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sábado, 18 de janeiro de 2025

Algumas perguntas sobre a origem etimológica de Rande, Randim, Rante...

Castelo da Piconha, tirado de "Galicia Maxica" https://www.galiciamaxica.eu/galicia/castelo-da-piconha-restos/#google_vignette


Por Katuro Barbosa

Consultando a etimologia que do topónimo Randim faz o nosso querido e saudoso Professor Higino Martins e determinando pelo observação que é um lugar fronteiriço dentro do Concelho de Calvos de Randím, na Límia, vemos que o académico da AGLP nos diz o seguinte:

Randim conterá *RANDĀ “fronteira”, mas a derivação não é clara. Talvez *RANDĒNĪ , genitivo do adjetivo * RANDĒNON “país da raia”. Não vejo a qual das raias que toca se refere.

Portanto, se o topónimo "Randim" proceder de "*RANDĒNĪ", genitivo do adjetivo céltico "*RANDĒNON", donde "*RANDA" significa "fronteira", será que quando já havia uma fronteira, ainda se falava uma língua céltica? Com certeza, o Professor Martins Estêvez não consegue localizar a qual das raias que toca se está a referir, mas acertamos a localizar, com a ajuda valiosa do nosso amigo facebookiano Galo Dourado, uma ligação que nos permite confirmar, que para o gaulês, a palavra RANDA significa “borda”, “limite”, a qual designava uma fronteira atestada em França por vários compostos dos quais o mais claro é Camminoranda "caminho que forma a fronteira", na origem dos topónimos franceses Chamarandes (Haute - Marne ) e Chamerandes (Ain, Saône-et-Loire). O famoso tipo toponímico Equoranda que significa “limite territorial”, cuja análise final é muito debatida, também faz parte desta série de compostos (ver Yvrande).

Para alguns autores, a origem céltica não está totalmente provada e ainda poderia apresentar uma feição que nos poderia fazer pensar numa origem germânica. Tal é assim, que Der Rand, em alemão atual, significa, justamente borda, margem, orla, segundo nos comenta o também amigo facebookiano e germanista Manuel Martins. Ele argumenta-nos, com muito acerto, que não seria de estranhar a coincidência das formas germânica e céltica pelas origens indo-europeias de ambas, ainda que também pudesse ser um celtismo em alemão.

Posteriormente, e dando-lhe voltas ao assunto do significado de *RANDA, lembro que há uma Ponte de Rande na Ria de Vigo, mais do que provável fronteira histórica entre a Bracarense e a Lucense, embora também, limite norte do Bispado de Tui e portanto do Território de Toronho, região pertencente a Portugal por várias vezes depois da sua independência.

 

Ponte de Rande sobre a Ria de Vigo

Mas, ainda localizamos um Rante no Concelho de São Cibrão das Vinhas, a uns 10 kms de Ourense, entre esta cidade e Alhariz, fronteira, também, histórica do possível limite norte do Condado da Límia, incluído, da mesma maneira do que Toronho, no primevo Reino de Portugal durante várias vezes depois da sua independência, mantendo-se a sua disputa durante vários séculos.

O curioso é que para procurarmos um limite ou fronteira política entre Alhariz e Ourense, acho que teremos que ir aos tempos imediatamente posteriores à independência de Portugal. Lembremos, que mesmo em tempos de Dona Teresa, mãe de Afonso Henriques, o território portucalense chegava à cidade de Ourense e provavelmente incluía a sua comarca até o Sil1. A professora Mercedes Durany (1996:125-126) apresenta-nos a prova de que existe um privilégio de 1122 em que Dona Teresa tem sob o seu controle o território onde se situa a cidade de Ourense, concedendo ao bispo Diogo Velasco e à sua Igreja o reguengo e infantado do termo de Ourense, autorizando a criação dum mercado mensal e garantindo segurança e proteção para todos os que lá forem. A qualificação de burgum que aparece neste documento para referir-se à cidade, utiliza-se nesta época para designar a nova aglomeração formada ao redor do antigo núcleo populacional. Este texto de 1122 confirma a categoria de cives para todos os moradores da cidade, quer dizer, o direito de cidadania que supõe viver como homens livres, garantindo, para eles, o direito a edificar, às terras de cultivo e à sua prosperidade.

