quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Alguns aspectos da pré-história da Língua. 2ª Parte. O proto-romanço Galaico


·          Momento 2º. O Proto-romanço Galaico

Segundo o professor Eugênio Coseriu (1989:793-800) o latim da Gallaecia tem procedência bética e penetrou na Gallaecia através da Lusitânia. Isto gerou um latim hespérico ulterior diferente do citerior que ocuparia a Cartaginense e a Tarraconense. Este latim hespérico ulterior acabaria vendo-se determinado pela chegada do cristianismo -que levaria a cabo o seu projeto ideologizador em latim- e a criação do reino suevo, assentando-se como língua franca entre galaicos e suevos de fala germânica e dando-lhe carácter diferencial dentro dos limites dessa Gallaecia tardo-romana e proto-medieval.

Ao mesmo tempo, com a chegada dos muçulmanos à península, acrescentar-se-ía este fato, delimitando-se um território com o nome de Gallaeciense Regnum segundo as fontes historiográficas tanto andalusis, como carolíngias, papais, escandinavas, anglo-saxónicas, germânicas, bizantinas e grande parte das peninsulares segundo nos informa o professor Lopez Carreira (2005:111-141)

Esse latim hespérico ulterior da Gallaecia é denominado por Cosériu (1989:793-800) de língua galaico-asturiana (1989: 797):


 "Poco después, la invasión árabe interrumpe también este desarrollo, mucho antes de que las innovaciones partidas desde el centro pudiesen imponerse, también como norma de conservación, a los centros innovadores de Gallaecia y de la Tarraconense. De suerte que, ahora sí, puede hablarse ya del perfilarse de una unidad gallega (o, quizás, galaico-asturiana), sobre todo con la creación del reino de Asturias, que muy pronto engloba a Galicia. (....)Por otra parte, sin embargo, las conservaciones que oponen esta lengua (fala do galego) al castellano, al catalán o a ambos dialectos son propias también del asturiano, por lo menos, del asturiano occidental, y –lo que, otra vez, es más importante- también algunas de sus innovaciones se extienden a ese mismo asturiano occidental. De acuerdo con el criterio adoptado con respecto a las lenguas que “se están delineando”, deberíamos, por lo tanto, decir que –como en la época anterior- se está perfilando una lengua “galaico-asturiana” con centro en Galicia; tanto más, en cuanto una unidad política “Portugal” todavía no existe".


Carvalho Calero (1983:15-27) denomina-o de Galaico, pré-romanço galaico ou proto-romanço galeco:

“Recorrendo à necessária abstraçom e coas cautelas e reservas que toda abstracçom implica, podemos falar em consequência dum latim gallaeco do que se derivou um pré-romanço galaico, e mesmo um proto-romanço  galeco que se estendia, diversificado em distintas realizaçons do Atlántico à cordilheira Ibérica. Este pré-romanço ou proto-romanço tivo que apresentar primitivamente duas variantes, a atlántica e a mesetenha; é dizer, o fundamento do galego e o fundamento do leonês. E ambos romanços em contacto com formas idiomáticas exteriores produzirom duas inflexons ou dialectos que estavam chamados a eclipsar culturalmente como conseguência da sua fortuna política as respectivas polas nas que agromaram. Implantado sobre o substrato moçarábigo lusitano, o galego deu origem ao português. Projectado sobre o adstrato euskara, convertido às vezes em substrato pola penetraçom política leonesa, ou em superestrato polas vicissitudes de repovoaçom, o leonês deu origem ao castelhano. Português e castelhano seriam, pois originariamente dialectos fronteiriços do galego e do leonês, respectivamente. A Gallaecia seria um vieiro de romanços.
Cando os nossos eruditos ou afeiçoados do século XIX incidiam teimosamente no erro de considerarem o castelhano como um derivado do galego, nom faziam senom confundir, segundo a exposiçom anterior, o galego co galaico, ou galeco. Deste si se derivaria o castelhano, mas nom através do galego –galego ocidental- senom através do leonês- galeco oriental-".

