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domingo, 11 de setembro de 2022

As Bandeiras ibéricas. Múrcia. Capítulo 7


Não conhecemos a possível representação vexilológica utilizada em época do Conde Teodomiro de Aurariola, que resistiu e pactou com os muçulmanos no século VIII e que ocupava aproximadamente a região que hoje poderíamos identificar com o histórico reino de Múrcia, mas sabemos que durante esse século, o território da Espanha foi unificado ao redor da capital cordovesa centralizando o poder andaluzi e organizando-se num emirado dependente de Damasco. Sabemos, no entanto, que a rutura de Al-Andalus foi real a partir do primeiro terço do século XI, após a fitna que levou à independência das Taifas. Nestes momentos  iniciais so conhecemos um vexilo que sobre fundo branco é cruzado por uma faixa azul celeste bordeada em verde, talvez como representação do rio Segura, que  era o que dava unidade e identidade à bacia do mesmo, quer dependente da Taifa de Valência, quer independente.


Posteriormente, depois da anexação de Toledo por parte de Afonso VI, as Taifas andaluzis chamaram os almoravidas que unificaram Al-Andalus, mas quando se levou a cabo uma grande rebelião contra estes causada pela sua intolerância, chefiada pelo líder Saif al-Dawla, vassalo e amigo do Imperador Afonso VII, o oriente peninsular ficou conformado por uma grande Taifa dirigida por Ibne Mardanis que fez da cidade de Múrcia a sua capital. A importância e o esplendor da cidade foram imensos e referenciais para Europa e o Mediterrâneo. Morto o conhecido como rei Lobo, o reino caiu nas mãos dos almoadas. O domínio almoada durou uns cinquenta anos, até o momento em que  Ibne Hude expulsa os norte-africanos reunificando quase todo Al-Andalus tendo como capital a cidade murciana. A debilidade andaluzi do momento não vão impedir que Fernando III de Galiza e I de Castela consiga conquistar Xaém, Córdova e Sevilha. Pouco depois da sua morte, o infante Afonso de Castela, filho de Fernando III e príncipe sucessor ao trono, faz-se com a Taifa de Múrcia, fique incorporada a Castela. Dessa época sabemos que o vexilo usado é um pendão totalmente verde, em memória dos fundadores de Al-Andalus, a família dos Omíadas.


A partir de 1243 e até 1266, o Reino de Múrcia passou a fazer parte da Coroa Castelhana por conquista da Taifa andaluzi, regida por Ibne Hude al-Dawla. A conquista e ocupação foi protagonizada pelo infante Afonso de Castela, futuro Afonso IX o sábio. Posteriormente houve uma importante rebelião dos mudejares, que eram muçulmanos aos que lhe foi permitido permanecer nas regiões conquistadas pelos cristãos, que teve como consequência imediata a eliminação de todas as instituições murcianas e o translado do centro do poder de Cartagena para a cidade de Múrcia. O pendão concedido por Afonso o Sábio era o seguinte: Sobre fundo vermelho, cinco coroas em amarelo representando os cinco reinos andaluzis que o rei Afonso incorporava ao seu poder real fazendo parte da Coroa castelhana: Toledo, Xaém, Córdova, Sevilha e agora Múrcia.


Mas foi entre 1296 e 1304 que Múrcia passou a fazer parte da Coroa catalano-aragonesa quando lhe foi concedido um vexilo de estética catalã, onde sobre fundo amarelo atravessavam duas faixas vermelhas em sentido horizontal. 

A partir de 1304, o reino de Múrcia retorna a Castela que é quando achamos um vexilo conformado por um fundo vermelho com seis coroas em amarelo. O pendão prolongava-se longe da haste em cinco faixas. 


Mas foi em época de Pedro I, por volta de 1361, que este pendão de seis coroas, dispostas em duas colunas de três cada uma, aparece acrescentado com um novo elemento na bordadura, já que incorpora os escudos castelhano e leonês, alternando-se no corpo da bandeira, não incluindo nenhum elemento nas faixas. Este pendão permaneceu como símbolo do reino durante muito tempo.