Se Dona Teresa tinha a capacidade política de legislar de tal maneira sobre o espaço físico e humano da cidade das Burgas é que o território de Portugal, prévio à independência, incluiria o Bispado de Ourense. Tomemos conta, que em 1122, já existia o Condado de Portugal que tinha sido concedido ao seu marido, Henrique de Chalon, por Afonso VI em 1095, morto em 1112 e governado pela sua mulher durante a menoridade de Afonso Henriques, o seu filho, que em 1128 assumirá o poder após a batalha de São Mamede.

Se havia uma “rande” ou “randa” a uns 10 kms de Ourense em direção Alhariz, e assim nos consta que esta vila era a capital do Condado da Límia; sabendo que este Condado limião esteve em constante disputa entre os reis galegos e os reis portugueses e podendo haver nesse marco um limite temporário entre ambos os reinos, será que realmente, haveria uma língua céltica viva durante a Idade Média no espaço territorial da Galiza e do Portugal medievais que teria a suficiente força como para pôr-lhe o nome de “fronteira” a esse local? Se existir nesta altura essa língua ancestral, teria de ser uma língua popular, evidentemente não uma língua culta, sem dúvida ágrafa e sem hesitações, em vias de extinção mas essa suposta realidade linguística, em caso de esta existir, seria ocultada pela nossa língua romance em plena expansão e crescimento.

É tudo isto uma miragem ou podemos considerar isto como algo real? Deixo para o debate.

Bibliografia

Durany, Mercedes: Ourense na Idade Media. In VVAA: Historia de Ourense. Capitulo III. Via Láctea. Crunha. 1996

1 O Condado da Límia era a denominação do território duma antiga região do Reino da Galiza, entre os séculos X ao XII que ocupava as atuais comarcas ourensanas de Cela Nova, Alhariz, Maceda, a Límia de Ginzo, a Baixa Límia, mais todo o território da ribeira do rio Lím(i)a até a sua foz em Viana do Castelo. O facto de a vila da atual Maceda ser denominada historicamente Maceda da Límia, corrobora esta afirmação, ficando o topónimo reduzido a Maceda, quando a outra Maceda -Maceda de Trives-, passou a ser denominada pelo seu nome castelhanizado de Manzaneda, fazendo desnecessária a distinção entre ambas as Macedas pelo apelido comarcal de Límia e de Trives. A capital do Condado da Límia era Alhariz, sendo esta cidade onde se criavam os reis, onde tinham sediada a sua morada familiar e onde os tabeliões do reino assinavam como sendo “de Alhariz e da Terra da Límia”. O poder político e eclesiástico acumulado desta região, foi muito importante para o reino e para a família real.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Há parentesco etimológico entre Caurel, Quiroga e Carioca?

 

Por José Manuel Barbosa

A região ou comarca do Caurel está na parte mais oriental da atual Galiza, mas para podermos trabalhar uma etimologia teríamos que visualizar um mapa da velha Gallaecia ou mesmo da Kalláikia pré-romana. Aqui o Caurel fica, já não na parte mais oriental, mas na parte mais ocidental da Astúria histórica. Lembremos que o professor Higino Martins Estêvez procura à sua vez uma origem etimológica da palavra “Astúria” e deduz que significa “os do Leste”, “os do nascente”. Seria pois, o Caurel, a região mais ocidental da Astúria segundo os conceitos geográficos de época romana medidos desde a capital dos astures, Astúrica Augusta, atual Astorga que com facilidade podemos considerar ponto de referência. Lembremos que ao Norte astur ficariam os Bessicoi ou Péssicos entre o Návia e a atual Mieres aproximadamente, o qual já não poderia definir a este povo como do NW, mas nitidamente nortenho em relação à capital. O argumento vem reafirmado por serem os Álbiones da região eu-naviega pertencentes ao Oináikos Ártabron (Conventus Lucensis) e não ao Oináikos Ásturon (Conventus Asturicensis) apesar de ficar ao noroeste do centro astur.

Seguimos ao Professor Martins Estêvez que procura a etimologia da palavra “Caurel” na palavra latina Caurelli, genitivo de Caurellus, que à sua vez é um diminutivo da palavra Caurus. Esta palavra designa-nos o nome dum dos Ventos mitológicos greco-latinos. Assim seriam os principais: Bóreas (Gr). ou Aquilon (Lat.) o vento do Norte; Notos (Gr.) ou Austro (Lat) vento do Sul; Euros(Gr.) ou Vulturno (Lat.) o vento do Leste e Zéfiros (Gr.) ou Favónio (Lat.) o vento do Oeste. Seriam os ventos menores reconhecidos com o nome de Kaekias (Gr.) ou Caecius o vento do nordeste, Apeliotes (Gr.) ou Argestes (Lat.) o vento do sudeste; Libis (Gr.) ou Áfricus (Lat.) o vento do sudoeste e Skirion (Gr.) ou Caurus (Lat.) o vento do noroeste.

