Por José Manuel Barbosa
A região ou comarca do Caurel está na parte mais oriental da atual Galiza, mas para podermos trabalhar uma etimologia teríamos que visualizar um mapa da velha Gallaecia ou mesmo da Kalláikia pré-romana. Aqui o Caurel fica, já não na parte mais oriental, mas na parte mais ocidental da Astúria histórica. Lembremos que o professor Higino Martins Estêvez procura à sua vez uma origem etimológica da palavra “Astúria” e deduz que significa “os do Leste”, “os do nascente”. Seria pois, o Caurel, a região mais ocidental da Astúria segundo os conceitos geográficos de época romana medidos desde a capital dos astures, Astúrica Augusta, atual Astorga que com facilidade podemos considerar ponto de referência. Lembremos que ao Norte astur ficariam os Bessicoi ou Péssicos entre o Návia e a atual Mieres aproximadamente, o qual já não poderia definir a este povo como do NW, mas nitidamente nortenho em relação à capital. O argumento vem reafirmado por serem os Álbiones da região eu-naviega pertencentes ao Oináikos Ártabron (Conventus Lucensis) e não ao Oináikos Ásturon (Conventus Asturicensis) apesar de ficar ao noroeste do centro astur.
Seguimos ao Professor Martins Estêvez que procura a etimologia da palavra “Caurel” na palavra latina Caurelli, genitivo de Caurellus, que à sua vez é um diminutivo da palavra Caurus. Esta palavra designa-nos o nome dum dos Ventos mitológicos greco-latinos. Assim seriam os principais: Bóreas (Gr). ou Aquilon (Lat.) o vento do Norte; Notos (Gr.) ou Austro (Lat) vento do Sul; Euros(Gr.) ou Vulturno (Lat.) o vento do Leste e Zéfiros (Gr.) ou Favónio (Lat.) o vento do Oeste. Seriam os ventos menores reconhecidos com o nome de Kaekias (Gr.) ou Caecius o vento do nordeste, Apeliotes (Gr.) ou Argestes (Lat.) o vento do sudeste; Libis (Gr.) ou Áfricus (Lat.) o vento do sudoeste e Skirion (Gr.) ou Caurus (Lat.) o vento do noroeste.
Esse vento Caurus, o do noroeste, seria para os asturicaugustanos o proveniente da região caureliana da que estamos a falar.
Vamos profundar mais reparando no nome da Vila mais importante do Caurel:
A cidade principal da Comarca do Caurel chama-se Quiroga. Nome que designa uma planta que também recebe o nome de Queiró(s), Queiroa, Queiruga ou Queiroga na nossa língua...Queirua em asturiano ocidental.
O Priberam define-a como “Urze do mato” e “Flor dessa urze”. Para o Estraviz é uma “Planta da família das ericáceas, espontânea nos montes galegos” tendo como variantes a Queiruga de Cruz (Calluna Vulgaris), a Queiruga de três folhas (Erica Cinerea), a Queiruga de Umbela (Erica Umbellata) e a Queiruga Veluda (Erica Ciliaris).
Ocorre-se-nos que esse fito-topónimo pode ser a origem da atual vila caurelesa, como fito-topónimos são também Camarinhas, Carvalho, Souto, Aveleira, Azevedo, etc... e pensamos que poderia haver uma conexão entre o nome da comarca, o nome da vila de Quiroga, da planta e ainda dum conhecido gentílico brasileiro que é “Carioca”.
No que diz respeito do termo “Carioca”, tenhamos em conta o primeiro livro europeu que recolhe uma divisão territorial e administrativa: O "Parochiale Suevum", também chamado “Divisio Theodomiri”, elaborado na segunda metade do século VI e dentro do contexto do Gallaeciense Regnum governado pela monarquia sueva. Aqui aparece o nome de “Carioca” como topónimo de uma paróquia da Sé Lucense. Diz assim:
VIII. 1. Ad Lucendum Luco civitas cum adjacentia sua quam tenent comites undecim, una cum:
2 Carioca
3 Sevios
4 Cavarcos, (Montenigro, Parraga, Latra, Azumara, Segios, Triavada, Pogonti, Salvaterra, Monterroso, Doria, Deza, Colea).
Esse “Carioca” é referido provavelmente à atual Quiroga mas vejamos como pode ser possível relacionar um “Caurus” latino com o “Carioca” do Parochiale Suevum e com a Quiroga atual:
Da palavra “Caurus” -que de nome dum vento poderia derivar em sinónimo de um ponto cardinal secundário: Noroeste- poderia vir o gentílico feminino latino-céltico KAUROAIKA ou CAUROAICA, com o significado de “originária do noroeste”. Leva a terminação genitiva céltica –AIKA (Kallaika>galega, Limaika>limega, Naviaika>naviega,...) que indica a procedência e destinar-se-ia para designar, quer a planta (mais comum no Courel do que do planalto Maragato), quer a gente dessa comarca, quer ambas, é dizer: “(planta) originária do noroeste” ou “(gente) originária do noroeste”. Continuamos a supor que a referência deveriam ser os centros de poder político-administrativo astur, pois de considerarmos uma referência centro-peninsular o gentílico poderia muito facilmente ser “Gallaeca”
De KAUROAIKA derivaria assim: KOUROEKA>KOIROIKA>KEIRIOKA donde sairiam as formas “Queiroga>Quiroga” e também o alto-medieval “Carioca”.
Paralelamente a esta pesquisa nossa, procuramos no dicionário etimológico da língua portuguesa de José Pedro Machado a forma “Carioca” referida ao gentílico brasileiro e fala-nos duma origem tupi “kari’oka” que significa “casa do homem branco” composto de “kara’i” que significa branco e “oka” que significa casa, mas procuramos a etimologia de “Queiró”, “Queiroa”, “Queiruga”ou “Queiroga” e simplesmente achamos a forma “Queirós” indicando-nos uma “Etimologia Obscura”.
No caso de Kari’oka tupi não nos vem identificada qual é a casa do homem branco. Mesmo o dicionário consultado pergunta-se sobre isto, portanto achamos que essa etimologia poderia ser acertada, como poderia não sê-lo. A hipótese que aqui exponho de origem gentílica duma comarca galega ou duma planta originária dessa comarca, ou ambas, referenciando desde o centro astur poderia ser a ter em conta, sempre desde ampla ignorância de quem isto escreve sobre este tipo de temas (ainda que com ideias próprias) e desde a nossa humildade de linguistas vocacionais mas não profissionais.
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