 
Com a chegadados franceses, o Reino de Múrcia recuperou certo poder político e agiu organizando as suas próprias defesas contra o invasor, pelo que se formou o Batalhão Provincial de Múrcia, número 10, durante a chamada Guerra da Independência. O símbolo sob o que se reuniram os combatentes era uma bandeira azul cobalto que serviria de base para representações posteriores.
 
 
A partir da chegada ao trono de Isabel II e a divisão provincial de Javier de Burgos, o Reino de Múrcia acaba sendo abolido para se constituir uma região sem poder político autónomo, mas dividida em duas províncias: Albacete, que surgiu com os territórios nortenhos do antigo reino de Múrcia, aos que se lhe acrescentaram terras das antigas províncias da Mancha e Cuenca; mais a província de Múrcia propriamente dita, constituída com o resto dos territórios que ficavam do antigo reino e que não  tinham ficado em Albacete.
Mas é durante o século XIX, que a nova região de murciana levou a cabo várias tentativas de autonomia cantonal, manifestadas em forma de rebelião armada, com especial protagonismo das localidades de Cartagena, a cidade de Múrcia, Jumilla, Almansa, Chinchilla,...  Os revolucionários usavam uma bandeira completamente vermelha, resultado de pegar numa bandeira do Império Otomano e tingi-la totalmente de vermelho, apagando o símbolo da meia lua e da estrela. 
 
 
No entanto, o cantão de Cartagena, optou por apresentar um outro modelo apanhado da contrassenha da Marina Mercante espanhola para a província marítima de Cartagena. Esta bandeira era uma cruz branca sobre fundo vermelho, que serviu como base para a posterior bandeira autonomista murciana, utilizada durante a II Republica Espanhola.
 
 
Anteriormente, desde a criação das províncias e a aprovação das bandeiras provinciais, Múrcia passou a ver-se representada por uma bandeira azul cobalto com o escudo coroado no centro. Esta bandeira foi reconhecida como bandeira provincial e usada como insígnia da Deputação de Múrcia até a chamada Transição baseada na bandeira azul cobalto com que o Batalhão número 10 defendeu a região dos franceses. No interior do campo da bandeira, aparece o escudo representando os nove partidos judiciários em que estava dividida a província: Múrcia, Caravaca, Cartagena, Cieza, Lorca, Mula, Totana, La Union e Yecla.
 

Por sua vez, Albacete teve uma bandeira provincial desde 1956, ocupando um campo de vermelho carmesim com o escudo no centro que  reunia todos os  partidos judiciários, embora modificada a partir de 1994 por uma bandeira, também em vermelho carmesim com um novo escudo com a coroa real espanhola.
Finalmente, com a morte do ditador Francisco Franco e a implementação da denominada Espanha das autonomias, a região de Múrcia reclamou para si um estatuto de autonomia, com o qual se dotar de simbologia própria. Assim foi que se desenhou uma nova bandeira regional que se descreve da forma seguinte: Bandeira retangular em vermelho carmesim, também chamado vermelho Cartagena. No ângulo superior esquerdo aparecem quatro castelos com três ameias cada um em ouro, isto é, em amarelo, distribuídos de dous em dous. Cada castelo, representa cada uma das quatro culturas fronteiriças que determinaram a identidade do Reino de Múrcia: a castelhana, a catalano-aragonesa, a andaluzi e a quarta, que representa a influência mediterrânica. Na parte inferior direita aparecem sete coroas reais dispostas em quatro filas organizadas em três fileiras horizontais e sobrepostas, com três coroas a superior, duas a intermédia e uma a inferior, e sobre elas, a sétima coroa, concedida pelo primeiro monarca Bourbon. 
Das seis coroas históricas que permaneceram desde Pedro I, passou-se agora às sete, fruto do agradecimento de Filipe V ao povo murciano pelo apoio na Guerra de Sucessão, que trouxe os Bourbons a Coroa Hispânica no século XVIII.
A bandeira foi concebida em 1978 por uma comissão do Conselho regional criada especificamente com o objetivo de dotar a nova região autónoma de uma simbologia própria. Nessa comissão estavam os historiadores Juan Torres Fontes e José Maria Jover Zamora, autênticos autores  do vexilo.
 

