Equipa do DTS (Desperta do Teu Sono) Câmara: José Goris Apresentaçao: José Manuel Barbosa
Os passados 5 e 6 de Junho deste ano celebramos em Pitões das Júnias (Montalegre-Portugal) como é sabido, as Jornadas das Letras Galego-Portuguesas. Tivemos a grande sorte de estarmos com pessoas comprometidas com a Galiza, com Portugal e com o mundo lusófono e céltico, esses dous mundos dos quais a Galiza faz parte por direito próprio e por matriz. O recital, a estadia na casa do Padre Fontes e as paletras na sala da Junta da Freguesia de Pitões ficaram na nossa memória com muito prazer e com muita vontade de repetirmos mais outra vez o ano que bem. Tudo isto ficou dito e ficou na rede, como uma gravação na pedra com letras inscritas para perdurarem no tempo, como se forem algum dos nossos petróglifos que desde o Calcolítico estão aí para nos lembrarem que somos o que somos, e somos de quem somos.
As pessoas que tivemos connosco para que os ecos da nossa etnogénese flutuassem no ar foram a Doutora Maria de Fátima Santos Duarte Figueiredo, David Outeiro Fernandes e a Professora Doutora Blanca Garcia Fernández-Albalat . Eles falaram e ensinaram-nos desde o seu saber e desde o seu amor a esta terra granítica que nos pariu; eles desfrutaram connosco da beleza sem igual dessa aldeia da montanha barrosã num fim de semana memorável e lindo. Os temas foram vários, mas tivemos também a honra e a sorte de podermos conversar em entrevista concedidas para este blogue com cada um/a delxs sobre todo aquilo que nos mobiliza...assim a apreendizagem foi acrescentada.
Nas próximas semanas teremos connosco a entrevista com o nosso querido e popular Padre António Lourenço Fontes, feita a sexta-feira dia 13 de Abril; teremos posteriormente a entrevista a Blanca G. Fernández-Albalat, autoridade no que diz respeito ao mundo celto-galaico, valente nas suas opiniões e insubmissa a respeito do pensamento plano anti-celtista fornecido pelas Universidades. Finalmente incluiremos a entrevista a uma promessa de futuro, a um grande em potência: ao nosso amigo e jovem David Outeiro que tem colaborado connosco neste “DTS” e a que lhe devemos muito do nosso sucesso.
A dia de hoje temos a primeira entrevista. Também a primeira palestrante das Jornadas. Ela é a Doutora Maria de Fátima Figueiredo. Mora e ministra aulas de Língua em Santarém e é uma pessoa que leva a Galiza no coração e as origens do seu Portugal amado. A sua ligação à Galiza vem-lhe de muito cedo e acredita na ideia de que como portuguesa e descendente de galegos há uma responsabilidade moral por parte de Portugal de recuperar a memória histórica, ancestral, originária e galaica no ensino, na formação e no (in)consciênte coletivo dos portugueses e portuguesas tanto no que diz respeito do conhecimento da História da Galiza como do vínculo linguístico comum. A entrevista foi feita na Sala que a Junta da Freguesia nos deixou para as Jornadas. Graças ao seu apoio isto foi possível. Obrigado.
Já há mais de dezaoito anos, em 1994, algumas pessoas da AGAL tivemos possibilidade de conhecer o funcionamento do parlamento europeu e experimentarmos “in situ” a situação das diferentes línguas comunitárias graças ao convite à nossa Associação feito pela Coligação Galega(CG) liderada na altura pelo que foi europarlamentar José Posada.
Foi no mês de Março e na semana imediatamente anterior à Semana Santa quando um pequeno grupo de representantes da AGAL entre os que figuravam os amigos Jesus Miguel Conde, Carlos Garrido, atual Secretário da Comissão Linguística, Xavier Paz, José Manuel Aldeia, Laureano Carvalho, Rosário Fernandes Velho e um que isto vos escreve.
Visitamos Bruxelas e com isto também as instituições europeias, e não vimos surpresa no facto de nos podermos defender no dia-a-dia na nossa língua. Não pelo facto tópico e folclórico de acharmos galegos por toda a parte -facto que nalgum caso se deu- mas porque o galego é conhecido dum ponto de vista académico como uma forma ou variante da língua que a romanística denomina “galego-português” e que internacionalmente se reconhece como “português”
Não são duas línguas, mas uma. Isso foi-nos útil para não nos deixarmos levar por complexos de nenhum jeito e entendermo-nos na nossa língua com a rapariga responsável do hotel no que moramos aqueles dias, sendo ela belga mas casada com um brasileiro. Também não foi surpresa o sermos atendidos por alguns funcionários do parlamento europeu na língua de Rosália na que se nos dirigiram quando nos ouviram falar entre nós, pensando que éramos portugueses (estou seguro que se souberem que éramos cidadaos do Estado Espanhol e galegos provavelmente dirigir-se-iam a nós em castelhano).