Diz também Carvalho Calero:

A relaçom, já que logo, do galego e o castelhano seria mui estreita, como que o seu parentesco, a nivel románico é de segundo grau. O castelhano seria, nom filho, senom sobrinho do galego. Os irmaos seriam o galaico ocidental, ou galego e o galaico oriental, ou leonês. O galego, na sua fronteira sul, transformaria-se em português; como o leonês, na sua fronteira oriental, se transformaria em castelhano. A ósmose entre irmaos –galego e leonês-, pais e filhos –galego e português, leonês e castelhano-, tios e sobrinhos –galego e castelhano, leonês e português- e coirmaos –português e castelhano- é portanto, doada e continua, como que a um certo nivel todas estas formas romances som realizaçons do latim galaico.

Rodrigues Lapa (1981:54) nomeá-lo-ía de Romanço Galaico, como Carvalho.

“A unidade linguística sob forma galego-portuguesa, que os mapas de Pidal demonstram para vastas regiões do centro e do sul de Espanha e os estudos recentes de Carlos Peregrin Otero acabam de confirmar, declarando que o pré-castelhano e o pré-galego foram uma e a mesma língua, a que conviria chamar romance galaico (Evolución y revolución romance, 135), seria a chave desse mistério. Já em 1929-1930 o procuramos esclarecer à luz dos elementos fornecidos por Julian Ribera e Menendez Pidal.
Explica-se com isto a razão por que nos séculos XII e XIII se empregava o português como língua do lirismo. É que ele não era uma língua estranha, vivia ainda, mais ou menos alterado por influências várias nas camadas inferiores da antiga população muçulmana e moçárabe.
Só assim se compreende o fenómeno realmente estranho de o vulgo castelhano o usar para a poesia lírica e satírica (...). É que havia em Espanha um lirismo que devia ser contado em português, língua falada em Castela e em outras regiões penínsulares no século XII..."

É o professor Ricardo Carvalho (1983: 18) quem comenta o fato de ser esse Galaico, o proto-romanço do qual surgem inicialmente tanto o galaico ocidental ou galego-português quanto o galaico oriental ou asturo-leonês indiferenciados entre si num começo. O professor galego identifica-o no tempo por volta dos séculos IX e X.

“na Galiza lucense e na Galiza Bracarense onde nace o galego e onde agroma a poesia trovadoresca, que constitui a primeira manifestaçom artística da nossa língua. Esta começa a escrever-se em textos líricos e prosa tabeliónica em voltas do ano 1200; mas como fala existia desde muitos séculos atrás, e o IX e o X forom decisivos para a sua constituiçom.

Do Galaico, mas do asturo-leonês neste caso, surge na sua parte mais oriental o que posteriormente seria o castelhano sob substrato basconço e importante influência navarro-aragonesa. O próprio professor espanhol Rafael Lapesa (1991:162) reconhece que as Glosas Silenses e Emilianenses do Mosteiro Riojano de São Milhão de La Cogolla não estão num primitivo castelhano como se nos ensina habitualmente, mas num originário navarro-aragonês, o qual não é em absoluto estranho se temos em conta que a Rioja é uma região originariamente basconça e navarra. 

Tudo o protagonismo político da maior parte da Idade Média lhe correspondeu ao Gallaeciense Regnum até o momento no que Castela colhe força política e militar. A língua do Reino galaico começa a desenvolver-se com a força que lhe dá um poder político forte e soberano e um prestígio na Europa que até agora reconhece a Galiza como um dos três impérios do momento: O Império Bizantino, o Sacro Império Romano Germânico e o Gallaeciense Regnum segundo nos diz o Professor Mundy (1991: 40).

