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quarta-feira, 25 de junho de 2014

O que foi das jãs? (jã, antarujã, antarujaira, jaira, jarela, *jairo, -a)



Por Higino Martins Estêvez
Sabe-se que Diana deu o vulgar Jana, do que vêm muitas formas românicas. Nisso passou de grã deusa da natureza virgem e animais selvagens a “fada noturna” (Du Cange), “fada das fontes” (NO ibéri­co), “fada que fia de noite” (Algarve), etc. Um pouco por todas as partes cobrou valor de “bruxa”, na típica am­bi­valência dos fenómenos da psique profunda. Na Galiza algures che­­gou a confundir-se com a companha ou estantiga 1. O nome (não o mitologema) entrou aí na penumbra, subs­tituído por dona, senhora, moura, etc. O declínio de , de breve corpo, a par viu a con­fu­são com a companha, a favor do plural. 
As jãs foram a turba feérica, coro das ninfas ou pequenas fadas vege­tais, constelação de luzinhas vistas ou alucinadas na noite. A com­panha primitiva foi também uma turma de luzes aé­re­­as, à margem da interpretação consciente que das visões coleti­vas se fazia já no séc. XVII I 2. Ao cabo luzes na noite, quer terríveis, quer fas­ci­nantes. O que presta é dis­cer­nir os sentimentos que fizeram a passagem de “luzes das fa­das noturnas” a “luzes da hoste diabó­lica”, e depois “fan­tas­mas dos defuntos”. A história cultural aproveitará os dados, para cuja análise ainda não forjou o ins­tru­mento da psicologia pro­funda coletiva.
Fortuna diversa levam os derivados. Antarujã (e antarujaira) “bruxa” 3 junta a uma palavra enigmática que Coromines crê deturpação de untura, com oportunos apoios semânticos. A opacidade do primeiro membro fez altera­ções pareti­mo­ló­gicas, ao cabo tão caducas qual antarujã. Não é clara a composição e a figura que oculta: untura de jã?, jã de untura? Mais importa jaira, no composto antaru­jaira (antaruxaira no P. Sarm.), que isolada é “es­tan­­ti­ga noturna” (Sarm., CaG, 182r). É o lat.-vulg. *janaria (lat. dianāria), através de *jãaira (não de *jãeira, que dera *jeira. O jeira real é de diā­ria), qual chaira ou avelaira de planāria e abellānāria. O adjetivo é aí coletivo, e cumpre pôr (turma) dianāria. Voz e mito são antigos, mas no outro milénio não era “estantiga” mas “turma de Diana”, depois “turma feérica”. 
Dianāria podia modificar nomes não coletivos, como se deduz do jaira que chegou vivo: “mulher aloucada, coquete, garrida” (em Padrão, segundo Crespo Po­zo). A entender me-lhor o sentido deste jaira serve um seu derivado: jarela e jarelo, -a. Mais frequente que o posi­tivo, já aparece em F. X. Rodríguez, donde o toma Cuveiro Pi­nhol: “la mujer respondo-na, descarada y al­bo­ro­ta­dora”. Eládio R. Gonçález define xarelo “pessoa descarada, pou­co formal no falar, de pouco critério” e aclara dar-se mais amiúde às mulheres. Por fim, Isaac Estravis define jaira: 1º) diz-se da mulher que anda trás os homens, 2º) mulher des­ca­rada, atre­vida, 3º) borra­cheira, bebedeira (tomar uma jaira). Jarelo é em geral “pessoa que fala ou obra com desver­gonha”. É claro o nexo fóni­co de jarela com jaira. O diton­go átono re-duz-se. Em data românica in­corpo­ra-se a desinên­cia diminutiva com des­locar do tom. 
Interessa das palavras o perfil que surge da integração das várias definições. Docu­menta a no­ção pela qual a pessoa – nomeadamente uma mulher – parti­cipa da natureza do nume “Diana”. A pessoa pos­suí­da mostra-se “ligeira de casco; coque­te, garrida” e, na definição de jarelo, “sem vergonha”. Desenvolvida­mente, “que está isento da pegada moral judeu-cristã, parti­cu­lar­mente no que diz respeito à conduta sexual” ou “que está livre das ataduras da condição social comum”. Jairo, -a “feérico” é adjetivo bonito, digno de restaurar-se, mas é jaira e jarela o que cor­re com saibo a transgressão subterrânea, às tradi­ções pagãs do feminismo vegetal e resistente de sempre.


