Por José Manuel Barbosa
As datas do Natal são as festas nas que o Cristianismo
comemora o nascimento do seu fundador. Jesus de Nazaré, nascido
segundo a oficialidade católica a noite do 24 para o 25 de Dezembro,
2015 anos atrás.
Mas a data do nascimento
de Jesus é discutida por muitos historiadores e mesmo dentro do
próprio cristianismo há posicionamentos diferentes entre os que
salientamos a ortodoxia oriental e o cristianismo arménio que mantêm
o dia 6 de Janeiro como data em questão.
Para chegarem os
cristãos à uma conclusão como esta houve que passar-se por muitas
investigações, sobre tudo por aquelas nas que o dogma ainda não
estava consolidado tendo em conta que antes do século IV
não era este tema o mais importante de todos nos que se debatia a
igreja.
Pela terceira centúria
da nossa era, momento em que o cristianismo começava a adquirir
certo poder social no Império Romano, chegaram-se a propor
diferentes datas, todas elas tendo por base os Evangelhos: O 6 de maio, o 10 de maio, o 20 de maio, 25 de maio, proposto
este com alguns razoamentos lógicos por Clemente de Alexandria, o 25
de março, o 15 de abril, o 20 de abril, o 25 de abril, outubro,
dezembro, janeiro.... Mesmo, uma vez consolidadas as igrejas
orientais, os arménios adaptaram sincreticamente costumes autótones
e decidiram que a data devia ser o 8 de janeiro.
A proliferação de datas
fez com que os Papas se cansassem de tantas elucubrações inúteis até
que finalmente o Papa São Fabiano proibiu continuar especulando no que diz
respeito, tanto mais quanto que a maioria dos investigadores
cristãos optavam por datas de começo do inverno por razões
políticas, enquanto São Lucas no seu Evangelho (Lc. 2,8) afirmava:
“Havia uns pastores por
aquela mesma região que passavam a noite ao ar, vigiando por turno o
seu rebanho...”
Nesta citação na que se
narra a anunciação do nascimento de Jesus aos pastores fala-se de
que dormiam baixo o céu, o que não poderiam fazer nos meses do
começo do inverno, justo quando mais frio faz na Palestina, país
mediterrâneo mas que não se livra do inverno que pode moderar-se a
finais de fevereiro e começos de março.
A Palestina nos tempos dos Herodes |
Ao final, havia mais de
130 datas diferentes e todas elas mais ou menos válidas. Isto fez
com que no Concílio de Niceia propõe-se o que mais tarde
aceitariam os Papas Júlio I e Libério, que foi a consideração da
data do 24 e 25 de dezembro como data chave, justo quando os romanos
celebravam o Natalis Solis Invictis e os cristãos não puderam
sincretizar. Alguns autores afirmam que anos atrás, quando as
perseguições de Diocleciano, Décio e Valério Valente os cristãos faziam
as suas festas nessas datas porque passavam mais desapercebidas no
meio da festa pagã enquanto se a celebrarem em qualquer outro
momento com certeza chamariam a atenção das autoridades romanas que
não veriam o momento para prenderem e prepararem os alimentos dosleões e outras feras ou os objetos de lazer dum povo que além de pão também queria circo, sangrento, se pudesse ser.
A data do 24-25 de
dezembro foi considerada como arbitrária por muitos mas perante a
desinformação sobre tal evento, os Papas decidiram também esta
data, além de por razoes estratégias, por ser esse dia, o 25 de
dezembro, três dias depois do Solstício que marca, segundo as
mitologias da época, o renascimento da Luz entre as trevas, o dia no
que nasceram os deuses da maioria dos deuses das diferentes religiões
europeias e asiáticas: Nasciam nestas datas os deuses solares mais
importantes de todas as crenças da época: caldeus, egípcios,
sírios, fenícios, celtas... Eram as festas Dionisíacas para os
gregos, as Saturnálias romanas, dentro das quais estava a celebração
do nascimento do Sol da que falamos acima do Natalis Solis Invictis
mas também Horus, Mitra, Krishna, etc... A maior parte dos povos
celebravam o mesmo evento festivo de nascimento dum grande e
importante Deus...mesmo foi que os espanhóis quando chegaram a
América muitos séculos depois acharam com que os aztecas celebravam
também nessas datas o nascimento do deus Huitzilopochtil com o qual
a sincretização foi possível e relativamente fácil para os
sacerdotes castelhanos.
Esta coincidência
aparentemente ilógica explica-se por ser a religião naturalista de
culto aos fenómenos naturais a crença mais comum entre todos os
povos desde o que o ser humano tem consciência da existência de
algo superior que o transcende. É lógico, portanto, a coincidência
entre mesopotâmicos, hindus, europeus, norte-africanos e povos
americanos, como também o é com os povos da Oceânia e ainda outros
povos afastados do mundo europeu.
Anos mais tarde da
determinação do dia 24-25 de dezembro como data do nascimento de
Jesus, o Papa João I teve a tentação de investigar mais
profundamente sobre a realidade do tema que estamos a tratar, ando o
trabalho de averiguar algo que pudesse suster-se com um mínimo de
lógica a Dionysius Exiguus o qual reafirmou a data da noite de 24-25
de dezembro do ano 754, ano da fundação de Roma, ficando
consolidada dai em adiante nestas épocas medievais caraterizadas
pela aceitação cega e dogmática de toda afirmação proveniente da
hierarquia eclesiástica romana.
Dionisyus Exiguus |
Foi, evidentemente no
Renascimento, quando as mentes humanas retomaram aquele tema tão
antigo embora tao pouco tratado até aqueles momentos. Pensar não
era o que aconselhavam os poderes políticos e religiosos, por isso,
quando se voltou ao assunto da data do nascimento de Jesus, Joseph Justus Scaliger foi quem propus o nascimento em setembro ou outubro.
