Não conhecemos a possível representação vexilológica utilizada em época do Conde Teodomiro de Aurariola, que resistiu e pactou com os muçulmanos no século VIII e que ocupava aproximadamente a região que hoje poderíamos identificar com o histórico reino de Múrcia, mas sabemos que durante esse século, o território da Espanha foi unificado ao redor da capital cordovesa centralizando o poder andaluzi e organizando-se num emirado dependente de Damasco. Sabemos, no entanto, que a rutura de Al-Andalus foi real a partir do primeiro terço do século XI, após a fitna que levou à independência das Taifas. Nestes momentos iniciais so conhecemos um vexilo que sobre fundo branco é cruzado por uma faixa azul celeste bordeada em verde, talvez como representação do rio Segura, que era o que dava unidade e identidade à bacia do mesmo, quer dependente da Taifa de Valência, quer independente.
Posteriormente,
depois da anexação de Toledo por parte de Afonso VI, as Taifas
andaluzis chamaram os almoravidas que unificaram Al-Andalus, mas quando
se levou a cabo uma grande rebelião contra estes causada pela sua
intolerância, chefiada pelo líder Saif al-Dawla, vassalo e amigo do
Imperador Afonso VII, o oriente peninsular ficou conformado por uma
grande Taifa dirigida por Ibne Mardanis que fez da cidade de Múrcia a
sua capital. A importância e o esplendor da cidade foram imensos e
referenciais para Europa e o Mediterrâneo. Morto o conhecido como rei
Lobo, o reino caiu nas mãos dos almoadas. O domínio almoada durou uns
cinquenta anos, até o momento em que Ibne Hude expulsa os
norte-africanos reunificando quase todo Al-Andalus tendo como capital a
cidade murciana. A debilidade andaluzi do momento não vão impedir que
Fernando III de Galiza e I de Castela consiga conquistar Xaém, Córdova e
Sevilha. Pouco depois da sua morte, o infante Afonso de Castela, filho
de Fernando III e príncipe sucessor ao trono, faz-se com a Taifa de
Múrcia, fique incorporada a Castela. Dessa época sabemos que o vexilo
usado é um pendão totalmente verde, em memória dos fundadores de
Al-Andalus, a família dos Omíadas.
A
partir de 1243 e até 1266, o Reino de Múrcia passou
a fazer parte da Coroa Castelhana por conquista da Taifa andaluzi, regida por Ibne Hude al-Dawla. A conquista e ocupação foi protagonizada pelo infante Afonso de Castela, futuro Afonso IX o sábio. Posteriormente houve uma importante rebelião dos mudejares, que eram muçulmanos aos que lhe foi permitido permanecer nas regiões conquistadas pelos cristãos, que teve como consequência imediata a eliminação de todas as instituições murcianas e o translado do centro do poder de Cartagena para a cidade de Múrcia. O pendão concedido por Afonso o
Sábio era o seguinte: Sobre
fundo vermelho, cinco coroas em amarelo representando os cinco reinos
andaluzis
que o rei Afonso incorporava ao seu poder real fazendo
parte da Coroa castelhana:
Toledo,
Xaém,
Córdova,
Sevilha e
agora Múrcia.
Mas
foi entre 1296 e 1304 que Múrcia passou a fazer parte da Coroa catalano-aragonesa quando lhe foi concedido um vexilo
de estética catalã,
onde
sobre fundo amarelo atravessavam duas faixas vermelhas em sentido
horizontal.
A
partir de 1304, o reino de Múrcia retorna a Castela que é quando
achamos um vexilo conformado por um fundo vermelho com seis
coroas
em amarelo. O pendão prolongava-se longe da haste em cinco faixas.
Mas foi em época de
Pedro I, por volta de 1361, que este pendão de seis coroas, dispostas em duas colunas de três cada uma, aparece acrescentado com um novo elemento na bordadura, já que incorpora os escudos
castelhano e leonês, alternando-se no corpo da bandeira, não incluindo nenhum elemento nas faixas. Este pendão permaneceu como símbolo do reino durante muito tempo.
Com a chegadados franceses, o Reino de Múrcia recuperou certo poder político e agiu organizando as suas próprias defesas contra o invasor, pelo que se formou o Batalhão Provincial de Múrcia, número 10, durante a chamada Guerra da Independência. O símbolo sob o que se reuniram os combatentes era uma bandeira azul cobalto que serviria de base para representações posteriores.