1 Sarmento, CaG, 163r: “Jâns, as jans. Dícese hacia Orense: fulano vio as jans, lo mismo que ver la compaña o hueste”.

2 A companha, hoste, estantiga, primeiro sem dúvida bando diabó­lico e aéreo de longa tradição, como acusam os próprios nomes, foi inter­pre­tada no contexto cristão recente como procissão de de­funtos. Mas a especu­lação cristã popular ocupava um lugar similar ao da racionalização ma­terialista posterior, e o fenómeno alucinatório era indepen-dente. Em The Bible in Spain de Borrow, temos testemunho tão importante ou mais do que os do P. Sarmento. O mais explícito é o do cap. 29, no que o guia lhe descreve a Borrow a Estadea e depois lha explica. Cumpre separar descri-ção de explicação. “Levantou-se uma névoa muito espessa. De pronto começaram a brilhar por riba de nós, entre a névoa, muitas luzes; havia ao menos mil. Ouviu-se um chio tremendo, e as mulheres caíram de bruços gri­tan­­do: Esta-dea! Estadea! Eu também caía e gritava: Estadinha! Estadinha!” A seguir o guia crê-se obrigado a explicar: “A Estadea são as almas dos mortos que andam por riba da névoa com luzes nas mãos.” A separação é clara e a meu ver a autenti-cidade da experiência alu­cinatória coletiva está assegurada por esse chio tremendo, característico de certas imagens arquetípicas aparentadas (V. o Wotan de C.G. Jung). Além da racionalização, a visão da cavalgada do bando aéreo diabólico em for­ma pura vê-se no testemunho do cap. 27, in fine: “De crermos aos galegos, os demos das nuvens per-segui­ram os ingleses na sua fuga e atacaram-nos com trovões e golpes de água quando pugnavam por remontar as re-viradas e empinadas vereias de Foncevadão.”


3 Sarm., CaG, 182r. “Antaruxá y antaruxairas. Creo llaman allí [Ourense] a las bruxas” Diz ser nome de Monte-rei.

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Anumão, a velha moura da Montanha.




Por José Manuel Barbosa

Chegamos a Quéguas passadas as 11:00 da manhã. O dia era claro e fazia calor. Isso permitia a caminhada pela monte. Deixamos o carro num pequeno aparcamento natural adequado para este tipo de cousas e começamos a andar por um caminho que nos levou a uma subida cheia de tojos, urzes, carquejas e monte baixo. Em breves minutos pudemos visualizar o amplo planalto de Anumão onde rebanhos de vacas do País pastavam tranquilas ao sol. Igualmente ao longe pudemos visualizar várias manadas de garranos com os seus poldrinhos recém nascidos que nos contemplavam entre curiosos, respeitando ao sempre imprevisível ser humano e cuidadosos de não se afastarem muito das suas mães.

Rebanhos de vacas e manadas de garranos observavam cautelosos as nossas andanças

Os nossos amigos: Marta e Cristian abriam o caminho como guias nativos que eram. A companhia era perfeita. A sua amabilidade e afeto fez-se sentir sempre e em todo momento, mesmo quando chegamos à Anta conhecida como a Casinha da Moura ou Anta de Anumão onde nos ofereceram um delicioso leite frito elaborado pela própria Marta e aguardente de bagaço que nos ajudou a recompor-nos, à vez que descansávamos após uns quilómetros de caminho. Sentamo-nos. Comimos algo de fruta e gravamos algo no nosso telemóvel sobre o lugar no que estávamos. 


A poucos metros duas grandes aflorações de seixo da altura duma mesa de cozinha chamaram a nossa atenção. Sempre é que perto de monumentos megalíticos que temos visitado há uma grande quantidade de quartzo mas nunca tínhamos visto rochas deste material tão grandes como aquelas... A vários quilómetros em direção Norte pudemos ver no horizonte a construção natural e granítica conhecida com o nome de Pedras de Anumão, Anamão ou simplesmente Numão como é que aparece escrito na estrada que vai entre a fronteira da Ameixoeira e Castro Leboreiro.

A Casinha da Moura, uma anta conservada muito bem. Ao fundo a deusa deitada e fazendo-se ver.

Estas pedras são umas construções rochosas que desde a anta semelham uma mulher deitada na que podemos distinguir os seus peitos, a sua barriga de mulher grávida e se nos achegarmos, mesmo poderíamos imaginar o resto do corpo deitado...



O nosso objetivo era chegarmos até essa figura de moura deitada, a velha moura de nome Anumão cuja casinha, a Casinha da Moura, era a anta desde a que gravamos umas palavras nos nossos telemóveis para fazermos a ligação necessária com outro construto similar em Duhallow, no Sul da Ilha de Irlanda. É este o chamado “The Paps of Anu” ou “The tits of Anu”, quer dizer, As Tetas de Anu (ou Ana, ou Dana), a deusa terra que nos acolhe, nos nutre e nos dá vida. A Anu Geresiana era aquela que estávamos a contemplar nesse momento desde o planalto raioto próximo à aldeia entrimenha de Quéguas. A Mãe Ana/Anu/Danu/Dana que constrói os nomes de Anumão/Anamão/Numão, todos eles registados por nós, nos lugares de Entrimo, Guginde, Bouça d'Agro (ou Bouzadrago que é como figura deturpado nos indicativos), A Ameixoeira, O Ribeiro e Castro Leboreiro, sendo os três primeiros da região de Ourense dentro do Concelho querquerno de Entrimo e os três últimos dependentes do Concelho Minhoto de Melgaço.
Nós com a nossa amiga Marta que nos fez de guia na nossa expedição. Ao fundo o peito de Anu onde há um ponto alto de observaçao desde onde se visualiza todo o nosso trajeto. Foram 10 km...