Joseph Justus Scaliger |
Johannes Kepler, algo
mais tarde, afirmou que Jesus de Nazaré deveu nascer no momento em
que se produziu uma grande conjunção planetária, a chamada por ele
“Coniunctio Magna” que se repete muito raramente e que seria o
que passou à História como a “Estrela de Belém” que não era
outra cousas do que um grande “Stellium” acontecido em março do
ano 7 antes de Cristo (desculpando o paradoxo). A palavra “estrela”
é uma má tradução da forma latina “Stellium” que designa em
linguagem astronómico-astrológica própria das épocas das que
estamos a tratar uma Conjunção planetária, quer dizer, a
confluência no mesmo lugar do céu de vários corpos planetares que
somando a sua luminosidade apareceriam sobre as cabeças terrestres
como uma grande e chamativa luminescência que daria a impressão
duma grande estrela a indicar um lugar especial.
Mais afirmações
chegariam-nos a dizer que a estrela de Belém poderia ser um cometa
embora o que parece ter passado por aquelas épocas seria o CometaHalley, no ano -11 a. C. Se nos cingirmos ao que diz São Lucas e São Mateus...:
“Depois de nascer Jesus em Belém de Judeia, e tempos do
rei Herodes...”
Vemos que Herodes o Grande governava o país quando
nasceu Jesus mas também sabemos que morreu no ano -4 a. C com o que
já temos um limite cronológico. O outro limite podemo-lo achar em
(Lc. 2,1):
“Aconteceu, que por
aqueles dias saiu um decreto de César Augusto para que se fizesse um
censo do mundo inteiro. Este primeiro censo teve lugar no tempo em
que Quirino era governador de Síria e todos e cada um dos súbditos
do império deviam empadroar-se na sua cidade.
Também o José, por ser
da casa e da família de David, subiu desde Galileia, da cidade de
Nazaré até Judeia, terra de David, onde fica a cidade de Belém
para se inscreverem no censo com a Maria, a sua mulher que estava grávida.
Enquanto estava ali, chegou-lhe a ela o tempo do parto e teve o seu
filho primogénito ao qual envolveu nuns cueiros e deitou numa manjedoura por não haver lugar para eles na pousada”.
Além de mais, poderia
ser que o antes dito “Stellium” quisesse ser visto “in situ”
pelos “científicos” da época, isto é, pelos
astrónomos-astrólogos de Mesopotâmia, berço e paraíso da
astrologia, que seriam as três figuras dos Reis.... Magos, segundo a
terminologia mais conhecida e talvez mais adequada, os quais sabiam
que sob o céu de Palestina ia acontecer a famosa Conjunção da que
falamos.
Anos mais tarde, já no
século II d. C Santo Inácio de Antioquia na sua Epístola aos
Efésios diz:
“A luz da estrela
(Stellium???) superava qualquer outra cousa, o seu brilho era
insuperável e a sua novidade fazia com que quem a observasse ficasse
mudo pelo arroubo. O sol e a lua e outros astros formavam coro da
estrela (Stellium???)”.
Morte de Santo Inácio de Antioquia |
Fizemos pessoalmente o
esforço de investigarmos a posição dos astros seguindo as
ancestrais técnicas da astrologia e vimos que no mês de março do
ano -7 a. C, justo no dia primeiro de março, salvando as adaptações do calendário que houve que fazer por causa das
diferenças entre o calendário Juliano e o calendário gregoriano
pelo que nos gerimos e podemos garantir com pouco margem de erro que
esse dia e esse mês e esse ano havia no céu uma Conjunção no de Júpiter com Úrano (este último não
visível nem, que saibamos, conhecido na altura) por um lado; Vénus e Saturno por outro ao lado da anterior; e também uma outra Conjunção da Lua e Mercúrio. Todas estas Conjunções estaria próximas as umas as outras fazendo um grande Stellium ou "Coniutio Magna". Sete planetas implicados no Stellium... O mais provável é que o
nascimento se produzisse justo pouco antes, durante e justo pouco
depois da Alvorada, momento justo em que a visibilidade da luminescência
provocada por esses planetas em Conjunção pudesse ser possível. Pela noite não se poderia ver por ficar baixo o horizonte, e pelo dia não se veria pela luminosidade do Sol. O
Sol e a Lua veriam-se como o “coro do Stellium” e a conjunção
entre ambos os luminares seria quase perfeita.
A modo de conclusão
teremos que dizer que ao final não importa tanto o dia do nascimento
do Jesus de Nazaré como também não importa o de Buda, Maomé,
Mitra, Moisés, Zoroastro, ou outros... O que realmente importa é a mensagem deste grande personagem da História da humanidade que achegou ao ser humano as suas ideias de paz, de amor e de fraternidade base para uma convivência humana em harmonia. Não importa o facto de ser o
24-25 de dezembro uma data posta a conveniência por umas hierarquias
poderosas; o importante é o espírito das datas. Os presentes, as
refeições familiares, os convites, a solidariedade com os mais
desfavorecidos, os dias feriados, etc... todo isso já era costume
entre os povos da antiguidade, quer fossem romanos com as suas
Saturnálias, os gregos com a chegada do vinho novo em honra a Baco,
os nosso antepassados celtas com o nascimento de Lugh nos que os
rituais druídicos vivem ainda hoje em uma Europa que tem como
costume o visco de ano novo.... Simplesmente o cristianismo adaptou o
que já existia com o fim de penetrar e expansionar-se nas sociedades
tardo-romanas para impor uns parâmetros morais e políticos que
ainda estão presentes....ainda que não se pratiquem.
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