Por Calros Solla
Fotos tiradas dos blogues:
(O embigo do becho)
(Capitán Gosende)
Abriu-se a veda do voto e, em Cerdedo, aqueles aos que lhes vai a vida nisto
andam um bocado abelhoados. Há uns dias, porta a porta e com
diligência, foram distribuídos os exemplares dum panfleto intitulado
“2005-2015. 10 anos de governo”, outro alarde propagandístico
que, encarregado pelos estrategas locais do partido da Gürtel,
pagou-se, mádia leva!, com os dinheiros de todos. Com pólvora alheia qualquer faz festa.
É uma mágoa que tanto a primeira foto-novela (de 2014) como a segunda
(mais carregada de bombo) não registem o nome do obradoiro de artes
gráficas onde foram editadas, já que, em prol da transparência,
muito conviria uma consulta para saber a quanto ascendeu a boda e a
re-boda. Supõe-se que o custo há de figurar no livro de contas do
Concelho (provavelmente, no apartado “Otros gastos”); infelizmente, em Cerdedo não há oposição que, embora seja por
dignidade, bote as mãos á cabeça.
Bandeira de Cerdedo |
Estamos às portas de que se cumpra o octogésimo aniversário do triunfo da direita em Cerdedo. O último alcaide de esquerdas, o socialista
Luciano García Ventim, foi despossuído do seu cargo, perseguido,
encarcerado, ultrajado e extorquido, após o golpe de Estado
fascista de Julho de 1936. O seu sobrinho, Ramiro Lois Ventim, ao mesmo tempo do que
outros quatros membros da mesma família, todos socialistas, foram
fuzilados em dezembro do ano fatídico. Com uma moreia de mortos
clamando justiça, a deriva ideológica do PSOE, aqui e acolá, é
cousa inadmissível. A paróquia nacionalista também viveu épocas
melhores.
Depois de anos de reiteradas e amplas maiorias, o
Sogro,
que foi um dos mandatários mais longevos do mundo mundial
(1974-2004), despedia-se nos jornais afirmando com ufania que a sua
melhor obra tinha sido a remodelação da Casa do Concelho.1
Tempo teve de reformar o castelo. Aplicando a consigna “Todo atado
y bien atado”, aconteceu em Cerdedo o nepótico relevo no poder.
Desde as municipais de 2007, o salão dos plenos, presidido pelo Genro,
vem sendo cenário de malheiras do tipo 10-0. Bem, sejamos justos,
10-1, pois, as boas tundas ainda são melhores se é que se adornam com o golo
da honra. Contam os que o viram que é todo um espetáculo de
ensaiada coreografia ver os dez bracinhos se erguerem ao uníssono.
Segundo o censo de população de 1940 (fonte: INE), o número de habitantes
de Cerdedo ascendia a 5.211 (2.101 varões e 3.110 mulheres).
Consoante o censo de população de 2014 (fonte: INE), a otimista
cifra de cerdedenses chegava aos 1.860 (784 têm mais de 64 anos de
idade (fonte: IGE)). A aplicação, durante décadas, da mesma
política (“piche e pontos de luz”), auspiciada por uma intrincada aranheira de clientes, deu como resultado uma catástrofe
demográfica explicitada na perda de 3.351 habitantes. Não se deixem
enganar, Cerdedo não é um concelho pequeno, é um concelho
despovoado.
Suspeita-se que nas próximas eleições, o panorama seja suscetível de piorar,
porque, ao parecer, não há em Cerdedo quem dê um passo à frente e
ofereça uma alternativa (por não haver, não há nem quem ouse erguer
a voz). Outra impúdica goleada, e semanas atrás, dias ao cabo.
Ora bem, com todo o peixe vendido, como se explica a onerosa necessidade
de auto-afirmação mostrada pela autoridade na sua arroutada
editorial?
Capitão Gosende |
A nova entrega da série “Vida e milagres” semelha um álbum Panini
de 86 páginas a toda cor (e mais capa e contra-capa). Escusam andar
na procura dos cromos ou perder o tempo em trocar os repetidos,
porque a coleção já vem completa. Ainda assim, melhor seria que
o caderno fosse mudo, porque, no tocante ao estilo (ressesso) e à ortografia (deficiente), o autor é digno candidato, já não à
convocatória de maio, mas à de setembro. Mais de 100 erros
ortográficos em 5 páginas de texto!!!
Na
página 2, a duas colunas, começa o que, comummente, se denomina
“Saudação”. Comove-nos o excesso de sentimentalismo dos primeiros
parágrafos, confesso-lhes que a mim também se me humedeceram os
olhos; mas, cumpre ler entre linhas. Quando a autoridade diz, de
maneira redundante: “Lembro-me claramente do apoio de cada um dos
vizinhos que naquele dia quisestes mostrar-me o vosso apoio...”,
quer dizer, como se comprovará, que também se lembra de cada um dos
vizinhos que não lhe manifestaram obediência.
