Mostrar mensagens com a etiqueta Francesco Benozzo. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Francesco Benozzo. Mostrar todas as mensagens
sexta-feira, 13 de julho de 2018
Os celtas atlânticos da Galiza e o mito da Atlântida: evidência científica para uma velha lenda?
Francesco Benozzo esteve connosco o passado 30 de junho e com ele o seu magistério. Eis uma entrada no blogu amigo da IDG (Irmandade Druídica Galaica) organizadora do evento onde se pode ouvir a palestra do professor.
A palestra foi apresentada pelo nosso amigo e colaborar Joam Paredes a quem lhe agradecemos tal iniciativa. Obrigado
Palestra do Professor Francesco Benozzo:
IDG
Etiquetas:
30/6/2018,
Francesco Benozzo,
Irmandade Druídica Galaica
sábado, 23 de junho de 2018
O olhar revelador de promontórios remotos
Francesco Benozzo
Limiar para as II Actas das Jornadas
Galego-Portuguesas (2015-2017)
Tradução desde o inglês: Joam Paredes
Tradução desde o inglês: Joam Paredes
Na sua palestra plenária, dada quando recebeu
o Prémio Nobel de Literatura em 1995, o poeta irlandês Séamus Heaney falou da
existência de lugares pequenos que podem ser frequentemente considerados como
janelas insubstituíveis abertas ao nosso passado e ao nosso futuro. Há de facto
poucas aldeias e partes miúdas do território que por umha parte preservem
intimamente algo que pertence às raízes perdidas das culturas, que seica andam
desaparecidas, e que por outra nos deam a possibilidade de encontrarmos imagens
e visons autênticas e inesperadas de nós mesmos, das nossas vidas tal e como
poderiam ter sido e como ainda poderiam ser. Reconheço esta mesma
característica e senti precisamente esta consciência as duas vezes que fiquei
em Pitões das Júnias para as Jornadas Galego-Portuguesas.
Esta aldeia é um umbral único entre diferentes
mundos e diferentes percepçons da realidade, umha espécie de fronteira
flutuante entre as origens celtas pré-históricas da Europa e o zumbido
post-neolítico, moderno (e post-moderno) das cidades contemporâneas. Aqui um
pode decatar-se de que a Galiza e Norte de Portugal representam ainda a dia de hoje
umha paisagem cultural unitária, apesar do Tratado de Alcanizes que em 1297 deu
a Portugal o status de reino independente. Além disso, Pitões pode ser tomado
como umha hipóstase viva da unidade da cultura atlântica como um todo, das
Ilhas Shetland e possivelmente as Féroe até os vales do Tejo e Sado. Esta
coesom cultural, natural e antropológica, e os possíveis vieiros e regatos que
conduzem até a sua evidência, emerge muito bem dos artigos meritoriamente
recolhidos neste diverso e precioso volume.
Umha das
principais qualidades dos artigos aqui reunidos é representada polo fato de
que, como em todos os melhores exemplos de investigaçons notáveis, o método
rigoroso está aqui misturado com umha abordagem conscientemente nom neutral,
emocional e dalgumha forma política. Como resultado, este livro é ao mesmo
tempo um tesouro de dados científicos e um baú de visons imprevisíveis e de
imagens poderosas. Umha pesquisa séria, verossímil e nom seriada provavelmente
precisa de ser simultaneamente meticulosa e poética; deve ser capaz, em última
análise, de criar e expandir a imaginaçom. Nesse sentido, estas actas
constituem um exemplo excelente e possivelmente incomparável do que chamo
Etno-filologia: um experimento notável de cartografia cultural capaz de superar
supostos e falsas certezas que normalmente som aceitadas sem mais.
[ENGLISH]
Foreword for the II
Proceedings of the Galician-Portuguese Symposium (2015-2017)
Francesco Benozzo
The revealing gaze from
remote promontories
In his plenary lecture
given when he received the Nobel Prize in Literature in 1995, Irish poet Séamus
Heaney spoke about the existence of small places which can be often considered
as irreplaceable windows opened to our past and to our future. There are in
fact few villages and minor parts of the territory which, on the one hand,
deeply preserve something belonging to the lost roots of cultures which seem
now to be disappeared and, on the other hand, give us the possibility to find
out true and unexpected images and visions of ourselves, of our lives as they
could have been and could still be. I recognized this exact feature and felt
this precise awareness the two times that I stayed in Pitões das Júnias for the
Jornadas Galego-Portuguesas.
