O 17 de
maio foi muito longo. Acordamos por volta das 5:00 horas da manhã porque a
viagem exigia pontualidade, preceito que cumprimos quase escrupulosamente.
Almoçamos algo ligeiro para podermos com o corpo, tomamos um duche e
vestimo-nos a uma velocidade que não seria normal num dia do comum. O carro
aguardava-nos na garagem depois duma semana de muito trabalho. Saímos e sem
demoras nem pausas entramos na autovia Ourense-Santiago onde viajamos com pouca
equipagem: uma mochila com roupa, a minha saca do diário onde levo as cousas
pessoais e uma sacola.
O aeroporto estava cheio como sempre mas ainda assim e
depois de arrumarmos num lugar fácil arranjamos as cousas para podermos estar
no avião no tempo previsto. Sempre me surpreendeu o controlo que ultimamente
gastam antes de entrarmos no aparelho. Controlo que significava que tivesse que
tirar as minhas botas, o casaco, o cinto e todo o metal que eu levava no corpo
para eles saberem se é algo que possa ocasionar perigos a este sistema em
descomposição...Não sei a que lhe temem. Vão cair, controlarem ou não.
Passadas
as 10:30, fora do horário previsto, chegamos a Barajas. Ali nos aguardavam o
nosso amigo José André Lôpez Gonzâlez e a sua filha Íria que nos iam conduzir
por aquele labirinto que é a capital do Império Pequeno. Com muita amizade e
amabilidade o José André saudou-nos e fez de guia pelo caminho. A conversa
sobre a língua, sobre a história e sobre a política do nosso País foi obrigada.
Chovia e ninguém diria que aquilo era Madrid, só os topónimos arabescos e
castelhanos estavam a nos dizer que estávamos na velha Al-Andalus. Era o antigo
Al-Magrit "o mercado" em árabe, o que nos acolhia.
O José
André e a sua filha Íria levaram-nos até Alcalá de Henares, onde fizemos um
lindo passeio pelas ruas da vila. Alcalá ou talvez Al-Kaláh, a fortaleza em
árabe....
Vimos as
pegadas árabes e judaicas, vimos os edifícios de tijolo, as ruas da parte velha
duma formosura muito especial. Visitamos a casa onde supostamente nasceu Miguel
de Cervantes, o escritor de origem galega do Quixote, vimos os palácios que nos
transladavam no tempo a épocas dos Reis Católicos de infeliz memória para os
galegos, o palácio do arcebispo, o pelouro onde os réus cumpriam pena pelo
facto de serem muçulmanos, ou judeus, ou protestantes ou simplesmente por serem
contrários à política da Monarquia Hispânica... A beleza era uma cousa mas a
memória daquela intolerância tão castelhana era outra.
Depois
dum longo passeio fomos comer a um restaurante do bairro próximo ao local onde
eu ia palestrar. Era a "Associação Galega Corredor do Henares" e no
seu nome, o seu Presidente, José André, quem nos tinha convidado para falar d'A
Pré-História da Língua e ali chegamos cansados depois dum dia intenso. Também
ali estava Iago Rios, quem ligou para nós e arranjou todo o necessário para nós
estarmos ali esse dia a essa hora. Nós felizes.
Quando
chegamos vimos o formoso local que tem esta associação, que reúne a muitos
galegos residentes em Alcalá e nos arredores, quer dizer, no chamado
"corredor do rio Henares", e pudemos comprovar como as atividades
eram inúmeras: canto, baile, pintura, música, publicação da sua própria
revista, palestras, etc. A professora de pintura do local, nativa de
Guadalaxara mas vinculada à associação desenhou um "apalpador" motivo
de orgulho para o nosso amigo José André por ser ele quem o popularizou nos
últimos anos na Galiza.
A nossa
presença ali era por ser um 17 de maio, o dia das Letras Galegas e decidiram
celebrar o dia falando da língua, da sua história, ou mais concretamente da sua
pré-história. Algo que temos trabalhado um bocadinho.
A
palestra foi a partir das 19:00 e acho que antes das 20:00 já tinha acabado.