A todo este repasse
à simbologia vexilológica murciana, teremos que acrescentar a bandeira do regionalismo murciano que acrescenta ao estandarte, já conhecido e oficial da região de Múrcia, a cruz branca do cantonalismo de Cartagena, com uma cruz azul no meio, que representa as aspirações soberanistas.
 
 
Poderíamos acrescentar, aliás, uma outra bandeira, a do nacionalismo murciano de esquerda definida como uma bandeira vermelha com sete estrelas, em vez de sete coroas, dispostas da mesma maneira do que as coroas da bandeira oficial.  
 

 

 


 

 

As Bandeiras ibéricas: Madrid. Capitulo 6

 


 

Madrid foi um cidade nascida dentro da Taifa de Toledo que identificava a fronteira Marca ou Cora central de Al-Andalus, aṯ-Ṯaġr al-Awsaṭ (الثغر الأوسط). Dentro dessa linha fronteiriça com a Yilliqiya, ao Sul do As-Serrat (Maciço Central), havia uma fortificação militar estratégica avançada construida como uma autentica fortaleza defensiva durante o século IX, pelo emir de Córdova, Maomé I, sendo rei do Christianorum Regnum Afonso III, mas consolidada durante o século XI como parte do sistema defensivo da Taifa de Toledo com o nome de Al-Mayrit1, servindo de muro defensivo durante as tentativas de Afonso VI por anexar a Taifa. Entre 1081 e 1085 aconteceu o conflito entre a Coroa galaico-leonesa e as diferentes taifas andaluzis pelo controlo de Toledo cuja população estava dividida nos seus apoios2. Madrid foi ocupado pelo rei Afonso em 1081 e a taifa foi anexada, finalmente, em 1085.

Durante a historia do Madrid integrado dentro do Reino de Toledo, como parte da Coroa de galaico-leonesa, primeiro e castelhana, posteriormente, entendemos que a simbologia coincide com a que expusemos no capítulo da história das bandeiras de Castela-Mancha por fazer parte, a cidade de Madrid, de dito reino. Mas temos a referência da exposição dum vexilo durante o reinado de Afonso I de Castela (Afonso VIII, segundo as fontes castelhanas) na Batalha das Navas de Tolosa em 1212 que apresenta um urso com a constelação da Ursa no seu interior.


A vila, como tal, e durante a sua história,  foi vila de recreio de reis, sede das Cortes castelhanas várias vezes e residência de monarcas desde Carlos I, até que em 1561 acabou sendo capital da Monarquia Católica, sendo rei Filipe II.

A partir de 1833 quando se conformam as províncias, Madrid adota uma bandeira verde com o escudo um meio que contém em si próprio os escudos dos partidos judiciários que havia no seu território, que eram, a vila de Madrid, Alcalá de Henares, Navalcarnero, San Lorenzo del Escorial, Colmenar Viejo e Aranjuez.

Posteriormente, quando a província se constitui em Comunidade Autónoma, em 1983, constitui-se em região, com uma bandeira da denominada Comunidade de Madrid em vermelho carmesim, a partir da entrada em vigor do Estatuto de Autonomia, mas desde 1984, com a lei de símbolos, considera-se que o vermelho é “rojo vivo”, segundo a terminologia em castelhano, correspondente ao rouge ponceau francês que coincide com o vermelho das papoulas silvestres de cor vermelha que representa a cor do pendão de Castela, já que Madrid tem sido historicamente castelhana, mas também a cor da bandeira oficial da Espanha. De facto, esta contradição entre o Estatuto e a lei de símbolos, soluciona-se optando pelo disposto no Decreto 2/1984 em que prescreve o vermelho vivo.