This village is a
unique threshold between different worlds and between different perceptions of
reality, a sort of fluctuating frontier between the Prehistoric Celtic origins
of Europe and the post-Neolithic, modern (and post-modern) buzzing of
contemporary societies. Here one can realize that Galicia and Northern Portugal
represent still nowadays a unitary cultural landscape, despite the Treaty of
Alcanices which in 1297 gave to Portugal the status of independent kingdom.
Moreover, Pitões can be assumed as a living hypostasis of the unity of the Atlantic
culture as a whole, from the Shetland and possibly the Faroe Islands to the
valleys of Tagus and Sado. This cultural, natural and anthropological cohesion,
and the possible paths and streams which bring to its evidence, very well
emerges in the papers praiseworthily collected in this precious miscellaneous
volume.
One of the foremost
qualities of the articles here gathered together is represented by the fact
that, as in all the best examples of remarkable investigations, the rigorous
method is blended with a consciously non-neutral, emotional and somehow
political approach. As a result, this book is at the same time a treasure trove
of scientific data and a chest of unpredicted visions and of powerful images. A
serious, believable and non-serial research probably needs to be simultaneously
meticulous and poetic. It must be able, ultimately, to create and expand
imagination. In this sense, these proceedings constitute an excellent, and
possibly unmatched, example of what I call Ethnophilology: an outstanding
experiment of cultural cartography able to overcome acquisitions and false
certainties which are usually taken for granted.
segunda-feira, 11 de abril de 2016
Relatório das V Jornadas das Letras Galego-Portuguesas de Pitoes
![]() |
O autor do relatório ao lado do Poeta Agostinho Magalhães, autor da letra da canção "Vals Galaico" interpretada por Carmen Penim com música de Maurizzio Polsinelli (2naFronteira). |
Os passados dias 2 e 3 de abril, decorreram na vila de Pitões das Júnias (Montalegre-Portugal) as V Jornadas das Letras Galego-Portuguesas com ampla participação de público apesar da adversa climatologia.
Uma representação das
entidades organizadoras abriram o evento por volta das 10:00 horas
da manha para dar passagem a dous painéis a celebrar durante o
sábado no que participaram primeiramente, Marcial Tenreiro,
com o tema de etno-arqueologia intitulado “A lança na água
e a espada na pedra” no que se falou sobre o costume entre
povos célticos e germânicos dos rituais com finalidade jurídica,
militar, da posse da terra, de conquista e de entronização
aplicados e registados em âmbito galego-português.
A seguir, decorreu a
palestra de Marcos Celeiro intitulada “A simbologia da
cruz céltica e a sua evolução”. Nela o conferencista deu
a conhecer as origens religiosas e o significado da simbologia
céltica assim como a apropriação, por parte do cristianismo dessa
iconografia adaptada a épocas posteriores. Deu a conhecer aspectos
interpretativos da arte céltica e a sua presença no espaço
galego-português quer em restos pré-romanos, quer em iconografia
medieval, cristã e mesmo atual.
Posteriormente a ambas
exposições abriu-se um espaço de meia-hora para debate no que uma
importante parte do público participou com interessantes perguntas
sobre o tema.
O painel foi apresentado
pela Professora Doutora Maria Dovigo moderando o debate e os tempos
das intervenções, finalizadas as quais, tanto público como
conferencistas participaram de uma comida no restaurante pitonense
“A Casa do Preto”.
O segundo painel, da
tarde do sábado foi igualmente apresentado por Maria Dovigo.
Contou com a excepcional presença do Professor Doutor FrancescoBenozzo, da Universidade de Bologna foi candidato a Prémio Nobel
de Literatura e integrante do grupo de investigação científica
“Continuitas”
que juntamente com Mário Alinei elaboraram o novo paradigma
da “Teoria da Continuidade Paleolítica” que a dia de hoje
ocupa a investigação de várias universidades europeias de
prestígio e que situa a etno-génese dos celtas no ocidente e norte
da península ibérica. O Professor Benozzo achegou informação
sobre a possível relação entre o topónimo “Galiza”, e o seu
etnónimo com o vínculo às pedras e ao megalitismo fazendo
relacionar este último ao espaço de ocupação dos celtas em épocas
pré e proto-históricas, épocas às que devemos ir para
visualizarmos o contexto da sua etno-génese.