Comentamos com o nosso amigo o Doutor Higino Martins o significado do nome Anumão/Anamão/Numão e dizia-nos o seguinte:



“DANU foi explicada, bem a meu ver, como fruto do céltico *DEWA ANU "a deusa Anu" (E, primeiro A e U longos) ao passar ao gaélico. Por sua vez, o ant. ANU, g. ANONOS (U longo), segundo os textos mais antigos, era a mãe dos deuses (Túatha Dé Danann "povos da Deusa Danu", com novo acréscimo de DEWA-DÉ.



É mais que a Terra Mãe que é a Deusa única polivalente. Talvez abstração da teologia druídica, o princípio mesmo. Portanto equivalente da védica Áditi, cujo nome significa "infinita". Seguindo o fio quadra propor que ANU, ANONOS se analisa AN- prefixo negativo e ON- um dos temas indo-europeus para "ano", id est, "ciclo temporal"; logo "sem fim, eterna".



Numão é mais interessante, pelo enigma, mas não adianto. Se a pronúncia de Entrimo é boa, deveria grafar-se (A)NAMÃ. Está perto das Rias Baixas, que confundem irmão e irmã na pronúncia de vogal nasalada sem ditongo. A prótese do A- iria no mesmo sentido, se é o artigo feminino apegado. Supondo o rumo ser certo, teríamos "A NAMÃ" deste lado da raia. Numão logo seria topo-onomástica oficial portuguesa alterada por funcionários centrais. Continuemos nas trevas; se não imos também não temos nada. Fica o enigma da primeira vogal: U ou A? Só podem acordar num O: NOMÃ, que seria híbrido celto-romano, *NOMANA, híbrido pela desinência latina -ANA. Não posso ver mais. NOM- pudera ser da raiz *nem-, que envolve noções relativas à hospitalidade.



Bom, agora vejo que a raiz envolvida será *nei- "brilhar" (Pokorny 760), que no céltico dera *NEMA "brilho; beleza" (E e A longos), donde gaél. niam "id.", e *NEMIS "brilhante, belo" (E longo), donde néim e o nosso monte Neme, de Bergantinhos (lembra a pág 103 d'As Tribos Calaicas). Nesta luz parece-me mais provável o étimo ser *NEMANA (E e primeiro A longos), híbrido sim, de NEMA subst., aqui adjetivado com a desinência latina, logo nos mil anos de bilinguismo, e significando "brilhante, bela" com referencia à Mãe Terra, cujo corpo nutris e gerador tem teofania nas pedras que me fizeste conhecer. Isso parece quadrar.



E também não atinei ao dizer que A e U acordavam só num O. Vou por partes, está provado que as vogais longas célticas eram mais abertas do que as breves, ao invés do latim. Logo o E longo de NEMA era aberto. Além disso, no tempo diglóssico a metafonia do A final operaria mais forte. A forma de Entrimo tem toda a probabilidade de ser mais conservadora. Quanto à de Melgaço, o A pretónico terá sido Comlabializado pelo M, como é usual na língua popular. Por que não labializou a forma de Entrimo? Pela ajuda do artigo apegado, que reforça a harmonia vocálica”.



A nós, já desde o princípio veio-nos à ideia uma divindade comum a todos os povos indo-europeus que tem a forma léxica para os celtas de Dana/Ana/Danu/Anu. Esse nome que deixou rastos por toda a Europa em hidrónimos do tipo “Danúbio”, “Don”, “Dniester”... ou topónimos como Donets (agora que a Ucrânia está infelizmente na moda nos informativos...) ou Dinamarca. Achamos essa divindade no Devana eslavo, na Diana latina, na Danae ou Démeter grega...


Do seu nome originário gerasse provavelmente o termo “Xana” que é o nome que nas Astúrias têm as nossas Mouras, o “Anjana” ou “Anxana” cântabro, cujo “An” inicial poderia ser ao artigo determinado das línguas gaélicas...

Cristian em primeiro termo. O nosso guia levando-nos por paisagens tolkianas.

No âmbito linguístico galego-português também temos as nossas “Jãs” (Diana>Djana>Jana>Ja(n)a>Jã) como também nos explica tão brilhantemente o nosso caro Doutor Higino Martins.



Por outra parte e depois de dar-lhe voltas à palavra Anumão/Anamão/Numão, nós desde a nossa humildade quisemos ver uma dupla construção. Por uma lado o nome da Deusa Mãe Danu ou Anu e por outro a forma -mão. A primeira para nós não tem muita dúvida. É a deusa indo-europeia que para os celtas irlandeses é mãe dos Tuatha Dé Danann, quer dizer, “O Povo dos Filhos de Dana”. É Deusa associada à agricultura, aos ciclos da natureza e guardiã do gado, da saúde, das granjas, das terras de cultivo e provisora de alimentos e sustento...