Alias, o campo da bandeira conta com sete estrelas de cinco pontas em prata, isto é, brancas, dispostas no centro do campo vexilológico, ordenadas em duas fileiras, quatro na parte superior e três na parte inferior, representando cada uma das áreas administrativas atuais da província de Madrid, que são: a cidade de Madrid, Alcalá de Henares, Torrelaguna, San Martín de Valdeiglesias, El Escorial, Getafe e Chinchón. Acredita-se que as estrelas também representem a constelação da Ursa Maior (o asterismo do Arado) ou da Ursa Menor, em referência ao urso do brasão da cidade de Madrid registado desde a Batalha das Navas de Tolosa, no século XIII. Por outra parte, as cinco pontas representam cada uma das outras cinco províncias que rodeiam a província de Madrid, nomeadamente, Ávila, Cuenca, Guadalaxara, Segóvia e Toledo.

A criação da bandeira para ser usada como símbolo da Comunidade Autónoma correspondeu ao escritor e jornalista Santiago Amón Hortelano junto com o desenhador Jose Maria Cruz Novillo. Um exemplo de criatividade promovida pela oficialidade.

 


 

1 Originariamente Al-Magrit que deriva do moçarábico matrič, que significa matriz, que por sua vez provem do latim matrix, cujo acusativo é matricem. Este nome está referido ao regato a partir do qual se gera o rio atualmente denominado Manzanares. Madrid, é, portanto, o lugar do regato matriz do qual nasce esse rio.

2 Os muçulmanos apoiavam a aproximação a outras taifas andaluzis, enquanto moçárabes e judeus optavam por se integrarem dentro da Coroa de Afonso VI.

segunda-feira, 16 de agosto de 2021

As Bandeiras ibéricas. Castela-Mancha. Capítulo 5

  

Castela a Mancha: A bandeira de Castela a Mancha é outra das bandeiras criada ex professo para completar o mapa autonómico elaborado a partir da Constituição de 1978. Tradicionalmente o Reino de Toledo, que era o antigo nome que recebia o território aproximado que hoje recebe o nome de Castela a Mancha foi um reino incorporado à Cristandade a partir de 1085. Foi Afonso VI quem anexou a Taifa de Toledo, até esse momento andalusi e muçulmana e como zona de expansão leonesa, não castelhana, ao espaço político cristão mas que acabou derivando no centro do projeto nacional castelhano uma vez que Afonso VII morre e deixa ao seu filho Sancho como Rei de Castela com a incorporação do território toledano. Em origem a bandeira desse Reino era azul celeste com a Coroa real em ouro no centro ainda que também foram usadas bandeiras das Ordens Militares como distintivos militares dos cruzados que lutavam contra o Islão na Península Ibérica. Uma dessas bandeiras foi a da Ordem de Santiago, branca com a Cruz de Santiago em vermelho no centro do campo.

Conhecemos esta bandeira porque também nos aparece nas imagens que conservamos do funeral do rei Carlos I:

Durante o século XX elaboraram-se vários modelos vexilológicos que foram finalmente preteridos. O primeiro deles foi o de 1906 e representava numa bandeira esquartelada a união das bandeiras provinciais de Albacete, Cidade Real, Cuenca e Toledo com as cores preta (para Toledo) vermelha (para Cuenca), azul (para Cidade Real) e branca (para Albacete). Todas elas com os seus respetivos escudos. Madrid e Guadalaxara não eram consideradas porque nao entravam dentro da Mancha histórica. 
Bandeira de 1906
Pouco tempo mais tarde, em 1919 a essa bandeira foram-lhe tirados os escudos provinciais que cada uma dos quartéis
possuía e foi-lhe acrescentado o escudo do Rei Afonso XIII. 
A mesma bandeira podia ser representada com os escudos das Ordens Militares que operaram no antigo Reino de Toledo durante a época medieval e nas lutas contra os muçulmanos andalusis. Foram estas: a Ordem de Santiago arriba à esquerda, a Ordem Militar Hospitalária de São João de Jerusalém, Rodas e Malta, arriba à direita, a Ordem de Calatrava, abaixo à direita o escudo heraldico da família dos Manuel, família poderosa de Albacete, abaixo à esquerda. Finalmente as chaves de São Pedro. No centro um escudo de Castela típico, em vermelho com o castelo, rodeado de quatro estrelas que representam as quatro províncias consideradas manchegas (Toledo, Cidade Real, Cuenca e Albacete).

