quarta-feira, 28 de julho de 2021

As Bandeiras ibéricas. Castela, Leão e Castela-Leão. Capítulo 4

 

Castela 

A bandeira de Castela tem nascimento quando Castela se consolida como reino independente e soberano, não conseguido até que Afonso VII divide a Coroa Galaica entre os seus filhos Fernando II de Galiza e Sancho II de Castela (que a historiografia castelhana numera como III). Até esse momento a simbologia representativa do recentemente nascido Reino de Castela figurava nos Signum Regis, o reverso dos Selos reais onde habitualmente aparecia uma cruz. É com o seu filho e herdeiro Afonso I de Castela (a historiografia numera como VIII) que casado com Leonor Plantageneta conformam uma simbologia que vai perdurar no tempo, apresentada como um castelo, que aparece pela primeira vez nos antes ditos Signa Regum conservados a partir da segunda metade do século XII. 

Pendão de Afonso I de Castela, o primeiro rei castelhano soberano, numerado erradamente pela historiografia castelhana, como VIII

Como era comum na época, o Castelo é o símbolo de Castela por ser representado um emblema parlante, fazendo denominação ao reino de maneira simbólica. A necessidade de afirmação, vem dada pela vontade de reafirmação da independência a respeito da Coroa Galaico-Leonesa. O castelo está formado por três torres, sendo mais alta a torre central de ouro sobre gules, isto é, de amarelo sobre vermelho. A escolha das cores pode vir dada pelas cores do escudo heráldico da esposa de Afonso I, Leonor, Plantageneta, filha do rei de Inglaterra Henrique II quem achega os três leopardos ingleses em ouro, isto é amarelo, sobre o fundo em gules, isto é, vermelho, cores que são visíveis desde a distância. O castelo apresentava-se habitualmente isento, fora de qualquer escudo e assim apresentado na teia vexilar. 

É uma consideração moderna que o vermelho da bandeira castelhana tem o matiz de ser carmesim. É a partir daí que o histórico símbolo de Castela vai aparecer sempre nas representações do reino de Castela, posteriormente unido à representação vexilar da Coroa Galaico-Leonesa conformada por um Leão.

 Leão:  

indícios que nos podem assinalar que o emblema do Leão poderia iniciar-se com Afonso VI, mas a confirmação do seu uso como emblema da Coroa galaico-leonesa aparece com Afonso VII o Imperador, passando a ser o símbolo mais antigo usado até o momento e que representa este animal como simbologia parlante e como simbologia imperial.

Reconstrução do estandarte de Afonso VII o Imperador

Em início o leão era passante, não rampante, como se pode ver nas moedas e Signa Regum imperiais. Só são rampantes a partir do reinado dos filhos do Imperador Afonso VII, nomeadamente Fernando II e Afonso VIII (mal numerado como IX), ainda que só aparecidos nos escudos de representação gráfica, pois nos vexilos continua aparecendo passante, como nos mostra a bandeira real de Afonso VIII.

Vexilo portado por Afonso VIII de Galiza-Leão, guardado no Tombo A da Catedral de Santiago de Compostela.
 

A partir da rutura da unidade Galaico-Leonesa por causa da união com Castela, a simbologia leonesa também se divide e é a cidade e a província de Leão que conservam e adaptam a simbologia histórica da Coroa a sua realidade administrativa moderna e contemporânea com uma bandeira provincial roxa com o escudo no meio, onde figura o leão histórico, também em roxo sobre fundo branco. O leão está rampante e com a língua e as unhas em gules, vermelho. Aparece, igualmente, coroado.

Ao ser-lhe fanada a possibilidade à região leonesa de se constituir em região autónoma a partir da Transição e da Reinstauração Bourbónica e o seu Estado das autonomias, Leão, não teve a possibilidade de recuperar a sua simbologia histórica, nem mesmo tratar o tema da reconsideração da mesma.

Castela e Leão.

Posteriormente à união da Coroa Galaico-Leonesa com castela, a simbologia aparece fusionada e quartelada, onde o leão roxo sobre fundo branco, ou prata, se combina com o castelo em ouro sobre fundo em gules. O espaço vexilar obrigou em todo momento a dispor o leão em posição rampante, não passante, como era o tradicional, mas sem coroa, que só aparece a partir de Sancho II de Galiza-Leão e III de Castela (mal numerado como IV), filho de Afonso IX o sábio (mal numerado como X).