Depois, umas peças de música galega, uns bailaricos e uns petiscos nos
aguardavam para além da conversa com os amigos presentes que se sentiram
atraídos pela temática. Gente interessante, trabalhadora, emigrantes que amavam
e amam a sua Terra deixada atrás porque há que trabalhar onde há trabalho. Amor
à Terra, morrinha, saudade e desejos de voltar a ela. Vínculo e raiz ainda
tendo nascidos alguns na diáspora. Galegos de sangue, de sentimento, de
coração...
A nossa
retirada para o Hotel foi imediata depois da pequena festa. O sono e o cansaço
eram mais poderosos do que a fome. Para ingerir alimentos já teríamos tempo o
dia seguinte que também se apresentava longo mas o descanso fazia-se urgente.
Levaram-nos ao Hotel o José André e a sua companheira e ali ficamos onde não
demoramos muito em pegar no sono...por pouco tempo, porque às 4:00 já estávamos
novamente acordando para apanharmos o vó para a Galiza que saía às 6:45.
A
chegada a Santiago não se fez aguardar muito. Chovia e fazia sol à vez na nossa
capital o que convertia aquela manhã de sábado num lindo jogo de luzes e
sombras próprias dum formoso quadro impressionista..."Quando chove e faz
sol casam a raposa e o raposo" dizia a minha avozinha. Almoçamos num bar
próximo à ferradura e decidimos dar uma volta pela cidade aproveitando o jogo
de luzes com o fim de nos mergulharmos na energia da nossa Terra Galega.
Apanhamos o carro e voltamos para a casa. Ali nos aguardavam o nosso Lucas, o
nosso inteligente mastim e o David que ficou na casa guardando do nosso
guardião. Fomos comer churrasco perto de Chantada e ao chegarmos à casa, por
volta das 17:00 horas, apanhamos a cama e dormimos seguido até o domingo as
8:00. Quinze horas de sono. Não esteve mal.
Um fim de semana completo,
intenso, lindo, pelo qual agradecemos ao Presidente da Associação Galega
Corredor do Henares José André Lôpez Gonçâlez, a sua esposa Carmen, a Iria a
filha de ambos e ao Iago Rios....... e obrigado a todos os amigos e amigas
galegxs de Alcalá por tão lindo fim de semana, pela sua companha, pela sua
atenção e pela assistência à nossa humilde palestra, especialmente a Javier Franco. Aguardamos nos vermos
novamente.
Foi
o fim de semana de 11 e 12 de maio de 2013 quando mais de 70 pessoas
nos reunimos em Pitões das Júnias para celebrarmos a irmandade e a
camaradagem entre gente de ambas as margens da raia maldita. O nosso
intuito era unir. Unir gente com a mesma língua, com a mesma vontade de
viver, com o mesmo sentir, com a mesma história, com a mesma forma de
fazer, de ser e de pensar, com os mesmos defeitos e as mesmas
virtudes.... E conseguimos os objetivos.
Quando
começamos a organizar este ano contavamos com que o sucesso fosse
importante, mas a realidade superou muito os nossos cálculos até o ponto
de vermos desbordar o copo e não termos um respiro. Teremos que pensar a
forma de conter a maré de consciências galaicas que têm um mesmo foco
de atenção.
Chegamos
à casa do Padre Fontes quando passava um bocado das 12:00 horas. Dizem
que os galegos nunca chegamos à hora....o mesmo se diz dos
portugueses....mas o que tenho claro é que, como disse Gandalf "um mago
(nesta caso um galego) nunca chega nem demorado nem cedo; chega justo
quando ele se propõe chegar". Ali vimos amigos velhos e vimos amigos
novos. Os velhos alimentaram a amizade velha e os novos criaram uma que
há durar no tempo. A comida sentados ao lado das pessoas deu as boas
vindas a toda a gente que curiosa estava para ver como discorria a
jornada.
Fizemos
poesia, rimos, falou o Padre Fontes e ficamos todos contentes. Dentro
do horário previsto partimos para Pitões onde nos aguardava mais gente
ainda que as cousas houve que prepará-las para os palestrantes poderem
fazer o seu trabalho. Solucionados os problemas de som começou falando Rafael Quintia. “Geografias
míticas da Galiza e espaços hierofânicos. Mitos, rito e crença” foi o
título e nele nos falou de como identificar espaços sagrados, lugares
ancestrais e ocultos por milénios de esquecimento ou por causa da sua
cristianização. Apresentou vários exemplos aos que hoje podemos recorrer
quer como elementos ancestrais conservados a dia de hoje apesar dos
séculos e do cristianismo e de sincretização, quer como crenças
populares e/ou mitológicas que ligam diretamente com o nosso passado
pagão e céltico. A palestra foi seguida por um publico interessado e
curioso.