Caminhando pelo planalto de Anumão

A segunda parte da palavra, -mão ou -mã, poderia proceder de alguma palavra equivalente em celtico-galaico ao gaélico antigo “móa”, “máo”, “máa”, “móo”, “mó”, igual do que em antigo Britónico “mwy” donde surgem o atual galês “mui”, córnico “moy” e bretão “mui” com o significado de “maior”. Igual do que em latim major”. É portanto o comparativo de superioridade da forma “mór”, grande, mas também ancião, adulto, velho, importante, distinguido... (Muitas vezes falamos dos nossos "maiores" quando nos estamos a referir ao nossos velhos em idade, aos nossos ancestros...)

Imagem da Velha Anu.

Seria portanto “a velha Anu”, “a distinguida Anu” “Anu a grande”, "a nossa ancestral Anu"...


Acrescentemos que na freguesia de Duhallow, no Condado de Corck na Província de Munster em Irlanda temos o que se conhece com o nome de Dá Chích Anann, quer dizer, o que em inglês seria The Paps of Anu ou para nós “As duas tetas de Anu”. Curiosamente são dous outeiros com formas de peitos de mulher que se identificam com os peitos da Deusa Mãe da que estamos a falar: Anu/Danu...
The Paps of Anu em Duhallow, freguesia no Condado de Corck (Munster-Eire)

A refeição deu para isto e para muito mais, mas tivemos que continuar o caminho em direção às pedras que víamos no horizonte. Passamos um curro onde a gente do lugar encurrá-la os garranos numa festa de rapa das bestas durante o mês de Agosto para marcá-los e identificá-los. Foi ali onde vimos pegadas de lobo...

Um curro da rapa das bestas ao nosso passo.

Passamos umas gândaras onde um regato de monte regava uma parte dum amplo lugar verde entre penedos e monte baixo. Ali os garranos iam abeberar habitualmente e optamos por beber aquela água fresca e pura que caia da montanha para fazermos mais levadeira aquela andaina sob um sol estranho de primavera. A altitude era o suficiente como para sentirmos a brisa fresca que com total certeza se convertia em frio cortante nos meses de inverno mas que agora não terminava de sentir-se cálida.

Bebendo do regato de montanha onde bebem os garranos.

Ao cabo de uns minutos de constante marcha conseguimos chegar a um marco fronteiriço: o 47, a partir do qual começamos o trajeto por território administrativamente português. A ladeira pela que começamos o novo percurso era a base da barriga da Deusa Anu a quem procurávamos para posteriormente passarmos pela mama da nossa Deusa. Ali a magia que envolvia o mito da divindade desvendou-se totalmente ao vermos aquelas paredes de granito puro que ficavam à nossa direita com a forma do grande peito divino que nos levou ali. Visualizamos uma cova no alto, o qual se nos revelou acessível pois há um caminho que leva ao alto e uma abertura na rocha que deixa ver todo o planalto que tínhamos percorrido desde a manhã. A Deusa deixava contemplar aquela paisagem imensa onde os cavalos e as vacas se perceberiam como pequenos brinquedos. A vista espetacular seria para ser admirada mas decidimos deixá-lo para uma outra expedição. Levávamos andando desde as 11:00 da manhã e nesses momentos estavam sendo as 15:00 pelo nosso relógio à vez que já tínhamos à vista a capela da Nossa Senhora de Anumão, ponto de cristianização do lugar, mas sem qualquer dúvida lugar sagrado para os nossos ancestros que adoravam à Deusa Mãe que deitada ali mesmo dormia desde há milénios.

A capela finalmente...
Chegamos à capela que estava fechada mas ao lado havia um grande penedo, talvez ritual, coberto de riscas e fendas pelos que em tempos perdidos na memória correriam os líquidos vitais dos animais sacrificados à nossa Deusa. Ao pé do penedo uma escada que levava a uma espécie de púlpito onde duas rosáceas ou lábaros perfeitamente lavrados no granito desentranhavam uma religiosidade ancestral oculta ao olhos de qualquer profano.