“in 1159 the northern annals of Cambrai spoke of three empires: the Byzantine, the German and of the Galicia (St. James of Compostela)”


Portanto os limites da língua dos galaicos nessa altura histórica seriam os limites desse Gallaeciense Regnum -que tanto negam os historiadores pró-castelhanistas- até o ponto de Roger Wright dizer (1991: 21-22):


"Antes do milémio e quiçá antes do século XIII desterremos também os conceitos distópicos pouco úteis e anacrónicos tais como galego, leonês, castelhano (...) todos esses conceitos modernos estorvam à vista clara. A península (aparte dos que falavam basco, árabe, hebreu, etc...) formava uma grande comunidade de fala, complexa mas monolíngue"

Ainda, alguns de entre esses hispanistas também não podem negá-lo tudo. Por isso, autores como Sanchez Albornoz (1956:420-423) comentam a respeito da lírica românica moçarábiga florescente na Andaluzia nos séculos X e XI -e que em palavras de Rodrigues Lapa “..vicejava ao mesmo tempo na Galiza”-  que:

“logrou salvar-se da sua definitiva asfíxia devida à poesia arábiga”.

Arábiga? Galaica?
O que nos fai intuir que existia uma certa unidade linguística na maior parte da península, para Rodrigues Lapa “so quebrantada pelo avanço do castelhano para Sul, do castelhano imperioso e impenetrável ao lirismo”

Do nosso ponto de vista quiçá esse monolinguismo do que nos fala Wright e do que nos insinuava Rodrigues Lapa haveria que matizá-lo. Não haveria monolinguísmo em tudo o âmbito peninsular mas sim poderiamos falar em monolinguísmo no que diz respeito ao território do Gallaeciense Regnum por ser esse galaico provavelmente diferente, já nesta altura, do latim citerior que teria originado as falas catalano-aragonesas. Intuímos, com isto, que o complexo catalano-ocitânico provavelmente conformasse outro núcleo linguístico diferente ao do Reino Galaico vinculado provavelmente ao gaulès-romanço e ao que posteriormente seria denominado ocitano ou langue d’Oc.

Entre os séculos IX ao XII vai dar-se uma etapa na história da língua na que o seu uso vai ser fundamentalmente oral enquanto as formas escritas pelos letrados daquela época vão ser um jeito de latim medieval cheio de giros que havemos de reconhecer como próprios do actual galego-português.

Pouco a pouco o galego-português vai ser empregue como língua normal em todas aquelas funções que uma língua tem num país normalizado e soberano sem distingos sociais. Todas as funções, exceto a internacional que é reservada phistórica da que estamos a falar embora gere uma situação de diglossia galego/latim que não oferece obstáculos nem anormalidades no Orbe cristão europeu que se exprime basicamente em Latim como língua franca continental.



E, portanto, esta língua romance a língua de todos os galegos -incluindo neste gentilício nesta altura também os portugueses e também os astur-leoneses-, mesmo dos reis de Galiza, forem estes coroados em Compostela, Ovedo ou Leão. Os reis falavam galego e mesmo os filhos dos reis eram criados por tutores da aristocracia galega que marcavam o caráter dos futuros monarcas, marcavam a política e mesmo a diplomática da época, como nos comenta André Pena (1985). Tal é assim que guardamos certas provas documentais desta circunstância embora não sejam provas diretas. Falamos, por exemplo de quando ficam recolhidos os soluços do rei Afonso VI perante a morte do seu filho Sancho, herdeiro do trono, na batalha de Uclés em 1109. A língua na que chora o Rei não pode ser outra diferente da que o Monarca tinha por sua: o galego-português e não o castelhano.

Segundo nos conta S. Rico (1970: 219) numa crónica do Frei Prudêncio de Sandoval, historiador nado em Valhadolid no século XVI o Rei diz:

“...y en la lengua que se usaba dijo con dolor y lágrimas que quebraban el corazón:
Ay, meu filho! Ay meu filho! Alegria do meu coraçom et lume dos meus olhos, solaz da minha velheçe! Ay espelho em que me soya veer, et com que tomava muy grand prazer! Ay meu herdeyro mor! Cavaleyros, hu me lo leixastes? Dade-me meu filho Condes!”

