terça-feira, 23 de julho de 2013

Roteiro pelas Origens de Ourense



 Equipa do DTS

O Ateneu de Ourense com a colaboração do DTS (Desperta do teu Sono) vai organizar o próximo 6 de Agosto às 20:30 horas um "Roteiro pelas origens de Ourense".
Neste roteiro visitaremos a Praça Maior, As Burgas, A igreja de Santa Maria Madre, A Praça da Magdalena e a Praça do Trigo

Todxs xs amigxs que queiram PARTICIPAR E MATRICULAR-SE poderão fazê-lo em...:

1-No Ateneu de Ourense, na Avenida da Havana 25 baixo
2-Formanizar inscrição o mesmo dia do evento à hora do começo. Os preços serão os seguintes:

Para sócios do Ateneu: 2 Euros
Para não sócios: 5 Euros

O preço vai ir destinado à ajuda do Ateneu que luta pela sua continuidade como organização histórica e progressita desta cidade.

O lugar onde combinaremos é na Praça Maior, nas escadas do Museu Arqueológico por volta das 20:15, um quarto de hora antes do começo e o programa será o seguinte:

1-Burgas e Praça Maiorr

-Orígens e Fundação de Ourense

-Roma em Ourense

2- O Ourense Suevo

-Santa Maria Madre

-Praça da Magdalena

3-O Ourense Medieval

4-Recital de poesia (quem quiser recitar poemas próprios ou de outros autores pode)

5-Ao final completaremos o roteiro com uma visita aos bares mais emblemáticas da cidade nos Vinhos aproveitando para desfrutarmos da culinária e os petiscos típicos da nossa Cidade.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

O que um brasileiro deve saber sobre a Galiza e o galego






Por José Manuel Barbosa

Artigo dedicado para o amigo brasilego Paulo Soriano que leva a cabo a sua luta por dar a conhecer a Galiza aos brasileiros. Dele foi a tentativa infrutuosa de publicar este artigo num jornal do Brasil. Com muita amizade e muito agradecimento. Abraço, meu caro.

Galiza é o País dos galegos, mas a origem da palavra "galego" nada tem a ver com gente loira ou ruiva (1). Galego ou galega é a pessoa originária dum País milenar que está localizado na Península mal chamada Ibérica (2), no seu canto noroeste. Pertence politicamente à Espanha mas dir-se-ia que é o retalho que lhe falta a Portugal para chegar ao Mar Cantábrico, ou na sua zona mais ocidental, também chamado Mar Céltico.
As primeiras referências que alguém dá da Galiza são da época na que os historiadores gregos tentavam conhecer a Europa mais longínqua desde a sua perspetiva. Os nomes de Ophiusa (por ser país povoado por serpentes) (3), Oestrymnia (provavelmente por ser o País onde morriam os rios do Oeste) (4), Keltiké (pela personalidade étnica dos seus habitantes), Dragania (Terra dos dragões), ....foram nomes usados pelos cronistas clássicos, mas foi por volta do século II a.C quando no fragor das guerras lusitanas, os galegos entram na história ruidosamente. As tropas romanas chocam frontalmente na foz do Douro contra um povo que não aceita domínios imperiais. Dizem as crónicas romanas que o rio Douro passava vermelho do sangue de 60.000 soldados mortos em combate. Eram estes originários de Cale...ou Kale, hoje Vila Nova da Gaia ao Sul do Porto. Daí o céltico nome de “Kalleaikoi”, o seu gentílico, do que derivou a forma latina “Gallaeci” e daí galegos. Foi assim como a bravura duma tribo céltica da foz do Douro denominada assim, deu o nome a todos os “lusitanos” para o norte do Douro e também lhe deu o nome ao País: “Kallaikia” ou segundo a versão romana “Gallaecia”.

 O maldito romano que cometeu esse bastardo e sacrílego ato de violência era Decimus Junius Brutus, que recebeu dos seus e desde esse dia o sobrenome de “Gallaicus”, quer dizer, o Galego.
 Desde essa nefasta data da batalha do Douro de 139 a.C. até o 25 d.C em que os romanos completaram a conquista da velha Gallaecia no cerco do Monte Medúlio, passaram-se mais de século e três quartos para que os romanos pudessem dizer que esta terra era deles. Foi aí, finalmente, no Monte Medúlio onde homens, mulheres e crianças resistentes, decidiram morrer ingerindo a venenosa saiba de Teixo, uma árvore sagrada dos celtas, antes do que caírem escravos dos pervertidos romanos mediterrânicos. Ainda hoje é de difícil ubiquação esse Monte Medúlio, mas com probabilidade poderia estar nas Médulas de Carucedo, na atual comarca leonesa, embora de fala portuguesa, denominada O Berzo... ou talvez um bocado mais para o Norte, no hoje chamado Monte Cido na Comarca do Courel (5).

