Francesco Benozzo
Limiar para as II Actas das Jornadas
Galego-Portuguesas (2015-2017)
Tradução desde o inglês: Joam Paredes
Tradução desde o inglês: Joam Paredes
Na sua palestra plenária, dada quando recebeu
o Prémio Nobel de Literatura em 1995, o poeta irlandês Séamus Heaney falou da
existência de lugares pequenos que podem ser frequentemente considerados como
janelas insubstituíveis abertas ao nosso passado e ao nosso futuro. Há de facto
poucas aldeias e partes miúdas do território que por umha parte preservem
intimamente algo que pertence às raízes perdidas das culturas, que seica andam
desaparecidas, e que por outra nos deam a possibilidade de encontrarmos imagens
e visons autênticas e inesperadas de nós mesmos, das nossas vidas tal e como
poderiam ter sido e como ainda poderiam ser. Reconheço esta mesma
característica e senti precisamente esta consciência as duas vezes que fiquei
em Pitões das Júnias para as Jornadas Galego-Portuguesas.
Esta aldeia é um umbral único entre diferentes
mundos e diferentes percepçons da realidade, umha espécie de fronteira
flutuante entre as origens celtas pré-históricas da Europa e o zumbido
post-neolítico, moderno (e post-moderno) das cidades contemporâneas. Aqui um
pode decatar-se de que a Galiza e Norte de Portugal representam ainda a dia de hoje
umha paisagem cultural unitária, apesar do Tratado de Alcanizes que em 1297 deu
a Portugal o status de reino independente. Além disso, Pitões pode ser tomado
como umha hipóstase viva da unidade da cultura atlântica como um todo, das
Ilhas Shetland e possivelmente as Féroe até os vales do Tejo e Sado. Esta
coesom cultural, natural e antropológica, e os possíveis vieiros e regatos que
conduzem até a sua evidência, emerge muito bem dos artigos meritoriamente
recolhidos neste diverso e precioso volume.
Umha das
principais qualidades dos artigos aqui reunidos é representada polo fato de
que, como em todos os melhores exemplos de investigaçons notáveis, o método
rigoroso está aqui misturado com umha abordagem conscientemente nom neutral,
emocional e dalgumha forma política. Como resultado, este livro é ao mesmo
tempo um tesouro de dados científicos e um baú de visons imprevisíveis e de
imagens poderosas. Umha pesquisa séria, verossímil e nom seriada provavelmente
precisa de ser simultaneamente meticulosa e poética; deve ser capaz, em última
análise, de criar e expandir a imaginaçom. Nesse sentido, estas actas
constituem um exemplo excelente e possivelmente incomparável do que chamo
Etno-filologia: um experimento notável de cartografia cultural capaz de superar
supostos e falsas certezas que normalmente som aceitadas sem mais.
[ENGLISH]
Foreword for the II
Proceedings of the Galician-Portuguese Symposium (2015-2017)
Francesco Benozzo
The revealing gaze from
remote promontories
In his plenary lecture
given when he received the Nobel Prize in Literature in 1995, Irish poet Séamus
Heaney spoke about the existence of small places which can be often considered
as irreplaceable windows opened to our past and to our future. There are in
fact few villages and minor parts of the territory which, on the one hand,
deeply preserve something belonging to the lost roots of cultures which seem
now to be disappeared and, on the other hand, give us the possibility to find
out true and unexpected images and visions of ourselves, of our lives as they
could have been and could still be. I recognized this exact feature and felt
this precise awareness the two times that I stayed in Pitões das Júnias for the
Jornadas Galego-Portuguesas.
This village is a
unique threshold between different worlds and between different perceptions of
reality, a sort of fluctuating frontier between the Prehistoric Celtic origins
of Europe and the post-Neolithic, modern (and post-modern) buzzing of
contemporary societies. Here one can realize that Galicia and Northern Portugal
represent still nowadays a unitary cultural landscape, despite the Treaty of
Alcanices which in 1297 gave to Portugal the status of independent kingdom.
Moreover, Pitões can be assumed as a living hypostasis of the unity of the Atlantic
culture as a whole, from the Shetland and possibly the Faroe Islands to the
valleys of Tagus and Sado. This cultural, natural and anthropological cohesion,
and the possible paths and streams which bring to its evidence, very well
emerges in the papers praiseworthily collected in this precious miscellaneous
volume.
One of the foremost
qualities of the articles here gathered together is represented by the fact
that, as in all the best examples of remarkable investigations, the rigorous
method is blended with a consciously non-neutral, emotional and somehow
political approach. As a result, this book is at the same time a treasure trove
of scientific data and a chest of unpredicted visions and of powerful images. A
serious, believable and non-serial research probably needs to be simultaneously
meticulous and poetic. It must be able, ultimately, to create and expand
imagination. In this sense, these proceedings constitute an excellent, and
possibly unmatched, example of what I call Ethnophilology: an outstanding
experiment of cultural cartography able to overcome acquisitions and false
certainties which are usually taken for granted.