Posteriormente, o debate,
muito animado e especialmente enriquecedor ofereceu mais elementos
interessantes sempre dentro do contexto de uma Galiza e um Portugal
centrais dentro da celticidade atlântica embora as circunstâncias
históricas tenham feito desse centro originário uma periferia que
assinalou como vantagem para a abordagem do tema da identidade longe
de ostentações etno-centricas.
Por volta das 18:30 e
depois da atividade científica veio a parte artística da mão do
duo 2naFronteira que interpretaram várias canções do seu repertório com a novidade
do tema intitulado “Vals Galaico” com letra do poeta portuense
Agostinho Magalhães com música de Maurizzio Polsinelli e interpretação de galega originária do Couto Misto CarmenPenim.
Chegada a noite celebrou-se mais uma ceia-convívio ao lado da lareira do restaurante “A Casa do Preto” . Depois da refeição, os Gaiteiros de Pitões e as leituras de contos populares da região, dentro da sala de conferências da Junta de Freguesia encerraram a sessão do sábado.
Chegada a noite celebrou-se mais uma ceia-convívio ao lado da lareira do restaurante “A Casa do Preto” . Depois da refeição, os Gaiteiros de Pitões e as leituras de contos populares da região, dentro da sala de conferências da Junta de Freguesia encerraram a sessão do sábado.
O domingo amanheceu com
uma formosa nevada na montanha geresiana que a imediata saída do
morno sol desfez. Com esse lindo contexto estético abriu-se a sessão
da manha do segundo dia da mão da Presidente da Junta de Freguesia
Lúcia Jorge e da académica e Vice-Secretária da AcademiaGalega da Língua Portuguesa Concha Rousia.
Abriu o dia a palestra do
Professor Graciano Barros tocando o tema da “Ourivesaria
e arte célticas no Século XXI no Noroeste Peninsular”. A
exposição cheia de imagens de peças ornamentais de épocas
diferentes, relacionou as técnicas de elaboração pré-romanas com
as atuais, ligando temáticas, materiais e motivos artísticos do
passado com o presente.
A seguir, o Professor
Doutor em Direito Sr. José Domingues falou sobre “A
raiz céltica dos Ordálios medievais” dando um ponto de
vista desde o conhecimento da legalidade portuguesa e a sua evolução
através do tempo. Igualmente a anteriores painéis, o debate ajudou
a ampliar informação, a relacionar novos elementos não tratados
anteriormente e ajudou ao surgimento de ideias no que diz respeita da
investigação de ideias relacionadas com a investigação sobre o
tema do ordenamento jurídico celta e a sua evolução e deriva nos
direitos galego e português.
Uma vez acabadas as
exposições, levou-se a cabo a elaboração de umas conclusões que
acompanharão as atas que desejamos ver publicadas proximamente.
O ato de encerramento
veio uma vez expostas publicamente as propostas de todos os
participantes no evento e recolhidas pelas diretoras dos três
paineis com o fim de serem incluídas nas atas uma vez publicadas.
Acabado o ato, celebrou-se uma comida no restaurante “A Casa do
Preto”.
Por motivos
climatológicos a visita ao Eco-Museu, ao Mosteiro e à Cascata foram
finalmente suspendidos. A neve e o frio não permitiram fazer a
excursão programada, tornando perigoso o trânsito pelos arredores
da vila quer a pé, quer de carro.
O resultado final, para
nós, foi muito satisfatório, tanto do ponto de vista da qualidade
das palestras, como apesar do clima de assistência do público.
Aguardamos ao ano próximo para organizar uma nova edição das
Jornadas das Letras Galego-Portuguesas, desta vez as VI, que já
estão na nossa mente. As entidades organizadoras, aguardamos mais
ajudas e menos obstáculos para fazer deste tema uma grande
oportunidade tanto para galegos como para portugueses.
quinta-feira, 17 de março de 2016
Programa das V Jornadas das Letras Galego-Portuguesas de Pitões
- 10:00: Apresentação em Pitões das V Jornadas das Letras galego-portuguesas.