Segundo Lopez Carreira (2005: 51) o vínculo originário entre o nosso idioma com o castelhano e a sua relação genética pode ficar intuída num comentário que faz este mesmo historiador castelhano do século XVII do que estamos a falar, Frei Prudêncio de Sandoval, quem numa História da Espanha redigida no século XIII e provavelmente traduzida ao galego-português no XIV diz-nos acreditando na sua antiguidade que está numa “lengua castellana tan cerrada que parece portuguesa”.

Não é estranho portanto que reis posteriores como Afonso o Sábio (Afonso X segundo o cômputo castelhano, mas IX segundo o cômputo galego) ou Fernando III empregassem o galego-português como língua veicular. Era a língua que eles falavam habitualmente, no dia a dia. A língua da sua família. Da família Real. Mas foram curiosamente estes dous últimos reis os que mudaram o sentido do projeto unificador peninsular. Dum projeto galaico passou-se a um castelhano. É por isso porque a península ibérica de hoje está ocupada majoritariamente pela língua castelhana.

Conclusões

1-       A história da península ibérica está contada pelo poderoso, pelo vencedor, neste caso, Castela, com uma valorização excessiva, desmesurada e por vezes irreal do castelhano face as outras línguas peninsulares, nomeadamente a nossa, o galego-português.

2-       A falsificação na narração dos fatos obedece a uma necessidade hegemonista e mesmo expansionista do projeto unificador castelhano que não hesitaria, nem hesita a dia de hoje, em eliminar quaisquer outras línguas que pudessem supor concorrência ou resistência ao projeto castelhanista.

3-       No caso de os Reis originariamente galaicos Afonso o Sábio e Fernando III não tivessem mudado a língua “oficial” dos seus reinos, provavelmente hoje a maior parte da península ibérica estaria ocupada polo galego-português. Quiçá também sob um projecto imperial unificador tão indesejável como o castelhano, mas a realidade poderia ser essa.

4-       Tendo em conta a importância do Gallaeciense Regnum e portanto da sua língua em época alto-medieval causa-nos sensação de estranheça que não sejam conhecidos documentos anteriores ao século XII. No caso de outras línguas romances como o francês ou langue d’oil existem documentos do século IX como são os Juramentos de Estrasburgo datados em 842 ou a Sequência de Santa Eulália em 881, que assentão esta língua como tal diferenciada do Latim. Mesmo nos romanços italianos achamos os primeiros documentos em 960. Porque, portanto, o galego-português só tem textos desde fiinais do século XII? Quiçá dentro da luta pola hegemonia peninsular entre galegos e castelhanos se chegasse ao ponto de ter-se produzido destruições de documentos antigos por razões políticas e interesses espúrios da mesma forma que temos constância de manipulações e de outras desfeitas conhecidas como é o caso do Bispo Pelayo de Ovedo, Ximenez de Rada, Lucas de Tui, e outros?

5-       O castelhanismo historiográfico e linguístico quer fazer passar por real uma mitologia determinada para a sua língua mas nega para a nossa uma história real mas oculta, umas vezes evidente, mas subversiva sempre. Isto tenciona negar a identidade galego-portuguesa com o fim de evitar reafirmações identitárias que seriam obstáculo para o seu projeto. Disso sabemos algo os galegos.

6-       A historiografia lusitanista portuguesa tem sido uma defesa contra a agressão histórica de Castela mas um vínculo com o galeguismo e a identificação de Portugal como o único território soberano herdeiro do velho Gallaeciense Regnum criado polo suevos em 410 abriria umas possibilidades de defesa e reforçamento do ocidente peninsular face o centro que seriam de ter em conta.

7-       Dentro da reconstrução da história da nossa língua seria interessante incluirmos o fato de identificarmos as origens da nossa língua com o substrato galaico-lusitano vinculando-nos histórica e familiarmente com outros povos atlânticos europeus os quais nos poderiam supor um contorno parental amigo, em qualquer caso, com interesses culturais (e mesmo económicos) comuns de qualquer ponto de vista.

8-       Já desde a pré-história a Galiza e Portugal conformavam um continuum etno-linguístico que deveria ser cultivado e acrescentado no presente e no futuro. O nosso destino desejável é em qualquer caso juntos e os nossos interesses os mesmos.