Chegados ao final da página 3, se lhes solicitasse aos meus alunos de
literatura que escrevessem o tema do relato, dar-se-iam conta em verdade, por
“Excusatio non petita, accusatio manifesta”.
Painel indicativo vandalizado na aldeia de Pedre, recuperada pelo Capitão Gonsende. Quem o vandalizou? |
Concordo
plenamente com o expressado pela autoridade no começo da página 4:
“Também não podemos obviar que estes últimos anos, tocou-nos viver a
que está considerada como a maior crise da democracia deste país”. Pode-se dizer mais alto, mas não mais claro: os anos de governo do todo-poderoso partido da Gürtel minaram de tal maneira os
fundamentos democráticos que, após a pérfida reforma laboral, a sectária reforma educativa, a privatização da sanidade, o
desmantelamento dos serviços sociais, a lei "mordaça" a vaga de corrução e latrocínio, um já não sabe se mora num país do
primeiro mundo ou numa república bananeira (talvez, eucalipteira).
Desconheço as consequências que, para as aspirações políticas da
autoridade cerdedense, possa ocasionar este lapso de sinceridade
subversiva.
No que diz respeita á estrita austeridade imposta desde fora, à vista das publicações que pagamos todos para enaltecimento da sua majestade, desseguida
se conclui que sempre há dinheiro para o que convém.
Muito se lamenta a autoridade da desaparecida “comedela do javali”,
esquecendo a pioneira “Festa da Vincha”, louvável iniciativa vizinhar, que foi raposeiramente asfixiada porque não lhe produzia
rendimentos eleitorais. Se a tolerância fosse uma das suas virtudes, a
Festa da Vincha, celebraria este ano a sua XV edição. A ajuda
económica que recebia do Concelho (quando a recebia) era duns 600
euros, ridícula, se a comparamos com os 70.000 euros destinados a
financiar cada lupanda do porco bravo. Ambas as duas, ao seu jeito, ajudavam a situar este canto da Terra de Montes. A Festa do
Javali, a maiores, solicitava o voto a câmbio dum prato de comida.
Os Gosende trabalharam na recuperação de Vichocuntim por desleixo do Concelho. |
Respeito dos agradecimentos pelos conselhos e pela crítica
construtiva, não há de que.
O
2015 é ano profusamente eleitoreiro, portanto, faríamos bem em
blindar-nos da legião de "falabaratos" que, sem deixarem de olhar-se para
o umbigo, porão a prova a nossa paciência, prometendo como nunca para deixar de cumprir como sempre. Assistimos espantados à macabra constatação
da sistémica corrução institucional. Dói presenciar a impunidade
com a que manobram as redes gangsterís vinculadas às maiorias
absolutas. Pouca justiça se pode aguardar dum dinamitado Estado de Direito. Urge regeneração, mas, quem lhe vai pór o ajôujere ao
gato?
Neste tempo de justificada indignação social, os servidores públicos, os
que sustemos economicamente (a alguns por cima das suas
possibilidades2)
para que giram assisadamente o que é de todos, deveram reger-se
pelo comedimento e a humildade; deveram deixar de dar tantos
conselhos e escutarem, de quando em quando, algum.
A situação terminal de Cerdedo é muito similar à relatada na lenda
“A cidade submersa”, recolhida por Leandro Carré Alvarellos (As
lendas galegas tradizonaes,
1969). No relato, a Virgem vagabunda pergunta-lhe a uma paisana pela
decadência moral na que se some a cidade de Béria. A mulher
responde-lhe: "Porque
ninguém quer se pôr a mal com os que regem e mandam na vila; e uns
porque se enriquecem, e outros porque vivem alegremente sem grandes
trabalhos, vão-se deixando ir. E os pobres ainda menos, que nada
podemos fazer contra os mais podentes... E todos os bons vão-se indo
para outras terras; e assim a perdição é maior a cada día.
Após escutar as explicações da velha, a Virgem toma a decisão de
assolagar a cidade de Béria. Aguardemos que a Nossa Senhora de Fenosa não se lhe dê por recuar na ideia de alagar a valinha.
A tropa do Capitão Gosende |
E
passando nas folhas do catálogo hagiográfico, atingimos a pagina 6,
remate duma longa introdução enchoupada de recorrente auto-bombo. O
melhor aguardava por nós ao final, já que o panegírico deriva em
libelo.