Marta subindo à pedra ritual. À nossa direita a capela que cristianiza o lugar também sagrado para os nossos ancestrais. A escada deixa-se ver...
Conseguidos os objetivos, decidimos comer fruta e beber água. Descansamos uns minutos e regressamos por onde viemos. De volta, as manadas de garranos e vacas apareceram-se-nos mais próximas. Um dos bois olhou para a nossa comitiva com olhos de desconfiança de tal jeito que nos obrigou a exercer a prudência. 
Lugh queria dizer-nos algo...
O sol, raríssimo, apresentava um amplo círculo ao redor que mesmo em vez de ser o tradicional halo solar talvez poderia ser originado pelos chemtrails que não deixavam de marcar aquele céu falsamente limpo daquele sagrado, intensamente lindo, surpreendentemente virgem e ainda não humanizado planalto onde mora ainda dormida a nossa moura de nome Ana ou Anu que segundo os nossos antepassados era a nossa Mãe ancestral: Anu Mão, Ana a Velha, Ana a Maior...
Escada com rosácea ou lábaro que representa o Lugh solar, ao pé da pedra ritual de Anumão
 

sábado, 15 de junho de 2013

O Rato Rabisaco no cartafol da lua cheia




Por Carlos Solha:
A revista National Geographic, no seu número de maio de 2013, inclui um inspirador artigo intitulado “As caras da Lua”. Jeremy Berlin, redactor de NG, oferece-nos um breve percurso por diversas culturas e tradições, sintetizando aquilo que a humanidade vê bosquejado nas “sombras” faciais da lua cheia. Os científicos -uns estragafestas- atalham qualquer elucubrações denominando a superfície escura “mares lunares”, uma vasta extensão de planalto deprimido.

            Ao artigo bem lhe camparia o título “As caras da cara da Lua”, pois, como é sabido e por causa da sua síncrona rotação com a Terra, o nosso satélite sempre nos mostra a mesma face. A Lua emprega o mesmo tempo em girar sobre si do que em completar a sua viagem orbital derredor do nosso planeta (case 28 dias).

A Lua mantém a outra face oculta aos olhos da humanidade, sejam quais forem as coordenadas terrestres desde onde a observemos. Portanto, a dama da noite engaiola-nos, conturba-nos, possui-nos, inspira-nos, abala-nos e devala-nos, despregando só a metade do seu poder de encantamento.

Ainda que todos os humanos partilhamos a mesma fasquia lunar, com a ajuda dum telescópio darmo-nos-emos conta de que os habitantes do hemisfério norte enxergamos no hemisfério sul lunar, por exemplo, a rechamante cicatriz do astroblema Tycho, uma das crateras mais características da orografia selenita, batizada na honra do astrónomo dinamarquês Tycho Brahe (1546-1601). Contrariamente, os terrícolas do hemisfério sul percebem o mesmo acidente orográfico no hemisfério norte do astro vizinho.

Desde a teogonia greco-latina até o monólito alienígena do tandem Arthur C. Clarke-Stanley Kubrick para 2001: A Space Odyssey (1968), a Lua, e de jeito especial a lua cheia, tem sido manancial inesgotável de mitos e lendas. Cumpre acrescentar que boa parte da humanidade, a mesma que diz observar tal ou qual cousa impressa no pergaminho lunar, desconhece (ou põe em dúvida) que o 20 de julho de 1969 o homem pus pela primeira vez o pé naqueles ermos poeirentos.    

Lemos em National Geographic que, para muitos povos europeus, os nodos lunares representam um velhote carrejando ao lombo um feixe de lenha. Segundo a tradição judeu-cristã, a sua angueira –como a de Sísifo- não tem acoubo, já que, por incumprimento do preceito do descanso dominical (ou do sabbat), Deus o condenou a trabalhar eternamente.

Na Índia acredita-se em que a pegada da deusa Astangi Mata (denominação indiana da nossa Moura) fica salientada naquela agrisalhada epiderme. Mãe de dous gémeos, a deusa enviou-os ao céu, transfigurando-os no Sol e na Lua. Astangi Mata, despediu-se agarimosamente da pequena Chanda –a Lua– e, ao lhe acarinhar as bochechas, deixou gravadas as mãos no rosto da sua filha.

Os estadunidenses alviscam os traços essenciais do rosto dum homem o homem da Lua: olhos, nariz e boca.

Desde o arquipélago das Havaí enxergam uma mulher –Hina– que tece para os deuses, confecionando as teias com a cortiça dum baniano, árvore sagrada. “Mahina” significa “lua” em havaiano.

Os neozelandeses achegam o relato de Rona, uma mulher que ousou ultrajar a Lua. O astro, como castigo, recluiu-a no seu orbe a perpetuidade.

No longínquo Oriente acreditam num coelho de longas orelhas. Para os japoneses, o coelho moe arroz num almofariz para, com a farinha, cozinhar umas saborosas tortas. Em China e Coreia, o coelho elabora numa marmita o elixir da imortalidade. Este animalzinho também está presente no imaginário das culturas centro-americanas.

Já que todo depende dos olhos com que se olhe, o grande número de interpretações é interminável. Contudo, em esta aluarada galeria não pode faltar a proposta galega e, concretamente, a visão que do assunto temos os indígenas de Terra de Montes.

Nas aldeias da revolta do Seixo, os naturais contam do vínculo existente entre o Rato Rabisaco, roedor endémico da peneda do Castro Grande ou Outeiro do Castro, e o plenilúnio. Do rato ao coelho não há muito treito.