Esse  vento Caurus, o do noroeste, seria para os asturicaugustanos o proveniente da região caureliana da que estamos a falar.

Vamos profundar mais reparando no nome da Vila mais importante do Caurel:

A cidade principal da Comarca do Caurel chama-se Quiroga. Nome que designa uma planta que também recebe o nome de Queiró(s), Queiroa, Queiruga ou Queiroga na nossa língua...Queirua em asturiano ocidental.

O Priberam define-a como “Urze do mato” e “Flor dessa urze”. Para o Estraviz é uma “Planta da família das ericáceas, espontânea nos montes galegos” tendo como variantes a Queiruga de Cruz (Calluna Vulgaris), a Queiruga de três folhas (Erica Cinerea), a Queiruga de Umbela (Erica Umbellata) e a Queiruga Veluda (Erica Ciliaris).

Ocorre-se-nos que esse fito-topónimo pode ser a origem da atual vila caurelesa, como fito-topónimos são também Camarinhas, Carvalho, Souto, Aveleira, Azevedo, etc... e pensamos que poderia haver uma conexão entre o nome da comarca, o nome da vila de Quiroga, da planta e ainda dum conhecido gentílico brasileiro que é “Carioca”.

No que diz respeito do termo “Carioca”, tenhamos em conta o primeiro livro europeu que recolhe uma divisão territorial e administrativa: O  "Parochiale Suevum", também chamado “Divisio Theodomiri”, elaborado na segunda metade do século VI e dentro do contexto do Gallaeciense Regnum governado pela monarquia sueva. Aqui aparece o nome de “Carioca” como topónimo de uma paróquia da Sé Lucense. Diz assim:

VIII. 1. Ad Lucendum Luco civitas cum adjacentia sua quam tenent comites undecim, una cum:
2 Carioca
3 Sevios
4 Cavarcos, (Montenigro, Parraga, Latra, Azumara, Segios, Triavada, Pogonti, Salvaterra, Monterroso, Doria, Deza, Colea).

Esse “Carioca” é referido provavelmente à atual Quiroga mas vejamos como pode ser possível relacionar um “Caurus” latino com o “Carioca” do Parochiale Suevum e com a Quiroga atual:

Da palavra “Caurus” -que de nome dum vento poderia derivar em sinónimo de um ponto cardinal secundário: Noroeste- poderia vir o gentílico feminino latino-céltico KAUROAIKA ou CAUROAICA, com o significado de “originária do noroeste”. Leva a terminação genitiva céltica –AIKA (Kallaika>galega, Limaika>limega, Naviaika>naviega,...) que indica a procedência e destinar-se-ia para designar, quer a planta (mais comum no Courel do que do planalto Maragato), quer a gente dessa comarca, quer ambas, é dizer: “(planta) originária do noroeste” ou “(gente) originária do noroeste”. Continuamos a supor que a referência deveriam ser os centros de poder político-administrativo astur, pois de considerarmos uma referência centro-peninsular o gentílico poderia muito facilmente ser “Gallaeca”

De KAUROAIKA derivaria assim: KOUROEKA>KOIROIKA>KEIRIOKA donde sairiam as formas “Queiroga>Quiroga” e também o alto-medieval “Carioca”.

Paralelamente a esta pesquisa nossa, procuramos no dicionário etimológico da língua portuguesa de José Pedro Machado a forma “Carioca”  referida ao gentílico brasileiro e fala-nos duma origem tupi “kari’oka” que significa “casa do homem branco” composto de “kara’i” que significa branco e “oka” que significa casa, mas procuramos a etimologia de “Queiró”, “Queiroa”, “Queiruga”ou “Queiroga” e simplesmente achamos a forma “Queirós” indicando-nos uma “Etimologia Obscura”.

No caso de Kari’oka tupi não nos vem identificada qual é a casa do homem branco. Mesmo o dicionário consultado pergunta-se sobre isto, portanto achamos que essa etimologia poderia ser acertada, como poderia não sê-lo. A hipótese que aqui exponho de origem gentílica duma comarca galega ou duma planta originária dessa comarca, ou ambas, referenciando desde o centro astur poderia ser a ter em conta, sempre desde ampla ignorância de quem isto escreve sobre este tipo de temas (ainda que com ideias próprias) e desde a nossa humildade de linguistas vocacionais mas não profissionais.
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