Posteriormente estes escudos, qur o real, quer o das Ordens Militares, foram substituídos
por uma estrela amarela de cinco pontas sendo os quartéis preto na parte superior esquerda e azul da parte inferior esquerda do tamanho de um sexto do total da bandeira enquanto o vermelho da parte superior direita e branco da parte inferior direita ocupavam cada um os dous sextos do total da bandeira. 

Uma das suas variantes aparece com os quadros do mesmo tamanho com a estrela no centro do corpo vexilar:


Finalmente o vinculo com Castela acabou impondo-se e a proposta de Ramón Maldonado foi aceite como vexilo da atual Comunidade Autónoma. A tradição castelhanista consolida a Mancha, ou a Castela a Nova, como foi denominada durante os séculos XIX e XX,
como pertencente tradicionalmente à Coroa de Castela e com isso a sua simbologia atual, criada em janeiro de 1980. A bandeira dividida verticalmente em duas partes tem o retângulo mais próxima ao mastro de cor carmesim com o castelo tradicional castelhano com três torres em ouro, enquanto o segundo retangular mais afastada da haste em branco. Igual do que a de Madrid é uma bandeira criada ex-novo mas que identifica a região como castelhana.

quarta-feira, 28 de julho de 2021

As Bandeiras ibéricas. Castela, Leão e Castela-Leão. Capítulo 4

 

Castela 

A bandeira de Castela tem nascimento quando Castela se consolida como reino independente e soberano, não conseguido até que Afonso VII divide a Coroa Galaica entre os seus filhos Fernando II de Galiza e Sancho II de Castela (que a historiografia castelhana numera como III). Até esse momento a simbologia representativa do recentemente nascido Reino de Castela figurava nos Signum Regis, o reverso dos Selos reais onde habitualmente aparecia uma cruz. É com o seu filho e herdeiro Afonso I de Castela (a historiografia numera como VIII) que casado com Leonor Plantageneta conformam uma simbologia que vai perdurar no tempo, apresentada como um castelo, que aparece pela primeira vez nos antes ditos Signa Regum conservados a partir da segunda metade do século XII. 

Pendão de Afonso I de Castela, o primeiro rei castelhano soberano, numerado erradamente pela historiografia castelhana, como VIII

Como era comum na época, o Castelo é o símbolo de Castela por ser representado um emblema parlante, fazendo denominação ao reino de maneira simbólica. A necessidade de afirmação, vem dada pela vontade de reafirmação da independência a respeito da Coroa Galaico-Leonesa. O castelo está formado por três torres, sendo mais alta a torre central de ouro sobre gules, isto é, de amarelo sobre vermelho. A escolha das cores pode vir dada pelas cores do escudo heráldico da esposa de Afonso I, Leonor, Plantageneta, filha do rei de Inglaterra Henrique II quem achega os três leopardos ingleses em ouro, isto é amarelo, sobre o fundo em gules, isto é, vermelho, cores que são visíveis desde a distância. O castelo apresentava-se habitualmente isento, fora de qualquer escudo e assim apresentado na teia vexilar. 

É uma consideração moderna que o vermelho da bandeira castelhana tem o matiz de ser carmesim. É a partir daí que o histórico símbolo de Castela vai aparecer sempre nas representações do reino de Castela, posteriormente unido à representação vexilar da Coroa Galaico-Leonesa conformada por um Leão.