 A Galiza esteve quase quatro séculos dependendo de Roma. Não sem conflitos, mas finalmente com grandes achegas nos anos finais do Império. A chegada do cristianismo deu personagens como Prisciliano, a primeira vítima da repressão derivada da institucionalização da religião cristã, e de quem se diz que é realmente o sepulcro da Catedral de Compostela, não de Santiago o Maior, do qual se sabe com certeza que nunca esteve na Península Ibérica. Prisciliano, chefe duma ideia do cristianismo adaptado aos galaicos tentava sincretizar a primitiva religião galaica de raízes druídicas à nova filosofia originada na predicação de Jesus de Nazaré.
 Ainda há mais alguns personagens como a Virgem Egéria, uma mulher, provavelmente priscilianista que viajou aos Santos Lugares e que nos trouxe umas narrações conhecidas com o nome “Itinerarium Egeriae”; o historiador Paulo Orósio, contemporâneo e colaborador de Santo Agostinho de Hipona; o também historiador Hidácio Lémico bispo de Chaves (Aquae Flaviae) e furibundo inimigo dos suevos; o Imperador Teodósio e a sua mulher Aelia Flácilla, fundamentais na queda de Roma junto com os seus filhos Arcádio e Honório que passaram a governar as duas partes nas que ficou dividido o Império uma vez ocidente vê a chegada dos povos germânicos....

 A Galiza recebe com relativa tranquilidade a queda de quem a dominou quase quatrocentos anos e vê aparecer pelas suas fronteiras os Suevos, povo procedente das florestas germânicas que se estabelecem no País com uma política de “trocar a espada pelo arado” segundo as palavras do seu rei e primeiro rei da Galiza, Hermerico, com o fim de partilhar destino com os nativos. A habilidade dos dirigentes suevos que visavam a integração como fórmula para a paz e a harmonia entre galegos e suevos é eficaz e acertada. Com isto a Galiza passa-se a constituir no primeiro reino independente de Roma em 411, o primeiro em acunhar moeda, o primeiro em dar-se uma legislação com organização territorial incluída que subsiste ainda a dia de hoje no noroeste peninsular, o primeiro reino cristão e católico da Europa... Era o chamado primeiro Gallaeciense Regnum que durou desde a sua fundação em 411 até 585 em que os visigodos, instalados no centro da Hispânia anexam Galiza.
 Vão ser 126 anos em que a quase totalidade da península e parte da atual França vão estar geridos desde Toledo mas cujos reis recebiam o título de “Rex Gallaecia, Spania et Gallia”. Só até que por volta dos começos do século VIII uma guerra dinástica e o pacto entre galegos e muçulmanos norteafricanos faz com que estes últimos entrem na Europa e ocupem o que na altura era denominado por eles de “Spanija”, “Al-Ishbam” ou “Al-Andalus”, um território que coincidia com a zona de domínio visigótico e limitada pelo norte com o Mondego, o Douro e o Ebro aproximadamente. Ao norte do Mondero e do Douro ficava a velha Galiza, numa situação de vazio de poder e dividida em múltiplos poderes locais mas também os vascões e os francos que marcavam a sua presença. Ao Sul, o Islão, representado pelo poder cordovês.

 A Galiza ficou longe do poder andalusi e numa situação de desgoverno sem poder unificado mas é desde um território da atual Astúrias, onde os pequenos régulos das Primórias organizaram e emprenderam a campanha de unificar o País novamente. Em poucas décadas a Galiza voltava a ser una e as marcas da região coninbriguense voltavam a ser fronteira como em época sueva entre a Galiza e o Al-Ishbam, Spanija ou Al-Andalus (6). Esta situação durou séculos, até que um rei chamado Afonso VI anexa aos muçulmanos o reino de Toledo. É aí quando a recém nascida Castela aliada do papado junto com os conflitos entre Compostela e Braga vão fazer que a territorialidade histórica da Galiza quebre definitivamente (7).
 Castela reafirmava-se como reino opositor à Galiza, e Portugal nascia quebrando assim uma unidade histórica que dificultava todo o projeto histórico galaico. Portugal apanhava um caminho em solitário e fechava a Galiza no seu canto noroeste fazendo-a pressa fácil duma Castela depredadora que contava com o apoio dos Papas de Roma à vez que ampliava o seu território e se fazia hegemónica até o ponto de se apropriareem do nome geográfico de Hispânia ou Espanha. A Galiza acaba, depois de vários séculos de conflitos e sangue, entrando na órbita de Castela que consegue finalizar o seu labor de “pacificação” nos finais do século XV, uma década antes de os castelhanos chegarem a América.

