quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Vida despois da morte


Por David Outeiro

Evidencias científicas e a sua realidade no mundo celta


E se tivesses estado dormindo? E se, enquanto dormias, tivesses sonhado? ¿E se nos teus sonhos, tivesses ido ao céu e ali tivesses apanhado uma estranha flor? E se, ao acordar, tivesses a flor nas tuas maos? Ah!, e que é o que aconteceria, portanto?

Samuel Taylor Coleridge

A morte é um dos grandes misterios, uma das maiores preocupações do homem desde que é homem. Um processo pelo qual todos passaremos mas no que muitos não querem pensar. Para todos os povos do mundo,até a chegada das crenças materialistas da ciência, a morte era “simplesmente” um trânsito, não um final. Mas não só isso, havia pessoas especializadas em contatar com os espíritos dos devanceiros e inclusivamente viajar até o Além, em vida; xamãs e druidas. Mas o que muitos não sabem é que em algumas disciplinas científicas estão a investigar elementos que poderiam mudar completamente a nossa perceção da morte. As EQM, as chamadas Experiencias de Quase Morte, chegaram a causar comoção em boa parte da comunidade científica,as cada vez maiores evidências fizeram cair os posicionamentos do materialismo. Psiquiatras, neurocientistas, físicos quánticos, cardiólogistas e cientistas de muitas outras disciplinas estão sinalando que a morte não é o fim, é a consciência que sobrevive à morte física do corpo e pode transcender os limites do espaço-tempo.

Como alguns sabeis, percorro a nossa terra na procura das pegadas do legado ancestral céltico. As pervivências de crenças, rituais e mitos que provêm do passado mais longínquo. Faz uns dous anos comecei a ter notícias dos estudos relacionados com as EQM. Na minha viagem comecei a identificar fases destas experiências nas crenças galegas sobre a morte, que verdadeiramente integram todas as crenças das religiões desde os primordios. Com o tempo achei pessoas que me contaram as suas próprias experiências de quase morte. Experiências que observava com curiosidade mas sem me sair do meu reducionismo biológico, da minha afinidade à ciência materialista com a que sempre estive vinculado como atéu que na maior parte da minha vida fui. Mas no meu caminho apareceu uma pessoa admirável que mudou a minha vida por completo fazendo cair a minha afinidade com a ciência materialista como um castelo de naipes. Esta pessoa, provem duma longa linha herdada de pessoas que têm umas capacidades muito especiais: a de contatar com as ânimas dos devanceiros. O meu ceticismo ofereceu resistência a pesar da confiança que tinha e tenho nesta pessoa. As evidências e as mensagens foram demoledoras. Hoje, não tenho medo em dizê-lo, porque não tenho dúvidas, penso que temos de mudar o paradigma porque...a consciência, a alma sobrevive à morte física do corpo. E sobre isto e a relação com a ciência, falaremos neste artigo.

Foi em 1975 quando o psiquiatra e filósofo norteamericano Raymond Moody publicou o seu primeiro livro; “Life after life”(Vida depois da vida). Nele recolhia centos de testemunhas sobre as EQM, experiências que os livros de medicina não tiveram em conta nunca antes. A publicação teve um amplo sucesso e resultou um grande impato. As experiências, embora muitas seguiam um padrão determinado mudavam em função da experiência. Quanto mais grave fosse o acidente ou enfermidade que causaba a EQM do ponto de vista convencional, mais profundidade e amplitude tinham as fases. Por vezes, alguma fase não se manifestava. As obras publicadas com posterioridade assim como os resultados de estudos realizados por distintos expertos tambem apresentavam o mesmo padrão. As fases que precedem a fronteira da morte são as seguintes:

  • Sensação de bem-estar e paz
  • Experiência extracorpórea na que se percebe como a consciência ou alma deixa o corpo físico. Neste caso, a pessoa que o vivencia poder ver o seu contorno ainda que as constantes vitais sejam ausentes. Após a EQM confirma-se que o que se percebeu foi real.
  • Aparição dum túnel com uma luz no seu final.
  • Encontro com familiares ou pessoas mortas. Por vezes ajudam a transitar até a luz. Têm-se registrado casos de pessoas que visualizam familiares ou pessoas sem saber que estavam falecidas até o contrastarem após a recuperação e o retorno ao corpo físico.
  • Visão dum espaço sobrenatural e paradisíaco com uma natureza de imensa formosura. Por vezes também se audível uma música celestial.
  • Visão duma entidade ou ser de “luz” manifestando-se quer como luminosidade quer como uma entidade antropomórfica. Sentimento de amor e sabidoría.
  • Retrospeçao vital ou resumo da vida da pessoa em segundos, trascendendo os limites espaço-temporais ordinários.
  • Flash forward, quer dizer, visão de acontecimentos futuros na vida da pessoa.
  • Visão duma fronteira. A pessoa têm a perceçao de que no caso de trespassa-la não poderá voltar ao corpo físico.
  • Regresso ao corpo. Muitas vezes as pessoas sentem uma grande deceção por voltarem à vida após passarem um processo de paz e bem-estar tão intenso.

Existe uma reação dum certo ceticismo desde o reducionismo biológico para negar a veracidade ou trascendência destas experiências. Tenta-se explicar o bem-estar por meio da libertação de endorfinas, a visão do túnel pela redução da atividade das sinapses (conexões neuronais) que o projetam, a retrospeçao por meio de memória inconsciente e valoriza-se o demais como simples elucubrações da mente. Reduze-se tudo a simples alucinações causadas pela falta de osigênio ainda que na verdade não se pode explicar o fundamental. Porquê a conciência é mais lúcida do que nunca? Porquê o relato das visões extracorpóreas (inclusivamente em pessoas cegas!) coincidem com os acontecimentos reais? Porquê o dito por alguns familiares mortos se cumpre? Aliás, como é possível que a consciência exista fora do corpo?.

Citando ao filósofo e neurologista Alva Nöe; “ A investigação neurocientista da conciência sustenta-se atualmente sobre umas bases não questionadas, mas muito questionáveis,(...). A consciência não acontece no cérebro.(...). Portanto, não é a atividade neural associada à que determina e controla o carácter da experiência consciente.(...). Seria absurdo procurar correlatos neurais na consciência.(...). Não existem ditas estruturas(...). Esta é a razão pela quealnão fomos capazes de dar uma explicação válida à sua base neural(...). A ideia de que somos o nosso cérebro não é algo que os cientistas apreendessem, mas um prejuizo que os cientistas levaram ao lugar de trabalho desde casa.”

Reconhecidos neurocientistas como Charles S. Sherrington e John C. Eccles, ganhadores do Premio Nobel e o neurocirurgião Wilder Penfield acham que o cérebro é mais um organismo complexo que regista e transmite a conciência do que um ente que a produza.

A consciência é para muitos estudiosos um fenómeno que tem a ver com as realidades investigadas pela física quántica. Não é por tanto um fenómeno material tal e como o percebemos, nem o resultado de reações físico-químicas.

Partilho o meu modo de ver com os cientistas que afirmam que o cerebro é um recetor de consciência, um “aparelho” recetor como pode ser uma rádio ou uma televisão. Acho que a consciência tem a ver com um espaço não-local que transcende os limites do espaço-tempo. Citando ao cardiologista e investigador das EQM, Pim Van Lommel: “O espaço não-local constitui algo mais do que uma descrição matemática. É um espaço metafísico no que a consciência pode exercer o seu influxo porque possui propriedades subjetivas de consciência. Segundo esta hipótese, a consciência é não-local e funciona como origem ou base de todo, incluído o mundo material. Desenvolvi uma hipótese que segue como resposta aos episódios de consciência expandida experimentados durante um ataque cardíaco. Esta consciência expandida supõe aspectos de interconexão não local(...). Oferece a possibilidade de comunicar-se com os pensamentos das pessoas envolvidas em vivências passadas ou com a consciência de amigos e parentes falecidos. Aliás, pode ver-se acompanhada dum sentimento de amor incondicional e aceitação, assim como de um contato com uma forma de conhecimento e sabedoría definitiva e universal(...), a consciência completa e infinita com lembranças acessíveis tem as suas origens no espaço não local, em forma de funções de onda indestrutíveis e não observáveis de forma direto(...). O cérebro e o coração funcionam simplesmente como uma estação de transmissores que recebe parte da nossa consciência global e parte das nossas lembranças na nossa consciência de vigília baixo a forma de campos eletromagnéticos mensuráveis e em constante câmbio. Os campos eletromagnéticos do cérebro não são a causa, mas o efeito da consequência da consciência infinita”.