A alguém lhe poderia parecer uma surpresa que um companheiro de expedição e representante dum grupo ambientalista da Límia, o nosso amigo Manuel Garcia, apresentasse publicamente e no seu galego limego (ou limião) uma informação sobre a concentração parcelar na sua comarca perante o pleno do grupo parlamentar europeu do "Arco Íris", grupo dentro do qual estava o Eurodeputado Posada. Como bem se sabe, havia, e há umas cabinas de tradução simultânea que transpunham a fala do amigo Manuel Garcia aos diferentes idiomas dos distintos europarlamentares dos diferentes países que integravam aquele grupo. Quiçá ninguém se deu conta de que se isto fosse feito por um catalão ou um basco, ou um escocês...não poderia ter sido feito pelos tradutores porque essas línguas não pertencem ao grupo de línguas oficiais da União...infelizmente....mas é assim, cousa que não acontece com a nossa língua que sim é oficial. Por isso pode ser traduzido às outras línguas comunitárias.
Lembro que havia uma porta-voz escocesa, lembro um corso que interveio e algum flamengo... e todos percebiam perfeitamente o que o nosso companheiro expunha porque os funcionários de tradução reconheciam aquilo como uma das línguas oficiais dum Estado membro..., neste caso, reconheciam-no como português e faziam o seu labor transladando para inglês, francês, neerlandês, etc...
Tanto na altura como ainda hoje a informação que se verte sobre a situação da nossa língua na Galiza não chega a todos os galegos, pelo que é fácil acreditar que ninguém tivesse nem, ainda hoje, tenha muito conhecimento, nem consciência do que é o Informe Killilea, nem das cartas cruzadas entre o europarlamentar Posada e o presidente do Parlamento Egon Klepsch, nas quais se reconhecia o galego implicitamente como língua oficial por sê-lo o português, língua oficial dum dos Estados membros: Portugal.
Egon Klepsch
Essas cartas estão publicadas nas AGÁLIAS dos anos 1993 e 1994 e nelas se toma o assunto por causa da dúvida que alguns funcionários tinham em relação à língua do eurodeputado. Eles diziam que era português com um sotaque que eles não conheciam mas o Senhor Posada clarificou com argumentos históricos e linguísticos que aquilo era a mesma língua de Portugal embora com o sotaque galego das Rias Baixas donde ele é originário. Posteriormente e com a intervenção do europarlamentar irlandês Mark Killilea que reconheceu as variedades linguísticas da U.E. e do próprio presidente do Parlamento reconheceu-se que todas as intervenções do eurodeputado galego foram feitas numa variante da língua conhecida internacionalmente como “português” e portanto recolhidas no diário de sessões da Câmara.
Mark Kilillea
Há um tempo, quando governava o bipartido, víamos nos meios de informação galegos a notícia de a Espanha pedir para o galego o “status” de língua oficial dentro da U.E. e não pôde mais do que olhar a notícia franzindo as sobrancelhas. Veremos no futuro a mesma petição para o alsaciano ou o para o andaluz?? Veremos isso para o valão, o francês da Bélgica, ou o alemão da Áustria? Veremos também na ONU essa petição para a língua dos norteamericanos diferenciada da dos britânicos?. Evidentemente a proposta não foi aceite porque dum ponto de vista internacional as falas galegas sempre foram reconhecidas como uma das variantes dessa língua ibero-românica ocidental conhecida historicamente como “galego” ou “galego-português” mas dum ponto de vista político conhecida com o nome de “português”.
Ora bem, estou certo que o flamengos da Bélgica não vão pedir algo assim para o flamengo porque já é oficial o neerlandês, língua comum a holandeses e flamengos, nem a haverão de pedir aos moldavos no momento em que entrarem na União a oficialidade do moldavo quando já dentro achem o romeno como língua oficial por ser a República de Roménia sócia de pleno direito desde 2007.
Já o eurodeputado Posada em 1994 e em 1999, e posteriormente o Camilo Nogueira desde o 1999 até 2004 fizeram o seu trabalho na nossa língua, gerando mesmo reações à contra de conhecidos políticos antigalegos que mesmo chegaram ao insulto. Dentro esses políticos salientamos o ex-alcaide da Crunha, Francisco Vázquez que denominou Camilo Nogueira de Nazi por falar "português" no parlamento europeu e com isso deixar de falar espanhol...