O Castro Grande é um prominente afloramento granítico que abrange umas 2 ha de superfície, chegando aos 919 m de altitude (Coordenadas SixPack: 42º 29’ 25’’ N - 8º 23’ 7’’ W). A rocheda do Castro Grande finca a estrema dos concelhos de Cerdedo e Forcarei.

Na sua aba de levante, O Castro apresenta uma rocha de forte pendente, sucada ao meio por uma fenda em ziguezague. Esta ladeira nomeia-se de “rotadoiro” ou “rastenha” e os cativos de outrora usavam-na como balouço, escorregando outeiro abaixo. Os rilhotes amorteciam a queda protegendo o seu traseiro com uma mola. Na parte central, abre-se um buraco por onde se diz que, em noites de lua cheia, contra á meia-noite, se debruça o fugidio Rabisaco.


Assim o recolhi no lugar da Cavadosa, em Avelaindo, em Meilide... Quando a Lua loze completa no firmamento, o lueiro espile o letargo deste pequecho e rebuldeiro animal.


Cumpre não confundir o “Rato Rabisaco”, identificável com um rato-lírio ou leirão (Glis glis), com o “Rabisaco”, mamífero carniceiro (Genetta genetta), também conhecido por “Algaria” ou “Rabilongo”. Ambas as criaturas estarricam um longo e peludo apêndice caudal que serve para denominá-los. A cor gris da pelugem do rato e o seu pequeno tamanho contrastam com o maior porte e a pelame apigarada da algaria.

Portanto, nas noites de luar, o Rabisaco abandona o tobo e rebole pela rastenha aos choutos. De tal maneira que, o derradeiro pincho lhe vale para conseguir a lua e nela se nos representa. Para o entendimento dos aldeãos, o rato, esfomeado, pega no queixo que, evidente, se exibe na alçadeira da noite. Já com a lambetada nas poutas, não demora passá-la pelo dente até fazê-la desaparecer. Como bem se compreende, o Rabisaco é o causante da míngua da lua.

Também se diz que, calhando com o luar pleno, todo aquele que tresnoite ao pé do Castro Grande acabará sendo testemunha do reloucar do Rabisaco. Se tal cousa acontecer, a boa sorte achegar-se-á ás sentinelas como a pez. Por se interessar, na lua cheia volverá espelhar o seu mágico reflexo nas chagorças do alto Seixo.

O rato Rabisaco não é, em aquele território, o único ser mítico relacionado com a lua e o seu devir. Na aldeia cerdedense de Carvalhás e nas forcareicenses de Presqueiras, Cernadelo e Ratel contaram-me do longo sonho dum gigante, conhecido pelo Homem da Leghua, que ao acordar axota a maiola esticando os braços. O mangalhão, com a ponta dos dedos, amostra a lua, propiciando o seu devalo. A dormida do Homem da Leghua prolonga-se durante um mês.

Perto do lugar de Carvalhás, localiza-se o Outeiro das Luas Novas, uma moreia de cachote proveniente dos estragos causados na lua pelo gigante Foupeiro. Tenham por seguro que as andanças do Homem da Leghua dão para outro artigo. De as enristarem, os leitores serão afortunados com a primícia.

Todos estes relatos falam-nos da relevância que o nosso satélite teve, e ainda tem, para as comunidades labregas, sempre atentas ás evoluções do astro para dar começo á sementeira, proceder á esterqueira, á decota, á matança, á salgadura..., mesmo para cortar unhas, cabelos e barbas; reminiscência de quando o tempo, em ausência de almanaques, se media somando luadas e primaveras.


