Pitões encheu-se de festa
os dias 30 de maio, 31 de maio e 1 de junho. As III Jornadas das
letras galego-portuguesas trouxeram várias atividades à aldeia
geresiana que tinham a ver, como em edições passadas com o nosso
passado celto-galaico.
À entrada do salão de atos da Junta de Freguesia. Lúcia Jorge, presidenta da Junta em primeiro plano. Detrás José Barbosa e Ro Palomera.
Desta vez chegaram até
aqui palestrantes conhecedores do tema como João Paredes, geógrafo,
tradutor, jornalista e ex-secretário do IGEC (Instituto Galego de
Estudos Celtas). A sua palestra “A utilidade do celtismo.
Celticidade galaico no Século XXI” deu a conhecer aos ouvintes as
possibilidades económicas de fazermos parte dum património
histórico-cultural comum a outras terras atlânticas que a dia de
hoje são oficialmente celtas.
João Paredes apresentado por José Barbosa
Posteriormente os membros
do SAGA (Sociedade Antropológica Galega) Rafa Quintia e Miguel
Losada licenciado em Antropologia Social e Cultural, Licenciado em
Empresariais, músico tradicional e escritor, o primeiro, e
Licenciado em Direito, Diplomado em Gestão do meio-ambiente e
antropólogo social o segundo, falaram da importância da cultura e
da construção cultural no que diz respeito da identidade dos povos
e nomeadamente da região norte, oeste e noroeste da península
ibérica cujo passado pré-histórico e proto-histórico é comum.
Com muito humor e com exemplos muito claros salientaram uma realidade
que se transmitiu através dos séculos às nossas terras e que
sobrevive na cultura popular e nas tradições mas ancestrais.
Rafa Quintia no uso da palavra e Miguel Losada no Centro. Ambos os dous do SAGA (Sociedade Galega de Antropologia)
Maria Dovigo, filóloga,
escritora, académica correspondente da AGLP (Academia Galega da
Língua Portuguesa), diretiva da Associação Pró-AGLP, conselheira
do Conselho de Redação do Boletim da Academia, sócia do MIL
(Movimento Internacional Lusófono), coordenadora da seção galega
desse associação lusófona, colaboradora do Nova Águia, revista do
MIL falou sobre a importância do “Mito de Santo Amaro
desde a procura da Ilha paradisíaca e a Diáspora dos galegos de
Lisboa”. A sua exposição, envolvida em poesia, filosofia e
mitologia envolveu aos ouvintes numa narração oral especialmente impressionante. Ela veio desde Lisboa para nos acompanhar e desfrutarmos da sua palestra.
Desde Lisboa veio a nossa amiga Maria Dovigo para falar de viagens e Diásporas.
O domingo e desde Ponte Vedra abriu as portas
às palestras de Alberte Alonso músico, jornalista, escritor,
investigador, divulgador e antropólogo falou-nos da “Utilidade das
pedra-fitas no neolítico como observadores astronómicos” numa
palestra visual onde pudemos visualizar as imagens dos megalitos por
ele visitados e as utilidades que os homens epipaleolíticos,
neolíticos e das Idades dos Metais davam como medidores das estações
com fins agrários.
Alberte Alonso, falou das pedra-fitas e da sua utilidade em épocas pré e proto-históricas.
Infelizmente o DoutorAndré Pena Granha, Licenciado em Geografia e História e Doutor em
Arqueologia e História Antiga, Decano de Estudos do IGEC (Instituto
Galego de Estudos Célticos) não pôde assistir por razões
familiares mas enviou como interveniente ao Dr.. Hugo da Nóbrega
Dias, tradutor, designer gráfico e gestor de marketing para expor o
tema “Constituição política celta das galaicas trebas e toudos.
Etno-arqueologia institucional”.
Desde Aveiro chegou o nosso amigo Hugo da Nóbrega para expor o trabalho do nosso também caro André Pena Granha.
Posteriormente e como
palestra final o Licenciado em Direito, investigador, escritor,
conferencista e filósofo Pedro Teixeira da Mota falou sobre “As
fontes matriciais de Portugal” dando uma visão mística dos
elementos mitológicos ancestrais e constitutivos do ser português
Pedro Teixeira também veio desde Lisboa para nos acompanhar com a suapalestra sobre as fontes matriciais de Portugal.
O Sábado de tarde
assistimos igualmente à presentação do livro do membro do IGEC
Luís Magarinhos intitulado “O Retorno da Europa. Aspectos
comparados da cultura e identidade europeia” editado pela portuense
Print Cultural e com prefácio do escritor Carlos Quiroga
Luís Magarinhos na apresentaçao do livro .“O Retorno da Europa. Aspectos
comparados da cultura e identidade europeia” editado por
Print Cultural representada pela Isabel Rocha à nossa direita na foto.
