Por David Outeiro
Evidencias científicas e a sua realidade no mundo celta
E
se tivesses estado dormindo? E se, enquanto dormias, tivesses
sonhado? ¿E se nos teus sonhos, tivesses ido ao céu e ali tivesses
apanhado uma estranha flor? E se, ao acordar, tivesses a flor nas
tuas maos? Ah!, e que é o que aconteceria, portanto?
Samuel
Taylor Coleridge
A
morte é um dos grandes misterios, uma das maiores preocupações do
homem desde que é homem. Um processo pelo qual todos passaremos mas
no que muitos não querem pensar. Para todos os povos do mundo,até a
chegada das crenças materialistas da ciência, a morte era
“simplesmente” um trânsito, não um final. Mas não só isso,
havia pessoas especializadas em contatar com os espíritos dos
devanceiros e inclusivamente viajar até o Além, em vida; xamãs e
druidas. Mas o que muitos não sabem é que em algumas disciplinas
científicas estão a investigar elementos que poderiam
mudar completamente a nossa perceção da morte. As EQM, as
chamadas Experiencias de Quase Morte, chegaram a causar comoção em
boa parte da comunidade científica,as cada vez maiores evidências
fizeram cair os posicionamentos do materialismo. Psiquiatras,
neurocientistas, físicos quánticos, cardiólogistas e cientistas de
muitas outras disciplinas estão sinalando que a morte não é o fim,
é a consciência que sobrevive à morte física do corpo e pode
transcender os limites do espaço-tempo.
Como
alguns sabeis, percorro a nossa terra na procura das pegadas do
legado ancestral céltico. As pervivências de crenças, rituais e
mitos que provêm do passado mais longínquo. Faz uns dous anos
comecei a ter notícias dos estudos relacionados com as EQM. Na minha
viagem comecei a identificar fases destas experiências nas crenças
galegas sobre a morte, que verdadeiramente integram todas as crenças
das religiões desde os primordios. Com o tempo achei pessoas que me
contaram as suas próprias experiências de quase morte. Experiências
que observava com curiosidade mas sem me sair do meu reducionismo
biológico, da minha afinidade à ciência materialista com a que
sempre estive vinculado como atéu que na maior parte da minha vida
fui. Mas no meu caminho apareceu uma pessoa admirável que mudou a
minha vida por completo fazendo cair a minha afinidade com a ciência
materialista como um castelo de
naipes. Esta pessoa, provem duma longa linha herdada de
pessoas que têm umas capacidades muito especiais: a de contatar com
as ânimas dos devanceiros. O meu ceticismo ofereceu
resistência a pesar da confiança que tinha e tenho nesta
pessoa. As evidências e as mensagens foram demoledoras. Hoje, não
tenho medo em dizê-lo, porque não tenho dúvidas, penso que temos
de mudar o paradigma porque...a consciência, a alma sobrevive à
morte física do corpo. E sobre isto e a relação com a ciência,
falaremos neste artigo.
Foi
em 1975 quando o psiquiatra e filósofo norteamericano Raymond Moody
publicou o seu primeiro livro; “Life after life”(Vida depois da
vida). Nele recolhia centos de testemunhas sobre as EQM, experiências
que os livros de medicina não tiveram em conta nunca antes. A
publicação teve um amplo sucesso e resultou um grande impato. As
experiências, embora muitas seguiam um padrão determinado mudavam
em função da experiência. Quanto mais grave fosse o acidente ou
enfermidade que causaba a EQM do ponto de vista convencional, mais
profundidade e amplitude tinham as fases. Por vezes, alguma fase não
se manifestava. As obras publicadas com posterioridade assim como os
resultados de estudos realizados por distintos
expertos tambem apresentavam o mesmo padrão. As fases que
precedem a fronteira da morte são as seguintes:
- Sensação de bem-estar e paz
- Experiência extracorpórea na que se percebe como a consciência ou alma deixa o corpo físico. Neste caso, a pessoa que o vivencia poder ver o seu contorno ainda que as constantes vitais sejam ausentes. Após a EQM confirma-se que o que se percebeu foi real.
- Aparição dum túnel com uma luz no seu final.
- Encontro com familiares ou pessoas mortas. Por vezes ajudam a transitar até a luz. Têm-se registrado casos de pessoas que visualizam familiares ou pessoas sem saber que estavam falecidas até o contrastarem após a recuperação e o retorno ao corpo físico.
