Por José Manuel Barbosa
No momento atual estamos vendo como um poder
contrário à língua dos galegos favorece o desconhecimento, a
ignorância, para favorecer a entrada dos elementos linguísticos
alheios que acabar impondo com maior um menor violência uma
substituição linguística que em nada favorece Galiza. Os novos
galegos são educados em castelhano maioritariamente embora a sua
língua inicial seja o seu galego particular. Educam-se para que
apanhem consciência de que a fala que eles têm por ancestral não
se reconheça como uma língua universal e transnacional. Esta tem
uns limites estreitos que coincidem com o território administrativo
que os gere sem lhes ensinarem que o mundo é muito grande e nele há
muita humanidade com a que podemos nos entendermos sem mudarmos para
qualquer outra língua franca, conhecida ou não. Essa ideia tira-lhe
utilidade. Não serve para andar pelo mundo que para isso está o
castelhano.
Os nossos velhos galeguistas conheciam este facto.
Conheciam que os galegos tinham um instrumento de comunicação
internacional embora o seu uso fosse muito deficiente por
desconhecimento da póla mais viçosa conhecida no mundo com o nome
de português. Todos eles, ou pelo menos a maior parte deles, deu a
conhecer as vantagens que um galego tem à hora de dominar uma das
línguas mais estendidas do mundo. Essa extensão e utilidade é algo
muito pouco admirada e desejada por aqueles que gerem ainda a dia de
hoje a nossa vida linguística. A razão não é limpa. A razão é
muito obscura. É a vontade de matar a língua dos galegos e impor a
sua por acima de razões linguísticas e benefícios psicológicos e
económicos.
Vejamos que ideia de universalismo tinham os nossos
clássicos:
“Galiza e Portugal estreitadas ao fin supoñerian
unha expansión cultural de idioma diferente do castelán tan
extensiva cuase como a diste na península a camiño de rivalizar
tamén na América, no baluarte do Brasil”
António Vilar Ponte. Pensamento e Sementeira. Pág
213
“Santo idioma, idioma inmortal, polo que a nobre
Lusitania nos tende os seus brazos hirmáns dicíndonos que para él
ainda pode haber unha nova hexemonía novecentista! Que tanto
galaico-portugués como castelán se falará de novo en América...Que
o galaico-portugués, o castelán e o inglés son tres idiomas
chamados a loitar por superarse no Novo Mundo. E virá un forte
pangaleguismo traguendo a luz para a caduca iberia”
A.Vilar Ponte. A Nosa Terra. nº 60
“O portugués é un fillo do galego e entre os
dous non hai mais capitalmente que diferenzas fonéticas que non son
tan grandes quizais como as que existen entre o andaluz e o castelán.
Si nosoutros empregamos a ortografia histórica galaico-portuguesa
teremos salvado a dificultade que separa ambas as duas língoas e
daremos ao galego un carácter mais universal, facéndoo accesible ao
maior número de homes.
Foi un mal da literatura galega aislarse mediante a
sua ortografia. Escrita com ortografía portuguesa houbera corrido
mais facilmente o mundo e isto tería influído na vitalidade do noso
idioma e do noso pobo, pois ambos van intimamente unidos”
Johan V. Viqueira
Pol-a reforma ortográfica.
A Nosa Terra. nº 43. Pág. 1
“Galiza, como grupo étnico, tem dereito a
diñíficar a língoa que o seu proprio xenio creou, porque é una
língoa capaz de ser vehículo de cultura universal, porque lle sirve
para comunicar cos povos de fala portuguesa”
Castelao. Sempre en Galiza. Pág. 108
“Quen son os que tratan d’arredarse do resto do
mundo, nosco –os galeguistas- que falando o nosso idioma
conquerimos entendernos com portugueses, brasileiro ou vosco –os
desleigados- que por poñer toda-las forzas na defensa do castelán,
creendo supremo hacedor, tedes que sere eistraños antre aquelas
xentes, co-as que nosco, sin ningún sacrifício, faguemos
entendernos?”
Xosé Ares Miramontes
O galego é de moito proveito.
A Nosa Terra nº 72. Pág 3
“Dispois de todo, a lingua nosa é a portuguesa
–un, galego modernizado, outra, portugués antigo- xa casi comparte
a hexemonía no mundo de civilización latina c’o castelán e
acabará por compartilo por inteiro.”
Portugal e Galicia
Unha festa dina de lembranza.
A Nosa Terra. nº 58. Pág 4
Ódio a todo aquilo que cheire a português
Mas o poder, conhecidos estes argumentos e desejoso
de que não se estendessem, criou mais uma razão e mais um obstáculo
para que os homens e as mulheres galegos do comum, arraigados e
amantes do seu, não continuassem adiante no processo de
reconhecimento duma realidade que lhes abria as portas dum poderoso
mundo no que não só faríamos parte, mas também não seríamos uma
parte qualquer. O nosso lugar nesse mundo seria o ponto matricial.