A partir da chegada ao trono de Isabel II e a divisão provincial de Javier de Burgos, o Reino de Múrcia acaba sendo abolido para se constituir uma região sem poder político autónomo, mas dividida em duas províncias: Albacete, que surgiu com os territórios nortenhos do antigo reino de Múrcia, aos que se lhe acrescentaram terras das antigas províncias da Mancha e Cuenca; mais a província de Múrcia propriamente dita, constituída com o resto dos territórios que ficavam do antigo reino e que não tinham ficado em Albacete.
Mas é durante o século XIX, que a nova região de murciana levou a cabo várias tentativas de autonomia cantonal, manifestadas em forma de rebelião armada, com especial protagonismo das localidades de Cartagena, a cidade de Múrcia, Jumilla, Almansa, Chinchilla,... Os revolucionários usavam uma bandeira completamente vermelha, resultado de pegar numa bandeira do Império Otomano e tingi-la totalmente de vermelho, apagando o símbolo da meia lua e da estrela.
No entanto, o cantão de Cartagena, optou por apresentar um outro modelo apanhado da contrassenha da Marina Mercante espanhola para a província marítima de Cartagena. Esta bandeira era uma cruz branca sobre fundo vermelho, que serviu como base para a posterior bandeira autonomista murciana, utilizada durante a II Republica Espanhola.
Anteriormente, desde a criação das províncias e a aprovação das bandeiras provinciais, Múrcia passou a ver-se representada por uma bandeira azul cobalto com o escudo coroado no centro. Esta bandeira foi reconhecida como bandeira provincial e usada como insígnia da Deputação de Múrcia até a chamada Transição baseada na bandeira azul cobalto com que o Batalhão número 10 defendeu a região dos franceses. No interior do campo da bandeira, aparece o escudo representando os nove partidos judiciários em que estava dividida a província: Múrcia, Caravaca, Cartagena, Cieza, Lorca, Mula, Totana, La Union e Yecla.
Por sua vez, Albacete teve uma bandeira provincial desde 1956, ocupando um campo de vermelho carmesim com o escudo no centro que reunia todos os partidos judiciários, embora modificada a partir de 1994 por uma bandeira, também em vermelho carmesim com um novo escudo com a coroa real espanhola.Finalmente, com a morte do ditador Francisco Franco e a implementação da denominada Espanha das autonomias, a região de Múrcia reclamou para si um estatuto de autonomia, com o qual se dotar de simbologia própria. Assim foi que se desenhou uma nova bandeira regional que se descreve da forma seguinte: Bandeira retangular em vermelho carmesim, também chamado vermelho Cartagena. No ângulo superior esquerdo aparecem quatro castelos com três ameias cada um em ouro, isto é, em amarelo, distribuídos de dous em dous. Cada castelo, representa cada uma das quatro culturas fronteiriças que determinaram a identidade do Reino de Múrcia: a castelhana, a catalano-aragonesa, a andaluzi e a quarta, que representa a influência mediterrânica. Na parte inferior direita aparecem sete coroas reais dispostas em quatro filas organizadas em três fileiras horizontais e sobrepostas, com três coroas a superior, duas a intermédia e uma a inferior, e sobre elas, a sétima coroa, concedida pelo primeiro monarca Bourbon.
Das seis coroas históricas que permaneceram desde Pedro I, passou-se agora às sete, fruto do agradecimento de Filipe V ao povo murciano pelo apoio na Guerra de Sucessão, que trouxe os Bourbons a Coroa Hispânica no século XVIII.
A bandeira foi concebida em 1978 por uma comissão do Conselho regional criada especificamente com o objetivo de dotar a nova região autónoma de uma simbologia própria. Nessa comissão estavam os historiadores Juan Torres Fontes e José Maria Jover Zamora, autênticos autores do vexilo.
A todo este repasse à
simbologia vexilológica
murciana, teremos que acrescentar a bandeira do regionalismo murciano
que acrescenta ao estandarte, já conhecido e oficial da região de Múrcia, a cruz branca do
cantonalismo de Cartagena, com uma cruz azul no meio, que representa as
aspirações soberanistas.
Poderíamos acrescentar, aliás, uma outra bandeira, a do nacionalismo murciano de
esquerda definida como uma bandeira vermelha com sete estrelas, em
vez de sete coroas, dispostas da mesma maneira do que as coroas da
bandeira oficial.