- Visão dum espaço sobrenatural e paradisíaco com uma natureza de imensa formosura. Por vezes também se audível uma música celestial.
- Visão duma entidade ou ser de “luz” manifestando-se quer como luminosidade quer como uma entidade antropomórfica. Sentimento de amor e sabidoría.
- Retrospeçao vital ou resumo da vida da pessoa em segundos, trascendendo os limites espaço-temporais ordinários.
- Flash forward, quer dizer, visão de acontecimentos futuros na vida da pessoa.
- Visão duma fronteira. A pessoa têm a perceçao de que no caso de trespassa-la não poderá voltar ao corpo físico.
- Regresso ao corpo. Muitas vezes as pessoas sentem uma grande deceção por voltarem à vida após passarem um processo de paz e bem-estar tão intenso.
Existe
uma reação dum certo ceticismo desde o reducionismo biológico para
negar a veracidade ou trascendência destas experiências. Tenta-se
explicar o bem-estar por meio da libertação de endorfinas, a visão
do túnel pela redução da atividade das sinapses (conexões
neuronais) que o projetam, a retrospeçao por meio de memória
inconsciente e valoriza-se o demais como simples elucubrações da
mente. Reduze-se tudo a simples alucinações causadas pela falta de
osigênio ainda que na verdade não se pode explicar o fundamental.
Porquê a conciência é mais
lúcida do que nunca? Porquê o relato das visões
extracorpóreas (inclusivamente
em pessoas cegas!) coincidem com os acontecimentos reais? Porquê o
dito por alguns familiares mortos se cumpre? Aliás, como é possível
que a consciência exista fora do corpo?.
Citando
ao filósofo e neurologista Alva Nöe; “ A investigação
neurocientista da conciência sustenta-se atualmente sobre umas bases
não questionadas, mas muito questionáveis,(...). A consciência não
acontece no cérebro.(...). Portanto, não é a atividade neural
associada à que determina e controla o carácter da experiência
consciente.(...). Seria absurdo procurar correlatos neurais na
consciência.(...). Não existem ditas estruturas(...). Esta é a
razão pela quealnão fomos capazes de dar uma explicação válida à
sua base neural(...). A ideia de que somos o nosso cérebro não é
algo que os cientistas apreendessem, mas um prejuizo que os
cientistas levaram ao lugar de trabalho desde casa.”
Reconhecidos
neurocientistas como Charles S. Sherrington e John C. Eccles,
ganhadores do Premio Nobel e o neurocirurgião Wilder Penfield acham
que o cérebro é mais um organismo complexo que regista e transmite
a conciência do que um ente que a produza.
A
consciência é para muitos estudiosos um fenómeno que tem a ver com
as realidades investigadas pela física quántica. Não é por tanto
um fenómeno material tal e como o percebemos, nem o resultado de
reações físico-químicas.
Partilho
o meu modo de ver com os cientistas que afirmam que o cerebro é um
recetor de consciência, um “aparelho” recetor como pode ser uma
rádio ou uma televisão. Acho que a consciência tem a ver com um
espaço não-local que transcende os limites do espaço-tempo.
Citando ao cardiologista e investigador das EQM, Pim Van Lommel:
“O espaço não-local constitui algo mais do que uma descrição
matemática. É um espaço metafísico no que a consciência pode
exercer o seu influxo porque possui propriedades subjetivas de
consciência. Segundo esta hipótese, a consciência é não-local e
funciona como origem ou base de todo, incluído o mundo material.
Desenvolvi uma hipótese que segue como resposta
aos episódios de consciência expandida experimentados durante um
ataque cardíaco. Esta consciência expandida supõe aspectos de
interconexão não local(...). Oferece a possibilidade de
comunicar-se com os pensamentos das pessoas envolvidas em vivências
passadas ou com a consciência de amigos e parentes falecidos. Aliás,
pode ver-se acompanhada dum sentimento de amor incondicional e
aceitação, assim como de um contato com uma forma de conhecimento e
sabedoría definitiva e universal(...), a consciência completa e
infinita com lembranças acessíveis tem as suas origens no espaço
não local, em forma de funções de onda indestrutíveis e não
observáveis de forma direto(...). O cérebro e o coração funcionam
simplesmente como uma estação de transmissores que recebe parte da
nossa consciência global e parte das nossas lembranças na nossa
consciência de vigília baixo a forma de campos eletromagnéticos
mensuráveis e em constante câmbio. Os campos eletromagnéticos do
cérebro não são a causa, mas o efeito da consequência da
consciência infinita”.