Posteriormente o artista gráfico António Alijó continuou falando de “Árvores
e pedras mágicas do mundo celta.” Mais do que nada a palestra deu um
debate no que participaram várias pessoas do público interessadas no
tema. A base temática foi reafirmar a ideia de que há povos hoje que são
o que nós fomos no passado que rendem culto às divindades relacionadas
com a Terra, onde os xamãs ainda acodem às covas sagradas, com uma
perceção do mundo que nós tínhamos há séculos...e estudando esses povos
poderemos saber o que fomos. Estudando esses povos podemos apreender
quem realmente somos e reformar e regenerar a nossa sociedade doente.
A poesia também fluiu nessa tarde do dia 11, assim como um roteiro pela aldeia de Pitões.
A
ceia na casa da Margarida e do Bruno, na Taberna Terra Celta foi o
momento em que as cousas nos sobrepassaram, pois o número de gente fez
materialmente impossível uma reunião de todos os presentes num mesmo e
único local. Ali acodiram novamente o Padre Fontes e o Presidente da
Junta da Freguesia Sr. António Ferreirinha com quem desfrutamos da noite
que acabava com a representação sentida do nosso amigo o Bruxo Queimam
(em breve veremos imagens). Para alguns a noite continuou até o dia
seguinte que começava o segundo dia.
O
dia 12 foi igualmente completo do ponto de vista poético, científico e
artístico. As palestras começaram fora de hora devido ao costume galaico
de tomarmos as cousas com calma mas deu para completar o horário. Miguel
Losada com a sua palestra intitulada “Os que termam do céu. Imagens da
Sacralidade antiga ou quando o mundo era um templo.” Os arquétipos
universais da religião apareceram manifestados nas diferentes culturas
humanas e aplicados ao nosso mundo galaico e barrosão. Todos os povos
têm um mesmo padrão cultural manifestado de diversas formas. Somos uma
mesma humanidade com representações e estéticas diferentes. Símbolos
universais humanos que são manifestados segundo o contexto cultural.
Somos diversos dentro da unidade e essa diversidade devemos respeitá-la
para a humanidade estar saudável....
Finalmente falou Santiago Bernárdez sobre “Os
"Annála Ríoghachta Éireann" e as relações entre a Galiza e Éire na
Idade Moderna”. O tema dava para muito e o desconhecimento que há sobre o
tema é muito. Não temos muito conhecimento do relacionamento bélico
entre tropas galegas defendendo interesses irlandeses contra o inimigo
inglês em época dos Habsburgs. O paralelismo entre esses eventos
históricos com os eventos míticos narrados no Leabhar Ghabhála Érren são
evidentes e os vínculos posteriores às lutas irlandesas pela sua
libertação com as chegadas de refugiados reafirmam essa ideia.
Finalizadas
todas as palestras e com os momentos poéticos oportunos nos momentos de
descanso tivemos a imensa sorte de poder contar entre o público com a
conhecida escritora portuguesa Maria Clara Pinto Correia quem nos fez
uma avaliação da situação do mundo atual, a passagem do tempo e a sua
memória da sua passagem por Pitões. Acabada a sua intervenção fomos
comer ao restaurante pitonês "Dom Pedro" onde depois de partilharmos
lindas conversas entre as pessoas que nos conhecimos ali fizemos uma
entrega de prémios a algumas pessoas como agradecimento pelos seus
contributos às atividades do nosso grupo.
De
tarde o grupo visitou o mosteiro de Pitões para depois darmos por
finalizadas as II Jornadas das letras galego-portuguesas. Aguardamos
umas terceiras.
Agradecemos
imensamente à Junta da Freguesia de Pitões das Júnias nomeadamente a
António Ferreirinha, António Cascais e Lúzia Jorge...sem esquecemos a
Kátia Pereira, à Câmara Municipal de Montalegre, ao Bruxo Queimam pela sua
atuação generosa para nós, ao Padre Fontes pelo seu apoio, recebimento e
calor humano sempre manifestado para nós, aos palestrantes Rafa
Quintia, António Alijó, Miguel Losada, Santiago Bernárdez e Clara Pinto
Correia, também à Rádio Montalegre, a Margarida e Bruno da Taberna Terra
Celta, aos Restaurantes "O Preto" e o "Dom Pedro", aos poetas Nolim
Gonçalvez, Concha Rousia, Iolanda Aldrei, Henrique Dória, Alexandre
Brea, Rafael Quintia, gente do público que também recitou, cantou e
participou, ao público que nos acompanhou... e a todo o povo de Pitões.
