Por Artur
Alonso Novelhe
A
velha guerra encoberta entre Emergentes e Império Ocidental, agora –
como já tínhamos comentado – se tornou nova guerra aberta. O
Brasil joga em esse nó geoestratégico um papel de relevo na América
Latina. Na tentativa de derrubar o Brasil – e com ele terminar com
o sonho breve de independência econômica continental – estão
depositadas parte das necessidades Imperiais anglo-saxônicas de
manter o controlo hegemônico global.
Tomar
o Banco do Brasil, entregá-lo a uma pequena elite de banqueiros
vassalos do anel de poder londrino e de Wall Street com o fim de
derrubar a Petrobras, transformá-la numa empresa menos dinâmica,
privatizando-a ao serviço das grandes transnacionais petrolíferas
Ocidentais; faz parte duma necessária estratégia de sobrevivência
imperial, que passa inevitavelmente pela recolonização do jardim
traseiro, que para os EUA foi sempre desde o século passado, a
América do Sul.
A
recentes manifestações em várias cidades do Brasil, nas que
pudemos observar em várias das faixas reivindicativas, chamamentos
ao exército para tomar o controle do país, não deixam de ser
paradoxais, dado que em estes momentos é o atual governo brasileiro
o único que manifestou sua disposição a garantir a soberania real
do território. Os rivais mais próximos nas ultimas eleições,
levavam em seus programas de governo a conversão do Banco Central,
em um banco privado ao serviço do capital financeiro transnacional
seguindo o modelo da Reserva Federal Americana ou do Banco Central
Europeu o qual na pratica significa a entrega do fluxo monetário,
sua expansão e contração, ao sector bancário privado. Este sector
não conta com um anel de poder regional nem global limitando a sua
ação para integrar-se no marco dos mercados mundiais geridos
pelo anel de poder imperial anglo-saxão, nem tem hipótese, no curto
prazo, de qualquer tipo de controlo sobre seus próprios recursos e
patrimônio.
Nenhum
militar entregaria a soberania do seu pais, a um poder econômico
estrangeiro, pelo que podemos afirmar que se de algo pode estar
preocupada a cúpula militar do país é sem dúvida, de que a
situação de descontentamento brasileira, possa deteriorar-se ao
extremo de o país ficar dividido em duas realidades
irreconciliáveis. Esta divisão provocaria uma tensão semelhante a
que hoje vive a Venezuela e não é de estranhar que todos os país
da América de Sul, que estão a fazer hoje grandes esforços pela
integração regional, dentro do Mercosul, Unasul ou Celac, etc,
estejam sendo almejados pelos ataques econômico–financeiros,
mediáticos e sociais, sendo utilizados nos protestos a corrupção
como arma política muito eficaz, visando como alvo a destruição da
convergência regional.
Fora
da analise de modelos partidários ou da polarização
esquerda–direita, o certo é que se um país tem o objetivo de ser
o centro referencial dum novo poder emergente, ele precisa
desenvolver um anel de poder abrangente que se consolide internamente
e no âmbito regional que tenciona influenciar. Sendo no caso do
Brasil, ele é o único ator com capacidade real, para impulsionar
uma independência certa do continente Sul-Americano. Deve pois criar
um modelo referencial exportável e compatível com o resto dos seus
parceiros políticos e vizinhos continentais.
No
cultural, o modelo está claro: um modelo de unidade na diversidade.
Isto é relativamente fácil, num país que abrange dentro de si
próprio todas as culturas, raças e tradições do planeta e que
durante decênios tem colaborado na sua integração e miscigenação
em contraste com o encerramento dentro dos seus próprios limites de
estas próprias comunidades em outros territórios americanos.
No
nível sócio–político e econômico, o Brasil precisa criar
modelos flexíveis que sejam facilmente adaptáveis às realidades do
seu contorno. Esse processo é secular, lento e paciente. Paciência
e diplomacia têm sido duas das ferramentas que melhor sabe utilizar
o poder brasileiro.
No
entanto, na nova conjuntura internacional de guerra direta entre
Emergentes e Anglo-saxões, é inevitável, que o Brasil ao mesmo
tempo que define sua estratégia regional, resista as tentativas dos
poderes exteriores de dominação.
Se
por uma parte a chegada cada vez mais maciça do capital chinês tem
sido importante para livrar a região duma vassalagem real ao capital
transnacional ocidental, também por outra parte põe em evidência os
medos do Império Norte-americano de ver-se ultrapassado como
parceiro comercial e que isso signifique uma aliança Sul-americana
em favor da hegemonia global chinesa. Nada mais absurdo para o futuro
desenvolvimento potencial do Brasil, como trasladar o eixo do mundo
do Atlântico Norte ao Pacífico... Assim que o Brasil, terá de
saber movimentar-se com melhor subtilidade em este difícil contexto,
exigindo de Washington novos modos de fazer política ao tempo que
utiliza os amortecedores chinês e russo para evitar ser engolido
pelo gigante Ocidental.
É
pois em esta tessitura que Brasília precisa urgentemente criar um
modelo inclusivo, a nível interno, que leve aos diferentes atores
políticos do país a pactuar, precisa também um rascunho de acordo
que permita pôr em marcha um anel flexível de poder propriamente
brasileiro baseado na intocabilidade do Banco Central que é quem
garante da independência econômica mas também precisa a manutenção
das empresas estratégicas como Petrobras, garante de Independência
energética, nas mãos do governo brasileiro. Terá igualmente que
acordar-se um modelo econômico próprio que do nosso ponto de vista
deve ser derivado do antigo modelo europeu do Estado Providência,
onde o Estado faz ponte entre a força do trabalho e o capital,
mantendo o equilibro entre ambos, permitindo a livre inovação,
iniciativa e criatividade privada mas ao mesmo tempo desenvolvendo um
modelo de redistribuição social justo e equitativo que permita às
classes sociais mais humildes viver dignamente e crescer
continuamente como seres humanos, com capacidade para desenvolver
suas potencialidades e nobres valores.