É o pendão histórico da Coroa de Castela conformada por duas entidades políticas nas que reconhecemos o que historicamente foi denominado pelas fontes medievais como Gallaecia, Yilliqiya ou durante a Plena e Baixa Idade Media de Galiza-Leão. A simbologia provem do século XIII, pois foi a partir de 1230 que as Coroas galaico-leonesa e castelhano-toledana foram unidas na pessoa de Fernando III, adotando consequentemente uma heráldica e uma vexilologia comuns.



terça-feira, 27 de julho de 2021

As Bandeiras ibéricas. Ceuta, Canárias e Cantábria. Capítulo 3

 


Ceuta: Em origem, o território ceutense pertenceu à Diocese da Hispânia romana com capital em Emérita Augusta, para posteriormente existirem dúvidas a respeito da sua pertença o reino visigodo de Toledo ou não. Há algum historiador que defende essa realidade pelo facto de ser nessa cidade onde se originaram as circunstâncias, basicamente lendárias da entrada dos muçulmanos na Península e ser desde aí que os barcos de Tárique e Muça enviaram as suas tropas para a conquista do que posteriormente foi denominado Al-Andalus.

Séculos mais tarde, já no século XV e no contexto do final da reconquista cristã da Península, ficando configurada a mesma com cinco entidades monárquicas, a saber: Portugal, Coroa de Castela, Navarra, Coroa de Aragão e Reino Nacérida de Granada, é que o Reino de Portugal, decide lançar-se às descobertas perante o obstáculo da Coroa Castelhana ocupar todo o seu território fronteiriço e precisar uma saída ao mar para viabilizar económica e politicamente o país. É assim que os portugueses começam a sua expansão ultramarina pelo norte de África, onde está situada a próspera cidade de Ceuta que junto com Gibraltar abrem as portas do Mediterrâneo e obstaculizam a entrada de possíveis piratas provenientes das regiões otomanas, árabes e do sul da Europa à vez que abrem caminhos comerciais com todos os países mediterrânicos. A cidade tinha tradição de pertença a diferentes poderes políticos peninsulares, pois pertenceu ao domínio andalusi durante muito tempo, para passar a depender da Taifa de Múrcia no século XIII e ao da Granada Nacérida desde 1305.

Os grupos economicamente dominantes em Portugal procuravam novas vias de expansão económica e roteiros comerciais que favorecessem o seu progresso à vez que a ideologia religiosa da época percebesse como um valor supremo a expansão do cristianismo por regiões onde não se praticava a obediência a Roma. A política obrigava, igualmente, a antecipar-se a qualquer ação castelhana que tentasse olhar para Ceuta com ambições territoriais de controlo do Estreito e da passagem ao Mediterrâneo. Assim, um contingente militar conformado por um exército de aproximadamente 20.000 soldados de origem português, galego, inglês e basco saiu de Lisboa em Julho de 1415 com destino a Ceuta que foi conquistada entre 21 e 22 de agosto desse ano sem muita resistência por parte dos problema. Como os barcos tinham saído de Lisboa, a bandeira que tinham consigo era a bandeira da capital portuguesa, que foi içada no alto das muralhas de Ceuta pelo lisboeta João Vasques de Almada que posteriormente ficaria como governador da cidade. Foi desde Ceuta que os portugueses progrediram na conquista dos territórios costeiros africanos e continuaram até as grandes descobertas do século XV e XVI.

Fez parte de Portugal, posteriormente, mesmo durante a época filipina, que foi administrada desde Lisboa. Durante os acontecimentos que precederam a revolta contra os Filipes em 1640, a cidade não proclamou como o seu soberano o Duque de Bragança, como o resto de Portugal. Foi em 1668 quando foi reconhecida a independência de Portugal por meio do Tratado de Lisboa, quando definitivamente Ceuta continuou sob a soberania castelhana, até hoje que é pertencente ao Reino da Espanha.

A bandeira ceutense está gironada de oito peças, alternando as suas cores em branco e preto, exatamente igual do que a bandeira de Lisboa, da que difere porque o vexilo da cidade africana contém no centro do seu campo o escudo das armas do Reino de Portugal tal e qual se usavam na época da conquista rematado com a coroa marquesal. É conhecida como Bandeira de São Vicente ou Bandeira de Lisboa por ser similar a da Capital de Portugal.

 
Bandeira de Ceuta

Canárias: Como colónia espanhola que foi desde a sua conquista pelos castelhanos finalizada em 1496, Canárias teve inicialmente uma bandeira que tem a sua origem no estandarte real criado pela administração conquistadora em 1561. Esta bandeira estava composta por três faixas verticais branca, azul e amarela com uma cruz latina em vermelho.  