 Leão:  

indícios que nos podem assinalar que o emblema do Leão poderia iniciar-se com Afonso VI, mas a confirmação do seu uso como emblema da Coroa galaico-leonesa aparece com Afonso VII o Imperador, passando a ser o símbolo mais antigo usado até o momento e que representa este animal como simbologia parlante e como simbologia imperial.

Reconstrução do estandarte de Afonso VII o Imperador

Em início o leão era passante, não rampante, como se pode ver nas moedas e Signa Regum imperiais. Só são rampantes a partir do reinado dos filhos do Imperador Afonso VII, nomeadamente Fernando II e Afonso VIII (mal numerado como IX), ainda que só aparecidos nos escudos de representação gráfica, pois nos vexilos continua aparecendo passante, como nos mostra a bandeira real de Afonso VIII.

Vexilo portado por Afonso VIII de Galiza-Leão, guardado no Tombo A da Catedral de Santiago de Compostela.
 

A partir da rutura da unidade Galaico-Leonesa por causa da união com Castela, a simbologia leonesa também se divide e é a cidade e a província de Leão que conservam e adaptam a simbologia histórica da Coroa a sua realidade administrativa moderna e contemporânea com uma bandeira provincial roxa com o escudo no meio, onde figura o leão histórico, também em roxo sobre fundo branco. O leão está rampante e com a língua e as unhas em gules, vermelho. Aparece, igualmente, coroado.

Ao ser-lhe fanada a possibilidade à região leonesa de se constituir em região autónoma a partir da Transição e da Reinstauração Bourbónica e o seu Estado das autonomias, Leão, não teve a possibilidade de recuperar a sua simbologia histórica, nem mesmo tratar o tema da reconsideração da mesma.

Castela e Leão.

Posteriormente à união da Coroa Galaico-Leonesa com castela, a simbologia aparece fusionada e quartelada, onde o leão roxo sobre fundo branco, ou prata, se combina com o castelo em ouro sobre fundo em gules. O espaço vexilar obrigou em todo momento a dispor o leão em posição rampante, não passante, como era o tradicional, mas sem coroa, que só aparece a partir de Sancho II de Galiza-Leão e III de Castela (mal numerado como IV), filho de Afonso IX o sábio (mal numerado como X).

É o pendão histórico da Coroa de Castela conformada por duas entidades políticas nas que reconhecemos o que historicamente foi denominado pelas fontes medievais como Gallaecia, Yilliqiya ou durante a Plena e Baixa Idade Media de Galiza-Leão. A simbologia provem do século XIII, pois foi a partir de 1230 que as Coroas galaico-leonesa e castelhano-toledana foram unidas na pessoa de Fernando III, adotando consequentemente uma heráldica e uma vexilologia comuns.



terça-feira, 27 de julho de 2021

As Bandeiras ibéricas. Ceuta, Canárias e Cantábria. Capítulo 3

 


Ceuta: Em origem, o território ceutense pertenceu à Diocese da Hispânia romana com capital em Emérita Augusta, para posteriormente existirem dúvidas a respeito da sua pertença o reino visigodo de Toledo ou não. Há algum historiador que defende essa realidade pelo facto de ser nessa cidade onde se originaram as circunstâncias, basicamente lendárias da entrada dos muçulmanos na Península e ser desde aí que os barcos de Tárique e Muça enviaram as suas tropas para a conquista do que posteriormente foi denominado Al-Andalus.

Séculos mais tarde, já no século XV e no contexto do final da reconquista cristã da Península, ficando configurada a mesma com cinco entidades monárquicas, a saber: Portugal, Coroa de Castela, Navarra, Coroa de Aragão e Reino Nacérida de Granada, é que o Reino de Portugal, decide lançar-se às descobertas perante o obstáculo da Coroa Castelhana ocupar todo o seu território fronteiriço e precisar uma saída ao mar para viabilizar económica e politicamente o país. É assim que os portugueses começam a sua expansão ultramarina pelo norte de África, onde está situada a próspera cidade de Ceuta que junto com Gibraltar abrem as portas do Mediterrâneo e obstaculizam a entrada de possíveis piratas provenientes das regiões otomanas, árabes e do sul da Europa à vez que abrem caminhos comerciais com todos os países mediterrânicos. A cidade tinha tradição de pertença a diferentes poderes políticos peninsulares, pois pertenceu ao domínio andalusi durante muito tempo, para passar a depender da Taifa de Múrcia no século XIII e ao da Granada Nacérida desde 1305.