Acrescentamos que a aceitação da imortalidade da consciência implica outra das crenças mais antigas e universais que existia entre os druídas: a reencarnação. Há muitos casos de pessoas que apos uma regressão visualizam a sua vida passada e depois de investigar certos acontecimentos históricos locais, confirmam a veracidade da sua visão. Também há grande quantidade de casos de meninos que lembram com exatitude a sua vida passada, realidade que demostraram identificando com exatitude as suas anteriores pertenças e lembranças de certos lugares.

Com a minha própria experiência e as minhas pesquisas (nada novo) cheguei a conclusão de que o padrão comum das religiões está na interação com o espaço não-local, tendo a ver a existência de muitos mitos com as chamadas realidades não-ordinárias (Stan. Grof). Desde os primórdios, os xamãs tiveram acesso a outras realidades por meio do emprego de técnicas extáticas, quer dizer, induzindo estados alterados de consciência. Este tipo de estados mentais induzidos de forma exógena ou endogenamente, permitem a ativação ou contato de certas áreas do cérebro, o qual podemos verificar cientificamente e que ao meu ver permitem “sintonizar” como uma rádio, outras realidades que a maioria das pessoas não podemos perceber. Entre outras cousas, o contato com as ânimas foi e é uma realidade testemunhada no transcurso do tempo. Os estados alterados de consciência têm também muito a ver com a realidade que apresentam as EQM. A través do tempo, este tipo de experiências foram a cosmogonia das realidades religiosas ou espirituais, realidades que foram exprimidas na linguagem das múltiplas crenças ao largo do planeta.

Nas crenças célticas e galegas existem muitas similitudes com as fases das EQM e evidências da irruçao das realidades transpessoais. Alguns exemplos são os seguintes

  • Entidades psycopompas(condutoras de ânimas ao Além): Há uns meses foi publicada uma entrevista neste blogue, feita a um homem que têm a capacidade de percebir essas outras realidades. O meu amigo “Lobo de Lugh” contava deste jeito uma experiência própria que têm muito a ver com uma EQM: Poucos dias após a chegada, caí doente e o médico de Santarém que foi chamado para me ver, disse não perceber o porquê da minha febre e conversou com os familiares, dizendo que não havia mais nada a fazer senão esperar. Como mais tarde me contou a minha criada Clementina, a que nos criou a todos e estava particularmente ligada a mim, eu falava que estava ali no quarto o meu Pai e uma Senhora vestida de branco. Dizia-lhe que tivesse cuidado ao andar pela habitação para não embarrar neles. Decidiram então que a Senhora era a Virgem de Fátima, muito em “moda” naquela época, 1950, e foi um carro buscar um garrafão de água bendita à Cova de Iria. Com essa água, a Clementina deu-me um banho e, a partir desse momento, comecei a arribar e fiquei bom. Logo foram feitas promessas, rezadas missas, benzeduras pelo cura da terra. Mas a Clementina sempre me disse que quem me tinha curado tinha sido a Senhora da Fonte, e que eu devia, um dia, ir à fonte agradecer-lhe. Fi-lo muitos anos depois”. Esta é ao meu ver a descrição dum “arquétipo”, o da deusa branca e psycopompa do Além. A fermosa Moura que chegada do Além pentea os seus cabelos com um pente de ouro. A mesma deusa céltica relacionada com as plêiades a que os guerreiros lhe levavam um pente de agasalho tal e como nos aparecem em algumas tumbas. Deusa que aliás é tripla como As Tres Marias, brancas, relacionadas com o Cinturão de Orióm e que segundo as crenças galegas se aparecem aos moribundos. A mesma que mais tarde se pôde associar à virgem. Porque finalmente, são distintas nomenclaturas para descreiber uma mesma realidade. Também não me esqueço de Bândua, outro importante ajudante na última viagem.

  • Experiencias extracorpóreas: Na Galiza existe a crença nas ânimas de vivos: A sociedade do Osso. Este tipo de ânimas são uma nomenclatura do corpo astral ou ânima, que é capaz de deixar o corpo em vida para voltar depois. Tal e como acontece numa EQM ou como capacidade que algumas pessoas afirmam ter.