Isto faz que tenhamos a necessidade de dizer por se a nossa gente não se tem inteirado, que a Nossa Língua, a língua que Pondal denominou "Língua do grã Camões, fala de Breogão", a língua das Cantigas do único Império peninsular com Afonso VII e que assim se podia considerar na Idade Média, a língua de Castelão, de Risco, de Carvalho Calero...é já oficial tanto na sua versão lusitana como na sua versão galega, facto este reconhecido pelas instituições comunitárias. Com ela se trabalhou na Europa desde 1986, data na que os países da península Ibérica entraram de pleno direito na U.E., e com ela trabalham os deputados galegos bons e generosos que têm a Galiza na sua mente e no seu coração.
Ultimamente a deputada Ana Miranda em 2012 também está a usar a nossa língua no parlamento mesmo com dificuldades por parte dos tradutores de espanhol que desrespeitosamente não traduzem o que ela diz quando fala no seu galego natural, embora os funcionários que transladam para o inglês, francês, etc... não tenham qualquer problema. Se a nossa fosse uma língua extra-oficial a possibilidade de tradução seria nula...
Sabemos que o BNG tradicionalmente não se manifesta claramente em favor dum reintegracionismo prático e consequente, sabemos mesmo que apoiaram a ideia do bipartido de levar a cabo a “oficialização" do galego (RAG, entenda-se) obviando a realidade comunitária de reconhecimento do galego (português, entenda-se também) como língua oficial desde a passagem do eurodeputado Posada pelo parlamento. Aproveitando a presença do BNG no parlamento europeu, este é um bom momento para fazer pedagogia institucional e ensinar aos seus militantes, seguidores e votantes (e também os que não o são) que galego é português e português é galego com todas as consequências possíveis, mesmo normativas e geo-estratégias, e nao para seguir a política linguística do PP e do PSOE que querem "oficializar" o que eles denominam de "galego" para consumar a ruptura entre as falas galegas e portuguesas convertindo a nossa língua em carniça para o uniformismo castelhanófilo que rege o Reino da Espanha desde que este existe como tal.
Se a ideia é dar a conhecer a realidade linguística comum galego-portuguesa, parabéns, mas se a ideia do BNG é fazer coerente uma ideia de galego “de seu”, como parece que faz em boca da Ana quando quer meter a nossa língua na mesma saca do que o catalão, basco e outras ao querer "oficializá-lo"... e conceitualizá-lo implicitamente como diferente do português, acabará fazendo evidente a ideia que muitas pessoas têm de que o reintegracionismo bloqueiro, até agora, platónico é só uma via para conseguir votos dum eleitorado galeguista cada vez mais virado para o sentimento de unidade linguística galego-portuguesa e fará ver o BNG como mais um partido que joga contra a língua dos galegos.
Uma rapariga adolescente fez-me um comentário de sobremesa o outro dia num jantar: “Não haverá cousas mais importantes nas que empregar esforços e dinheiro do que fazê-lo pelo galego? Há gente que passa fome no mundo!!
A rapariga, adolescente lúcida e inteligente tapou a minha boca com uma manifestação rotunda e categórica para além de verídica e real perante a minha paixão galeguizadora acrescentada com uns quantos anos de compromisso linguístico. A sua lógica feita com a visão realista das cousas duma nena de 16 anos que começa a ver o mundo tal qual é trouxe-me à realidade.
A sua ideia simples mas impecável levou-me a cavilar toda a tarde e não pôde mais do que dar-lhe a razão finalmente. Pensei que países como Uganda ou Tanzânia, Zimbabué ou Namíbia têm prioridades mais importantes do que desterrarem o inglês dos seus territórios para fazerem das suas múltiplas línguas nativas instrumentos de cultura, comunicação ou criação literária.
É assim como neste caso o inglês se faz a língua mais poderosa do planeta; porque os pobres orçamentos desses países não vão destinados para a normalização do swahili ou o hotentote mas para erradicar a fome, vacinar as populações contra enfermidades que não conhecemos na Europa pelas nossas condições higiénicas e de salubridade ou ensinar a ler às crianças para elas poderem ver um futuro de maior qualidade de vida nos seus países.
Já o dizia Jordi Pujol a respeito do catalão: “O catalão custa dinheiro”. Tinha razão o velho dirigente catalão, como razão tem a rapariga, mas evidentemente Catalunha não é Uganda e a fome como mal social endémico não existe, como também podemos dizer que o seu sistema de saúde é dos melhores da Europa que é como dizer que está entre os melhores do mundo.