Os grupos economicamente dominantes em Portugal procuravam novas vias de expansão económica e roteiros comerciais que favorecessem o seu progresso à vez que a ideologia religiosa da época percebesse como um valor supremo a expansão do cristianismo por regiões onde não se praticava a obediência a Roma. A política obrigava, igualmente, a antecipar-se a qualquer ação castelhana que tentasse olhar para Ceuta com ambições territoriais de controlo do Estreito e da passagem ao Mediterrâneo. Assim, um contingente militar conformado por um exército de aproximadamente 20.000 soldados de origem português, galego, inglês e basco saiu de Lisboa em Julho de 1415 com destino a Ceuta que foi conquistada entre 21 e 22 de agosto desse ano sem muita resistência por parte dos problema. Como os barcos tinham saído de Lisboa, a bandeira que tinham consigo era a bandeira da capital portuguesa, que foi içada no alto das muralhas de Ceuta pelo lisboeta João Vasques de Almada que posteriormente ficaria como governador da cidade. Foi desde Ceuta que os portugueses progrediram na conquista dos territórios costeiros africanos e continuaram até as grandes descobertas do século XV e XVI.

Fez parte de Portugal, posteriormente, mesmo durante a época filipina, que foi administrada desde Lisboa. Durante os acontecimentos que precederam a revolta contra os Filipes em 1640, a cidade não proclamou como o seu soberano o Duque de Bragança, como o resto de Portugal. Foi em 1668 quando foi reconhecida a independência de Portugal por meio do Tratado de Lisboa, quando definitivamente Ceuta continuou sob a soberania castelhana, até hoje que é pertencente ao Reino da Espanha.

A bandeira ceutense está gironada de oito peças, alternando as suas cores em branco e preto, exatamente igual do que a bandeira de Lisboa, da que difere porque o vexilo da cidade africana contém no centro do seu campo o escudo das armas do Reino de Portugal tal e qual se usavam na época da conquista rematado com a coroa marquesal. É conhecida como Bandeira de São Vicente ou Bandeira de Lisboa por ser similar a da Capital de Portugal.

 
Bandeira de Ceuta

Canárias: Como colónia espanhola que foi desde a sua conquista pelos castelhanos finalizada em 1496, Canárias teve inicialmente uma bandeira que tem a sua origem no estandarte real criado pela administração conquistadora em 1561. Esta bandeira estava composta por três faixas verticais branca, azul e amarela com uma cruz latina em vermelho.  

Esta bandeira seria substituída ano mais tarde pela bandeira azul com cruz de Santo André similar a escocesa em 1845, criada igual do que a atual bandeira galega a partir das contrassenhas portuárias da Marina espanhola. Foi oficial desde 30 de julho de 1845 elaborada em Madrid e confirmada, igual do que a bandeira galega atual pelo Capitão General da Armada Ramón Romay. A sua feição estava feita sobre fundo azul com uma cruz de Santo André ou Cruz de Borgonha em branco. Só posteriormente, a partir de 1867, quando a província marítima das Canárias é dividida em duas províncias, nomeadamente, Santa Cruz de Tenerife e Gran Canária, é quando esta bandeira passa a representar unicamente a primeira delas e finalmente é em 1989 quando passa a identificar a ilha de Tenerife, deixando outras representações diferentes para cada uma das outras ilhas do arquipélago.