Acrescentamos
que a aceitação da imortalidade da consciência implica outra das
crenças mais antigas e universais que existia entre os druídas: a
reencarnação. Há muitos casos de pessoas que apos uma regressão
visualizam a sua vida passada e depois de investigar certos
acontecimentos históricos locais, confirmam a veracidade da sua
visão. Também há grande quantidade de casos de meninos que lembram
com exatitude a sua vida passada, realidade que demostraram
identificando com exatitude as suas anteriores pertenças e
lembranças de certos lugares.
Com
a minha própria experiência e as minhas pesquisas (nada novo)
cheguei a conclusão de que o padrão comum das religiões está na
interação com o espaço não-local, tendo a ver a existência de
muitos mitos com as chamadas realidades não-ordinárias (Stan.
Grof). Desde os primórdios, os xamãs tiveram
acesso a outras realidades por meio do emprego de técnicas
extáticas, quer dizer, induzindo estados alterados de consciência.
Este tipo de estados mentais induzidos de forma exógena ou
endogenamente, permitem a ativação ou contato de certas áreas do
cérebro, o qual podemos verificar cientificamente e que ao meu ver
permitem “sintonizar” como uma rádio, outras realidades que a
maioria das pessoas não podemos perceber. Entre outras cousas, o
contato com as ânimas foi e é uma realidade testemunhada no
transcurso do tempo. Os estados alterados de consciência têm também
muito a ver com a realidade que apresentam as EQM. A través do
tempo, este tipo de experiências foram a cosmogonia das realidades
religiosas ou espirituais, realidades que foram exprimidas na
linguagem das múltiplas crenças ao largo do planeta.
Nas
crenças célticas e galegas existem muitas similitudes com as fases
das EQM e evidências da irruçao das realidades transpessoais.
Alguns exemplos são os seguintes
- Entidades psycopompas(condutoras de ânimas ao Além): Há uns meses foi publicada uma entrevista neste blogue, feita a um homem que têm a capacidade de percebir essas outras realidades. O meu amigo “Lobo de Lugh” contava deste jeito uma experiência própria que têm muito a ver com uma EQM: “Poucos dias após a chegada, caí doente e o médico de Santarém que foi chamado para me ver, disse não perceber o porquê da minha febre e conversou com os familiares, dizendo que não havia mais nada a fazer senão esperar. Como mais tarde me contou a minha criada Clementina, a que nos criou a todos e estava particularmente ligada a mim, eu falava que estava ali no quarto o meu Pai e uma Senhora vestida de branco. Dizia-lhe que tivesse cuidado ao andar pela habitação para não embarrar neles. Decidiram então que a Senhora era a Virgem de Fátima, muito em “moda” naquela época, 1950, e foi um carro buscar um garrafão de água bendita à Cova de Iria. Com essa água, a Clementina deu-me um banho e, a partir desse momento, comecei a arribar e fiquei bom. Logo foram feitas promessas, rezadas missas, benzeduras pelo cura da terra. Mas a Clementina sempre me disse que quem me tinha curado tinha sido a Senhora da Fonte, e que eu devia, um dia, ir à fonte agradecer-lhe. Fi-lo muitos anos depois”. Esta é ao meu ver a descrição dum “arquétipo”, o da deusa branca e psycopompa do Além. A fermosa Moura que chegada do Além pentea os seus cabelos com um pente de ouro. A mesma deusa céltica relacionada com as plêiades a que os guerreiros lhe levavam um pente de agasalho tal e como nos aparecem em algumas tumbas. Deusa que aliás é tripla como As Tres Marias, brancas, relacionadas com o Cinturão de Orióm e que segundo as crenças galegas se aparecem aos moribundos. A mesma que mais tarde se pôde associar à virgem. Porque finalmente, são distintas nomenclaturas para descreiber uma mesma realidade. Também não me esqueço de Bândua, outro importante ajudante na última viagem.
- Experiencias extracorpóreas: Na Galiza existe a crença nas ânimas de vivos: A sociedade do Osso. Este tipo de ânimas são uma nomenclatura do corpo astral ou ânima, que é capaz de deixar o corpo em vida para voltar depois. Tal e como acontece numa EQM ou como capacidade que algumas pessoas afirmam ter.
- Música celestial: Na Galiza os encantos e as entradas ao mundo dos Mouros, isto é, ao Além, são anunciadas com uma música celestial. Por vezes mesmo de gaiteiros.