terça-feira, 23 de abril de 2013

O culto às Deusas Mães Galegas


Por Carlos Solha

Aproveitando o relanço da Semana Santa -Luceira Túrvia, como a nomeiam os canteiros da cerna, pois “túrvios” somos os pecadores-, espremendo-lhe, digo, todo o sumo ao lazer, fiz repouso em Cerdedo e ali partilhei um gostoso jantar adubado com sobremesa paroleira. Muito dão de si os latriques cafeinados.
Quase ainda não tinha engolido duas xícaras e um sorvo dum Porto, quando uma das comensais, bem aproximada aos setenta, soltou uma expressão que fez esticar as minhas orelhas do etnógrafo lupário e as daquele neno que fui.
A informante involuntária andava na porfia de apaziguar um pequeno malandro, uma miga consentido. Esgotado o repertório da “supernanny”, a avó, revirando a criança, espetou-lhe: “Se não te aquietas, ponho-te fora para que te leve tua mãe galega!”.
As primeiras são as "Matres" de Bibracte, cidade do povo celta dos Aedui da Gália
Olhem, eu não lhes fui um santo e meu irmão pequeno, também não. Na aldeia, andávamos, entre outros apelidos, pelos Zipi-Zape... Escuso portanto, oferecer ao leitor muitas mais explicações.
Sendo como éramos afilhados do demo, muito sabíamos de ameaças. Que eu lembre, minha mãe tinha foro com o homem do saco, com a bruxa do moinho dos Montinos, com as aranhas, com o lobo, com o tio Gardunho, com os bichos peludos, com a Sisocorda, com o homem das barbas, com o cocão, com a Ramuda, com o Sacauntos... e, na casa, escutávamos chamar por eles a cada pouco.
O ritual da invocação sempre se acompanhava do brandir duma chinela, duma escumadeira ou duma vassoura. Costumes que a moderna sociedade foi extinguindo, pelo medo ao que dirão. Hogano, leva-se mais o do “colegueio” e a negociação inter pares. Intuo que os enxebres assusta-nenos, a poder de reclui-los no ostracismo, já devem ter procurado outras ocupações, ou outras latitudes.
Mais, amentar a “mãe galega” para amedrontar um menino era-che uma circunstância novedia, daí que a minha má consciência de pilhabão optasse, de primeiras, pela alerta “Defcon 1”.
Uma vez racionalizada a situação, sobreveio-me a impressão de ter escutado uma das muitas expressões ofensivas com as que os de fora, batujando no estereótipo, nos presenteiam cada pouco. Recomendo para o particular a leitura da coleção de ensaios intitulada “El gallego, Galicia y los gallegos a través de los tiempos (1985), da autoria de José Luís Pensado.
Era inconcebível que aquela avó reconviesse o seu neto chantando-lhe que, de não mudar a conduta, o ia botar à rua para que a sua verdadeira mãe –de nacionalidade galega- o aturasse. Mulher da vida?, filho de trás da silveira?...
Não me contendo, perguntei. Com o riso nos lábios, a mulher respondeu-me que o que acabava de ouvir era um dito velho e que sua mãe e a mãe de sua mãe também o empregaram nas retesias domésticas. Assim, mesmo, acrescentou que desconhecia o significado da locução e que, inconscientemente, fazia uso dela com o objetivo –infrutuoso- de endireitar os cativos que deixavam ao seu cuidado. Quando lhe enumerei a restra de assusta-nenos que empregava minha mãe comigo, disse-me que habitualmente eram requeridos também por ela, que toda ajuda era pouca para encarreirar as novas gerações: “Estes já não se assustam com nada, estão afeitos a ver de todo na televisão”.
Já na casa, procurei informação sobre a “mãe galega” e, suspeitando a demonização dum antigo númen indígena, após muito remexer, fui dar com o nº 3 de El Eco de Galicia (Revista Semanal de Ciencias, Arte y Literatura), editado na Havana em 16 de julho de 1882.
Na página 2 da nomeada publicação, reparei no titular “Las Madres Gallegas” e, assim que comecei a leitura do artigo, assinado por M. Esmorís, fiquei atordoado:
En casi todo el territorio de Galicia puede decirse sin temor que no hay madre alguna que no haya intimidado alguna vez a sus inocentes hijos con la legendaria frase de “Busca a tu madre gallega”. Cuando sucede esto, es que el niño ha cometido alguna falta reprensible y después de regañarle fuertemente, si aún no se muestra arrepentido, entonces se le lleva a la calle, se le cierra la puerta de la casa y entre otras amenazas, aún hoy se usa la de “Busca a tu madre gallega”.
Aufanian Matrónae do templo romano de Görresburg, Nettersheim (Rheinisches Landesmuseum Bonn).

