O
albanês é uma língua de origem indo-europeu falada na região dos
Balcãs banhada pelo Adriático, que
está
rodeada pelo grego, no Sul, e pelas línguas sul-eslavas no Norte
(servo-croata) e Leste (búlgaro-macedónico).
É a língua oficial da Republica da Albânia, mas também do
Kosovo, onde também é
língua nativa. O albanês é falado maioritariamente
nas partes mais ocidentais da Macedónia do Norte por
quase um quarto da população e
onde desde 2019 está
reconhecida
como a segunda
língua oficial de todo o país; fala-se em Montenegro, na
Grecia (Epiro, Ática,
Beócia,
Argólida,
Coríntia,
Eubeia, Andros, Lócrida,
Ilhas Sarónidas,
Trácia,
etc), onde mora o grupo
étnico albanês dos arbanitas
e os camérios
mas também na Itália, (nos
Abruzos, a Basilicata, Calábria, Campânia, Molise, Apúlia e
Sicília), onde é
reconhecida a minoria
dos arberescos,
procedentes
da Grécia e
emigrados
para as regiões da Itália meridional graças ao apoio que os reis
de Aragão-Catalunha, Afonso V de Trastâmara,
Fernando II de Trastâmara
e posteriormente o Imperador Carlos I deram aos albaneses na sua
resistência contra os turcos otomanos quando estes conquistaram as
regiões helénicas do Império Bizantino.
O
albanês
tem origem
indo-europeu e dentro desse grupo de línguas, pertence ao grupo de
línguas paleo-balcánicas
ao qual pertenceram varias línguas mortas, como o dácio,
o trácio,
o frígio,
o ilírio
(do
qual se supõe, tradicionalmente,
deriva o albanês),
mas também o arménio e o grego, línguas ainda vivas. Tem
dous grandes dialetos: o gegh (ou guego, em português) e o tosk
(tosco, em português) falados ao norte ou ao sul do país
e divididos pelo rio Shkumbi.
Mas
ainda se reconhecem mais dous subdialetos de base tosca, o arberesco,
pertencente aos italo-albaneses e ainda o arbanítico,
falado no Epiro grego e no Peloponeso pelos arberescos que não
emigraram a Itália. |
Os Vilayet ou províncias otomanas antes das independências dos países balcânicos
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A
dominação otomana foi
marcante para os
albaneses, embora
foi
no
exterior que
se iniciou o cultivo literário da
língua,
não na própria Albânia,
iniciando
o seu percurso na escrita com o alfabeto cirílico, paralelamente aos
usos do servo-croata e do búlgaro. Foi nesta época em que aconteceu
a grande migração a Itália e Grécia e a conversão forçosa duma
grande parte dos albaneses ao Islão. Isto
foi duma relativa importância, marcando-os com um certo
privilégio,
embora
como etnia submetida,
dentro
da
administração otomana. De
qualquer maneira, o
albanês permanecia
proscrito
e
como língua subalterna, sob a supremacia do turco.
Neste altura, também aconteceu o povoamento e colonização do
Kosovo, inicialmente eslavo.
No
entanto, a
língua estava viva e
o
texto mais antigo em língua Shqipe, nome com o que se designam a si
próprios os albaneses, é de 1462 e está
escrito em gheg. Conserva-se
a frase ritual
típica
para
o batizado no
arcebispado de Durrës,
assim como uns versículos do Novo Testamento e um hino da Pascoa
Ortodoxa em tosk. O livro mais antigo conservado é um missal
ortodoxo (Mëshari)
em gheg de 1555 e um outro texto sobre a doutrina cristã em
arbanítico
de 1592 (E
mbesuame e krështerë).
Já no século XVII, em plena batalha religiosa da Contrarreforma, é
que
se inicia uma etapa de crescimento literário do albanês em
gheg meridional
apesar
da pressão otomana, em
que
alguns escritores albaneses de religião muçulmana começam
a utilizar
a ortografia árabe, como Nazim Berati ou Hasan Zyko Kamberi.