Quando a dia de hoje uma pessoa
de qualquer país da Lusofonia oficial e um galego têm de se comunicarem entre
sí, podem acontecer várias cousas:
a)Que
o paleofalante galego sinta que percebe e pode ser percebido pelo seu
interlocutor. Neste caso, o galego reproduz a sua fala dialetal local
oferecendo uma margem de distância mínima que a dia de hoje pode não ajudar a
total fluidez comunicativa entre as partes. Isto, até o século XX não
acontecia, justo até o século em que a Galiza contou com uma versão
normativizada da sua língua e uma política linguística que promocionou sempre
uma língua “ausbau” diferente da de Portugal. Este relacionamento a duas
partes, galego por um lado e português por outro, é o caso habitual que
acontece no dia-a-dia nas regiões da raia galego-portuguesa onde nunca houve
problemas de relacionamento nem nunca se sentiram “estrangeiros” os uns a
respeito dos outros. A distância viria dada porque o português está formado
numa língua padrão saída dum determinado centralismo lisboeta e o galego
(mal)formado tanto em castelhano como em “galego”. Este caso está em vias de
extinção, como indicou a UNESCO a princípios dos século, por serem cada vez
menos os paleofalantes os que sentem o português como uma continuação das suas
falas e por ser mais os portugueses (e outros lusófonos) os que sentem os
galegos como mais uns “españoles” de fala castelhana, nos quais não há que
confiar desconhecendo a nossa identidade comum.
b)Que
o galego, duma maioria cada vez menos minoritária, fale em castelhano. Nesse
caso pode acontecer que o lusófono faça esforço por se adaptar ao outro
parceiro, embora há de ser difícil que este último, se adapte ao primeiro, quer
por um sentir xenófobo e supremacista incutido pelo castelhanismo, quer pela
educação deficiente que na Espanha se ministra em relação às línguas, forem
estas de dentro como de fora do Reino. Algo assim acontece nos países
anglófonos por terem a ideia de que todo o mundo tem o dever de saber inglês...No
Reino, considera-se uma cousa normal que os demais têm o dever de os perceberem
em castelhano embora não à inversa sob pena de ser considerado um ignorante. A
maior parte das vezes, o espanhol em questão está capacitado para perceber pela
pouca distância linguística que há entre a deles e a outra mas finalmente
acontece que é um problema de vontade. O espanhol não quer perceber...e o
galego-espanhol como subproduto deforme e acomplexado que reproduz
ridiculamente os hábitos “cañís” e por um elemento de mimetismo primate copia
os comportamentos mesquinhos do modelo espanholista à moda, de caráter
intolerante e impositor, fornecido pelos média embora com menos força do que os
originários.
c)Que
o galego, quer paleo, quer neofalante, adopte a variante RAG na sua conversa
com o lusoparlante. Neste caso o resultado final vai ser que esteperceba a fala do galego como um péssimo
português ou que é um espanhol que tenta fazer esforços por falar português.
Nesse caso para favorecer o relacionamento acaba por tentar ele falar em
castelhano. Ainda assim....o galego-RAG pode insistir na proximidade
linguística galego-portuguesa o que resulta absurdo para o lusófono que percebe
a fala do galego como uma trapalhada que não há por onde apanhá-la.
Estes são três dos quatro casos
possíveis que se podem dar. O que ninguém fala é das circunstâncias que levam a
estas irregularidades intercomunicativas, tendo em conta que nem os políticos
nem os linguistas que fazem parte das administrações galegas ignoram que as
falas galegas e luso-brasileiras fazem parte do mesmo diassistema
linguístico... e quando digo que eles “sabem” isso, não estou a dizer que
“acreditem” ou que “tenham uma ligeira intuição”. Digo simples e diretamente
“sabem” com tudo o que isso implica e compromete.