Como podem imaginar, não desapeguei os olhos do texto até a sua conclusão. Acrescentamos, portanto, umas passagens do mesmo por considerá-las de grande interesse:
As “Mães Galegas” trazem a sua origem das divindades célticas sob cuja proteção se punham os celtas, designando-as com o nome do terreno que ocupava cada tribo [...] Com o transcurso do tempo, os homens estudiosos e afeiçoados ao conhecimento das antiguidades, a força de investigações e de trabalho, chegaram a nos provarem com dados muito seguros, a existência das “Mães Galegas”, que foram representadas ordinariamente por três donzelas, levando nas suas mãos, flores, frutos e pinhas.
Murguía o ilustre historiador galego, que possui muitos e eloquentes dados em matéria de antiguidades, traz na sua obra “Historia de Galicia”, copia de uma inscrição que foi achada perto da Crunha e diz assim: T. Fraternus / Matribus / Gallaicis / v. s. l. m. “Tito Fraterno pagou de boa vontade o seu voto às “Mães Galegas”.
As “Mães Galegas” são divindades da mitologia céltica a cuja intervenção e poder nos destinos da humanidade deveram render culto das suas crenças os idólatras, nossos progenitores, avezados ao fatalismo e à heroicidade por temperamento e pela educação do povo do qual procediam...
Desde aquela altura, os celtas galegos, cedendo no entanto ao contato contínuo e preciso de outras tribos irmãs [...] legaram a sorte dos seus filhos às “Mães Galegas”, e a través daquelas gerações que variavam em costumes e em crenças, sem se darem conta elas próprias, ficou, apesar dos conquistadores, como uma reminiscência, como uma vaga lembrança de primitivos dogmas [...] quando duma forma ou de outra, fazem uso do dito vulgar “procurar a tua mãe galega”.
M. Esmorís, autor do artigo, vincula a inscrição votiva à cidade da Crunha, mas, consoante as minhas pesquisas, a vila onde se achou o epígrafe lapidário foi “Coruña del Conde”, na atual província de Burgos (prédios da antiga Gallaecia). Consultem-se no que diz respeito a Júlio Núñez Marcén e Álvaro Blanco (2002) ou o artigo de Joaquín Gómez-Pantoja titulado “Las Madres de Clunia” (1999). 
As chamadas "Mães Galegas" ou "Matribus Gallaicis" estão no Corinium Museum de Cirrencester (Inglaterra).
Em Núñez-Blanco, lemos: O mais interessante é o sobrenome que as “Matres” receberam em esta ocasião, “Gallaicis” e que parece obvio relacionar com os epítetos de caráter étnico ou de “nacionalidade” [...] Longe de se tratar de dedicatórias tópicas [...] parece mais lógico explicar este tipo de testemunhas como uma tentativa por parte de um “estrangeiro” de “atrair sobre si a benevolência das deusas protetoras do seu povo”
O lugar onde se erigiu ou achou o altar tem uma importância relativa. O substancioso do achado acouta-se ao contido da inscrição. Um galego de há 2.000 anos, longe ou não do seu lar, encomendando-se às deusas, às nossas Mães Galegas.
J. Gómez-Pantoja, no citado trabalho, enumera os atributos com os que habitualmente eram representadas as Deusas Mães: “cestas de frutos, cornucópias, pão, moedas...”, acrescentando que estas ctónicas divindades são advogosas da fertilidade, da prosperidade, dos negócios..., atingindo as virtudes salutíferas doutras deidades aquáticas (ninfas): fertilidade, fartura e saúde. As Deusas Mães vinculavam-se aos mananciais mineiro-medicinais, aos ilhós salutíferos, às burgas, muito abundantes na geografia galega, “benéfica exsudação das divindades da Terra”.
A Mãe Galega é uma deusa trinitária. A tríade divinal que, desde o alvorecer do nosso tempo, rege no tradicional panteão galego, revela-se em Cerdedo, não só na fraseologia popular, mas também no folclore petrificado, adubo conatural deste bento território.
Cumpre, daquela, lembrar a tripla manifestação da Moura já consignada para o monte do Seixo, montanha da prodigalidade: a Moura Pirocha, a Moura do Castro Grande e a Moura da Laja-Moura.
A Moura Pirocha, donzela, arquétipo da pródiga primavera; a Moura do Castro Grande, a mulher madura, adscrita ao verão, ao tempo da colheita, e a Moura da Laja-moura, venerável anciã, a Velha, sábia oraculária, identificada com o inverno: “Ainda vai vir muita chuva, que brilham as pedras do Seixo”, diz-se em Cerdedo.
A Moura Pirocha, explícita, tombada ao cumprido sobre a sua almofada de pedra; a Moura do Outeiro do Castro, núbil, casadoira, custódia de riquezas nunca inventariadas; a Velha da Laja-Moura, fazedora do arco do céu que, fincado naquela fatídica peneda do monte de Meilide, abaixa o lombo para abeberar nas aguas do poço Fumegas, góio do rio do Seixo.
A mesma Moura, humanizada baixo o antropónimo Maria: Mari Diz, a costureira afogada no tremedal da Mulher Morta, em Gestido; A Maria Diz da Serra da Mulher ou do Cordal do Testeiro (Forcarei); a Maria Miguez da Cuinha de Vidoido (Cerdedo); a Maria Amena das lombas da Cima-da-Vila (Caroi-Cotobade); a Marimanta, a Marujaina; a Maria evocada no principiar dos melhores contos: “Em tempos de Maricastanha...”, aquela pretérita idade na que a Deusa Natureza acaparava toda a nossa atenção.
A Deusa Mãe Terra, uma e trina, a semelhança das três Marias que esconjuram o enganido infantil à roda dum cachopo carvalhão, na fronde da aldeia cerdedense de São Bernabeu (advocação substitutiva), ou de redor duma mesa propiciatória.
As Três Laranjiñas do Mar, as Três Mouras, as trigémeas da fonte das Donas de Vidoído (Cerdedo); Ana, Aureana, Ana Manana... Quem sabe se a expressão “Madre!” “Minha Mãe!” ou as suas castelhanizações “Mi madrinha!” (ou “Mimá!”) não serviram para exortar o seu valimento.
O culto á Deusa não é uma religião, mas ao contrário, é a porta do auto-conhecimento, como indivíduos, como povo. O dia no que os galegos lhe viramos as costas á Mãe Galega, e optamos pelo culto aos bonecos procissionantes, trocamos, abofé, os olhos pelo rabo.



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