Reitero
o dito, os políticos deveram fazer mais e falar menos (e escrever,
a ser possível, nada). No penúltimo parágrafo, antecedendo os
agradecimentos e os abraços, fruto duma inopinada transformação
jekyllhydeana
(desculpem o palavrão), aquela “boa pessoa”, aquele “homem
responsável", aquele que pedia “mil desculpas” e que fazia
“propósito cada dia para não cometer erros nem causar-lhe prejuízo
a ninguém”, atacam descontroladamente contra os vizinhos que, segundo
a sua opinião, “põem paus nas rodas da evolução”, qualificando-os, aliás, de “irrelevantes”, “insolidários”,
“apenas dous ou três", e "Quase sempre os mesmos”, “gente que nem sequer está censada em Cerdedo”. Vindo dum alcaide, que
aspira a seguir exercendo e cuja obriga é garantir a convivência,
esta grosseria é absolutamente intolerável e a vontade de
publicá-lo, duma infantil irresponsabilidade.
Quem é o Capitão Gosende? |
Lembro-lhe á autoridade que, ainda que o incomode, seguimos vivendo em democracia e
que, apesar os recortes consumados pelo seu partido, segue
amparando-nos a liberdade de expressão. É evidente que a autoridade
digere mal a crítica e esta doença é consequência da falta de oposição. Vc. está habituado a fazer o que lhe peta, sem
atrancos, animado por uma legião de interessados aduladores.
Administrar a divergência e o descontento também vai no salário. Quando
se governa com mão de ferro, fazer boa política é assunto
desprezível. Semear discórdia não está entre as suas competências.
Invista toda a sua energia em tirar Cerdedo do buraco no que o meteu e
agradeça que haja alguém que, rara vez, lhe ponha os pés na
terra. A grandeza do bom governante reside na prudência, na capacidade
de consenso e em aceitar como positivo que não todo o mundo tenha por
costume ou necessidade fazer-lhe as beiras.
Age Vc. enroupado por uma maioria absoluta que, se ninguém o
remedia, vai revalidar nas próximas eleições; que mais é o que quer Vc.?,
quebrar um recorde de permanência? Mau é não saber perder e
péssimo é não saber ganhar. É consciente a autoridade de que os
vizinhos, assinalados como turbulentos e proscritos, ajudam a pagar-lhe o
seu salário e, aliás, queiram ou não, o seu leque eleitoral? Perante
todo, não percamos a calma.
Gaba-seVc. na imprensa ponte-vedresa das pelejas que há em Cerdedo porfigurar na listagem eleitoral do partido da Gürtel. Se assim fosse,
todos, sem escrúpulos, a cavalo ganhador. Mas, de aqui a pouco,
como não faça por estimular a demografia, a restra dos seus
candidatos e o padrão municipal hão ser a mesma cousa. Por enquanto,
Cerdedo perde dous concelheiros.
Acredite quando lhe digo que, por saúde democrática, a existência do
contraponto, do debate, da confrontação de ideias é imprescindível
para o progresso dos povos. Portanto, evite vangloriar-se de que não tem rivais e lamente-se de governar em solidão. Não há nada mais
perigoso do que o auto-deificação e Vc. já manifesta algum
sintoma.
Os gosende limpando o Cruzeiro do Pego |
Longe fica aquela aspiração de converter Cerdedo num Concelho-dormitório, o paraíso da segunda vivenda. Algo tem este território
que afugente à gente de fora e também a de dentro. Não havendo
solução, conformemo-nos portanto com a figura, meritória ou merecida, de Concelho-tanatório. Morrer há que morrer.
Retorno à sua excessiva falta de modéstia e resumo, finalmente, o balanço da sua
década prodigiosa: 20 páginas de piche, 5 de concreto, 3 páginas
de pontos de luz, 37 fontes, 17 lavadoiros e um lote de
churrasqueiras. Sabendo que o uso da lavadora elétrica se
popularizou nos anos 60, sabendo que a água da torneira é também uma
conquista do passado, sabendo que a vaca se considera, em Cerdedo,
fauna em extinção, sabendo que não há nem gente, nem humor, nem
dinheiro, nem licença para a queima, para fazer grelhadas, os seus
investimentos são, pelo menos, anacrónicos e reiteradamente
inadequados. Assim mesmo, as comunidades de montes deveriam
reflexionar sobre a pertinência das obras que se executam com o seu
dinheiro.
A comissaria de Política Regional da União Europeia e a secretaria de
Estado de Orçamentos e Despesas (a sua correlegionária) exigem “Menos
concreto e mais conhecimento”; em Cerdedo, malham em ferro frio.
Calros Solla na entrada da Cova do Dragão no Pico Sacro. |
Do embuste do Sangal já falei avondo. Onde estão os postos de trabalho? Onde está a
parcela de monte comunal? No que diz respeito da Escola Infantil e os parques
de randeeiras, é triste realidade que em Cerdedo só apareçam
censados 32 nenos menores de 10 anos (fonte: IGE). Segundo vamos
comprovando, a redação do catálogo dos bens culturais do
recentemente aprovado PGOM (que demorou uma década) não parece feita por
humanos. Na seleção dos “Ecos da imprensa” aplicou-se a
censura. No capítulo “Promessas”, salientamos mais piche e,
entre outras arrogâncias, a da “área recreativa” que, em
ausência de projeto, anuncia-se recorrendo aos equipamentos
de não sabemos onde. O papel tem conta do que lhe põem.
