Por José Manuel Barbosa.
Lá pelo 17 de Novembro de 2005, aniversário do Decreto Filgueira era um dia feliz para os integrantes do novo Governo galego de coligação entre o PSOE e o BNG. E assim ficava dito nos meios de comunicação do nosso País. A razão era que a “Língua galega” passava-se a fazer parte da história das instituições europeias por ser o Presidente Touriño o “primeiro” galego em fazer-se ouvir na língua da Galiza na Câmara das Regiões do União Europeia.
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Mas provavelmente não se tenham percebido nem os média nem o Presidente Touriño dum pequeno pormenor, e é este que se nos apresenta o Presidente Touriño como o PRIMEIRO em levar a cabo um discurso em galego na UE, cousa que se não nos falha a memória, não é certo, já que houve como mínimo mais TRÊS pessoas anteriormente, as quais realizaram oralmente uma função comunicativa na nossa língua nas instituições comunitárias. Bom, quiçá algo souberem, pois nos jornais, rádios e TVs galegas se chegou a afirmar que anteriormente alguém teve feito algo, e com isto nomeou-se a Camilo Nogueira Romão deputado europeu do Bloco Nacionalista Galego (BNG) entre 1999 e 2004 que fez o seu trabalho –dizem eles- em português. O qual é como dizer que não falou galego...
Do nosso ponto de vista é inteiramente certo se por Português entendemos o galego-português de Portugal na sua forma e norma padrão lusitana. Mas antes de Camilo Nogueira esteve José Domingo Posada, também, deputado europeu entre Julho do 2003 e Julho do 2004, numa primeira vez e, uma segunda durante os seis primeiros meses do ano 1999. Foi José Posada deputado pertencente á Coligação Galega (CG), posteriormente refundida no novo partido Terra Galega (TeGa) e mais tarde como Convergência Galega (CG), hoje inutilizada, quem reproduzia a sua fala no seu sotaque das Rias Baixas, segundo ele próprio disse. Tal foi assim, que o próprio parlamento europeu –que neste caso não é um organismo subalterno- teve num princípio pequenas dificuldades para reconhecê-lo como o que na realidade é: uma variante duma língua oficial da União Europeia, ficando esse facto claro quando o próprio Posada deu a conhecer que a sua fala galega era e é uma forma de português nortenho, cousa que o parlamento e o seu presidente, também reconheceram, após o informe feito por um outro deputado, Irlandês neste caso, de nome Mark Killilea.
Mas há que comentar que entre o deputado Posada e o deputado Nogueira ainda se passou por ali uma outra pessoa, Manuel Garcia, que não sendo deputado europeu, mas responsável dum grupo ambientalista da Límia: M.E.L. (Movimento Ecologista da Límia), foi levado ali por José Posada e também falou em galego. Nesta caso, um galego que tanto os média como o Senhor Touriño não poderiam reconhecer como outra cousa diferente do que eles chamam galego, já que a sua fala individual com formas populares reconhecidas por todos, algumas, mesmo reconhecidas oficialmente, estavam totalmente presentes na sua comunicação. Esse dia, foi quando o Manuel apresentou um relatório ao Grupo Arco Íris -ao qual pertencia a Coligação Galega (C.G.)-, sobre a saúde ecológica da sua comarca, que vinha de sofrer a concentração parcelar dos Concelhos da zona para posteriormente ser defendido pelo deputado Posada no Pleno do parlamento. A esse pleno do Grupo Arco Íris assistimos várias pessoas, entre elas eu próprio, podendo comprovar, cada um dos que ali estávamos, como uma vez o nosso amigo Manuel Garcia começou a falar, a cabina de tradução do português traduzia imediatamente para as línguas de cada um dos deputados presentes do Grupo Arco Íris.
É de lei comentarmos que Manuel Garcia não se reconhece reintegracionista, o qual vem a confirmar um facto cujas conclusões devem ser tiradas pelo próprio leitor deste artigo, e é que, embora for uma fala popular, não deixa de ser reconhecido como uma forma de português. Por tudo o que acabamos de dizer é pelo que argumentamos que não foi Emílio Pérez Toriño o primeiro em falar em galego nas instituições da Europa Comunitária, nem o segundo, nem o terceiro, mas nem sequer o QUARTO, porque por ali passaram muitos galegos, alguns conhecidos por nós, que se apresentaram na sua língua. E com tudo isto, resulta que quem menos se cingiu nunca à normativa da RAG foi o próprio Emílio Pérez Touriño, que tanto diz defender ele com tanta fúria e que também com tanta fúria encorajam a usar os seus companheiros de partido. Na fala do presidente, mesmo a que usa pública e institucionalmente pululam formas puramente castelhanas como “ciudadano”, “personas”, “responsabilidá”, em absoluto reconhecidas como galego por ninguém, nem sequer reconhecidas como tais pelos defensores das NoMiGa (Normas Ortográficas e Morfolóxicas do Idioma Galego).
Comentam os média que esses deputados nomeados neste artigo “usaram o português a costa do idioma próprio e do castelhano” o qual -como sabe qualquer pessoa com um mínimo de conhecimento de como funcionam as instituições europeias-, é uma manipulação da realidade, já que nessas entidades oficiais, nunca se pode usar um único idioma, mas vários. Consta-nos que tanto o Deputado Posada como o Deputado Nogueira usaram como mínimo espanhol e inglês no exercício do seu labor parlamentar, como é o normal na Câmara Parlamentar europeia, do mesmo jeito do que um deputado italiano, um letão ou um dinamarquês usam, para além das suas próprias línguas, o francês, o alemão, o português, e outras.
Dentro duns dias, a Deputada do BNG Ana Miranda vai ser a que tenha a voz da Galiza no Parlamento Europeu seguindo os passos dos Deputados Posada e Nogueira. Gostaríamos que fosse com a ideia de reconhecer e usar a língua dos galegos como um galego-português oficial nas instituições continentais. Digo isto porque tenho a ideia de que a Ana Miranda gosta do galego internacional, pois assim no-lo disse ela própria em dezembro de 2008, data em que apresentamos o Atlas Histórico da Galiza em Bruxelas, num ato ao qual ela assistiu na livraria Orfeu do nosso amigo Joaquim Pinto. Evidentemente, isso sem prejuízo de que ela usar outras línguas comunitárias, como é obrigado nestes casos, e não por imperativo legal, mas por necessidade.
Curioso é também, como o nacionalismo pan-iberista de signo castelhano comunica falsas verdades ao público, que segundo a legalidade tem direito à informação veraz. E é curioso, porque qualquer País que se diga democrático, aceita e admite certas coisas, que o historicamente autoritário Reino no que estamos inseridos não é capaz de reconhecer. E isso porquê? Pois a resposta é bem fácil: Porque o Reino é nacionalitariamente fraco e necessita narcotizar o público para cumprir com o seu projeto de assimilação. Fracassa no seu labor democratizador duma sociedade pouco afeita à liberdade. O respeito, a liberdade real, a tolerância, e a democracia são só um privilégio das nações e dos Estados fortes que não temem a nada nem têm nada que temer.