Esta bandeira seria substituída ano mais tarde pela bandeira azul com cruz de Santo André similar a escocesa em 1845, criada igual do que a atual bandeira galega a partir das contrassenhas portuárias da Marina espanhola. Foi oficial desde 30 de julho de 1845 elaborada em Madrid e confirmada, igual do que a bandeira galega atual pelo Capitão General da Armada Ramón Romay. A sua feição estava feita sobre fundo azul com uma cruz de Santo André ou Cruz de Borgonha em branco. Só posteriormente, a partir de 1867, quando a província marítima das Canárias é dividida em duas províncias, nomeadamente, Santa Cruz de Tenerife e Gran Canária, é quando esta bandeira passa a representar unicamente a primeira delas e finalmente é em 1989 quando passa a identificar a ilha de Tenerife, deixando outras representações diferentes para cada uma das outras ilhas do arquipélago.

O tempo e a consciência nacional canária criam a necessidade de uma bandeira nacional, que é elaborada pela primeira vez em 1927 e confecionada pelo Ateneu de la Laguna. Seria adotada pelo PNC (Partido Nacionalista Canário) fundado em Cuba. Esta bandeira estaria feita sobre fundo azul, com sete estrelas brancas de cinco pontas, representativas, cada uma delas de cada uma das sete ilhas que conformam o arquipélago. 

Mas é a partir dos inícios dos anos 60 quando o Movimento de Canárias Livre decide recriar a bandeira tricolor, branco, azul e amarelo, fundindo as cores das bandeiras das províncias de Tenerife e Las Palmas, recordando a primeira bandeira de 1561. Inicialmente a faixa do meio, de cor azul tinha o duplo de largo do que as outras duas faixas.

Mas em 1964, o MPAIAC (Movimento pela Autodeterminação e Independência do Arquipélago Canário) reforma a bandeira, convertendo o azul obscuro da faixa central da bandeira do MCL em azul celeste e as três faixas do mesmo tamanho. No centro do corpo da bandeira, coincidente com a faixa azul celeste, sete estrelas verdes em círculo, que representam a cada uma das ilhas. A autoria, deve-se a Antonio Cubillo, líder do MPAIAC. A dia de hoje é uma bandeira assumida pela população canária como própria. Atualmente, a bandeira oficial do arquipélago inclui o escudo de Canárias.

 Finalmente, com a conquista da autonomia, a bandeira canária torna-se oficial, mas as cores sao ligeiramente diferentes, diferenciando-se especialmente a faixa centra, que fica com o azul obscuro dos inícios mais o escudo das ilhas no centro do corpo vexilar.

Parece um caso de colonialismo não resolvido por parte do nacionalismo canário pela adoção da bandeira da colonização, com a diferença de que a gestão política das ilhas tem estado sempre nas mãos dos crioulos descendentes de Europeu, pelo que parece que alguém poderia justificar a assunção da bandeira colonial por esse facto.

Cantábria: O caso cântabro é paralelo ao caso galego no que diz respeita da assunção da bandeira proveniente da Província Marítima de Santander como bandeira da Região autónoma. Apesar de que houvesse quem tenha defendido a anterioridade da origem dessa bandeira branca e vermelha disposta em duas faixas exatamente igual a de Polónia, acabou demonstrando-se que, como no caso da bandeira autonómica galega, a bandeira de Cantábria nasceu em 1845, para identificar os barcos matriculados no porto da sua capital. 

Mas neste caso também há uma diferença que dignifica o caso cântabro e diferencia do caso galego, pois existe uma outra bandeira que representa o estandarte militar conhecido pelos romanos como Cantabrum de historicidade bem documentada e popularizado na própria Cantábria durante os últimos anos, ate o ponto de ser reconhecido oficialmente como uma segunda bandeira pelo Boletim Oficial do Parlamento Cântabro em 7 de marco de 2016.

A cor da mesma e magenta ou fúcsia figurando no meio o lábaro cântabro que resulta duma decoração geométrica áurea, isto é, de cor ouro, com um circulo rodeado de quatro meias luas enfrentadas duas a duas.

Há ainda uma variante alternativa mais ancestral, elaborada com duas cenefas e uma circunferência rodeando as crescentes do lábaro, simulando o famoso lábaro de Barros. Nas partes superior e inferior do corpo da bandeira conjuntos de vinte cruzes em forma de X, simulando o cosido dum vexilo de coiro pré-romano.

Mas ainda há mais propostas vexilológicas dentro de Cantábria: A associação cantabrista ADIC (Associação de Defesa dos Interesses de Cantábria) autentica inteligentzia cantabrista e da qual saíram vários partidos políticos, fundada em 1976 pelo próprio Miguel Angel Revilla, atual Presidente de Cantábria propôs no seu dia uma bandeira diferente a "polaca" e esta era com três faixas verticais à moda francesa com as cores dispostos verde, grisalho e azul dispostos de esquerda a direita. Foi proposta durante os anos 70 mas foi preterida em favor da bandeira oficial atual.




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