Esta via de reafirmação linguística
representa
a primeira
manifestação dum albanês culto baseado
nas falas de Elbasani, mas
de maneira instável, usando vários alfabetos e diversas variedades
populares.
Em
1908, a intelectualidade albanesa reúne-se
em Manastir,
hoje Bitola,
segunda
cidade mais povoada da
Macedónia
do Norte depois
da capital Escópia,
para discutirem qual a ortografia mais adequada para o albanês. O
percurso dos tempos tinha levado os albaneses a usarem
o alfabetos
cirílico, grego, latino,
árabe
e três variedades de alfabetos autóctones: o elbasan, o büthakukye
e o argyrokastër,
criados
entre 1750 e 1850 como forma de reafirmação nacional e linguística.
A
decisão foi ordenar
a língua e adotar
o alfabeto latino sobre a base do gheg de Elbasari, como levava
sido
o tradicional até
o momento,
mas depois da independência em 1912, a
língua albanesa colhe um importante impulso, convertendo-se em
língua oficial do país. |
Membros da resistência albanesa na Segunda Guerra Mundial. Na direita, o líder da resistência albanesa, Enver Hoxha
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Depois
da Segunda Guerra Mundial e a chegado
ao poder de Enver Hoxha, favorece-se
mais uma mudança no padrão albanês, propiciada
pela
origem tosk do novo
líder dos
partisans da
Albânia. Ao
finalizar a guerra, o
novo padrão
oficial vai estar baseado no dialeto do líder
da Republica Popular de Albânia,
apesar de ter sido o gheg a variante que tradicionalmente se
tem usado para este cometido.
E
assim ficou até
hoje.
Sobre
o Kosovo, falou-nos o amigo
da Galiza e linguista
basco José Luís Álvarez
Enparantza num Congresso organizado pela AGAL há muitos anos, la em
1987 e contou-nos o seguinte: No Kosovo,
de
fala
gheg, existiu
uma importante distância
política
com a Albânia
durante a
pós-guerra,
devido à
rutura
entre a Jugoslávia
de Tito e a Albânia
de Hoxha, pelo que os kosovares optaram
por uma padronização centrada no seu dialeto gheg nordestino,
isolando as suas falas do resto do domínio linguístico Shqipe a
partir de 1944, já que a Albânia optava pelo tosk sem a mais mínima
sensibilidade pelos irmãos
que
ficavam fora das suas fronteiras políticas. Assim foi entre 1944 e
1968, em que cada país
apanhou o seu próprio caminho, até
que em 1968, num congresso levado a cabo em Pristina organizado
pela
intelectualidade kosovar, decidiram refletir sobre o assunto e por
bem da unidade linguística, optaram pela
assunção
da
norma tosk com
vistas ao
futuro e pela
saúde do albanês, rechaçando o modelo atomizador servo-croata,
cujo protótipo
é aplicar
dentro da mesma língua,
quatro standards (sérvio, croata, bosniaco e montenegrino), dous
alfabetos (cirílico e latino) e constantes confrontos, ódios
e limpezas étnicas. Sobeja
dizer, que esse modelo elaboracionista é o que assumiram as
instituições oficiais galegas até
agora, com a figura do Žarko Muljačić como guru das línguas
Ausbau… O
Kosovo, finalmente,
decidiu unificar os textos para o ensino seguindo os modelos de
Tirana, iniciou
a implementação das
gramáticas tosk e legendagem no novo
modelo de padrão
e iniciou
as adaptações
ortofónicas
a todos os níveis. As vantagens foram evidentes em pouco tempo a
respeito da
edição, na produção áudio-visual, nos intercâmbios
universitários e no progresso da língua. Todo isto ajudou com a
reafirmação nacional que derivou na conquista da soberania do
Kosovo e da normalização plena do albanês no país
do Campo
dos Melros.
O
caso albanês-kosovar é um
exemplo de exo-normalização sucedida que
pode
servir de exemplo para os galegos, como
também podem ser exemplos o da
Taalunie de
Flandres, o
modelo reintegrador da Moldávia
ou
o
do
Quebeque, em
que a unidade da língua histórica esta por cima de interesses
partidários,
particulares
e gremiais.