- 10:30: 1º Palestra: Marcial Tenreiro: A lança na água e a espada na pedra. Rito e Território entre germanos e celtas
- 11:15: 2ª Palestra: Marcos Celeiro: A Simbologia da cruz céltica e a sua evolução.
- 12:00: Debate
- 14:00: Comida
1º Painel: Modera: Maria Dovigo
- 16:30: 3ª Palestra: Francesco Benozzo (Trad. Joam Paredes): Uma paisagem Atlântica pré-histórica. Etno-génese e etno-filologia paleio-mesolítica das tradições galego-portuguesas.
- 17:15: Debate
- 18:30: Actuação de 2naFronteira e convidados.
- 20:00: Ceia-Churrascada popular.
- 22:00: Programa Erasmus: “Adventure of Reading”, Folião e Gaiteiros de Pitões
2º Painel: Modera: Maria Dovigo
- 3º Painel: Modera: Lúcia Jorge (Presidente da Junta de
Freguesia)
- 10:00: 4ª Palestra: Graciano Barros: Ourivesaria e arte céltica no S. XXI no NW peninsular.
- 10:45: 5ª Palestra: José Domingues. A raiz celta dos Ordálios medievais.
- 11:15: Debate
- 12:00: Conclusões (Maria Dovigo e Lúcia Jorge)
- 13:30: Encerramento das Jornadas
- 14:00: Comida
- 16:00 Visita ao Eco-Museu
- 16:45
Visita ao Mosteiro de Pitões.
- 17:30 Visita à Cascata
domingo, 13 de março de 2016
Entrevista a Francesco Benozzo que vai estar connosco nas V Jornadas.
[Versão
galego-português – English version below]
Entrevista
com o Prof. Francesco Benozzo:
“A
Galiza
e o Norte de Portugal são a origem da celticidade europeia”
(por
Xoán
M. Paredes)
O
Professor Francesco Benozzo (Módena, Itália, 1969) é um dos
grandes nomes por trás do Paradigma
de Continuidade Paleolítica,
afirmando que existe uma continuidade clara nas origens e
desenvolvimento dos povos europeus, origens que podem ser colocadas
ainda mais atrás no tempo do que normalmente é considerado. Esta
mudança no compreensão da arqueologia, pré-história e linguística
europeia é de enorme relevância para a Galiza e (Norte de)
Portugal, pois situa este território no centro da génese da chamada
Cultura Celta, entre outros aspectos.
Com
dois doutoramentos em linguística e filologia pelas universidades da
Bolonha (Itália) e Aberystwyth
(País de Gales), na actualidade lecciona na nomeada universidade
italiana. Contudo, Francesco Benozzo não está limitado pelo
formalismo que normalmente acompanha a vida académica. Ele também é
um reconhecido poeta e harpista, com um grande número de obra e
música editada, o que fez com que o seu nome fora proposto como
Prémio Nobel de Literatura.
Teremos
a fortuna de recebê-lo este próximo Abril (dias 2 e 3) na quinta
edição das Jornadas
das Letras Galego-Portuguesas
(Pitões das Júnias, Montalegre, na “raia” galego-portuguesa),
onde debaterá sobre estes e outros temas, como vai indicado na
entrevista a seguir.
-
Qual foi a primeira coisa que chamou a sua atenção sobre a Galiza e
Norte de Portugal? Foi algo puramente académico ou houve algum outro
factor motivando que se centrara em nós?
Desde
que era criança o meu instinto sugeria que o significado original
das coisas reside nas áreas e localizações periféricas. Com isto
não quero dizer “periférico” simplesmente num sentido
geográfico mas, principalmente, num sentido poético. Esta é uma
das razões pelas quais fui viver ao País de Gales (e não
Inglaterra) durante uns anos, e também a razão pela qual deixei a
minha cidade natal de Módena, no norte da Itália, e decidi viver
nas montanhas. Também acredito que, como académicos, devemos
estudar e concentrarmos-nos em tradições “periféricas”:
tradições populares, dialectos, textos orais, culturas das pessoas
marginais e assim por diante, porque o que agora é percebido como
“marginal” e “periférico” foi , em muitos casos, o centro
original do que na actualidade percebemos como centro.
