terça-feira, 20 de setembro de 2016

Carta de Castelao e Suarez Picalho a Salazar

R. Suarez Picalho
 
A. Daniel R. Castelão
Por Afonso Daniel R. Castelão e Ramón Suárez Picalho 
In Nova Galiza, n.º 2 (20-IV-1937)
Como vosselência não deixaria chegar ao povo português a voz dos patriotas galegos, queremos que, pelo menos, chegue a vosselência a queixa dorida de dois galegos que sempre amaram Portugal. Asseguram que vosselência crê em Deus. Não o sabemos… E não o sabemos porque Deus ―infinitamente bom, sábio, justo e, ademais, imortal― não quis ser Ditador e concedeu-nos o livre arbítrio para que nós mesmos buscássemos o caminho da felicidade, enquanto que vosselência ―cativo verme, que se considera feito à imagem e semelhança de Deus― não teve dúvida em aprisionar a liberdade do povo português, a asfixiar a livre emissão do pensamento e submeter a nação portuguesa ao seu capricho. Grande pecado de soberba, senhor Ditador! Não sabemos se vosselência é um Ditador tão vaidoso como Mussolini e Hitler (vemos que não gosta tanto dos fotógrafos); mais, ainda que o fosse, não cremos que vosselência pretenda tapar com a sua figura os progenitores da Pátria lusa. Eles conquistaram a independência da Nação portuguesa e vosselência está jogando-a agora na roleta internacional, em conluio com os inimigos da liberdade.
Não sabemos se a História perdoará os seus delitos, tão graciosamente como a mais alta hieraquia da Igreja lhe perdoa os seus pecados. Contudo, não se julgue seguro no castelo de fumo que a imaginação de vosselência criou, porque o povo tem um sentido incoercível de justiça e do seu cerne podem surgir juízes terrivelmente vingativos. Mas no entanto é forçoso reconhecer que vosselência manda hoje em Portugal. Por que ajuda vosselência os militares espanhóis, que se ergueram em armas contra o Poder legitimamente constituído? Mediu vosselência os riscos que de semelhante ajuda podem derivar para o Estado português? Porque a beligerância de Portugal na guerra civil espanhola é, simplesmente, uma imprudência temerária, que não abona o talento de vosselência. Tenha vosselência por bem seguro, além do mais, que a Espanha vai ser a campa do fascismo internacional, porque vencer a um povo em armas, dentro do próprio território, não é vencer a força máxima do seu pensamento nem matar a razão que o assiste. A luz das estrelas não se apagará soprando desde Roma. Agora bem; as ajudas fascistas prolongarão a guerra e agravarão os seus resultados, em prejuízo, naturalmente, das concepções que vosselência defende.
Mas nós iremos falar somente como galegos para que apareça mais avultada a gravíssima intervenção de vosselência. Sabe vosselência que Galiza tem todos os atributos de uma nacionalidade: língua, terra, história, arte, espírito, etc., e que, portanto, seria fácil fomentar ali um ideal patriótico de carácter separatista; mas nós aspirávamos, modestamente, a uma simples autonomia que garantisse o livre desenvolvimento da cultura autóctone e que nos permitisse resolver os problemas vitais que a morfologia social e económica de Galiza tem estabelecidos. Sabe vosselência que Galiza apresentou às Cortes da República espanhola, três dias antes de rebentar o movimento subversivo, um Estatuto autonómico proposto pela quase totalidade dos Concelhos e aprovado, em plebiscito recente, por setenta e cinco por cento do Corpo eleitoral; ou seja, depois de vencer com o mais rigoroso zelo as condições que a Constituição exige. Crê vosselência, senhor Professor de Direito, que nós realizámos algum atentado criminal? Pois a fronteira portuguesa não se abriu para os autonomistas galegos, que fugiam da morte, negando-lhes vosselência o direito de asilo a homens que viviam dentro da Lei e que não cometeram maior delito do que defendê-la. E a polícia de vosselência, a polícia de um país que aboliu a pena capital, entregou muitos galegos para que fossem assassinados. Sabe vosselência que Portugal reclamou e conquistou, violentamente, a sua independência nacional, mais do que para romper a unidade hispânica, para não se submeter à tirania centralista. Portugal não queria morrer assimilado por Castela, e num arroubo de génio rompeu as amarras familiares, pediu separação de bens e foi viver a sua vida na melhor frente do lar comum, na grande frente do Atlântico. Não há dúvida que foi Portugal quem quebrou a unidade hispânica. E fez bem. Agora, senhor Professor de Direito, sabe vosselência que o “motivo patriótico” que invocam os militares espanhóis, para justificarem o seu crime, foi provocado pela generosidade constitucional, pois, segundo eles, a concessão das autonomias regionais põe em perigo a “sagrada unidade da pátria”, quando, na verdade, serve para fortificá-la. Sabe vosselência que os militares facciosos defendem, somente, um sistema, um sistema unitário e centralista, que causou a perda do nosso império colonial depois de desintegrar a Península e acirrar novos separatismos. Sabe vosselência que esses militares desprezam olimpicamente Portugal, sem o conhecer, e guardam no seu interior um anseio irreprimível de reconquistá-lo pela força, enquanto que os povos autónomos da República espanhola seriam sempre uma garantia da independência de Portugal e um estímulo eficaz de aliança peninsular. Sabe vosselência que o triunfo do fascismo em Espanha supõe o regresso de Catalunha, Euzcadi** e Galiza à tirania centralista, tirania que Portugal não suportou. E