9-       A lusofonia, ou galeguia, como foi denominado ultimamente por cientistas brasileiros, supõe mais uma porta aberta ao relacionamento galego-português com um conjunto de povos com quem partilhamos língua e que nos dá aos galegos um lugar de prestígio no mundo e a força necessária para agirmos quer contra agressões que procuram desidentificar-nos como povo, quer como forma de auto-afirmação pelo fato de sermos a matriz dessa civilização formada por Portugal no transcurso da história.

10-   O pensamento galeguista e nomeadamente o reintegracionismo linguístico são aquilo que aos galegos nos abrem essas portas para entrarmos no mundo lusófono ou galaicofono que representa a sobrevivência do nosso ser nacional.

11-   O conhecimento das origens da nossa língua, assim como a sua história posterior e ainda a história política do nosso país, dao-nos luzes sobre quais são as linhas a seguir para que a Galiza possa trabalhar e cultivar o seu natural relacionamento exterior de forma eficaz:
a)      O Norte, o mundo Atlântico e céltico por um lado. Mundo do qual segundo invesgitações recentes e não tão recentes somos também Matriz (veja-se a Teoria da Continuidade Paleolítica de Alinei e Benozzo e antes de André Pena assim como os estudos do Tritinity College e de Brian Sykes entre outros).
b)      O mundo Lusófono, ou Galaicófono, conformado por um conjunto de países de língua galego-portuguesa que bem podem ser a saiba nutrícia que nos permita sobreviver como povo num mundo de concorrências de todo tipo, e não só do ponto de vista linguísitico, mas também do ponto de vista cultural, económico, social, político... e mais.

  
Bibliografia:
Armada Pita, X-L. (1999). Unha revisión historiográfica do celtismo galego. In “Os Celtas da Europa Atlántica. Actas do I Congresso galego sobre a cultura celta”. Ferrol. Agosto. 1997. Ed. Concello de Ferrol.
Ballester, Xaverio. (1998-99): “Sobre el origen de las lenguas indoeuropeas prerromanas de la Península Ibérica” In Arse, 32/3. Conferencia pronunciada o 23/03/99 durante as XIV Jornadas de la Sociedad Española de Estudios clásicos (Valencia 22-27-III-1999) com o nome de “La Filología clásica prerromana en España: pasado, presente, futuro”.
Brañas, Rosa. (1995). Indíxenas e Romanos na Galicia céltica. Ed. Libreria Follas Novas.
 Carvalho Calero, R. (1983). Da Fala e da Escrita. Ourense. Galiza Editora. Ourense
Carvalho Calero, R. (1974). “Gramática elemental del gallego común”. Galaxia. Vigo.
Coseriu, E. (1989): “El gallego en la história y en la actualidad” In “Actas do II Congresso Internacional da Língua Galego-Portuguesa na Galiza”. AGAL. Crunha. Página 797.
 Garcia Fernandez-Albalat, Blanca. (1990). Guerra y Religión en la Gallaecia y la Lusitania antiguas. Sada-Crunha. Edicións do Castro.
Garcia Fernandez-Albalat, Blanca. (1996): ”La religión de los castreños” In SEMATA Ciencias Sociais e Humanidades 7-8. Las religiones en la Historia de Galicia. Ed. Garcia Quintela, Marco V. Universidade de Compostela.
 Lapesa, Rafael. (1991): “Historia de la lengua española”. Madrid. Ed. Gredos. Biblioteca Románica Hispánica. 9ª Ed. Corrigida e acrescentada.
Lopez Carreira, Anselmo. (2005): “O reino medieval de Galicia”. A Nosa Terra. Vigo
 Mundy, John J. (1991): “Europe in the High Middle Ages”. Longman. London and New York.
Omnès, Robert. (1999). “Le substract celtique en galicien et en castillan” In “Les Celtes et la peninsule Iberique”. Triade nº5. Université de la Bretagne Occidentale-Brest. Pp. 247-268.
Pena Graña, A. (1985): “O reino de Galiza na Idade Media”. Revista Terra e Tempo 2ª época, 1,
Rico, Sebastián (1973): “Presencia da língua galega”. Ediciós do Castro. A Crunha, 1973, pp 8-9
 Rodrigues Lapa, M. (1981) : ”Lições de Literatura Portuguesa. Época medieval”. 10ª Edição. Coimbra Editora Limitada.
Saraiva, António J: (1995). Iniciação na literatura portuguesa. Gradiva. Lisboa. Pag.9
 Schmoll, Ulrich (1959): “Die Sprachen der Vorkeltischen Indogermanen Hispaniens und das Keltiberische”.Wiesbaden. Otto Harrassowitz.
Sanchez Albornoz, C. (1956); España, un enigma histórico. Pág 420-423 do Vol 1º da 2ª Edição.
 Valladares, M (1970): Elementos de Gramática gallega. Galáxia. Fundación Penzol. Vigo.
VV.AA (1996): Las religiones en la história de Galicia in SEMATA Ciencias Sociais e Humanidades 7-8 Ed. Garcia Quintela, Marco V. Universidade de Compostela
 Wright, R. (1991): “La enseñanza de la ortografía en la Galicia de hace mil anos”. Verba, 18.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Alguns aspectos da pré-história da Língua. 1ª Parte.