Todo este percurso histórico não teria importância para um brasileiro se não acrescentássemos que naquela Kalláikia céltica, ocupada por uma Roma agressiva, nasceu uma língua mescla da originária língua dos Kalláikoi com o latim trazido do Lácio pelos comerciantes e soldados romanos. Foi no primeiro reino da Europa livre de romanos onde se gestou e configurou com o nome dado por alguns cientístas (8) de Galaico, um romanço que segundo alguns autores tinha duas variantes: o galaico oriental ou asturo-leonês, e o galaico ocidental ou galego-português. O primeiro gerou o castelhano na sua parte mais oriental em contato com o basco mas o segundo foi a língua romance mais importante da Europa medieval do ponto de vista literário (junto com o ocitânico), usado e cultivado tanto na Galiza, como em Portugal, Leão ou a própria Castela. A ruptura do Reino da Galiza e o surgimento dum novo reino, o de Portugal, fez com que a nossa língua pudesse ter uma expressão culta no único reino que ficou livre de Castela dentro da península hispânica e pudesse ser levada a América num ato colonial, nos séculos XVI, XVII, XVIII e XIX, fazendo com que o atual Brasil a tomasse como a sua própria língua. É esta língua, galega em origem, crioulo latino-céltico nascido na velha Kalláikia céltica a língua do Brasil atual, quinta língua mais falada do mundo, com um porvir que já desejariam para si outros países com importantes doses de poder e com um futuro promissor que não têm outras línguas extensas ou poderosas politicamente. Assim, e finalmente, podemos dizer que as raízes mais fundas do Brasil estão naquele País enevoado do canto norocidental da Hespéria que resistiu Roma quase dous séculos, que uma vez dentro de Roma deu inteletuais e pensadores de importância internacional e atemporal, que criou o primeiro Reino medieval da Europa, que safou do domínio toledano trazendo e patuando com os muçulmanos e em soma, que criou a língua mais harmónica e musical do ocidente medieval. Esse País é a Galiza e essa língua é o galego, conhecido internacionalmente com o nome de Português.


Referências:

(1)    Ainda que parece ser que aqui há mais percentagem de loiros do que no resto da Península Ibérica. Talvez algo tenha a ver o facto de serem nomeados de “galegos” ou galegas” a gente loira no Brasil...
(2)    Pois não só de Iberos de origem norteafricano está formada a Península Hispânica ou Hespérica.
(3)    Ophiusa faz referência a um País onde havia serpentes mas talvez e segundo alguns historiadores, um animal totêmico próprio da região ocidental peninsular. O culto à ofiolatria está totalmente documentado na Galiza histórica desde a noite dos tempos e ainda hoje há restos.
(4)    Oestrymnia pode-se descompor em “Oest-“ (oriente, oeste) e “Ymnia” (ou Immia que significa na língua proto-celtica “rio” ou “país de rios”). Portanto, "o Pais dos rios do Oeste".
(5)    A palavra “cido” provém do CAEDERE latino que significa matar, donde CAEDO significa “exterminar”, “imolar” e CAEDE-IS significa “matança”, “carnificina”.
(6)    A região coninbriguense mudou várias vezes da Galiza para Al-Andalus. Em total dez, mas sempre gerida por um poder político moçárabe, quer dizer, de religião cristã embora fosse dependente às vezes de Córdova.
(7)    A unidade de todo o Gallaeciense Regnum ficou por vezes partida mas sempre provisoriamente já que recuperava a sua territorialidade completa graças aos aconteceres políticos da época. 
(8)   Os cientístas em questão são Carvalho Calero ou Rodrigues Lapa. Da mesma forma, Eugén Coseriu denomina a essa língua com o nome de “galaico-astur”.

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