Por José Manuel Barbosa
A consciência entre lusófonos da importância da Galiza na conformação da identidade de cada um dos povos que conformam a chamada "Lusofonia" começa a ser maior mas o desconhecimento ainda é grande.
O Professor Marcos Bagno apresenta-nos o seguinte trabalho que posteriormente comentaremos.
Compreendemos o desconhecimento que se possa ter desde o Brasil da longínqua Galiza, um povo com pouca autonomia para defender os seus interesses legítimos internacionalmente e governada por gente dirigida desde a Madrid pouco interessada em estreitar laços com um mundo para eles alheio. Por isso procedemos a corrigir alguns erros:
1- O reino de Galiza não existiu entre os séculos VIII e XI diz-nos o autor do texto mas o Reino da Galiza nasceu em 411 da mão do seu primeiro Rei de dinastia suevica Hermerico e deixou de existir por lei em 30 de novembro de 1833 em época da Rainha Isabel II.
1- O reino de Galiza não existiu entre os séculos VIII e XI diz-nos o autor do texto mas o Reino da Galiza nasceu em 411 da mão do seu primeiro Rei de dinastia suevica Hermerico e deixou de existir por lei em 30 de novembro de 1833 em época da Rainha Isabel II.
2- O
Reino da Galiza não era um reino vassalo do reino de Leão. O reino da
Galiza era o território que ocupava todo o NW peninsular e a sua capital
política, quer dizer, a corte, estava em Leão enquanto o poder religioso
estava em Santiago de Compostela seguindo o modelo do Sacro Império
Romano Germânico onde o poder civil e o religioso tinham duas capitais
(Aachen e Roma no caso do SIRG). Galegos e Galiza, yallaliqa e Yalliqija
era como os andaluzis denominavam a todo o território coincidente com a
velha província romana de Gallaecia até bem entrada a Idade Média.
3- O conceito de "Reconquista" está em desuso por inexato e porque leva parelho outro conceito errado: o de "Repovoação". Não houve descontinuidade populacional nem organizativa nas regiões do Norte e Noroeste, enquanto no Sul o que houve foi uma autêntica conquista.
4- Em 1230 Galiza não passou a depender da Coroa de Castela e Leão. Foi em 1230 a primeira vez com que a Galiza (com Leão) se unificou com Castela, mas houve durante esse século e o seguinte períodos nos que ainda foi independente e outros períodos nos que se unificou novamente com Castela. Finalmente a princípios do Século XIV a unificação foi definitiva mas o poder político galego, a sua nobreza e a sua sociedade ainda eram soberanos e defensores dos seus interesses, só a partir de finais do século XV, após as revoltas Irmandinhas e a eliminação da nobreza galega por parte dos chamados Reis Católicos é quando a Galiza perde a sua soberania política. Daí em adiante a margem de autonomia era menor mas não nula e a categoria de Reino continuou até Século XIX. Não é certo, como diz o autor do texto que a Galiza esteve 750 anos dependente de Castela... Foi Castela a dependente até que com Sancho, filho de Fernando e Sancha e irmão de Afonso VI, teve o seu primeiro Rei independente em 1065... Até esse momento Castela era um território periférico da velha Gallaecia. No cômputo seguido pela historiografia castelhana figura como Sancho II mas na realidade é o primeiro Sancho de Castela, portanto Sancho I.
Os reinos hispânicos durante o século XIII: Portugal, Galiza-Leão, Castela-Toledo, Navarra, Catalunha-Aragão e reinos andaluzis. |
5- Também não é certo que a Galiza
nunca tivesse exército nem marina... Os exércitos galegos participaram
de todos os confrontos desde o seu nascimento até a sua abolição como
reino: contra Roma, contra os vândalos, alanos e visigodos, contra o
poder andaluzi onde podemos salientar episódios como a conquista e
entrada em Sevilha em 1248 da mão do ponte vedrês Paio Gomes Charinho Almirante
das tropas galegas... as fontes dizem que a sua entrada foi com som de
gaita...;
Tumba do Almirante Paio Gomes Charinho na Igreja de São Francisco em Ponte Vedra |
Bernardo Gonçalves do Vale "Cachamoinha" Coronel do Exército galego libertador da parte sul-ocidental da atual Galiza dos franceses. |
6- Não há uma família de línguas derivadas
do galego... há uma língua histórica nascida na Gallaecia romana e
medieval com variantes nacionais e regionais e cujo mapa se apresenta abaixo. Língua só há uma, origem só há um e variantes há umas quantas... Diversidade e unidade harmonizando-se entre si.
7- Finalmente concordar com o Marcos Bagno com que a obriga de estreitar vínculos é uma necessidade geo-estratégica, económica e identitária tanto para galegos como para o resto dos falantes da nossa língua.