A pesar de tudo, a princípios dos
anos 80 e por decisão política, os responsáveis da administração optavam por
oferecer ao administrado galego uma versão normativa para a sua língua que
facilitava (e ainda facilita no presente) a distância e favorece o mais alto
grau de incomunicação entre galegos e o resto dos lusófonos. Essa versão foi
aplicada por decreto para ser aplicada em aqueles âmbitos da vida fulcrais para
incutir a ideia de diferença, como é o caso do ensino à vez que faziam orelhas
moucas à discrepância legítima de tal forma que nenhum professor pudesse fugir
de tal despropósito, castigando a todos aqueles que no exercício da sua
liberdade de cátedra optassem por querer transmitir aos alunos uma ideia de
identidade linguística galego-portuguesa ou no mais duro dos casos uma versão
útil da língua.
Os professores, mesmo não
ensinando outra normativa diferente à imposta por um decreto nunca consensuado
eram perseguidos, discriminados, desrespeitados como pessoas e sobre eles era
exercido um subtil “mobbing” dificilmente demonstrável entre outras cousas
porque o claustro de professores do centro de ensino apoiava a ação, quer
porque a sua formação linguística não permitia aceder a registos mínimos de
conhecimento, quer porque a sua má formação humana e/ou ética os fazia
incapazes de frear a ação agressiva contra o acossado, quer por medo a que
sobre eles caísse também a repressão.
Uma outra forma de “mobbing” que não
afetasse diretamente à administração era deixar que o protesto “anti-lusista”
fosse levado a cabo pelos país das crianças que sentiam que um “lusista” não
ministrava as suas aulas como era o convencional. Nestes casos a equipa
diretiva ou o claustro lavavam-se as mão de cara ao afetado mas encirrava aos
pais ocultamente para apagar a dissidência. Tudo isto sem informar a ninguém
que os professores possuíam e possuem legalmente o direito à liberdade de
cátedra e que ainda um artigo da Constituição espanhola garante na teoria a não
discriminação por qualquer circunstância pessoal e social...e portanto por
qualquer razão linguística o que faz que não exista legalidade que defenda uma
discriminação por razões de normativa linguística a usar com qualquer língua
oficial.
Alguns casos foram muito sonoros
na Galiza dos 80 e dos 90, épocas muito obscuras de regressão linguística em
Galiza. Lembro dous casos especiais por se saltarem todas as linhas vermelhas
do silêncio, do ocultamentoe da
censura. Foram protagonizados e sofridos pelos professores Mário Afonso Nozeda e Jesus
Sanches Sobrado. Este último reformado ao pouco tempo de começar a trabalhar
por causa dum ambiente laboral totalmente hostilque o levou a uma situação de estress por “mobbing”.
Por outra parte, e deixando o
acosso favorecido pela administração ao que sempre estivemos submetidos os
defendores da língua na Galiza, temos que acrescentar que a forma em que as
aulas de “galego” se dão ainda nos dias de hoje é própria duma administração
que não se importa em deformar às crianças e aos adolescentes, contrariamente
ao cometido último que tem o ensino, que é formar e informar (não deformar).
Existiu sempre uma ampla
percentagem de professores que não consideraram como opção válida a de começar
o ensino da lecto-escritura das crianças na sua língua raiz. Cousa nunca
combatida pela administração galega e mesmo impulsionada desde a “Xunta”. Nenos
e nenas galaico-parlantes apreenderam e apreendem a ler e a escrever em
castelhano, vendo o seu idioma relegado aos usos mais coloquiais ou
simplesmente deixando-o para assuntos menores. Muitos professores são mal
formados linguisticamente, com índices de conhecimento da realidade
socio-linguística deficientes, com prejuízos anti-galegos ou que consideram a
língua do País como um elemento de menor importância na formação dos alunos. A
causa provém da sua formação universitária originada nos planos de estudo que
incutem esses defetos aos futuros professores. Da administração galega parte a
permissividade a considerar normal atentar contra a integridade moral e
psicológica de um companheiro se este mostra sinais de “lusismo patológico” ou
qualquer outro desvio legítimo em qualquer país democrático, à vez que se
defende hipocritamente a liberdade do professor a saltar-se toda regra
pedagógica de educar a um aluno na sua língua e de negar ao aluno o seu direito
de ser formado na sua língua.