não falamos do que a Portugal pode sobrevir-lhe do triunfo das ideias totalitaristas e a participação de uma Espanha ensoberbecida no concerto europeu. Crê, vosselência, senhor Ditador, que Portugal pode dignamente ajudar os militares espanhóis no afã de abolir as autonomias e contribuir para a morte da democracia na Europa? Pois vosselência ajuda a esses militares, concede asilo generoso aos facciosos e aos políticos do velho sistema, convertendo Portugal em “galinheiro de Espanha”. Sabe vosselência, apesar de ser judeu, que Galiza e Portugal formam, etnicamente, um mesmo povo. Foram-no no amanhecer da História e caminharam juntos muito tempo, a falar e a cantar no mesmo idioma. Juntos ergueram um dos mais belos momentos do mundo: a grande poesia lírica dos Cancioneiros galaico-portugueses. Juntos criámos uma cultura e um modo de vida. E o rio Minho era o nosso pai. Sabe vosselência que ainda depois da malfadada separação, Galiza e Portugal queriam-se como dois namorados. Portugal era o moço forte, que partiu para a guerra e Galiza foi a moça que ficou a tecer saudades. Galiza dera a Portugal, como prenda de amor, a fala e a arte; Portugal deu muitas vezes a Galiza o socorro do seu braço forte. Sabe vosselência que a separação foi desventurada. A Portugal faltou-lhe a força “frenética” de Galiza e enloqueceu; à Galiza faltou-lhe a força “simpática” de Portugal e esmoreceu. A Portugal faltou-lhe o “caminho estrelado da Europa” e à Galiza faltou-lhe a continuidade na História. Portugal esqueceu-se da Galiza e desgastou o seu sangue com misturas de cor; Galiza esqueceu-se de Portugal e ficou estéril para conceber. Pois bem, senhor Oliveira: sabe vosselência que os galeguistas éramos algo mais que políticos. Respeitávamos, como não! a fronteira que separa os dois Estados peninsulares: mas queríamos asas para voar e comunicarmos convosco, sobre o Minho, por cima dos carabineiros e dos guardas fiscais. Queríamos voltar a falar e cantar no mesmo idioma. Com canto amor pensávamos em Portugal! Deve saber vosselência que o nosso amor a Portugal valeu-nos o ódio dos chamados “nacionalistas” espanhóis e que foi justamente esse amor o delito mais grave que se nos imputa. Crê vosselência, senhor Oliveira, que os galeguistas estávamos infectados de alguma enfermidade perigosa para o povo português? Pois vosselência tratou-nos como empestados, metendo galeguistas em cadeias imundas ou entregando-nos aos assassinos da “Falange Espanhola”. Sabe vosselência que os intelectuais portugueses e galegos começavam a formarem uma comunidade cultural que seria outro expoente da nossa estirpe atlântica. Chamávamo-nos “irmãos”, e Rosalía de Castro era o “corpo santo da saudade”. Um poeta amigo de vosselência, quis engaiolar a Galiza com este chamamento: “Deixa Castela e vem a nós!” Sabe vosselência que os galeguistas fechávamos os ouvidos a todo chamamento ilícito; mas queríamos ser fiéis aos legados da tradição, e cada vez nos sentíamos mais empurrados face a Portugal. O rio Minho queria juntar-nos de novo. Sabe vosselência que os jornais portugueses, submetidos à censura governativa, seguiram com simpatia os incidentes do movimento autonomista em Galiza e não dissimularam o seu contentamento ante o resultado favorável do plebiscito estatutário. Outro tanto fizeram já quando se resolveu o pleito catalão. Tudo nos fazia supor que Portugal ansiava uma estruturação federativa do Estado espanhol, e nós sonhávamos, para quê negá-lo, com que algum dia se consagrasse definitivamente a irmandade galaico-portuguesa. Pois bem, senhor Oliveira: vosselência matou as nossas ilusões. Crê vosselência que se pode ajudar descaradamente aos imperialistas espanhóis? Pois vosselência tornou-se cúmplice desses assassinos que cometeram em Espanha o crime mais arrepiante que a História regista. E vosselência fechou as portas, sempre abertas, da nossa República, aos seus próprios amigos, que algum dia renderão contas ante a justiça inexorável do povo português. Sabe vosselência que na Galiza, ainda irmã de Portugal, cometeram-se muitos milhares de assassinatos. Massacrou-se o melhor e mais puro da nossa mocidade. Fuzilaram-se centenas de mulheres. Mataram-se rapazes cheios de vida na presença de seus pais. As estradas apareciam, e ainda aparecem, diariamente orladas de cadáveres desfeitos, que não podem identificar-se. Sacavam-se da cadeia os presos inocentes para serem assassinados pela noite. As autoridades ordenavam fuzilamentos sem prévia formação de causa. Enfim; abonda dizer que era uma honra ser julgado e fuzilado “oficialmente”. Sabe vosselência que falamos em tempo passado, mas que ainda hoje continua o massacre dos cidadãos galegos. Pelos jornais da nossa Terra, submetidos ao controlo militar, verá vosselência a insaciável criminalidade dos seus aliados e amigos. Sabe vosselência que para reconstruir o nosso lar desfeito provavelmente não nos fica mais que a reserva dos galegos que andam pelo mundo? Pois bem; estes galegos vingarão os nossos mártires e criarão uma nova Galiza que já não medirá sonetos em louvor de Portugal. Crê vosselência que os bons galegos, enlutados para sempre, podem viver sem amaldiçoar? Pois nós dizemos-lhe que vosselência causou o luto de muitas famílias galegas por não abrir generosamente as portas de Portugal. E dizemos-lhe mais: vosselência será para os sobreviventes de Galiza algo menos que um assassino; será um cúmplice de assassinos.