- Espaço sobrenatural paradisiaco: Os Immrama e as Echtra célticas, assim como a entrada no mundo do Sidh, descrebem viagens ao Além. O padrão comum é similar ja que por vezes aparece uma mulher ou animal que incita a fazer a viagem, faz aparição uma música celestial ao tempo que se chega a uma terra paradisíaca que é o outro mundo (Tir na nÓg, Tir Na Ambam, Avalon etc.). Ao regressar ao nosso mundo descrebe-se uma diferença temporal, de formq que o espaço-tempo do Além não é o mesmo do que o do mundo dos vivos. Acostuma-se dizer que uns segundos no Além podem ser anos no nosso... Lembremos a inexistência da passagem do tempo no espaço não-local. Por vezes, o que chega ao paraíso do Além não pode voltar, o qual, talvez pode ser uma evidência de ter passado a última fronteira descrita nas EQM.
Temos
de lembrar que na Galiza, o equivalente do mundo do Sidh é o Mundo
dos Mouros (do céltico mrwos,mortos). O Além, com maiúscula.
Convido
ao leitor a ler relatos das Experiências de Quase Morte e fazer uma
comparação entre esses relatos e os mitológicos galaicos ou
célticos para ver o que acham. Porque ao meu ver, os relatos
célticos estão a nos falar de viagens a essa outra realidade numa
situação limite ou durante um transe extático.
A
VIAGEM DE BRAN, FILHO DE FEBAL
Um
dia, quando o jovem Bran, filho de Febal, se passeia pelo jardim da
casa real, escuta uma música de tanta doçura que lhe provoca o
sono. Quando acorda aparece-se-lhe uma belíssima dama extranhamente
vestida, que leva uma maravilhosa pola de maceira, de cor prateada
nas súas maos. A mulher descrebe com melodiosos cânticos o
esplendor e as delícias incomparáveis do mundo situado para
além do oceano ocidental com as suas formosas ilhas, onde moram
milhares de jovens e belas mulheres, a sua música celestial e uma
completa ausência de perigos e traições, penas, enfermidades e a
mesma morte, pois lá eram desconhecidos. Ao dia seguinte, Bran
embarca-se com tes companhias de homens cada uma, e depois de
dous dias e duas noites de navegação acham ao deus marinho Manannan
Mac Lir (psycopompo), que viaja sobre os mares no seu carro de
combate com dous cabalos e duas rodas. Conversam, e Manannán, com os
seus grandes poderes mágicos transforma os mares e os peixes numa
verde chaira com rebanhos de animais do país prometido.
Posteriormente seguem o seu caminho para máis adiante chegarem a
Ilha da Felicidade e depois a Emain, a Ilha das Mulheres, onde são
recibidos por uma dama que os acomoda em camas. A cada um deles com
uma bela e jovem doncela. Apetitosos manjares e bebidas, música,
cantos, festas e divertimentos fazem a vida doce e pracenteira. O
tempo passa assim, docemente mas a eles parecia-lhes que transcorrira
um ano quando na verdade pasaram muitos mais. Um día, um deles
sente-se afligido por uma
grande morrinha e veementemente
consegue convencer ao Bran para realizarem uma visita a Irlanda,
o seu antigo país. A dama advirte-os de que lhes vai pesar
enormemente e que em qualquer caso, se decidirem ir, que não ponham
o pé na terra. Ao chegarem a costa da Irlanda, acham uma grande
assembleia. O Bran apresenta-se desde o barco e eles dizem não
conhece-lo embora tiveram ouvido falar da Viagem de Bran aos
Filedda (narradores de contos orais). O homem morrinhento
salta à praia mas ao tocar com o pé na areia converte-se em cinzas,
como se tivesse morto lá há centos de anos. O Bran relata então as
suas aventuras, depois escrebe-as em verso, em ogham, sobre umas
peças de madeira que deita na praia. Despede-se e desde aquel
momento nunca máis se soube dele nem das súas aventuras...
Lembre-se
que nos dias do presente mês de novembro as portas do Além vão
aparecer abertas, e receberemos e conviveremos com os nossos
devanceiros. Aa lúa cheia há de ser o momento de máxima apertura e
esta aqui.Se não os podeis ver, abri os olhos do coração e da
alma. É preciso dignificar e recuperar o seu legado e a súa
profunda verdade. Mantenhamos a fogueira acesa.
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