chegar a pensar que essas supostas origens paleo-cristãs podem ser retrotraídas a épocas bem anteriores, envolvendo a festividade mesmo num contexto temporário e ritual céltico cujo conhecimento nos é ainda em parte desconhecido. Se uma sorte de Quaresma pré-cristã existia, deduzimos que a catarse anterior poderia igualmente ter existido. O que sim podemos deduzir é a função de ritual de fertilidade encarnado nas figuras dos mecos que se queimam como símbolo do rechaço ao velho. Consequentemente, é também um recebimento da iminente primavera na que o novo parto e florescimento da terra vai trazer novas colheitas e renovada prosperidade.



Tudo aquilo que para o Carnaval representa uma inversão dos valores é uma preparação para que no seguinte mês e meio a gente possa aguentar a introspeção e a vida interior prévia ao acordar da natureza..



O Carnaval é a época posterior á festa da Candelária datada em 2 de Fevereiro. O dia anterior é o da Santa Brígida, representação católica da Brigit céltica ou o que é o mesmo, a Lua, a luminária feminina a quem se lhe rende culto no ponto polar do calendário do Sol-Lugh.



Na tradição cristã, este culto feminino de fertilidade da terra tem o seu correlato na apresentação por parte da Virgem Maria do seu filho Jesus ao templo. É uma festividade de marcado signo feminino e na tradição céltica do Imbolc, Oimelc ou Imbowolka era época de grandes comelhadas, grandes festas e excessos herdados na tradição carnavalesca galega.

(Continuará) 

Comentários


(1). O nome do qual se apanhou esta má adaptação é o de Samhain, palavra irlandesa que designa o mês de Novembro. A nossa pergunta é: Porque adoptar o nome de Samain e não um derivado do Hop-tu-naa da Ilha de Man, do Calan Gaeaf galês, do Kalan Gwav córnico... Na Galiza existe um nome e esse é o de Magusto. Porque não dar-lhe o seu valor ao lado de todos os anteriores e não adoptarmos um não tradicional do País? Talvez não seja o suficientemente digno, conhecido ou corretamente relacionado com o mundo celta? Porque é tão facilmente acolhido pelos neo-galeguistas de maioria absoluta dos colégios de primária? De existir um nome na Galiza derivado do nome primordial Sâmanos/Sâmonios/Sâmonis seria algo parecido ao nome da formosa vila galega de Samos cuja origem etimológica provém justamente dum Sâmanos medieval



(2) Há que salientar a figura do Olantzero no País Basco que ainda o considerarmos um País fora do contexto indo-europeu pela sua filiação linguística há que salientar a sua origem céltica anterior à sua basconização como nos tem informado não poucas vezes o celtólogo André Pena.
  
(3) O São João, também festa solsticial embora astronomicamente não o seja já que seguindo critérios científicos esta é o 21 de Junho (ou 21 de Dezembro no caso do inverno). O 24 de Junho é dia no que começa o debalar ou queda do sol, como o 24 de Dezembro é o momento em que o dia começa o seu avanço sobre a noite.

Por outra parte, comparando o calendário Juliano com o Gregoriano calculamos que o fim de estação, 21 de Dezembro seria o primeiro dia do começo do ano segundo o cômputo romano herdado pela igreja e pelo calendário juliano, correspondente ao atual 31 de Dezembro no calendário gregoriano a partir do 1582 em diante.


 
Bibliografia:



  • VVAA. Dirigidos por Otero Pedrayo, Ramón: História de Galiza. III Tomos. Tomo I. Etnografia. Cultura espiritual de Vicente Risco. Akal Editor. Madrid.1979
  • Henry Swinburne: Travels through Spain in the year 1775 and 1776.
  • Pena Granha, André: Narón, un Concello con historia de seu. Tomo I. Ed. Concello de Narón. Narón.1991
  • González Pérez, Clodio: As festas cíclicas do ano. Museo do pobo galego. Samtiago de Compostela. 1991
  • Green, Miranda: Simbol and Image in Celtic Religious Art. Edit.Routledge. London and New York. 1989
  • Green, Miranda: Mitos celtas. El Pasado legendario. Akal. Madrid. 199

     O Apalpador, uma figura tradicional do Natal galego:http://www.agal-gz.org/modules.php?name=Downloads&d_op=getit&lid=152
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