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Como e quem nos manipula?






Por José Manuel Barbosa
(Ver: A manipulação do ser humano através da linguagem)
A manipulação é um dos mecanismos aos que estamos submetidos no mundo que vivemos. A guerra é substituída pela política na Era da democracia o qual não significa a ausência da agressividade mas tudo o contrário. A agressividade converte-se numa arma subtil tanto no pessoal quanto no social e político. Perante isso cumpre reconhecermos os mecanismos, as estratégias, as formas e os modos para nos podermos mexer entre as espadas. É de obrigada aprendizagem para nos podermos defender bem.

Nestes momentos de destruição da Galiza de todos os pontos de vista vejamos como é que age o poder connosco para que a nossa destruição seja totalmente eficaz. De nós depende o sabermos contrapesar essa energia negativa e convertermo-la em energia neutra.
Os dez princípios usados pelos manipuladores e pelos psicopatas segundo nos informam os psicólogos podem dar-nos informação do que se faz com os galegos.
Vejamos a que estamos submetidos:

1- Volver-te tolo com enganos: "Isso não aconteceu nunca", "imaginache isso", "Volviche-te tolo", "Estas errado".... Serve para distorcer o teu sentido da realidade tentando bombardear a tua auto-confiança e impede a tua defesa frente o abuso.
(O paradigma historiográfico castelhanista em que a Galiza não existe na História é um exemplo. Se falas do "Gallaeciense Regnum", se falas dos celtas, se falas dum País medieval soberano.... são imaginações de historiadores que baseiam as suas teses na Ciência Fição)
Mapa do Historiador castelhano Modesto Lafuente do seu livro "Historia General de España" editado entre 1850 e 1867 onde se pode ver a tradução que ele faz do nome que os muçulmanos lhe davam ao NW peninsular. A "Jalikiah2 árabe é traduzida por "Reino de León"