Por José Manuel Barbosa


Introdução

      O Reino de Portugal, e hoje a República Portuguesa, foi e é um Estado subversivo dentro da península Ibérica como tal Estado existente. Foi e é o único território fora do projeto nacional e político castelhano. Mas ainda isso ser assim, a narração dos fatos históricos e linguísticos estão peneirados por uma visão que em poucas cousas se ajusta à realidade passada.

      A historiografia portuguesa, assim como a linguística obviam muitas vezes que Portugal teve uma base originária no velho Gallaeciense Regnum criado pelos suevos na Gallaecia em 410-411, e foi lá onde surgira a língua que hoje é conhecida internacionalmente com o nome de “português”, de base fundamentalmente latina mas também com um sustentamento substrático Galaico-Lusitano proto-céltico que lhe dá uma identidade acrescentada.




        A maior parte das histórias da língua elaboradas tanto na Galiza como em Portugal, e ainda em outros países, começam na época das cantigas ou pouco antes, quando se tem conhecimento dos primeiros documentos escritos. Mas anteriormente, em épocas –vamos chamar-lhes- “pré-históricas” (anteriores aos primeiros documentos escritos galego-portugueses conservados na atualidade) também a língua que nos ocupa já existia de qualquer forma na vida diária dos seus utentes, forem estes galegos, portugueses ou de outros países peninsulares.

        O fato de a nossa língua ter sido usada em mais território peninsular do que atualmente, em ser usada antes das cantigas, em ter sido a língua do projeto unificador peninsular sob dirigência galaica e ainda a sua marcada personalidade atlântica e céltica (embora sendo língua de base latina) fazem da sua história e pré-história um reto à hora de reconstruirmos o seu percurso pelo tempo, bem pela importância que ela teve e ainda tem, bem porque nos dá conhecimento de que na península há um elemento tremendamente agressivo de signo castelhano que não se ajusta a realidade histórica sobre as origens, deturpa até onde o deixam e elimina se tiver oportunidade, com a única finalidade de ocupar todo o espaço ibérico numa Grande Castela com o falacioso nome de Espanha.

        Há dous momentos na história ou pré-história da nossa língua que são fulcrais para a conformação da nossa personalidade: É o primeiro aquele no que o latim entra e se mescla com a nossa língua pré-romana conformando o que depois há de ser o galego-português; e o segundo, o momento no que o Gallaeciense Regnum hegemónico na península prepara um projeto de futuro Estado usurpado posteriormente por Castela mas de irrefutável importância tanto do ponto de vista historiográfico como do ponto de vista linguístico.