Todas as palestras
contaram no seu final com perguntas e questões expostas pelo público
onde se desenvolveram os temas tratados. Para além da parte teórica
e também paralelamente se desenvolveram atividades de
reconstrucionismo céltico que visavam recriar visualmente atividades
quotidianas próprias do mundo galaico pré-romano.
Oinaikos Brakaron, grupo de reconstrucionaismo celto-galaico.
O grupo de
reconstrução Oinaikos Bracaron nos ensinou as vestimentas
celto-galaicas, jogos populares, atividades sociais, artesanais e a
atividade numa forja proto-histórica. Aliás Francisco Boluda,
representante do grupo, professor de desenho e ilustração
arqueológica, desenhador técnico arqueológico em diversas
escavações de diversos castros da Galiza e Portugal, desenhador de
vestuário, palestrante expus em imagens desenhadas por ele a
estética dos povoados do noroeste peninsular quer do ponto de vista
arquitetónico quer do ponto de vista das vestimentas, da panóplia
ou da vida quotidiana.
Francisco Boluda apresentando os seus desenhos de reconstrução do ambiente celto-galaico.
O Sábado a última hora
e na praça da Junta da Freguesia a decorreu atuação do Bruxo Queima. Na mesma actuação, o grupo “Sueño de Caliope” prévio recital da
poeta Natália Margalejo Concheiro, representaram o espetáculo
“Kéltia” com canções em galego-português, inglês e gaélico,
deram cor às Jornadas. As refeições foram igualmente atos de
irmanamento galaico-português onde a amizade e a comunicação
correu livre.
A organização correu de
parte do grupo DTS (Desperta do teu sono) juntamente com a Junta de
Freguesia de Pitões das Júnias nas figuras de Lúcia Jorge e
António Cascais e o apoio do Concelho de Montalegre a quem
agradecemos.
Atuaçao do Bruxo Queimam e o Padre Fontes na Casa Rural Nossa Senhora dos Remédios de Mourilhe
Igualmente queremos agradecer profundamente a
colaboração do Padre Fontes, sempre ao dispor das nossas Jornadas com uma ceia de recepção dos intervenientes e
à Taberna Terra Celta quem nos ofereceram o seu apoio e colaboração
indiscutível.
A Taberna Terra Celta no seu interior. Brindando por próximas Jornadas.
Foi
o fim de semana de 11 e 12 de maio de 2013 quando mais de 70 pessoas
nos reunimos em Pitões das Júnias para celebrarmos a irmandade e a
camaradagem entre gente de ambas as margens da raia maldita. O nosso
intuito era unir. Unir gente com a mesma língua, com a mesma vontade de
viver, com o mesmo sentir, com a mesma história, com a mesma forma de
fazer, de ser e de pensar, com os mesmos defeitos e as mesmas
virtudes.... E conseguimos os objetivos.
Quando
começamos a organizar este ano contavamos com que o sucesso fosse
importante, mas a realidade superou muito os nossos cálculos até o ponto
de vermos desbordar o copo e não termos um respiro. Teremos que pensar a
forma de conter a maré de consciências galaicas que têm um mesmo foco
de atenção.
Chegamos
à casa do Padre Fontes quando passava um bocado das 12:00 horas. Dizem
que os galegos nunca chegamos à hora....o mesmo se diz dos
portugueses....mas o que tenho claro é que, como disse Gandalf "um mago
(nesta caso um galego) nunca chega nem demorado nem cedo; chega justo
quando ele se propõe chegar". Ali vimos amigos velhos e vimos amigos
novos. Os velhos alimentaram a amizade velha e os novos criaram uma que
há durar no tempo. A comida sentados ao lado das pessoas deu as boas
vindas a toda a gente que curiosa estava para ver como discorria a
jornada.
Fizemos
poesia, rimos, falou o Padre Fontes e ficamos todos contentes. Dentro
do horário previsto partimos para Pitões onde nos aguardava mais gente
ainda que as cousas houve que prepará-las para os palestrantes poderem
fazer o seu trabalho. Solucionados os problemas de som começou falando Rafael Quintia. “Geografias
míticas da Galiza e espaços hierofânicos. Mitos, rito e crença” foi o
título e nele nos falou de como identificar espaços sagrados, lugares
ancestrais e ocultos por milénios de esquecimento ou por causa da sua
cristianização. Apresentou vários exemplos aos que hoje podemos recorrer
quer como elementos ancestrais conservados a dia de hoje apesar dos
séculos e do cristianismo e de sincretização, quer como crenças
populares e/ou mitológicas que ligam diretamente com o nosso passado
pagão e céltico. A palestra foi seguida por um publico interessado e
curioso.
