Por David Outeiro e José Manuel Barbosa
Foi
o fim de semana de 11 e 12 de maio de 2013 quando mais de 70 pessoas
nos reunimos em Pitões das Júnias para celebrarmos a irmandade e a
camaradagem entre gente de ambas as margens da raia maldita. O nosso
intuito era unir. Unir gente com a mesma língua, com a mesma vontade de
viver, com o mesmo sentir, com a mesma história, com a mesma forma de
fazer, de ser e de pensar, com os mesmos defeitos e as mesmas
virtudes.... E conseguimos os objetivos.
Quando
começamos a organizar este ano contavamos com que o sucesso fosse
importante, mas a realidade superou muito os nossos cálculos até o ponto
de vermos desbordar o copo e não termos um respiro. Teremos que pensar a
forma de conter a maré de consciências galaicas que têm um mesmo foco
de atenção.
Chegamos
à casa do Padre Fontes quando passava um bocado das 12:00 horas. Dizem
que os galegos nunca chegamos à hora....o mesmo se diz dos
portugueses....mas o que tenho claro é que, como disse Gandalf "um mago
(nesta caso um galego) nunca chega nem demorado nem cedo; chega justo
quando ele se propõe chegar". Ali vimos amigos velhos e vimos amigos
novos. Os velhos alimentaram a amizade velha e os novos criaram uma que
há durar no tempo. A comida sentados ao lado das pessoas deu as boas
vindas a toda a gente que curiosa estava para ver como discorria a
jornada.
Fizemos
poesia, rimos, falou o Padre Fontes e ficamos todos contentes. Dentro
do horário previsto partimos para Pitões onde nos aguardava mais gente
ainda que as cousas houve que prepará-las para os palestrantes poderem
fazer o seu trabalho. Solucionados os problemas de som começou falando Rafael Quintia. “Geografias
míticas da Galiza e espaços hierofânicos. Mitos, rito e crença” foi o
título e nele nos falou de como identificar espaços sagrados, lugares
ancestrais e ocultos por milénios de esquecimento ou por causa da sua
cristianização. Apresentou vários exemplos aos que hoje podemos recorrer
quer como elementos ancestrais conservados a dia de hoje apesar dos
séculos e do cristianismo e de sincretização, quer como crenças
populares e/ou mitológicas que ligam diretamente com o nosso passado
pagão e céltico. A palestra foi seguida por um publico interessado e
curioso.
Posteriormente o artista gráfico António Alijó continuou falando de “Árvores
e pedras mágicas do mundo celta.” Mais do que nada a palestra deu um
debate no que participaram várias pessoas do público interessadas no
tema. A base temática foi reafirmar a ideia de que há povos hoje que são
o que nós fomos no passado que rendem culto às divindades relacionadas
com a Terra, onde os xamãs ainda acodem às covas sagradas, com uma
perceção do mundo que nós tínhamos há séculos...e estudando esses povos
poderemos saber o que fomos. Estudando esses povos podemos apreender
quem realmente somos e reformar e regenerar a nossa sociedade doente.
A poesia também fluiu nessa tarde do dia 11, assim como um roteiro pela aldeia de Pitões.
A
ceia na casa da Margarida e do Bruno, na Taberna Terra Celta foi o
momento em que as cousas nos sobrepassaram, pois o número de gente fez
materialmente impossível uma reunião de todos os presentes num mesmo e
único local. Ali acodiram novamente o Padre Fontes e o Presidente da
Junta da Freguesia Sr. António Ferreirinha com quem desfrutamos da noite
que acabava com a representação sentida do nosso amigo o Bruxo Queimam
(em breve veremos imagens). Para alguns a noite continuou até o dia
seguinte que começava o segundo dia.
O
dia 12 foi igualmente completo do ponto de vista poético, científico e
artístico. As palestras começaram fora de hora devido ao costume galaico
de tomarmos as cousas com calma mas deu para completar o horário. Miguel
Losada com a sua palestra intitulada “Os que termam do céu. Imagens da
Sacralidade antiga ou quando o mundo era um templo.” Os arquétipos
universais da religião apareceram manifestados nas diferentes culturas
humanas e aplicados ao nosso mundo galaico e barrosão. Todos os povos
têm um mesmo padrão cultural manifestado de diversas formas. Somos uma
mesma humanidade com representações e estéticas diferentes. Símbolos
universais humanos que são manifestados segundo o contexto cultural.
Somos diversos dentro da unidade e essa diversidade devemos respeitá-la
para a humanidade estar saudável....
Finalmente falou Santiago Bernárdez sobre “Os
"Annála Ríoghachta Éireann" e as relações entre a Galiza e Éire na
Idade Moderna”. O tema dava para muito e o desconhecimento que há sobre o
tema é muito. Não temos muito conhecimento do relacionamento bélico
entre tropas galegas defendendo interesses irlandeses contra o inimigo
inglês em época dos Habsburgs. O paralelismo entre esses eventos
históricos com os eventos míticos narrados no Leabhar Ghabhála Érren são
evidentes e os vínculos posteriores às lutas irlandesas pela sua
libertação com as chegadas de refugiados reafirmam essa ideia.
Finalizadas
todas as palestras e com os momentos poéticos oportunos nos momentos de
descanso tivemos a imensa sorte de poder contar entre o público com a
conhecida escritora portuguesa Maria Clara Pinto Correia quem nos fez
uma avaliação da situação do mundo atual, a passagem do tempo e a sua
memória da sua passagem por Pitões. Acabada a sua intervenção fomos
comer ao restaurante pitonês "Dom Pedro" onde depois de partilharmos
lindas conversas entre as pessoas que nos conhecimos ali fizemos uma
entrega de prémios a algumas pessoas como agradecimento pelos seus
contributos às atividades do nosso grupo.
De
tarde o grupo visitou o mosteiro de Pitões para depois darmos por
finalizadas as II Jornadas das letras galego-portuguesas. Aguardamos
umas terceiras.
Agradecemos
imensamente à Junta da Freguesia de Pitões das Júnias nomeadamente a
António Ferreirinha, António Cascais e Lúzia Jorge...sem esquecemos a
Kátia Pereira, à Câmara Municipal de Montalegre, ao Bruxo Queimam pela sua
atuação generosa para nós, ao Padre Fontes pelo seu apoio, recebimento e
calor humano sempre manifestado para nós, aos palestrantes Rafa
Quintia, António Alijó, Miguel Losada, Santiago Bernárdez e Clara Pinto
Correia, também à Rádio Montalegre, a Margarida e Bruno da Taberna Terra
Celta, aos Restaurantes "O Preto" e o "Dom Pedro", aos poetas Nolim
Gonçalvez, Concha Rousia, Iolanda Aldrei, Henrique Dória, Alexandre
Brea, Rafael Quintia, gente do público que também recitou, cantou e
participou, ao público que nos acompanhou... e a todo o povo de Pitões.
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