Por:
José Manuel Barbosa
Em
1607 foram criadas as Províncias Marítimas da Monarquia Hispânica
por Real Cédula de Filipe III de Habsburg, as quais ainda existem
atualmente dependentes do Mistério de Fomento mas baixo cujo governo
esta um Capitão dependente, como funcionário, da Direção Geral da
Marina Mercante espanhola.
Cada
uma destas províncias tem uma, chamada, Contrassenha, quer dizer,
uma bandeira com a que se reconhece a Província Marítima em
questão. Estas bandeiras ou Contrassenhas foram criadas por Real
Ordem de Isabel II o 30 de Julho de 1845 assinada pelo Capital Geral
da Armada Espanhola e Ministro de Marina, Ramon Romay y Jimenez de
Cisneros, nascido em Betanços e publicada pela Direção Geral da
Armada em 4 de Agosto de 1845 na Gazeta de Madrid, antecessora do
atual BOE. Nesse texto dizia que ao lado do "Pabellon
Nacional" deveria
figurar a bandeira ou Contrassenha indicativa da província marítima
espanhola a que pertencia. Estas bandeiras seguiram o código de
sinais marítimas internacional, aleatório e SEM QUALQUER
SIGNIFICADO TERRITORIAL, segundo o texto originário, usando quatro
cores: Vermelho, Azul,
Amarelo e Branco. Esse código foi elaborado pelo na altura, Tenente
da Armada Jose de Mazarredo Salazar em 1791.
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Bandeira Galega do Graal atualizada |
Se
repararmos na inicial bandeira da Crunha veremos que esta é uma
bandeira branca com uma aspa azul. Essa foi a bandeira ate 1891, ano
em que se viu obrigado o governo espanhol a modificar a Contrassenha
da Crunha por causa do pedido do governo russo ao governo de Isabel
II, que considerava que a insígnia da Crunha era um decalque da
bandeira da Marina Russa com o consequente incomodo que poderia ter
para ambos Estados uma suposta confusão simbolológica.
O governo espanhol aceitou entendendo que os barcos espanhóis
provenientes do porto da Crunha e que navegavam por todos os mares
onde tinha possessões territoriais (América, Filipinas, o
Pacífico…) poderia
ser confundidos com barcos russos, o que poderia ser um perigo
potencial para o Reino da Espanha já que o Império Russo estava
implicado em guerras tanto na Europa contra Turquia, os Balcãs, o
Cáucaso (Mar Negro, Mediterrâneo, Atlântico) quanto na Ásia
(Índico e Pacífico)
com conflitos como o de Crimeia ou contra a China, ou o Japão no
Estremo Oriente num projeto de expansao territorial que lhe desse
saída aos mares cálidos.
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Contrassenha da Província da Crunha a partir de 1845 |
Entre
1882 e 1895, chega ao Ministério de Assuntos Estrangeiros de Rússia
o Diplomata Nicolai Girs que leva a cabo ações de concórdia e paz
com as diferentes potencias internacionais. Com ele é que se faz o
pedido de mudança de bandeira do porto da Crunha ao governo espanhol
e é por meio do Decreto de 22 de Junho de 1891 publicado na Gazeta
de Madrid (antecessor do BOE) quando o governo espanhol decide tirar
uma das duas faixas dessa bandeira ou Contrassenha da Crunha. O
texto diz:
"...para
evitar las dificultades que puedan suscitarse, confundiendo la
bandera del imperio ruso con la de la provincia marítima de La
Coruña, se modifique esta última suprimiéndole una de las aspas,
quedando por tanto reducida a una bandera blanca con faja diagonal
azul (...) para evitar la confusión que se pueda dar entre la enseña
del Imperio de Rusia y la de la provincia marítima de La Coruña".
A
partir desse momento é que os galegos emigrados em América
começaram a reconhecer os barcos provenientes do porto da Crunha
pela bandeira branca com uma única faixa azul e foi assim que
finalmente os galeguistas adotaram essa bandeira como a sua bandeira
a pesar de que Manuel Murguia tivesse insistido na feição real da
bandeira galega histórica.
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Contrassenha da Crunha a partir de 1891 |
Chegados
ao século XXI e a um grau de consciência nacional determinada,
caberia pensar que uma bandeira criada por um governo de Madrid e
reformada também pelo mesmo poder madrileno por pedido duma potencia
estrangeira e no que os galegos não tiveram o menor protagonismo na
sua criação, poderia ser aceite pelos galegos amantes da sua Nação?
Caberia aceitar uma simbologia vexilológica
surgida dum contexto político, 1845, em que a Galiza era
identificada como uma "Colónia
da Corte" em
palavras de Antolim Faraldo uns meses depois, nas vésperas da
Revolução de Abril de 1846? Caberia aceitar uma realidade simbólica
surgida durante ao Reinado de Isabel II e por obra e graça do seu
governo durante o processo de criacao do, até
o momento inexistente Reino da Espanha, uma vez eliminado o
histórico, primordial, veterano e matricial Reino da Galiza? Caberia
aceitar um pavilhão para a Galiza que favorecia, afirmava e
reafirmava uma Espanha de vocação nacional castelhana como
Estado-Nação, negadora das realidades nacionais peninsulares, entre
elas a Galiza? Caberia aceitar uma representação emblemática da
Galiza nascida quando se começava a elaborar uma Historia da Espanha
que hoje tanto criticamos e negadora do protagonismo da Galiza na
Historia da Península e da Europa? Caberia assumir uma bandeira
galega proveniente da época em que se começa a desligar a
identidade da língua dos galegos ao resto do domínio
galego-português?
Tínhamos
bandeira e esta foi ilegalizada quando se ilegalizou o Reino da
Galiza…. Agora há uma bandeira criada por quem ilegalizou a nossa
bandeira histórica e originária
do nosso Reino. Quantas das bandeiras "autonómicas"
foram criadas pelo governo de Madrid? Quantas regiões ou nações
do Estado conservam as suas bandeiras históricas? Pense-se e
diga-se.
Outras Contrassenhas dos portos galegos:
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Contrassenha de Ferrol |
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Contrassenha de Lugo-Burela |
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Contrassenha de Vigo |
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Contrassenha de Vila Garcia de Arouça |
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