Catalunha pode portanto permitir-se o luxo de investir na sua língua milhões de Euros e fazer com que o catalão seja uma língua de cultura, arte, comunicação e seja aliás elemento gerador de riqueza material ao existir com isso a possibilidade de que haja um mercado linguístico que crie e agilize o movimento económico e enriqueça os catalães.
Por outra parte o Reino da Espanha ingressa aproximadamente um 15% do seu P.I.B. graças ao castelhano por ser esta a língua oficial de 22 países do mundo e um total de mais de 400 milhões de utentes. A política linguística da Espanha a respeito do espanhol é por isso geradora de riqueza material fazendo da língua de Cervantes uma das mais prósperas do mundo do ponto de vista criativo, cultural, artístico e literário mercê a um mercado amplo que lhe dá umas possibilidades importantes a respeito doutras línguas de países com mais poder político e económico.
No que diz respeito da Galiza podemos dizer com total tranquilidade que também não somos Namíbia; também não passamos fomes, nem andaços embora não sejamos tão desenvolvidos como a Catalunha, pois vivemos numa conjuntura económica europeia que nos faz ricos com referência ao contexto mundial embora pobres dentro do contexto europeu.
Para além de todo isto a Galiza tem uma política linguística que pelo menos na teoria -e digo na teoria, porque é isso o que se diz, não entro no que se faz- vai destinada para fazer do galego essa língua de cultura, arte e comunicação que sonharam os nossos grandes galeguistas e que não só fosse usada por razões de voluntarismo patriótico ou fervor nacionalista mas também por gerar riqueza material com o qual a nossa gente se sentisse achegada a ela por algo mais do que por sentimentalismo neo-romântico.
Mas também Galiza não ingressa o 15% do seu P.I.B. pela sua língua, mais bem neste caso tem um índice negativo. A Junta da Galiza perde dinheiro por causa do galego de tal jeito que se as nossas instituições deixassem de investir na língua -ou quiçá fosse melhor dito contra ela- o nosso P.I.B. subiria 2 ou 3 pontos. Essa situação dá asas e argumentos a pequenos coletivos kukuxklánicos que se organizam para atacarem o galego, reivindicarem o direito de ignorá-lo e agirem para que este desapareça do nosso país. Hábil política linguística que não mata mas dá para que morra.
Curiosamente, ou por acaso, o galego é reconhecido por linguistas, filólogos e cientistas como uma das três variantes do sistema linguístico galego-português (galego, português lusitano e brasileiro), falado por quase 320 milhões de pessoas por todo o mundo e os cinco continentes; é oficial em 10 países, co-oficial desde o 2007 na antiga Guiné-Equatorial espanhola, segunda língua de Uruguai e oficial lá desde 2008; segunda língua latina em número de utentes depois do espanhol, por acima do francês, do alemám e do italiano em extensão territorial e humana; terceira língua europeia depois do inglês e do espanhol, quinta do mundo depois do chinês, hindi, inglês e espanhol; língua oficial da ONU, da EU, Mercosul, Unidade Africana... Com um futuro importante por ser o Brasil uma nova potência emergente que faz da CPLP uma organização lusófona atrativa para países, mesmo anglo-saxônicos como a Austrália, que quer entrar nela quebrando com ideias quase racistas surgidas no carpeto-vetonismo histórico no que vivemos.
Com uma política linguística acertada e focada não só para a sua sobrevivência mas também para o seu florescimento, com um bom tratamento filológico e linguístico, adaptando a norma a esta realidade científica, política e geoestratégica tão favorável quiçá não chegaríamos a ingressar o 15% do P.I.B., (ou sim?) mas sim o 8% ou o 10% ou o 6%... com o qual a nossa língua geraria riqueza material para além da cultural.
E digo eu: Não haverá cousas mais importantes nas que empregar esforços e dinheiro que em eliminar a nossa língua? Em vez de gerar gastos e perdas por causa dum modelo de normalização que mata e inutiliza a língua dos galegos, fornecendo de argumentos a pequenos grupos muito ideologizados e ultras que trabalham para bani-lo da Galiza, não seria melhor fazermos da língua um autêntico setor económico com um mercado prospero que lhe desse o prestígio que teve em épocas medievais? Porque queremos um galego pequeninho e de aldeia em vez de um grande, internacional e concorrente com as grandes línguas do mundo? Não estamos para deitarmos a casa pola janela. Há muita fome no mundo!!!