A
Galiza e o Norte de Portugal sempre foram parte desta minha
“topografia poética” e da minha concepção poética, começando
pelas suas lendas e tradições e grandes poetas como os trovadores
medievais, até mesmo Rosalia de Castro ou Eduardo Pondal.
-
Considera
que o noroeste ibérico pode ser considerado a origem da
“celticidade” na Península desde um ponte de vista linguístico?
Não
só. Penso que pode ser considerado a origem da celticidade em toda a
Europa.
-
Qual
é a sua opinião sobre a relação entre o mundo céltico e
Tartesso, como postula o Prof. Koch?
John [Koch]
tem produzido um trabalho extraordinário sobre isso na última
década. Não vejo quaisquer razões linguísticas que puderam negar
essa conexão postulada. O problema com a teoria de Koch é que
auto-limita-se à Idade do Bronze Tardio, o qual contradiz a sua
ideia de “Celtas do Oeste”. Em vez disso, se falarmos de
etnogénese, devemos ir além das restrições das fontes escritas e
termos a habilidade para conectarmos-las com outro tipo de fontes
como assim as lendas, tradições, genética, etno-textos ou léxico
dialectal. Em consequência, poderemos falar de “Celtas
Paleolíticos” nesta área. Dentro deste quadro, Tartesso pode ser
visto como uma das muitas relíquias escritas “recentes” de um
fenómeno muito mais antigo.
-
Por que acha que há este esforço renovado em algumas partes da
Europa para desacreditar o termo "celta", ou mesmo até a
existência de uma cultura celta?
Por
três razões principais. Em primeiro lugar, sendo eu mesmo um
anarquista, diria que há uma tendência inata por parte dos que
estão no poder de excluírem a diversidade e, acima de tudo,
“centralizarem” qualquer tipo de estratégia ligada ao seu poder.
Assim, como sabemos, desde a sua proto-história os celtas sempre
foram os “perdedores” em termos geopolíticos e foram excluídos
logo de qualquer jogo de poder das elites europeias.
Em
segundo lugar, podemos encontrar um desconforto geral com a
celticidade se a compararmos às culturas oficiais padronizadas que,
de certa forma, governam o mundo. Noutras palavras, admitir que a
inquietante, multiforme, colorida, rural, estratificada e arcaica
cultura celta possa ser parte de nós é, em muitos casos, difícil
de aceitar para as pessoas criadas com a certeza e o mito conformista
da estabilidade e um conhecimento superficial da história europeia.
Por último,
e em relação às razões mencionadas acima, a cultura celta
representa, em termos psicanalíticos, o subconsciente da Europa, o
que provoca uma contínua tentativa para reprimi-lo e suprimi-lo.
-
Como reconhecido investigador, mas também como poeta e músico, há
algum tipo de conexão entre o seu trabalho académico e o seu
trabalho artístico? Ou tenta manter ambos mundos separados?
Espero que
estes três aspectos convivam, como acontece com diferentes elementos
duma mesma paisagem. A minha expectativa é provavelmente parecer
como um músico que estuda filologia, um poeta que toca harpa e um
filólogo que compõe poemas.
-
Depois de todas as suas viagens e investigações, como resumiria o
“carácter céltico”? Por exemplo, quando visita a Galiza-Norte
de Portugual, que sente em conexão com outros territórios célticos?
Primeiro
de tudo, há um sentimento especial com o mar, que é diferente do
que tenho observado noutras comunidades, tais como as das Ilhas Féroe
ou do Mediterrâneo. Nas terras celtas este sentimento está ligado a
uma atitude "lendária" e melancólica na percepção da
paisagem marinha, e na capacidade de conectar lugares com histórias.
Há
também uma clara, inata, não previsível, percepção musical do
mundo. Além disso, existe a consciência do valor arcaico e
civilizador de coisas que foram esquecidas noutros lugares, como
partilhar umas bebidas, alimentos e histórias.
Nas
V
Jornadas das Letras Galego-Portuguesas,
o Prof. Benozzo participará com a palestra intitulada “Uma
paisagem atlântica pré-histórica. Etnogénese e etno-filologia
paleo-mesolítica das tradições galegas e portuguesas”.
O
evento é aberto e de assistência livre e gratuita, e a intervenção
do Prof. Benozzo será em inglês com tradução ao português.