        Neste trabalho vamos falar em tudo isto:

  • Momento 1º. O Galaico-Lusitano. Substrato do Galego-Português

Segundo os pré-historiadores, linguistas e arqueo-linguístas, a península Ibérica antes da chegada dos romanos estava conformada por várias línguas. Umas delas de origem indo-europeu, outras de origem mediterrânico.

        A parte norte-ocidental corresponder-se-ía com uma língua que os cientístas denominaram com o nome de Lusitano ou  como diz Ulrich Schmoll (1959), Galaico-Lusitano, por serem a Gallaecia romana e a Lusitânia originária (entendida como o berço do povo lusitano, não da província romana) a região na qual se falaria essa língua.

        As provas que falam da existência deste Galaico-Lusitano estão em vários achados litográficos de época imperial romana. Ajustamos a época e deduzimos isto último por estarem escritos com a ortografia latina. São estes achados os de Lamas de Moledo (Évora), Cabeço das Fraguas (A Guarda), Villalva de Villastar e Arroyo de la Luz (Cáceres) os mais conhecidos.

        O espaço que poderiam ocupar haveria que reconstruí-lo a partir, não só pela localização destas inscrições conhecidas mas também pela onomástica, a toponímia e a teonímia.

        No que diz respeito são de grande ajuda os mapas elaborados pela professora Fdez-Albalat (1990: 422-427) e as opiniões de Rosa Brañas (1995: 211-253) e Higino Martins (2008: 151, 529, 543).

Com isto, também nós quisemos elaborar um mapa desde a nossa modéstia. Eis:

         

A língua galaico-lusitana poderia ser identificada como uma língua celta ou proto-celta como nos comenta Armada Pita (1999: 260-263) mas ainda a ideia de ser a partir do conhecimento das línguas celtas donde pode ser possível a tradução dos textos conservados e/ou a compreensão dos mesmos reafirma o parentesco entre esta língua da que estamos a falar com o celta antigo.

        É por isso pelo que  nos diz a professora Fdez-Albalat (1996: 39):




        “Segundo a minha opinião, estamos perante uma rama celta (possivelmente anterior à divisão entre goidels e britões, ou bem uma terceira rama) de um tipo arcaico”

        A identificação como língua celta é discutida por alguns autores argumentando que algumas palavras possuem um /p/ inicial inexistente neste grupo de línguas, tanto nas actuais como nas antigas. Mas é o professor valenciano Xaverio Ballester (1998: 65-82) quem nos diz:




        “O problema na realidade não é a presença linguisticamente incorrecta do /p/, mas a posição geograficamente incorrecta do lusitano. Se essa mesma documentação que possuímos para o lusitano, tivesse aparecido, por exemplo, em alguma zona próxima aos Alpes, previsivelmente a linguística indo-europeia tradicional consideraria tal documentação uma testemunha da primeira rama separada da árvore céltica, dessa fase ainda com /p/ que, por ser língua indo-europeia reconstruímos como céltica”

        Atendendo ao trabalho de Robert Omnès (1998: 247-268) professor da Universidade de Brest, o galego-português tem uns importantes elementos substráticos celtas que determinariam a nossa língua como um “patois” celto-latino. Alguns desses elementos seriam os seguintes:




1-       Léxico (só algumas palavras de origem céltico):  Álamo, Amieiro, Arámio, Armela, Arnela, Banastra, Banço, Baraça, Beiço, Berberecho, Berço, Bico, Bilha, Biqueira, Beco, Boedo, Borrão (Borreira), Boto, Bosta, Braga, Branda, Breja, Briga, Bringa, Brio, Brião, Brigar, Broa, Brusca, Bugalho, Bulhato, Burato e Buraco, Cabana, Calhau, Calouro, Camba, Cambo, Cambelo, Cambela, Cambadela, Comboa, Gamboa, Cambote, Comba, Caminho, Camisa, Canga, Cantiga, Carpinteiro, Carraboujo, Carro, Cagigo, Centola, Cerco e Cerquinho, Cerveja, Colmo, Colmeia, Cróio ou Coio, Cheda, Duna, Embaixador, Embelga, Estancar, Fatão, Gancho, Ganço, Gato, Gorar, Granha, Grenha, Lama, Lança, Lasca, Lata, Lapa, Lapão/Lapote/Lapada, Lastra/Alastrar, Lavego/Aviecas/Aveacas ou Aviacas, Lagem, Lage, Laja, Lagea, Légua, Lia, Lousa, Maninha, Melão, Pala, Peça, Pena, Penedo, Penelo/a, Penouco, Pucareiro, Penouto e os colectivos, Penedal, Penasquedo, Penedia, Pico, Rodavalho, Saia, Seara, Soco, Soca, Tona, Touca, Trade, Tranca, Vasalo, Vidoeiro, Virar, Viradeira, Virouteiro, Pau-Viradoiro, Viração, Virolho, Vranha...


2-       Semântica:
a) Preferência polo verbo Ser em vez de Ter em frases possessivas do tipo:




b) Uso da forma “Levantar” (“Sevel” em bretão) com o sentido de “construir”. Por exemplo em francês seria "construir une maison" ou no espanhol "construir una casa", mas em galego-português e em bretão...



3-       Fonética e Fonologia
a) O /k/ implosivo devém num yod ante /t/ explosivo como em irlandês
b) Em Gal-Port os ditongos descendentes são os mais numerosos, o que se explica pelo modelo silábico céltico.
c) Evolução dos grupos /KL/, /PL/, /FL/ iniciais: 



d) A metafonia que Rafael Lapesa (1991:44) identifica como celta:

                            

4-       Morfo-Sintaxe 
a) A repartição dos géneros: Os nomes das árvores são femininas em Gal-Port e em bretão. 
b) O cal, o labor, o nariz, o sal, o mel, o leite, o sangue, o cume...como em bretão (por exemplo em outras línguas latinas como o espanhol são palavras femininas).
c)  A mesma forma pode ser utilizada pelo adjectivo qualificativo e o advérbio tanto em bretão como em Gal-Port

d) O durativo no infinitivo. O Galego-Português é a única língua romance que partilha esta característica com as línguas célticas:




e) Perguntas e respostas: Em Gal-Port as respostas não são “sim” ou “não” como, por exemplo em Galês:

                  
Alguns textos Galaico-Lusitanos

-Texto de Lamas de Moledo

”Rufinus et Tiro scripserunt: Veaminicori doenti angom lamatigom crougeai magareaigoi petranioi radom porgom ioveat Caeliobrigo”.

Este texto datado já em época romana (no século I d.C.) com introdução em latim viria significar o seguinte segundo a tradução de André Pena Granha, arqueólogo galego:

“Rufino e Tiro escreveram: Os Veaminicori (conjunto de jovens solteiros em idade militar) dão um anho lamático (de Lamas de Moledo, entende-se) para o altar de Petranioi (o oficiante), um grosso porco para o Júpiter do Castro de Caelio”




Segundo Higino Martins (2008:87) Veamini Cori ou Wegamenoi korioi significaria “os que viajam em carros”, quer dizer, “os chefes”, ou “senhores”.

-Texto da Pedra de Cabeço das Fráguas

”...Oilam trebopala indi porcom laebo commaiam iccona loiminna oilam usseam trebarune indi taurom ifadem(...) reve Tre(barune)”

Texto também de finais do Império com latinismos como “Porcom” e redigido na pedra para um ritual de tipo “suovetaurília” com o fim de proteger a Treba (território político sob a influência do povo que oferece o ritual). A sua tradução segundo Pena Granha:


“...uma ovelha para trebopala (protectora da Treba) e um porco para Laebo (divindade feminina), uma égua para a luminosa Iccona (deusa dos cavalos), uma ovelha dum ano para trebarune (a deusa protectora do país) e um touro dum ano para Reva, senhora da Treba.”






http://www.terraetempo.com/artigo.php?artigo=2268&seccion=5&typNe=12%3A05%3A31
Bibliografia:
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