O Concelho de Cerdedo arrasta um problema que requer urgente solução: a perda de população (a força vital, a razão da sua
existência). Chateia-nos comprovar como, alheia à realidade, a gestão
municipal, muito virada para a megalomania, ofusca-se no alargamento das
estradas (subutilizadas), na construção de largos, rotundas,
viadutos, desvios... A burro morto cevada ao rabo. A campanha
informativa “Mais em Cerdedo” de fomento do empadroamento é, evidentemente, ineficaz, porque não persegue os fins que enuncia, mas
manter o status duma autoridade que não predica com o exemplo.
Ninguém lhe discute o apoio popular, e também não vamos negar o
mérito de levar colado na á poltrona dez anos. A maioria é capaz de vislumbrar os seus méritos, seja como for, todos concordamos em que o
nível herdado estava a rente do chão.
Calros Solla lendo o Alva de Glória de Castelão no Pico Sacro o passado 24 de Julho |
No campo do Turismo, muito nos alegramos de que finalmente, tomasse consciência,
no entanto, para implantar em Cerdedo um modelo de exploração
turística sustentável, não chega com manter limpos os caminhos. O
plano exige salvaguardar a integridade dos nossos valores paisagísticos
e patrimoniais (lembre o ímpeto carvalhicida, não esqueça o AVE que
nos vem acima), encher de conteúdo os roteiros de caminhada e
dignificar todo aquilo que desejamos mostrar aos nossos
visitantes.
Infelizmente, não somos um prodígio de hospitalidade. As aldeias esmorecem sem “horizontes”. Pedre é uma sombra do que foi. A Eira da Pena
dá, literalmente, pena. As nossas florestas são couto florestal da
Celulose. Os nossos rios, tragadeira das hidroeléctricas. O Museu da
Pedra pouco mais tem do que a sua ambiciosa denominação. Como é possível que não se apresentasse qualquer alegação á desfeita que a
linha do TAV vai causar na Freguesia de Pedre? É o primeiro caso
de abuso institucional no que os vizinhos afectados respondem com o
silêncio. Por algo será. Desde o Concelho concede-se-lhe mais relevância a um “passeio bio-saudável” do que ao bem-estar do povo e á
integridade das aldeias.3
Apresentação do livro de Calros Solla "A Conxura dos Gosende". |
O
coletivo Capitão Gosende leva anos trabalhando a prol da investigação e promoção cultural de Cerdedo e, sendo conscientes
das muitas limitações, demonstrou que o sistema funciona. Os frutos
da experiência oferecem-se debalde para quem os queira pôr em prática. Lembro-lhe, com orgulho, uma pequena mostra do labor
realizado: mais de 2.600 pessoas guiadas pelo monte do Seixo, a
Montanha Mágica, e perto de 600 pelo “Pedre milenário”. Estas
actividades, desenvolvidas com humildade e sem ânimo de lucro,
deixaram riqueza em Cerdedo.
O
espaço arqueomítico do Seixo, convertido com esforço e graças á Internet num referente, segue sendo para Vc. um interessado e
patético parque eólico. A montanha do Seixo abrange cinco concelhos (clônicos), contudo, Capitão Gosende sempre fez por
priorizar os interesses de Cerdedo.
No
que diz respeito das descobertas, sumamos 10 gravados rupestres e a localização
de sete depósitos castrejos em Cerdedo. Muito mais não se lhe pode
pedir a um entusiasta voluntariado. Esta “pandillita” faz honra da sua independência. Poder-se-á conseguir mais ou menos objetivos, mas,
pelo menos, nós não chuchamos da teta do erário. Pela contra, a sua
Concelhalia de Cultura, valendo-se dum mausoléu subutilizado, não
programa outra cousa do que cultura enlatada.
A
ponte do Santo António data de época medieval, quer dizer, um bocado anterior da sua chegada ao poder. Os recursos naturais e paisagísticos, dos que tanto se vangloria (e ao mesmo tempo desvirtua),
antes de figurar no seu programa, já constavam no primeiro livro da Bíblia.
Em conclusión (2005-2015): 10 anos máis, uns 500 cerdedenses menos.
1
La
Voz de Galicia,
18-9-2004.
2
En Cerdedo: soldo, dietas e gastos de representación, uns 60.000
euros anuais (Faro
de Vigo,
25-4-2015).
3
Faro
de Vigo,
30-1-2014.
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