  • Música celestial: Na Galiza os encantos e as entradas ao mundo dos Mouros, isto é, ao Além, são anunciadas com uma música celestial. Por vezes mesmo de gaiteiros.
  • Espaço sobrenatural paradisiaco: Os Immrama e as Echtra célticas, assim como a entrada no mundo do Sidh, descrebem viagens ao Além. O padrão comum é similar ja que por vezes aparece uma mulher ou animal que incita a fazer a viagem, faz aparição uma música celestial ao tempo que se chega a uma terra paradisíaca que é o outro mundo (Tir na nÓg, Tir Na Ambam, Avalon etc.). Ao regressar ao nosso mundo descrebe-se uma diferença temporal, de formq que o espaço-tempo do Além não é o mesmo do que o do mundo dos vivos. Acostuma-se dizer que uns segundos no Além podem ser anos no nosso... Lembremos a inexistência da passagem do tempo no espaço não-local. Por vezes, o que chega ao paraíso do Além não pode voltar, o qual, talvez pode ser uma evidência de ter passado a última fronteira descrita nas EQM.

Temos de lembrar que na Galiza, o equivalente do mundo do Sidh é o Mundo dos Mouros (do céltico mrwos,mortos). O Além, com maiúscula.
Convido ao leitor a ler relatos das Experiências de Quase Morte e fazer uma comparação entre esses relatos e os mitológicos galaicos ou célticos para ver o que acham. Porque ao meu ver, os relatos célticos estão a nos falar de viagens a essa outra realidade numa situação limite ou durante um transe extático.

A VIAGEM DE BRAN, FILHO DE FEBAL

Um dia, quando o jovem Bran, filho de Febal, se passeia pelo jardim da casa real, escuta uma música de tanta doçura que lhe provoca o sono. Quando acorda aparece-se-lhe uma belíssima dama extranhamente vestida, que leva uma maravilhosa pola de maceira, de cor prateada nas súas maos. A mulher descrebe com melodiosos cânticos o esplendor e as delícias incomparáveis do mundo situado para além do oceano ocidental com as suas formosas ilhas, onde moram milhares de jovens e belas mulheres, a sua música celestial e uma completa ausência de perigos e traições, penas, enfermidades e a mesma morte, pois lá eram desconhecidos. Ao dia seguinte, Bran embarca-se com tes companhias de homens cada uma, e depois de dous dias e duas noites de navegação acham ao deus marinho Manannan Mac Lir (psycopompo), que viaja sobre os mares no seu carro de combate com dous cabalos e duas rodas. Conversam, e Manannán, com os seus grandes poderes mágicos transforma os mares e os peixes numa verde chaira com rebanhos de animais do país prometido. Posteriormente seguem o seu caminho para máis adiante chegarem a Ilha da Felicidade e depois a Emain, a Ilha das Mulheres, onde são recibidos por uma dama que os acomoda em camas. A cada um deles com uma bela e jovem doncela. Apetitosos manjares e bebidas, música, cantos, festas e divertimentos fazem a vida doce e pracenteira. O tempo passa assim, docemente mas a eles parecia-lhes que transcorrira um ano quando na verdade pasaram muitos mais. Um día, um deles sente-se afligido por uma grande morrinha e veementemente consegue convencer ao Bran para realizarem uma visita a Irlanda, o seu antigo país. A dama advirte-os de que lhes vai pesar enormemente e que em qualquer caso, se decidirem ir, que não ponham o pé na terra. Ao chegarem a costa da Irlanda, acham uma grande assembleia. O Bran apresenta-se desde o barco e eles dizem não conhece-lo embora tiveram ouvido falar da Viagem de Bran aos Filedda (narradores de contos orais). O homem morrinhento salta à praia mas ao tocar com o pé na areia converte-se em cinzas, como se tivesse morto lá há centos de anos. O Bran relata então as suas aventuras, depois escrebe-as em verso, em ogham, sobre umas peças de madeira que deita na praia. Despede-se e desde aquel momento nunca máis se soube dele nem das súas aventuras...

Lembre-se que nos dias do presente mês de novembro as portas do Além vão aparecer abertas, e receberemos e conviveremos com os nossos devanceiros. Aa lúa cheia há de ser o momento de máxima apertura e esta aqui.Se não os podeis ver, abri os olhos do coração e da alma. É preciso dignificar e recuperar o seu legado e a súa profunda verdade. Mantenhamos a fogueira acesa.

Bom Sámanos a todos.


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