Posteriormente o artista gráfico António Alijó continuou falando de “Árvores
e pedras mágicas do mundo celta.” Mais do que nada a palestra deu um
debate no que participaram várias pessoas do público interessadas no
tema. A base temática foi reafirmar a ideia de que há povos hoje que são
o que nós fomos no passado que rendem culto às divindades relacionadas
com a Terra, onde os xamãs ainda acodem às covas sagradas, com uma
perceção do mundo que nós tínhamos há séculos...e estudando esses povos
poderemos saber o que fomos. Estudando esses povos podemos apreender
quem realmente somos e reformar e regenerar a nossa sociedade doente.
A poesia também fluiu nessa tarde do dia 11, assim como um roteiro pela aldeia de Pitões.
A
ceia na casa da Margarida e do Bruno, na Taberna Terra Celta foi o
momento em que as cousas nos sobrepassaram, pois o número de gente fez
materialmente impossível uma reunião de todos os presentes num mesmo e
único local. Ali acodiram novamente o Padre Fontes e o Presidente da
Junta da Freguesia Sr. António Ferreirinha com quem desfrutamos da noite
que acabava com a representação sentida do nosso amigo o Bruxo Queimam
(em breve veremos imagens). Para alguns a noite continuou até o dia
seguinte que começava o segundo dia.
O
dia 12 foi igualmente completo do ponto de vista poético, científico e
artístico. As palestras começaram fora de hora devido ao costume galaico
de tomarmos as cousas com calma mas deu para completar o horário. Miguel
Losada com a sua palestra intitulada “Os que termam do céu. Imagens da
Sacralidade antiga ou quando o mundo era um templo.” Os arquétipos
universais da religião apareceram manifestados nas diferentes culturas
humanas e aplicados ao nosso mundo galaico e barrosão. Todos os povos
têm um mesmo padrão cultural manifestado de diversas formas. Somos uma
mesma humanidade com representações e estéticas diferentes. Símbolos
universais humanos que são manifestados segundo o contexto cultural.
Somos diversos dentro da unidade e essa diversidade devemos respeitá-la
para a humanidade estar saudável....
Finalmente falou Santiago Bernárdez sobre “Os
"Annála Ríoghachta Éireann" e as relações entre a Galiza e Éire na
Idade Moderna”. O tema dava para muito e o desconhecimento que há sobre o
tema é muito. Não temos muito conhecimento do relacionamento bélico
entre tropas galegas defendendo interesses irlandeses contra o inimigo
inglês em época dos Habsburgs. O paralelismo entre esses eventos
históricos com os eventos míticos narrados no Leabhar Ghabhála Érren são
evidentes e os vínculos posteriores às lutas irlandesas pela sua
libertação com as chegadas de refugiados reafirmam essa ideia.
Finalizadas
todas as palestras e com os momentos poéticos oportunos nos momentos de
descanso tivemos a imensa sorte de poder contar entre o público com a
conhecida escritora portuguesa Maria Clara Pinto Correia quem nos fez
uma avaliação da situação do mundo atual, a passagem do tempo e a sua
memória da sua passagem por Pitões. Acabada a sua intervenção fomos
comer ao restaurante pitonês "Dom Pedro" onde depois de partilharmos
lindas conversas entre as pessoas que nos conhecimos ali fizemos uma
entrega de prémios a algumas pessoas como agradecimento pelos seus
contributos às atividades do nosso grupo.
De
tarde o grupo visitou o mosteiro de Pitões para depois darmos por
finalizadas as II Jornadas das letras galego-portuguesas. Aguardamos
umas terceiras.
Agradecemos
imensamente à Junta da Freguesia de Pitões das Júnias nomeadamente a
António Ferreirinha, António Cascais e Lúzia Jorge...sem esquecemos a
Kátia Pereira, à Câmara Municipal de Montalegre, ao Bruxo Queimam pela sua
atuação generosa para nós, ao Padre Fontes pelo seu apoio, recebimento e
calor humano sempre manifestado para nós, aos palestrantes Rafa
Quintia, António Alijó, Miguel Losada, Santiago Bernárdez e Clara Pinto
Correia, também à Rádio Montalegre, a Margarida e Bruno da Taberna Terra
Celta, aos Restaurantes "O Preto" e o "Dom Pedro", aos poetas Nolim
Gonçalvez, Concha Rousia, Iolanda Aldrei, Henrique Dória, Alexandre
Brea, Rafael Quintia, gente do público que também recitou, cantou e
participou, ao público que nos acompanhou... e a todo o povo de Pitões.