2- Projetar a culpa em ti e não em quem te está a manipular: "A culpa é tua", "A mim que me contas"... Tenta descarregar toda a responsabilidade em um e livrar-se dela o/a manipulador/a
(Os incêndios são culpa da cultura galega, a cultura do lume; os galegos são os culpáveis dos incêndios porque sempre há alguém que por uns euros é capaz de pôr-lhe lume a um monte. Os galegos são parvos porque sempre votam ao Pepé que não faz mais do que fazer-lhes dano pelo que os galegos são uns masoquistas que não merecem crédito..)

3- Tirar as cousas de contexto sem reconhecer os matizes de uma manifestação ou as múltiplas formas de perceber um assunto.
(Lembrais a notícia que se dava nos média da imposição aos escolares para apreenderem o hino galego escrito por um tal "Arturo" Pondal e no que se dizia que os que não sabiam falar galego eram "imbecis e escuros"?)


4- Mudar as regras de jogo ou utilizar duas varas de medir. O que vale para mim não serve para ti. (Quintana não pode negociar com um empresário sobre os eólicos... mas Feijó pode enlear-se com um narco ou o Rajoi pode estar no iate de outro... No primeiro caso "não se pode tolerar", no segundo e terceiro "isso não tem importância". Também poderíamos falar das duas varas de medir quando dos assuntos da língua falarmos: o bilinguismo está bem para os galegos mas para os demais não... ou como disse um parlamentar catalão num dos últimos debates: "Vcs, (dirigindo-se aos parlamentares do Pepé) são monolingues que querem que nós, bilingues, sejamos trilingues")
5- Desviar o tema e não querer ouvir o que um quer dizer deixando a tua opinião sem comunicar e fazendo-che ver que o que pensas não tem importância. (As manifestações dos tratoristas galegos não saem nos informativos... as de Sevilha ocupam 20' do Telejornal da noite; na época do "Prestige" censuramos o que diz a gente, o presidente do governo não vai à Galiza porque esse assunto está controlado... etc.. Falamos dos problemas do Pais Basco e de Catalunha... os problemas galegos não nos importamos se não é na seção de "Sucesos")
Notícia que se fez viral na Espanha: Um homem morre esmagado por uma rocha quando violava uma galinha em Ourense.
 6- Insultar. É muito destrutivo e ataca a auto-estima do manipulado.
(Rosa Diez de UPyD, Arcadi Espada de C's, Aznar do Pepé e José Montilla do PSOE ou a TV5 são só alguns exemplos de políticos ou empresas que não tiveram pudor de insultar galegos desde um meio de informação público... e ainda nenhum pediu desculpas. Por outra parte, os dirigentes galegos do Pepé não as pediram)

7- Desprestigiar ao manipulado aos olhos dos demais. Os mártires são eles e tu um malvado que te dedicas a extorsionar. (Na Espanha existe o "problema" nacionalista; o nacionalismo galego é insolidário; Galiza nunca melhor esteve porque o Estado é muito solidário com ela; "los nacionalistas son unos radicales", "Nosotros los constitucionalistas buenos y ellos los nacionalistas malvados ....)
8- Fazer brincadeiras agressivas com ironia. O ataque nunca é direto porque te defenderias bem, mas há que recorrer ao ataque pelas costas. Ao final segundo eles "tudo é brincadeira" dito com um sorriso nos lábios. Se insistes em culpar ao agressor finalmente vai ser que não tens sentido do humor. (Lembramos a polémica sobre as piadas de galegos? Depois dos protestos pelo racismo dos conteúdos, os média desqualificaram aos que denunciaram esse facto dizendo que não tinham sentido do humor, que os galegos tem complexos, etc....)

9- Alimentar inimizades de terceiros para fazer-che perder energia em te defenderes de outros e não defender-te do agressor principal. (Lembramos também os conflitos com os asturianistas que vêem o inimigo no Oeste e não no Sul; talvez nestes momentos se esteja tentando criar um problema com o mundo lusófono e no seu nome com Portugal pela tentativa de inclusão dos anti-reintegracionistas nas instituições lusófonas...

Conclusão: O projeto nacional imperante manipula no seu favor e em detrimento da Galiza.



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