O tempo e a consciência nacional canária criam a necessidade de uma bandeira nacional, que é elaborada pela primeira vez em 1927 e confecionada pelo Ateneu de la Laguna. Seria adotada pelo PNC (Partido Nacionalista Canário) fundado em Cuba. Esta bandeira estaria feita sobre fundo azul, com sete estrelas brancas de cinco pontas, representativas, cada uma delas de cada uma das sete ilhas que conformam o arquipélago. 

Mas é a partir dos inícios dos anos 60 quando o Movimento de Canárias Livre decide recriar a bandeira tricolor, branco, azul e amarelo, fundindo as cores das bandeiras das províncias de Tenerife e Las Palmas, recordando a primeira bandeira de 1561. Inicialmente a faixa do meio, de cor azul tinha o duplo de largo do que as outras duas faixas.

Mas em 1964, o MPAIAC (Movimento pela Autodeterminação e Independência do Arquipélago Canário) reforma a bandeira, convertendo o azul obscuro da faixa central da bandeira do MCL em azul celeste e as três faixas do mesmo tamanho. No centro do corpo da bandeira, coincidente com a faixa azul celeste, sete estrelas verdes em círculo, que representam a cada uma das ilhas. A autoria, deve-se a Antonio Cubillo, líder do MPAIAC. A dia de hoje é uma bandeira assumida pela população canária como própria. Atualmente, a bandeira oficial do arquipélago inclui o escudo de Canárias.

 Finalmente, com a conquista da autonomia, a bandeira canária torna-se oficial, mas as cores sao ligeiramente diferentes, diferenciando-se especialmente a faixa centra, que fica com o azul obscuro dos inícios mais o escudo das ilhas no centro do corpo vexilar.

Parece um caso de colonialismo não resolvido por parte do nacionalismo canário pela adoção da bandeira da colonização, com a diferença de que a gestão política das ilhas tem estado sempre nas mãos dos crioulos descendentes de Europeu, pelo que parece que alguém poderia justificar a assunção da bandeira colonial por esse facto.

Cantábria: O caso cântabro é paralelo ao caso galego no que diz respeita da assunção da bandeira proveniente da Província Marítima de Santander como bandeira da Região autónoma. Apesar de que houvesse quem tenha defendido a anterioridade da origem dessa bandeira branca e vermelha disposta em duas faixas exatamente igual a de Polónia, acabou demonstrando-se que, como no caso da bandeira autonómica galega, a bandeira de Cantábria nasceu em 1845, para identificar os barcos matriculados no porto da sua capital. 

Mas neste caso também há uma diferença que dignifica o caso cântabro e diferencia do caso galego, pois existe uma outra bandeira que representa o estandarte militar conhecido pelos romanos como Cantabrum de historicidade bem documentada e popularizado na própria Cantábria durante os últimos anos, ate o ponto de ser reconhecido oficialmente como uma segunda bandeira pelo Boletim Oficial do Parlamento Cântabro em 7 de marco de 2016.

A cor da mesma e magenta ou fúcsia figurando no meio o lábaro cântabro que resulta duma decoração geométrica áurea, isto é, de cor ouro, com um circulo rodeado de quatro meias luas enfrentadas duas a duas.

Há ainda uma variante alternativa mais ancestral, elaborada com duas cenefas e uma circunferência rodeando as crescentes do lábaro, simulando o famoso lábaro de Barros. Nas partes superior e inferior do corpo da bandeira conjuntos de vinte cruzes em forma de X, simulando o cosido dum vexilo de coiro pré-romano.

Mas ainda há mais propostas vexilológicas dentro de Cantábria: A associação cantabrista ADIC (Associação de Defesa dos Interesses de Cantábria) autentica inteligentzia cantabrista e da qual saíram vários partidos políticos, fundada em 1976 pelo próprio Miguel Angel Revilla, atual Presidente de Cantábria propôs no seu dia uma bandeira diferente a "polaca" e esta era com três faixas verticais à moda francesa com as cores dispostos verde, grisalho e azul dispostos de esquerda a direita. Foi proposta durante os anos 70 mas foi preterida em favor da bandeira oficial atual.




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