O ensino e os média parciais e servidores de quem
não tem em muita estima aquilo de que podemos considerar
nosso, apresentam um paradigma que não se corresponde com a realidade que
as ciências da linguística apresentam, favorecendo posteriormente
uns prejulgamentos que em nada ajudam a um aproveitamento total da
nossa língua. Esses prejulgamentos favorecem racismos endógenos,
quer dizer endofobias e auto-racismos que se estendem, estes sim, por
ali por onde se pode estender a consciência: pelo mundo do qual
somos matriz....já não só para não nos reconhecermos, mas para
que nós próprios odiemos aquilo que o poder considerou sempre
inferior: Portugal e o seu mundo civilizacional. Quem não ouviu
alguma vez ou mesmo viu com os seus próprios olhos um comentário ou um
ato racista contra um português ou algo procedente de Portugal? Para
que isso? Que finalidade tem esse racismo na Galiza?
Portugal foi o único país da Península Ibérica
que não consolidou a sua pertença à Monarquia Hispânica. O único
país que tem uma língua que pode concorrer com a “lengua común”.
O único que dignificou a sua legítima não inclusão num projeto
nacionalitariamente impositor.
Os galegos menos vinculados às letras, menos
evoluídos inteletualmente, acolheram sempre e acolhem com mais
facilidade este tipo de prejuízos, sem se darem conta que ir contra
algo que criou o seu próprio povo é ir contra a sua própria
individualidade num ato de inconsciência que serve para vilipêndio
de próprios e estranhos. Algo que não se explica se não é por
falta de cultura, por falta de informação e em muitos casos por motivo duma pailanice integral que sobrevoa a vida dos galegos alimentado por um poder vírico e doentio. Talvez medo a se reconhecerem "muito portugueses" e nada castelhanos...
Dizem que a ignorância é atrevida...
Que dizem os galeguistas históricos...?
“...y la huella de dicha nefasta
influencia es tan notoria, como puede observarse viendo hasta que
punto muchos de nuestros paisanos, sin razón alguna para ello en
proceso inconscientemente hijo del prejuicio centralista, se hacen
eco del odio de Castilla hacia Cataluña y Portugal, aún cuando con
Portugal tengamos una comunidad de lengua y de Cataluña no hayamos
jamás recibido un solo agravio”
A.Vilar Ponte. Pensamento e Sementeira. Pág. 261
“...fermosa práitica cultura a dos nosos
señoritos e a dos tristes gobernos centralistas que nos arredou e
sigue arrendándonos de Portugal e do mundo portugués cada vez
mais”.
António Vilar Ponte. A Nosa Terra. Nº 56. Pág. 1
“...y queda tambén, por lo tanto,
condenado para siempre el dicho ignaro de los que a los gallegos que
depuran su lengua los califican, como si esto fuese defecto, de
aportuguesados”
A.Vilar Ponte
Pensamento e Sementeira. Pág 152
Acrescentamos a isto que em Portugal houve e ainda
há hoje, ainda que em menor medida, um sentimento anti-galego que
serviu de forma de maltrato aos portugueses do Norte.
Tradicionalmente os sulistas nomearam os nortenhos de galegos. Às
vezes despetivamente, outras simplesmente como uma forma de
identificativo étnico inconsciente que nos leva a acreditar na
existência para eles dum continuum humano que não para no Minho nem
na raia seca galaico-portuguesa.
“...os lisboetas bulrábanse igoalmente dos
portugueses do norte porque éstes eran galegos”
Castelão. Sempre en Galiza. Pág 338
“E dende Lisboa non se ve nin se sinte a
necesidade de Galiza, porque tampouco está aló o berce de Portugal”
Castelão. Sempre en Galiza. Pág 335-336
Não sabemos o que aconteceria nas consciências dos
galegos se em vez de limitarmos ao Sul com esse Portugal supostamente subdesenvolvido
que nos apresentou sempre a Coroa castelhana tivéssemos um Portugal
poderoso como podem ser hoje o Reino Unido, os EUA ou a Alemanha.
Talvez com essa imagem de poder, os galegos teriam mais consciência
de pertença a uma comunidade linguística e étnica galaica que
transcendesse as fronteiras políticas impostas por uma história que
como sabemos sempre é escrita pelos interesses de uns poucos por
acima de uns muitos. Talvez o conceito de reintegração linguística
fosse mais fácil de expor e talvez o poder madrileno tivesse mais
respeito por uma realidade que ainda hoje vive e permanece apesar das
políticas linguísticas e nacionalistas pró-castelhanas.
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