sexta-feira, 16 de março de 2012

Programação V/S Criatividade


Por Carolina Horstmann

A finais do ano 2010, tive a sorte de assistir a um interessante evento que reuniu a grandes expoentes em temas de inovação e criatividade. Entre eles: Guy Kawasaki e Arianna Huffington. Dirigido especialmente a gente na área das comunicações, conetividade e novas tecnologias.
A surpresa veio (para muitos) da mão de Sir Ken Robinson, um homem com nome muito sonoro e um discurso próximo. Quem, em menos de 40 minutos deixou completamente hipnotizados a um centenar de pessoas, sentido-se a grande maioria profundamente impressionados e representados nas suas palavras.
Na exposição, muito amena, expõe de maneira clara e singela a criatividade humana. Ele leva pouco a pouco a cada pessoa a penetrar no que foram os primeiros anos de vida escolar, conseguindo conetar com essa criança que fomos; cheios de alegria e sem medo ao erro.

Em que momento foi que nos perdimos?

A criatividade humana no transcurso da história não deixa de nos surpreender. Muitas vezes as grandes mentes não dependem de qualquer prestigiosa Universidade ou centro de estudos. São autodidatas ou pessoas que ficaram fora do sistema tradiciona por serem considerados de “distintos” ou “problemáticos”.
A educação atual, para além de guiar os nenos e desenvolver plenamente as suas potencialidades, ignora por completo esse aspecto. Isto fica salientado ao converter o sistema educacional numa chave que quer levar ao sucesso num futuro desconhecido; é nessa carreira da vida onde as crianças perdem ou ignoram compleamente os seus talentos naturais. Onde ser “distinto” está mal e ser parte do coletivo, uniforme, é o socialmente aceitado.
É nesse cenário onde o Sir Ken Robinson nos lembra que “a criatividade é tão importante como a alfabetização e deveria dar-se-lhe o mesmo status”. Os nenos precisam arriscar, tentar e provar sem medos ao ridículo, sem medos a errar (numa sociedade onde “errar” está muito mal visto).
Precisam se exprimir nas artes e na música, apreender dança (do mesmo jeito que se obriga muitas vezes a jogar numa determinada equipa de futebol). Formas de expressão que lhe permitam explorar cada um dos seus interesses e em consequência, reconhecer e potenciar os seus talentos.

Infelizmente, con a chegada da idade adulta, muitos são os que se acham perdidos. Possuem grandes conquistas e uma parede cheia de diplomas que dão crédito de todos os esforços mentais e conquistas materiais. Exercendo o labor escolhido com cansaço, tédio e sobre tudo...uma falta total de paixão pelas cousas.

Que temos conseguido?

Atualmente, temos um sistema castrador da criatividade, no que se vai progressivamente tirando-lhe o espaço para o movimento aos nenos até deixá-los imóveis olhando de “cara ao futuro” para um grande quadro preto que promete ser a chave da salvação para uma realidade vital vista como “inadequada (a aldeia, a vila...). Criam-se estudantes eternos, que enchem as suas horas de livros focados num só tema e limitando os outros aspectos de aprendizado com um esquema mental rígido que antes ou depois acaba passando ao corpo. Assim a tensão passa-se a fazer parte das nossas vidas, dando-nos tempo só para o “realmente importante” (o que dá dinheiro ou qualquer outro benefício material) deixando a exploração num lugar sem importância, fazendo do ensino que nos chega uma verdade absoluta, limitando a capacidade de investigação, de confirmação da informação, perdendo a oportunidade achar ideias próprias.
Existe uma progressiva perda da cultura tradicional em tudo isto, desvinculando à gente das suas terras, aumentando dramaticamente o despovoamento nos seitores rurais, como é que acontece na Galiza. Introduzem-se mudanças que trazem consigo uma cultura artificial que leva às crianças a desvalorizar o seu, o autótone, a desconhecer a autêntica riqueza do seu contorno ainda que este possua uma potência infinita mesmo do velho ponto do vista
As escolas rurais perdem nenos. Temos verdadeiros “colégios fantasmas” com capacidade para um grande número de estudantes que só acolhem uns poucos nenos. Em alguns casos até 10, só, das mais variadas idades. Os pais vem-se na obriga finalmente de se deslocarem às cidades, quer por causas económicas, quer por causas políticas
As famílias estão necessitadas de apoio real, duma orientação ao reencontro com a terra e os seus benefícios, sendo mais “prático” e fácil comprar uma verdura num hipermercado (com os seus respetivos processos de congelação e pesticidas) a cultivá-la na sua própria terra. Portanto, não há alternativas claras para quem sonha com uma sustentabilidade fora do sistema.
Outro dos problemas é desconhecimento profundo da história real da Galiza, que magoa a estoestima do mais aguerrido. Os professores vem-se na obriga de ministrar as aulas que não lhes correspondem, dependentes dum sistema obsoleto e adepto ao antolho dos dirigentes que provoca uma ubiquação do docente num ou noutro lugar da geografia do País sem fazer qualquer prevenção das necessidades reais, tanto dos nenos, quanto dos mestres. Estabelecimentos que costumam ficar em alguns casos a muitos quilómetros das cidades de residência, com longas viagens, gasto de dinheiro, comida, combustível...em fim, alimentando o sistema com isso mais do que para satisfazer as necessidades reais do funcionario docente ou beneficiar a qualidade do ensino.
Com este breve resumo do panorama galego, claramente é muito mais cómodo cair na programação e aceitar a rutina e a pertença à engrenagem sistémica sob a lei do mínimo esforço . Cansaço, tédio, frustração, falta de dinheiro e agora...os cortes económicos. É nestes momentos de crise quando é que se pode ver realmente quem tem realmente vontade de fazer achegas construtivas ao seu labor, quem sente paixão pelo seu trabalho, quem pode criar com originalidade e muito poucos recursos, formas diferentes de encher a vida das crianças que vão chegando às nossas aulas.

O final desta história não está escrito. Poderíamos claramente elucubrar saídas, soluções ou finais. Esta história do dia-a-dia fica aberta para que o leitor possa decidi-la, possa imaginá-la. A saída a este sistema temo-la entre todos e entre todos havemos de procurar uma porta: Programação ou criatividade?

Nota: O artigo tenta ser uma reflaxão breve, não apresentar todas as respostas. Deixo aberta a porta para colheitar e partilhar mais pontos de vista sobre a realidade de educação Galega.

SEFCHOVICH, Galia; WAISBURD, Gilda.- "Hacia una Pedagogía de la Creatividad".- Ed. Trillas. 2a. Ed. México 1987.

Sem comentários:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...