Na Galiza, como comentava há uns dias no PGL Fernão Portas estão-se a incumprir os dous princípios básicos do ensino quando
neste há duas línguas presentes (português e espanhol....ou galego e castelhano
se quisermos): “misturar e não marcar fronteira” favorecendo nos alunos o
atrapalhamento linguístico podendo levar à necessidade da logopédia em alguns
casos que optarem por usar a língua em público. Curiosamente aqueles que
optam pelo logopeda para poderem sair num meio de comunicação público são
“re-educados” para poderem falar corretamente o castelhano....nunca a língua
dos galegos.
É a vontade da administração
fomentar a bablização nos galegos em vez da competência nas duas línguas,
cometendo um grave delito, talvez não só moral, pois demonstrada a sua
intencionalidade de atrapalhar à sociedade investindo grandíssimas sumas de
dinheiro público em “normalizar” o galego se obtenha como resultado final a
mais alta deserção da língua nos últimos trinta anos dos últimos cinco séculos.
Dito de outra forma: houve mais desgaleguizados e castelhanizados desde 1980
até hoje do que entre 1480 e 1980. A perda foi de mais dum 30% desde que chegou
o PP à “Xunta” autonómica. Não são os meus dados, são dados das Universidades
Galegas, das Instituições (a)normalizadoras dependentes da “Xunta” e da UNESCO.
Esta sociedade leva já muitos
anos seguidos sob um regime de ignomínia, abuso, desnacionalização e corrução
de todo tipo que afeta a todos os aspectos da vida dos galegos, nomeadamente a
parte linguística que é da que estamos a falar, e nunca ninguém denunciou
perante a justiça galega, espanhola, europeia ou internacionala situação que vivemos de genocídio
cultural, económico, evidentemente linguístico...e com a emigração favorecida
pelo poder, também me atrevo a dizer que genocídio étnico. Este genocídio é
subtil e em parte consentido pela ignorância e a estupidez de muitos mas também
pelo colaboracionismo de outros que bem mereceriam que a justiça também caísse
sobre eles. Por isso os políticos no poder desde os aos 80, momento em que se
constituiu a infelizmente denominada “Comunidad autónoma Gallega”, são uns
delinquentes só um ponto por baixo dos grandes genocidas da história. O único
que os diferencia é que estes últimos recorreram ao sangue, à guerra e ao
fogo...os nossos não precisam disso porque há muitos galegos que os votam e que
favorecem a bastardia moral e política de quem leva a cabo o processo.
Falávamos acima de três dos casos
nos que um galego e um lusófono poderíam interagir comunicativamente. Há um
quarto caso...:
d)O
galego tem consciência de falar a mesma língua do que o outro lusófono. Nesse
caso a comunicação é fluída porque a inteligência desse galego faz com que a
sua fala seja mais próxima, compreensível e universal sem deixar de ser galego.
Em vez de usar “irmán” usa “irmão”; em vez de usar “oir” usa “ouvir”; em vez de
usar “caer” usa “cair”, em vez de usar “dicir” usa “dizer” em vez de acabar
certas palavras em “-ble/bles” acaba em “-vel/veis”; em vez de usar a
terminação “-ción/cións” usa a “-ção/ções” comum a todo o universo
galego-português que não por perdida na fala diária é menos galega. Também
provavelmente recupere a sua fonética com o uso do sesseio tão legítimo como
qualquer outra forma absolutamente galega e limpando um elemento fónico de
origem castelhana como é o denominado “cetacismo”... Um galego
reintegracionista pode andar com o seu galego pelo mundo, pelos organismos
internacionais sem sair da sua fala matriz. A sua fala é reconhecida como uma
das mais importantes e sucedidas da humanidade, é respeitado e dignificado por
distinguir corretamente o seu galego(-português) do castelhano e não seguir o
fomento da mistura ensinado nas escolas e liceus galegos...e o que é melhor de
tudo é que esse galego reintegracionista nunca deixa de falar galego quando usa
a versão internacional da língua. Com essa forma de apresentar as cousas saberá
falar corretamente a sua língua sem castelhanizá-la e se quiser falar
castelhano poderá falá-lo também sem interferências. Os logopedas não serão
necessários mas sim talvez um tribunal de justiça, não sei se nacional ou
internacional que julgue os mafiosos da língua por crimes contra a dignidade
deste povo pelo qual nem deixaremos de lutar nem renunciaremos de pertencer a
ele.